Entrevista com Fernando Ribeiro do Moonspell

    "Decidi que não iria desistir... E aqui estou!"   

    O Moonspell, cinco anos depois da sua última excursão pelo nosso país, voltará nos próximos meses com a turnê que celebra o seu 30º aniversário. O grupo, que se tornou um dos principais nomes da música pesada lusitana pela sua proposta versátil e que compila as mais diferentes influências, pretende trazer para o Brasil um set-list bastante abrangente, que revista os seus clássicos atuais e boa parte do seu passado.

    Líder e mente criativa da banda, o vocalista Fernando Ribeiro atendeu Paulo Finatto Jr. ( do Um Metal Por Dia - www.instagram.com/umMetalpordia - em parceria com o Rock On Stage ) nos últimos dias e não falou apenas sobre os shows que irão ocorrer por aqui em breve. Ele abordou, entre outros tópicos, o futuro da banda e a forma como consumimos música nos dias de hoje. Fernando Ribeiro revelou ainda que o Moonspell pretende gravar mais um disco com letras em português, assim como foi 1755.

Rock On Stage: O Moonspell está retornando ao Brasil com a sua turnê comemorativa de três décadas de carreira. Com uma discografia que explora caminhos que vão do Metal Extremo ao Rock Progressivo, há o arrependimento de algo que vocês gostariam de ter feito no passado e faltou coragem?
Fernando Ribeiro:
Eu penso que coragem não nos faltou. Quando escrevemos música, estamos tentando ser autênticos, expressando quem somos naquele momento - o que nos influencia, o que ouvimos, o que nos preocupa.

    Talvez, em alguns momentos, devêssemos ter feito uma gestão mais inteligente do nosso repertório e das nossas influências. Os selos bem nos diziam para repetirmos fórmulas, mas simplesmente não conseguimos fazer isso. Teve coisas boas e más, mas focando no melhor, escrevemos canções que adicionaram sentimento e experiências à vida dos nossos fãs.

Rock On Stage: Com meio milhão de discos vendidos e turnês que passaram pelos cinco continentes, o Moonspell há bastante tempo é considerado o maior nome do Metal português de todos os tempos. Vocês imaginavam que isso poderia ocorrer algum dia, sobretudo na época que ainda divulgavam o debut "Wolfheart"?
Fernando Ribeiro:
Jamais! Foi tudo muito mais lento do que se possa imaginar e, na verdade, o Moonspell sempre viveu momentos muito intensos, tanto de sucesso como do seu contrário.

    Só por volta de 1998 e 1999 que compreendemos que estávamos construindo a nossa história, portuguesa, dentro do Metal. Mas, nunca tomamos ( nem tomaremos ) nada como garantido, lutamos e trabalhamos de forma diária para que a banda ainda esteja em atividade.

 

Rock On Stage: Analisando o repertório dos primeiros shows dessa nova turnê, dá para perceber que há uma mudança bastante significativa nas músicas que são tocadas ao vivo. Como está sendo definida essa dinâmica?
Fernando Ribeiro:
Eu tentei sensibilizar a banda sobre a necessidade de dominarmos a maior parte do nosso repertório, de modo que a gente traga uma certa variedade nos nossos set-lists. Não tem sido tarefa fácil, mas temos conseguido. Pessoalmente, gosto muito de surpreender as pessoas com temas inesperados e reviver memórias que já não eram sentidas há algum tempo.

Rock On Stage: Apesar de "Hermitage" ter sido eleito um dos melhores discos de 2021, a turnê do álbum foi prejudicada por conta das restrições impostas pelo COVID-19. Nesses shows no Brasil, vocês pretendem dar algum destaque para essas suas músicas mais recentes?
Fernando Ribeiro:
Exato. Todavia, pensamos tocar no máximo duas ou três músicas do Hermitage no Brasil em cada noite, já que encaramos essa turnê como a celebração dos 30 anos da banda. Queremos muito revisitar o passado com os fãs.

