Apocalypse

    A lendária banda brasileira Apocalypse comemorou 25 anos de existência com o lançamento de um DVD ao vivo, dois cd´s e um livro todos juntos em um super box intitulado The 25Th Anniversary Box Set que tive a oportunidade de resenhar no Rock On Stage ( veja mais aqui ) e nesta entrevista com o vocalista Gustavo Demarchi, falamos lógico deste box, dos 25 anos de história do Apocalypse, influências, se é melhor cantar em inglês ou português, do Prog Day de 1999, do álbum 2012 Light Years From Home" ,  da abertura para o Uriah Heep em 2005 e muito mais. Confiram!!!!

Rock On Stage: 25 anos de história de Rock Progressivo, que balanço você faz deste legado que o Apocalypse está deixando para a música mundial?
Gustavo Demarchi: Se fosse definir em poucas palavras, diria que é uma história de muita luta e muita coragem. Fazer música no Brasil já é difícil por si só, imagine escolher um caminho mais complexo e por isso mais segmentado. Mas driblamos todas as dificuldades, lançamos álbuns, fazemos grandes shows, nos apresentamos ao lado de grandes artistas e continuamos relevantes, levando nossa música para além fronteiras do Brasil e do mundo. Fazemos o que gostamos e com muita paixão e empenho. É esse o segredo.

Rock On Stage: Uma curiosidade: porque a escolha do nome Apocalypse?
Gustavo Demarchi: O Eloy Fritsch ( N.E.: fundador da banda ) tirou essa ideia do conceito de “revelação” da palavra, o que quer dizer que segundo o Livro do Apocalypse, apenas os evoluídos tem acesso aos grandes segredos da humanidade. Infelizmente, o “Apocalypse” é atribuído ao final dos tempos, o que faz com que se mude totalmente o sentido da palavra. Na bíblia inglesa, Apocalypse quer dizer “revelation”, o que explica muita coisa...

Rock On Stage: Quais tecladistas da história do Rock Progressivo você aponta como suas maiores influências?
Gustavo Demarchi: Esse é o tipo de pergunta que eu deixaria para o nosso tecladista Eloy Fritsch, que infelizmente não pode participar dessa entrevista, mas como temos influências muito parecidas, eu diria que concordaríamos em apontar Rick Wakeman, Keith Emerson e John Lord, como as grandes influências no que se refere ao som da banda.

Rock On Stage:
Você citou em uma entrevista anterior que: " Fazer progressivo, nos dias atuais, segundo o Rick Wakeman, é só para valentes.". Baseado nisso, podemos afirmar que o Apocalypse é valente e audacioso?
Gustavo Demarchi: Como disse anteriormente, qualquer estilo que de música que não é feito para as massas tende a ser segmentado e por isso, até discriminado. Acho que quanto maior a dificuldade de divulgação, mais você tem que ter convicção e coragem do que está fazendo. Nesse sentido, nos identificamos com a afirmação do velho mestre Wakeman.

Rock On Stage: Do início da banda até aproximadamente 2004, a banda sempre gravou seus discos em português, e a partir de então em inglês, como era a recepção dos gringos com relação às músicas em nossa língua e como estão sendo recebidas as músicas em inglês.
Gustavo Demarchi: A banda era vista lá fora mais como algo exótico. Logicamente se viam as influências, mas era mais difícil uma aproximação maior. Quando juntei-me ao Apocalypse, a primeira coisa que conversamos foi esse desejo de através do inglês, nos aproximarmos mais das nossas influências. Era um desejo meu, e um sonho antigo da banda. Começamos assim e a recepção foi a melhor possível. Notamos inclusive que nossa base de fãs aumentou no Brasil principalmente do público mais jovem. Estamos felizes com o resultado e plenamente realizados.

Rock On Stage: Falando da história da banda, quais lembranças vocês possuem do Prog Day de 1999 que resultou no duplo Live In USA?
Gustavo Demarchi: Não participei desse processo, mas sempre ouço historias incríveis sobre essas apresentações, além da receptividade e do calor do público americano. Isso, somado ao profissionalismo da organização do festival, gerou um maravilhoso registro ao vivo. E já fomos convidados à retornar algumas vezes, o que infelizmente ainda não aconteceu devido a algumas dificuldades, que espero, logo sejam sanadas. Com certeza é um sonho fazer uma tour completa pela América.

