Entrevista com Rodrigo Sinopoli do Primator

    "Começamos a errar justamente quando nos tornamos seres humanos, com todos os nossos excessos, ganância e egocentrismo. O que deveria ser mudada de maneira geral é a nossa mentalidade."

    Em 2015, a banda paulistana Primator de Heavy Metal lançou o seu primeiro álbum com título de Involution, após seis anos de sua formação. E a temática do disco foi inspirada no conceito do livro A Origem das Espécies de Charles Darwin, porém, abordando de uma maneira diferente: que a humanidade deveria 'involuir' para corrigir seus inúmeros erros aos quais assistimos cotidianamente nos noticiários.

    Para conhecer mais sobre este lançamento e também sobre a banda Primator, o Rock On Stage conversou com exclusividade com o vocalista Rodrigo Sinopoli sobre estes erros, as possíveis soluções, do clipe para a música To Mars, a participação de Mario Linhares na produção, um projeto para o Congresso Nacional para estimular o Heavy Metal no país e muito mais, confira logo abaixo:

Rock On Stage: "Involution" crítica a condição humana vigente ao sugerir um possível retrocesso na escala evolutiva de Darwin. Em que passo, na escala, começamos a errar? Quais foram esses erros e quais as possíveis soluções, na visão de vocês?
Rodrigo Sinopoli: Tendo a escala evolutiva de Darwin em mente, onde o homem é o ser mais "evoluído", fizemos uma analogia a esta condição e tentamos denotar uma série de fatores que não aparecem nas famosas ilustrações.

    Começamos a errar justamente quando nos tornamos seres humanos, com todos os nossos excessos, ganância e egocentrismo. O que deveria ser mudada de maneira geral é a nossa mentalidade. Talvez, assim perceberíamos que os bens naturais são finitos e que o lucro poderia ser o mesmo sem tanto desperdício de matéria orgânica, por exemplo.

Rock On Stage: Do ponto de vista científico, hoje temos tratamentos para doenças antes incuráveis como câncer ou Aids; do ponto de vista tecnológico, todo planeta está conectado; do ponto de vista político, conseguimos dialogar mais facilmente sobre problemas de imigração e comércio exterior. Hoje, a humanidade é muito mais consciente sobre questões como igualdade de gênero e raça, fala-se mais, e melhor, sobre soluções sustentáveis. Estamos mesmo no caminho errado?
Rodrigo Sinopoli: Sim, definitivamente estamos no caminho errado. Milhares de animais e até mesmo pessoas são mortas todos os dias em pesquisas para elaboração de tratamentos paliativos contra o câncer. Os medicamentos que retardam a evolução do vírus HIV, existem desde 1993 e só começaram a emergir aqui no Brasil há pouquíssimo tempo. Tudo por que ia contra os interesses da indústria farmacêutica global.

    Todo o planeta está conectado e muita gente prefere mandar um abraço pelo Whatsapp do que dar um de verdade, para "economizar tempo". Florestas são devastadas todos os dias para a construção de novas usinas e fazendas de gado que atendam a demanda multimilionária do consumo humano. Com relação aos problemas imigratórios, o homem é egoísta demais para dividir suas terras com estranhos sem ganhar nada em troca. E isso, diálogo nenhum é capaz de resolver.

    Mundialmente, as mulheres recebem menos por seus serviços prestados do que os homens. A maioria da população analfabeta ou semi é negra. Grande parte dos países africanos sofre com a fome e falta de investimentos. São governados por ditadores e as famílias têm seus filhos mortos e mulheres estupradas quando não pagam os impostos. É inegável que materialmente falando, estamos melhor do que há 100, 1.000, 10.000 anos atrás. Pesa o lado espiritual e de consciência.

    O que quisemos mostrar no álbum, é justamente o que aconteceu com o mundo durante esta evolução e as nuances e facetas negativas do ser humano. Falar sobre como tudo está perfeito, caminhando para um tempo melhor, coisas bonitas e fofas não fez parte do nosso pensamento enquanto banda de Heavy Metal, no processo criativo do Involution.

Rock On Stage: Analogamente ao aspecto conceitual de "Involution", o Heavy Metal caminha na direção correta em sua escala evolutiva?
Rodrigo Sinopoli: Não existe escala evolutiva quando se trata de música, especialmente de Heavy Metal. Alguns caras com interesse musical em comum se juntam e formam uma banda. Tocam o que os agrada escutar e com sorte algumas pessoas curtem também. Se considerarmos os diversos estilos e rótulos que temos hoje, posso dizer que o passar do tempo nos trouxe algumas misturas interessantes e outras horríveis. Mas é inegável a enorme quantidade de bandas boas que temos atualmente, apresentando um som mais moderno e de qualidade.