 

Rock On Stage: Numa entrevista recente ao podcast 'Posto Emissor' da revista Blitz, você citou as diversas dificuldades enfrentadas pelo Moonspell e revelou que até cogitou a ideia de desistir da banda. Em meio aos problemas, o que fez vocês continuarem em frente?
Fernando Ribeiro:
Essa foi uma perspectiva pessoal, não estava falando em nome da banda. Na verdade, eu, no início de 2020, antes da pandemia, não me sentia motivado para subir ao palco. Achava que tinha finalizado o meu percurso como artista, estava cansado, queria explorar outras coisas ( escrevi e editei o meu primeiro romance ) e não sentia que o Moonspell estivesse unido e com futuro.

    Quando a pandemia nos atingiu, senti um vazio muito grande, que fui preenchendo com as músicas do Hermitage, com a entrada do baterista Hugo Ribeiro e com o fato de que, contra a minha vontade, não tínhamos nada para fazer. Por isso, decidi que não iria desistir... E aqui estou!

Rock On Stage: Nessa mesma entrevista, há uma frase sua que virou manchete em Portugal: "a música não morreu, mas se tornou um acessório". Como vocês veem a banda no futuro? A ideia de celebrar os próximos 30 anos do Moonspell faz algum sentido?
Fernando Ribeiro:
Não sei. Não penso muito no futuro agora, pelo menos não a longo prazo. É como escrever um livro e eu sei que esse "livro" está inacabado. Faltam alguns capítulos, como um novo disco para suceder ao Hermitage. Também quero muito fazer o nosso segundo álbum completamente em português, entre outras coisas.

    Eu disse que a música é um acessório porque já não representa, ou tem, aquela centralidade nas nossas vidas, algo que acabou no fim dos anos 90. Por exemplo, o meu filho conhece quase tudo através do Tik Tok, em que as composições servem apenas de pano de fundo. É uma outra maneira de fazer descobertas, mas, já não é uma relação de amor, é uma paixão breve, imediata.

 

Rock On Stage: No Brasil, "1755" acabou se tornando um dos discos mais emblemáticos do Moonspell, seja pela sua história conceitual, pelas suas letras em português ou pela releitura inusitada dos Paralamas do Sucesso. Apesar de o álbum não estar muito representado na sua turnê de 30 anos, quais são os sentimentos que vocês guardam a respeito dessa obra, seis anos depois do seu lançamento?
Fernando Ribeiro:
Só temos a agradecer aos fãs brasileiros por terem abraçado o disco de forma entusiasmada. O 1755 foi uma lufada de ar fresco para nós e ficamos orgulhosos pela forma com que, musicalmente, conseguimos contar essa página tão trágica, mas tão decisiva da história do nosso país e da própria Europa.

    Por isso, estamos em busca de algo assim para conceber outro disco em português, mas não tem sido fácil, confesso. O 1755 não tem estado no repertório, verdade, mas alguns temas entrarão para o set-list na parte brasileira da tour.

 

Rock On Stage: Nesses anos pós-pandemia, acompanhamos diversos artistas - dos mais diferentes países e estilos musicais - relatarem que fazer turnês se tornou financeiramente inviável em alguns casos. Quais são os esforços que vocês precisaram fazer para confirmar 18 shows em 11 países da América Latina?
Fernando Ribeiro:
Esse problema ocorreu com o Moonspell nos Estados Unidos e na Inglaterra. Mas é o nosso dever criar essas condições e isso passa por reduzir despesas, reduzir cachês e viver com menos, mantendo a chama viva. É um trabalho muito intenso, mas necessário.

    Eu lembro do tempo em que a América Latina tinha um show por mês, agora a competição é feroz e há espetáculos todos os dias. Por isso, só podemos cruzar os dedos e esperar que o público decida ver o Moonspell em vez de outra banda. Valeu!

Por Paulo Finatto Jr. - @umMetalpordia
Agradecimentos à Erick Tedesco - Comunicação & Mídia
pela oportunidade
Março/2023

Mais Informações:
Site: https://www.moonspell.com.
Facebook: https://www.facebook.com/moonspellband/.   
Instagram: https://www.instagram.com/moonspellofficial/.   
Twitter: https://twitter.com/moonspell.
Youtube: https://www.youtube.com/user/MoonspellYT

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