Rock On Stage: Quais dificuldades e alegrias foram encontradas para o lançamento do Box "Apocalypse - The 25Th Anniversary Box Set"?
Gustavo Demarchi: Mais do que um simples lançamento, esse Box representa um pedaço significativo da história da banda, e uma completa introdução à quem ainda não nos conhece. Para mim, ainda, uma oportunidade rara de unir meus lados músico e designer, o que foi um desafio e uma alegria. Claro que sempre existem dificuldades e tivemos alguns problemas quanto à formatação e direcionamento da ideia durante o processo, além da questão dos prazos, uma vez que estávamos contando com verba de lei de incentivo, o que gerou uma certa tensão. Mas conseguimos passar por cima de tudo e temos um material acima da expectativa, e de certo modo inédito no que se refere à uma banda de Progressivo brasileira e que para nós é um orgulho e uma conquista.

Rock On Stage:
Como tem sido recebido o box "Apocalypse - The 25Th Anniversary Box Set" pela critica e pelos fãs, tanto os nacionais quanto os internacionais?
Gustavo Demarchi: Da melhor maneira possível. As resenhas tem sido as melhores possíveis, destacando, inclusive pelo trabalho gráfico, o que para mim, é um motivo especial de orgulho, e grande destaque para todo o material, e uma demanda muito grande tanto aqui quanto no exterior, o que já está fazendo com que pensemos em uma segunda edição.

Rock On Stage: Eliton, como foi o trabalho de pesquisa para a redação do livro e seu envolvimento com o projeto?
Eliton Tomasi: Dos 25 anos de banda, eu acompanho o Apocalypse de perto há pelo menos uns 15. Isso foi fundamental para que eu pudesse escrever o livro. Eu conheci o Apocalypse em 1996, quando o Eloy me mandou o material da banda para divulgação na Revista Valhalla. Desde então nunca mais perdemos contato e todos os trabalhos da banda ganharam divulgação na Valhalla através de resenhas, entrevistas e matérias em geral.

    Algum tempo depois o Eloy e o Gustavo viraram colaboradores da revista. Quando em 2007 a Valhalla saiu do mercado e eu montei a Som do Darma, a possibilidade de eu e o Apocalypse trabalharmos juntos foi óbvia. Me tornei então manager do grupo por um tempo e creio que fizemos um trabalho bem legal juntos, culminando na redação do livro e meu envolvimento nesse belo projeto de 25 anos. Para mim foi uma honra, escrever esse livro foi um marco na minha carreira como produtor e crítico musical. Espero que daqui 25 anos eles me chamem novamente para escrever o resto da história que o futuro lhes reserva.

Rock On Stage:  Normalmente, em lançamentos assim, temos DVD's, como vocês fizeram, álbuns ao vivo, mas a inclusão de um novo cd, é no mínimo, uma ousadia, bem, gostaria de saber o porque da escolha de um novo trabalho inédito junto ao box.
Gustavo Demarchi: Mais uma vez, o senso de oportunidade aliado à nossa própria produção. Já tínhamos material, então, ao invés de privar os fãs ou atrasar o lançamento, nada melhor do que aproveitar e trazer um atrativo a mais à caixa.

Rock On Stage: Muito se fala sobre o ano de 2012, e o Apocalypse incluiu no Box o álbum "2012 Light Years From Home" que passa um grande alto-astral, fato que é comum nas músicas da banda, então ao contrário do papo de final do mundo, a banda quer passar uma ideia de renovação?
Gustavo Demarchi : Com certeza! Você resumiu tudo. Acreditamos que estamos entrando em uma era de renovação. Embora não seja um álbum conceitual, de certa forma, todas as canções apontam para essa ideia.