Rock On Stage: É interessante notar que o Primator aborda questões evolucionistas em suas letras, mas, se apoia musicalmente na vertente mais tradicional do Metal. É fato que o grupo faz isso à sua maneira e tudo soa bastante contemporâneo. Mas, vocês vêm o Primator desenvolvendo-se esteticamente no futuro ou seria o Metal Tradicional a base para o grupo se fixar musicalmente?
Rodrigo Sinopoli: Não descartamos nenhuma ideia ou possibilidade sonora, mas temos como base o Metal Tradicional e nunca fugiremos disso, pois, é o estilo que mais nos agrada tocar, acima de tudo. A involução foi apenas um tema abordado em nosso álbum de estreia e não pretendemos ser uma banda redundante, que fala disso o tempo todo.

Rock On Stage: Vocês lançaram um videoclipe da música "To Mars". Qual a mensagem por trás da letra dessa música e como o roteiro do videoclipe a representa?
Rodrigo Sinopoli: To Mars ( confira abaixo ) é uma homenagem ao Deus da Guerra romano, Marte. Para o videoclipe precisávamos trazer o elemento fogo à tona e quisemos fazer isso a céu aberto, até por questões de segurança. Foi montado um círculo de tochas e nos posicionamos no centro dele, para passar mesmo a ideia de um culto a Marte. Durante a gravação choveu muito e foi uma verdadeira "guerra" manter as chamas acesas. Acredito que isso tenha trazido mais autenticidade ao vídeo.

 


Rock On Stage: "To Mars" foi escrita por Mario Linhares, do Dark Avenger, que também produziu o áudio com vocês no estúdio. Quais as diferenças em se ter um produtor no estúdio, alguém que dirige a performance, ao invés de um profissional que apenas grava a banda, como é comum em muitos estúdios no Brasil?
Rodrigo Sinopoli: É infinitamente mais desafiador você ter à sua frente um cara cascudo do Metal Nacional, como o Mario, acostumado a ouvir uma pancada de coisa e que está ali para não te deixar soar como algo que seja comum aos ouvidos. O que para mim é fantástico! Alguém que apenas grava e não dirige a performance está mais interessado em terminar o serviço logo, guardar a grana no bolso e ir pra casa brincar com o cachorro.

Rock On Stage: E pelo que já foi divulgado, vocês pretendem repetir a experiência com o Mario Linhares para o próximo disco, certo? O que podem adiantar sobre esse próximo trabalho?
Rodrigo Sinopoli: Na realidade a To Mars é uma das faixas do próximo álbum, que será integralmente produzido pelo Mario e já tem um conceito fechado. Existe uma outra canção, escrita por mim e por ele ( onde homenageio meu pai ), que também fará parte do disco, junto com outras 8 ou 9 músicas. Sonoramente será mais denso e pesado.

Rock On Stage: A Cultura tem ganho mais importância entre as políticas públicas nos últimos anos. No Brasil, o novo governo do presidente Michel Temer cogitou a extinção do Ministério da Cultura e voltou atrás após maciça manifestação da classe. Você acha que Heavy Metal, enquanto movimento cultural, pode se beneficiar disso e se fortalecer no país?
Rodrigo Sinopoli: Infelizmente, acredito que não. O Heavy Metal de uma forma geral não atende especificamente aos interesses do Ministério e com isso, o pouco espaço oferecido, fica com bandas mais estabelecidas e conceituadas, que teoricamente, necessitam menos de incentivo quando comparadas com bandas que atraem menor número de público para os eventos culturais.

