Moa JR, vocalista, guitarrista e compositor apaixonado por Rock Progressivo resolveu criar em plenos anos 80 no Brasil uma banda que mostrasse suas influências do gênero. Para isso ele recrutou os amigos Fábio Fernandes e Turco ( bateria e baixo, respectivamente ) e assim gravaram seu primeiro disco.

    Como no Brasil nada é fácil, eles lançaram seu trabalho de forma independente e depois ficaram 28 anos sem um novo lançamento e neste hiato, fizeram alguns shows, a banda foi reformulada, mas Moa Jr. nunca parou com as ideias progressivas, e em 2010, com uma nova formação o álbum Tempo ( leia resenha ) foi mixado por Billy Sherwood ( ex-guitarrista do Yes e atualmente no Circa, além de outros projetos ). O show de lançamento de Tempo aconteceu em Sorocaba/SP em um evento especial que além de Billy Sherwood, tivemos a Orquestra Sinfônica de Sorocaba acompanhando a banda, que reuniu 7.000 presentes. Sobre esses assuntos e muito mais conversei por e-mail com Moa Jr. confiram mais detalhes abaixo.

Rock On Stage: Moa, para começar a entrevista, quero que você conte como foi gravar um álbum independente de Rock Progressivo no Brasil em plenos anos 80.
Moa Jr:
Primeiramente, quero muito te agradecer por sua atenção e carinho que demonstra com seu interesse pela Banda do Sol. Precisamos muito nesse planeta de pessoas que curtem e incentive a arte.
Bom, anos 80 no Brasil, a meu ver, foi parecido com os 70 na Europa e América, uma forte corrente de inspirados artistas aparecendo com toda força para mostrar o seu trabalho independente de alcançar ou não a mídia. Foi com esse espírito que a Banda lançou seu primeiro LP.

    A intenção era somente realizar o projeto de acordo com nosso coração, fazer a música pelo amor a música. Mais como tudo que não tem um foco meramente comercial, não despertou atenção das gravadoras e nosso projeto ficou bem independente mesmo, com todos os sentidos que essa palavra revela. Fizemos do nosso jeito, com pouca grana e as dificuldades da época das gravações analógicas. 

Rock On Stage: Comente um pouco de sua amizade musical e profissional com Sá e Guarabyra, Renato Teixeira, Beto Guedes, Walter Franco e 14 Bis.
Moa Jr:
Participei na produção de alguns shows, pois tinha um empresário que curtia muito meu trabalho e me convidava para abrir alguns eventos que ele tava produzindo com esses artistas. Em relação ao Sá e Guarabira, eu abri alguns shows deles. O mais emocionante foi quando eles fizeram juntos com o Zé Rodrix. Sou fanzaço deles, curti muito as músicas deles na minha adolescência, um verdadeiro Rock Rural.

    Com o Walter Franco teve uma época que sempre nos encontrávamos e eu aprendia muito quando estava com ele. Até hoje através de suas canções eu continuo aprendendo. Um verdadeiro cabeça, grande pessoa. Tive também o privilegio de abrir alguns shows com o Guilherme Arantes, do qual sou um admirador incondicional. Suas melodias me tocam muito, super pessoa e super compositor.

Rock On Stage: A Banda do Sol nunca chegou a parar desde a gravação do primeiro trabalho, mas teve vários intervalos. Como e quando foram retomadas para valer as atividades da banda que resultou no cd Tempo?
Moa Jr:
O Turco foi morar em Londres, então precisávamos de um novo baixista pra continuar o projeto. Pintou o Cesinha e ficamos por um tempo com a formação de Power Trio: baixo, batera e guitarra. Meio estranho para um grupo de Rock Progressivo, mais funcionou muito bem para novas ideias, os arranjos fluíam. Então montamos um repertorio e fizemos várias apresentações em Sampa e interior.

    Mas, estava faltando um tecladista, estava faltando timbres para expressar toda aquela intenção... Veio para Banda o João Leopoldo e logo a seguir entrou também o Fran ( guitarrista ). Para quem escutou o cd Tempo, dispensa  comentar o talento desses caras, né? A Banda estava formada e era cada vez mais legal se encontrar e executar as músicas com varias performances. Um dia resolvemos gravar esse material. Fomos para o Bugre Estúdio em Sorocaba e começamos o trabalho.

Rock On Stage: Como tem sido a recepção do álbum Tempo pelos fãs e pela crítica especializada?
Moa Jr:
Escutar os comentários do pessoal que curtiu o cd e ler as resenhas elogiando e descrevendo as músicas faixa por faixa com total atenção e entendimento, foi um dos melhores presentes que eu ganhei. Foi a realização desse projeto. A critica foi generosa com o cd, não poupou elogios. 

Rock On Stage: A mixagem é assinada por Billy Sherwood (Ex-Yes). Como foi trabalhar com este grande nome do rock e como se deu o contato com ele?
Moa Jr:
Uma postagem no MySpace com as músicas que estávamos gravando e surgiu o contato dele, elogiando a Banda e mostrando interesse no som. Em poucas palavras, o Billy predestinou um futuro encontro, ele escreveu: “Lindo o som que vocês fazem, tem muito sentimento. Espero algum dia em algum lugar nos encontramos.” E foi assim... O Eliton Tomasi ( Som do Darma ) que foi o grande responsável por essa união, escreveu à ele perguntando se não gostaria de mixar o projeto, ele aceitou e ainda participou de algumas faixas.