Rock On Stage: "2012 Light Years From Home" possui na minha visão momentos mais Hard Rock como nas faixas "Set Me Free" e "On The Way To The Stars", a ótima inclusão da flauta na bela "Take My Heart" que remete um pouco para o Jethro Tull, e a suíte título, que me lembrou de trabalhos do Emerson, Lake & Palmer, gostaria de saber se concorda com isso e quais outras faixas você destaca e porque?
Gustavo Demarchi: Sempre gostamos de fazer álbuns onde as canções soem com o máximo de ecletismo pois é assim que somos. Acho que conseguimos isso em 2012 Light Years From Home e havíamos conseguido em The Bridge Of Light. Obrigado pelas canções que você citou, mas poderia citar todas as demais canções, que de uma forma ou outra, tem algo que as torna especiais. Deixar fluir as ideias e não se prender tanto à rótulos e fórmulas pré-prontas, esse é o espírito.

Rock On Stage: Comente um pouco do contrato que a banda possui com a gravadora francesa Musea Records e como o velho continente absorve o Rock Progressivo feito por bandas brasileiras na sua opinião. E aproveitando o assunto, como é a absorção do Rock Progressivo pelos brasileiros?
Gustavo Demarchi: A relação com a Musea e com o Bernard é antiga, e chegou no início a ser a única gravadora do Apocalypse, de forma a gerar o paradoxo de os álbuns da banda serem distribuídos na Europa e serem importados para o Brasil. Aí você já tem uma noção das diferenças entre o novo e o velho mundo. Estaria mentindo se não dissesse que não gostamos de ser apreciados pelo público europeu, mas desde os anos 2000, temos tentado mudar esse panorama fazendo o máximo para promover a banda em nossas terras.

E por mais surpreendente que possa parecer, é muito difícil. Talvez pelos países da Europa não serem dependentes desse ou daquele grupo de comunicação, talvez por eles procurarem por coisas novas, mas é certo que ainda nos sentimos um pouco “desbravadores” em nossa própria terra. Mas nada compensa mais do que alguém nos dizer que hoje e fã de Progressivo por que começou a escutar nossa banda.

Rock On Stage: A banda já foi um trio, quarteto, quinteto e hoje é um quarteto, qual formação capta melhor a proposta Progressiva do Apocalypse?
Gustavo Demarchi: Eu diria que foi a partir de quando passei a tomar parte ( risos ). Mas falando sério, recentemente, quando estávamos gravando 2012 Light Years from Home e voltamos a ser um quarteto, chegamos a cogitar que eu tocasse baixo e cantasse, pois, comecei na música como baixista. Mas percebi que ficar livre para cantar e tocar flauta e violão, complementando os arranjos quando necessário é a minha cara e tem mais a ver com a alma da banda. Então na verdade, posso dizer que somos um quinteto por definição. Assim, hoje temos no contrabaixo um grande amigo, o Rafael Schmidt, que fez sua estreia no recente show que fizemos com a Orquestra e Coral de Caxias, e assim, voltamos a ser uma banda com cinco elementos.

Rock On Stage:  Recentemente o baterista Chico Fasoli decidiu sair da banda e foi substituído por Fábio Schneider, te peço para comentar o porque da saída de Chico e como foi a procura que resultou na entrada de Fábio.
Gustavo Demarchi: A saída do Chico nos pegou de surpresa. Além de um baterista técnico e vigoroso, ele tem um bom humor e um otimismo que sempre fez a diferença. É sem sombra de dúvidas,um dos caras mais companheiros e divertidos com quem já toquei além de incrível músico. Mas ele queria dar mais enfoque a outras áreas e se voltar mais à sua vida familiar. Entendemos,e para o lugar dele, veio o Schneider, que inclusive é amigo de infância do Chico e do Eloy e um baterista cujo currículo e realizações falam por si, além de um grande amigo. Claro que são estilos diferentes, até por que após 25 anos, e como membro fundador, o Chico praticamente “respirava” o som do Apocalypse. Mas o Schina está bastante ambientado e acho que foi uma daquelas mudanças necessárias.

Rock On Stage: No cenário Thrash, Death Metal e Heavy Metal, vejo que as bandas realizam um número maior de shows, muitos sabemos que em condições complicadas, pois o cenário underground é difícil; mas, ainda assim existem espaços, e a cena Progressiva nem tanto, o que é uma pena. Entretanto, ao longo de sua história o Apocalypse teve várias apresentações marcantes, te pergunto, o que falta na sua opinião, para que tenhamos uma cena Progressiva mais forte no Brasil no país, pois além de vocês temos, bandas de muita qualidade como são os casos de Banda do Sol, Violeta de Outono, Cartoon, Tarkus, entre outros?
Gustavo Demarchi: Eu diria que não apenas o Progressivo, como qualquer cena precisa de união. Falo isso desde a primeira entrevista que concedi, há anos atrás. Quando podemos, participamos de iniciativas conjuntas, já produzimos várias aqui no sul, mas por algum motivo, as bandas tendem a voltar para um casulo. Nenhuma cena existe sem união de artista e público.