Rock On Stage: Se você fosse autor de um projeto em defesa ao Heavy Metal Brasileiro no Congresso Nacional, quais os cinco pontos positivos que você apontaria sobre o estilo e por quê?
Rodrigo Sinopoli: São eles:
- Disseminação de ideais e contextos históricos pouco explorados na grade de ensino das escolas atualmente. O Heavy Metal, em grande parte das vezes, contextualiza fatos históricos em suas músicas;
- Possibilidade de aprendizado de outros idiomas ( no caso das bandas que escrevem em outros idiomas ). A música estimula o interesse em outros idiomas;
- Elaboração de escola de música, voltada especialmente ao estilo, com possibilidade de profissionalização do músico de Heavy Metal. Ideia que recentemente foi implantada na Inglaterra e garante um futuro para quem pretende viver de Heavy Metal;
- Abertura de um núcleo industrial específico para produtos relacionados ao Heavy Metal. ( camisetas, cds, calçados... ). Hoje, existem no Brasil apenas duas estamparias específicas que atendem exclusivamente ao mercado e todos os outros itens têm sua produção dividida com mercadorias de maior demanda no país. O consumidor de artigos relacionados ao estilo só encontram o que precisam em locais específicos ou adaptam itens adquiridos no mercado regular;
- Elaboração de projeto vinculado ao ensino público que vincule premiação aos melhores alunos e/ou menos favorecidos economicamente, com aulas de música voltadas ao estilo, em escolas situadas em regiões carentes. O acesso ao Heavy Metal é hoje restrito e vinculado a pessoas de maior poder aquisitivo.

Rock On Stage: Agora gostaria que apontasse os cinco pontos negativos, seja como músico ou público/fã desse estilo/movimento cultural.
Rodrigo Sinopoli: Ao contrário da questão anterior, poderia citar vários pontos aqui ( risos ). Mas, vamos lá:
- Como músico, não acho justo tocar de graça ou pagar para aparecer por 30 minutos em shows e eventos que, queiram ou não, trazem lucro aos organizadores;
- A falta de respeito com relação às condições oferecidas aos músicos em casas de espetáculo são precárias na maior parte das vezes;
- O fã de Metal hoje prefere assistir um show pela Internet do que presenciá-lo de fato  O sofá de casa e o amendoim são mais tentadores do que os altos preços dos ingressos e a falta de conforto;
- Este mesmo fã que paga R$ 650 para ir a um show de bandas internacionais, que frequentam os palcos brasileiros uma vez ao ano, não gastam R$ 20 com um cd de banda Nacional;
- E não posso deixar de citar a desunião da cena, a segregação do Underground, o egocentrismo dos contratantes e a ignorância de quem ouve a música sem procurar saber sobre o que ela fala.

Rock On Stage: Uma entrevista como essa é um canal de diálogo entre banda, fãs e possíveis novos públicos. O que você teria ou gostaria de dizer às pessoas que estão lendo suas respostas, sem cair na mesmice de agradecer pelo apoio e convidar para acessar os canais da banda na internet? :)
Rodrigo Sinopoli: Ok ( risos )!!! Quero agradecer primeiramente pela oportunidade da entrevista e pelo teor das perguntas. Tenho certeza que aqui dirimimos as dúvidas que algumas pessoas podiam ter com relação ao Involution e o conceito abordado. Também devo pedir desculpas pela falta de grandes novidades nos últimos meses, mas como um time, o Primator depende de todos os integrantes em sua plena forma física e mental. Após a gravação de To Mars, precisei me dedicar aos preparativos do meu casamento, que aconteceu em setembro, além de lidar com a novíssima ideia da paternidade. O pequeno Sinopoli chega ao mundo em janeiro e a ansiedade é enorme!

    Assim, demos um tempo nas composições para o novo álbum, mas já estamos retomando e todos podem esperar por algo muito mais rápido e pesado. É interessante lembrar que o Primator é uma banda formada por cinco trabalhadores que adorariam viver exclusivamente de música, mas, infelizmente precisamos de outras fontes de renda para sobreviver, sustentar nossas famílias e ainda bancar nossos ensaios, assessoria, produção de merchandising e gravações, sendo que isso não é levado em conta quando alguém escreve uma resenha ou faz uma crítica.

    Eu, particularmente, leio todas e agradeço até mesmo as mais negativas, mas, me incomoda muito ver alguém que sequer me conhece, sugerindo inverdades num formato digno das tirinhas escritas em revistas da década de 90, quando ainda não tínhamos Internet. Acho que para fundamentar o que escrevem, podiam ao menos nos ver ao vivo um dia e trocar uma ideia comigo pessoalmente. Dito isso, agradeço o apoio de quem gosta do nosso som e espero vocês nos shows. Grande abraço! ;)

Mais Informações: www.bandaprimator.com.br;
 www.facebook.com/bandaprimator; www.soundcloud.com/bandaprimator
e www.twitter.com/primatormetal.

Por Rock On Stage e Som do Darma
Outubro/2016

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