Rock On Stage: Ainda sobre o Billy, o que ele agregou no cd Tempo?
Moa Jr:
Foi uma super presença! Não só musical! Além de ser um multi instrumentista, com uma bagagem musical monstruosa ( tocar e produzir discos do Yes não é pouca coisa não ) ele teve outras experiências com feras da música. O Billy é um cara de grande coração, uma figura incrível, muito simpático e muito simples.Tenho-o como meu querido brother. Tudo isso inspirou para que o trabalho ganhasse esse brilho.

Rock On Stage: A masterização é de Joe Gastwirt e o resultado é excelente. Ele conseguiu que tirar o máximo de vocês para que o cd ficasse ainda melhor?
Moa Jr:
Esse lendário fera da masterização - que até com Jimi Hendrix trabalhou - veio pra melhorar ainda mais o projeto. Não tenho palavras, foi tudo muito lindo! Sem economia de talentos. 

Rock On Stage: O show de lançamento do cd Tempo foi em Sorocaba com a Orquestra Sinfônica da cidade e a presença de Billy Sherwood para mais de 7 mil pessoas. Gostaria de saber quais suas lembranças deste show?
Moa Jr:
Ainda sinto aquela alegria de ver a trajetória da Banda tendo a oportunidade de mostrar todo o trabalho que realizamos com os arranjos, as composições e ensaios durante alguns anos.
Foi um dia muito especial, um dia perfeito onde tudo deu certo, foi acima das expectativas. E eu sinto também uma forte gratidão por todos que ajudaram a realizar esse projeto. Sem essa união, não haveria nada. Sou profundamente grato a todos.

Rock On Stage: Teremos um DVD desta apresentação em Sorocaba?
Moa Jr:
Estamos nesse exato momento editando esse projeto. 

Rock On Stage: Teremos mais shows como este para a divulgação do cd?
Moa Jr:
Tem uma grande chance de realizarmos sim. E com a presença novamente do Billy. Essa é a torcida.
 

Rock On Stage: Como você avalia o Rock Progressivo no Brasil e no Mundo? Temos ainda grandes nomes?
Moa Jr:
Temos grandes nomes como a banda sueca Flower Kings, que atualmente fazem um trabalho maravilhoso. Com a ajuda da internet dá para descobrir várias feras que estão dando continuidade ao Rock Progressivo no Brasil e no mundo. 

Rock On Stage: Vocês já pensaram em relançar o LP de 1982 em cd para que os fãs possam conhecer mais deste trabalho que hoje é raro?
Moa Jr -
É uma boa ideia, esse disco tem momentos bem legais e faz parte da nossa estrada.

Rock On Stage: O uso da língua portuguesa nas composições é melhor para o público brasileiro, mas quais são as respostas que a banda obtém quando os gringos ouvem o cd?
Moa Jr -
A revista holandesa IO Pages
( edição #102 de Julho/Agosto ), uma das mais conceituadas revistas de Rock Progressivo do mundo, elegeu ao cd Tempo o “vette krent”, ou seja, segundo editorial da publicação seria o mesmo que “Álbum do Mês” - “Trabalho do mais alto nível”. Acredito que funciona o português também para eles.

Rock On Stage: Em letras como Voar que é praticamente uma meditação, mesmo cantada em português, penso que ela atinge o ouvinte de qualquer lugar do mundo. É isso mesmo?
Moa Jr -
Com certeza. Eu tive comentários sobre essa música de pessoas que desconhecem o português mais conhecem o sentimento da intenção.

Rock On Stage: O símbolo da capa de Tempo é muito bonito. Conte qual o significado dele e o porquê de sua escolha para a capa do cd?
Moa Jr -
O símbolo AUM é milenar. É o mesmo que o AMEM. Segundo as escrituras Hindus, é o barulho do motor cósmico que sustenta toda a criação. É a união de todos os sons. 

Rock On Stage: É difícil segurar a emoção ao tocar com um ídolo como Billy Sherwood?
Moa Jr:
Foi difícil no começo, antes de encontrá-lo. Mais passaram cinco minutos de conversa e alguns acordes e já estávamos muito a vontade. Ele é um cara muito simples e do bem. 

Rock On Stage: Quais são os planos para o futuro?
Moa Jr:
Fazermos uma turnê pela Europa e também gravarmos um novo álbum. 

Rock On Stage: Agradeço sua entrevista, deixo o espaço livre para suas considerações finais. 
Moa Jr:
Cada vez mais estamos vivendo com os aniquiladores do tempo e do espaço. O mundo ficou pequeno e a informação viaja em grande velocidade. Importante que tudo que for enviado aos nossos ouvidos, olhos e coração, tenham uma essência verdadeira, um recado de valor que ajude de alguma forma nossas vidas aqui no planeta serem melhores. Vida longa a todos que de alguma forma contribuem para isso. Agradeço a todos do Rock On Stage, estamos na mesma viagem. Moa.

Site: www.myspace.com/bandadosol, www.twitter.com/bandadosol e www.youtube.com/bandadosol.

Por Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos à Eliton Tomasi
Novembro/2011

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