    É isso que vai motivar os donos de casas noturnas a investir em um bom equipamento e produzir shows para bandas vistas como “underground”. Participamos de iniciativas como o SP ArtRock com Tarkus e Violeta de Outono, no Blackmore em SP, um bar legal com boa estrutura. Tivemos a história do progressivo com três bandas de estilos bem distintos e reconhecidas aqui e lá fora, mas o público não compareceu no peso que deveria e então não conseguimos chegar à segunda edição. Já tocamos com a Banda do Sol em Votorantim/SP, juntamente com o Alpha III e foi ótimo pois houve incentivo da cidade, mas não devemos nos prender à boa vontade de políticas públicas, e sim do público. Ainda sonho com um festival itinerante que pudesse trazer a Apocalypse e todas essas bandas que você citou. Se fizéssemos um festival em cada cidade natal de cada banda, estaríamos perto de uma tour nacional.

Rock On Stage:  Complementando a questão anterior, quais shows ao longo dos 25 anos de história vocês gostaram mais e porque?
Gustavo Demarchi: Vários, esses que citei foram ótimos, bem como o de Niterói/RJ, que originou o CD e DVD Live In Rio, e o da Carolina do Norte, que originou o Live in USA. As aberturas para o Uriah Heep no Canecão no Rio, e do Shaman em Porto Alegre/RS, bem como o show que originou o álbum The Bridge Of Light e mais recentemente, a emoção de nos apresentarmos com Orquestra e Coral em Caxias.

Rock On Stage:  Em 2005, o Apocalypse abriu o show do Uriah Heep, bem quais lembranças vocês tem desse dia no Rio de Janeiro, e o que um show como este agregou para a banda?
Gustavo Demarchi: Foi algo inesperado. Sempre sonhamos com isso, pois somos profundamente influenciados pelo Heep. Aí, um dia, me ligam da produção da banda, convidando para abrirmos, e ainda no Canecão. Foi difícil de acreditar, e só caiu a ficha quando fomos os únicos privilegiados assistindo a passagem de som da banda, que executou uma versão matadora de So Tired. Depois do show, conversamos bastante e tive longas conversas com Mick Box e Bernie Shaw. Além de Lee Kerslake, que infelizmente, estava fazendo sua última turnê.

Rock On Stage:  Com o box lançado, quais são os planos para o futuro? 
Gustavo Demarchi: Seguiremos com a tour de divulgação do Boxset. Temos convites para repetir os shows com a Orquestra de Caxias, e fomos os headliners na noite do Metal no palco da Festa da Uva em Caxias. Recebemos em maio, o maior prêmio da música gaúcha, que foi o Troféu Açorianos de Música pelo conjunto da obra, enquanto minha empresa, a G2D Soluções Visuais, responsável pelo design do Boxset, foi premiada com o Açorianos de Melhor Projeto Gráfico. Estamos em processo final de revisão do DVD do show que gerou The Bridge Of Light, então, creio que esse será nosso próximo lançamento, ainda nesse ano. Além disso, muitas coisas ainda estão em projeto, mas prefiro não adiantar mais por enquanto para manter as surpresas.

Rock On Stage: Desejo que vocês mantenham os ares progressivos por mais 25 anos, agradeço pela entrevista, deixo o espaço livre para suas considerações e uma mensagem para os leitores do Rock On Stage.
Gustavo Demarchi: Obrigado pelo espaço. Sempre estaremos com as portas abertas, e não mediremos esforços para chegar onde o público está, pois no nosso entender, é assim que se faz uma cena. Acessem a banda em nosso site oficial ( www.apocalypseband.com ) em nosso canal no Youtube ( http://www.youtube.com/user/bandaapocalypse ), bem como Facebook e Twitter. Um grande abraço a todos.
Sites: www.apocalypseband.com.

Por Fernando R. R. Júnior
Junho/2012

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