Rock On Stage: Em 2006, o Henceforth está completando 12 anos dedicados ao
rock. Vou pedir para você nos contar como foi a trajetória da banda desde o
seu início até a gravação deste primeiro álbum, realizada por Guilherme
Canaes? E os resultados obtidos pelo Guilherme foram os esperados pela
banda?
Fabio Elsas: A banda começou após eu e o Hugo encerrarmos as
atividades de nossa primeira banda, o Wardeath ( que tocava thrash
metal ). Nos juntamos ao André Nikakis ( então recém-saído do
Final Garden, que também fazia um som bem porrada ) com a
proposta de fazer um som diferente, que pendesse mais para o lado do rock
progressivo e aos poucos a formação foi completada com o Cristiano
Altieri nos teclados e o Daniel Matos ( irmão do Andre
Matos ) no vocal. A banda passaria por algumas mudanças na formação,
sendo que as últimas foram a entrada do Frank nos vocais e a entrada
do Luis no baixo no lugar do Andre Nikakis que se mudou para a
Grécia.
A parceria com o Guilherme começou em 1999. Trabalhamos com a
pré-produção com ele e com o Luis ( na época, apenas co-produtor
) por dois anos e em 2001 começamos a gravar. O processo, apesar de
longo, devido aos percalços decorrentes da falta de recursos, foi bastante
satisfatório no sentido de que pudemos dar ao CD a nossa cara, experimentar
bastante com timbres e coisas do tipo. Hoje posso dizer que estamos
plenamente satisfeitos com o resultado de todos estes anos de trabalho.
Rock On Stage: Como a mudança de alguns membros da formação original
foi ajudando e até alterando a própria evolução do som do Henceforth? E
quais as diferenças entre os trabalhos demos The Last Day e In The Garden
para o primeiro álbum? Vocês tiveram de rearranjar essas músicas para
adequarem a nova sonoridade dos atuais integrantes da banda?
Fábio Elsas: Eu diria que a evolução da sonoridade da banda foi
influenciada por vários fatores, incluindo as mudanças de formação, uma vez
que um novo integrante sempre traz novos elementos ao som do conjunto. Além
disso, a evolução de cada um de nós ao longo destes anos também teve um
papel importante, pois começamos a banda com uma média de 17, 18 anos de
idade e chegamos ao CD com uma média de 31 - com certeza estes anos
refletiram na nossa maneira de tocar, compor e fazer letras. Isto fica
bastante evidente ao se ouvir as duas demos e o CD na sequência
"cronológica".
Rock On Stage: As gravações
deste primeiro trabalho começaram em 2001 e pararam por dois anos, quais os
motivos desta parada? E num âmbito geral, esta pausa acabou sendo benéfica
para a banda?
Fábio Elsas: Esta parada aconteceu por motivos que fugiram ao nosso
controle, pois como eu disse o CD foi produzido em parceria com o
Guilherme, mas com recursos próprios, e todos nós sabemos que
isto pode ser um problema enorme. Olhando em retrospecto, eu diria que a
parada foi benéfica, pois uma banda que não encerrou de vez as atividades
com esta "pausa" não sai de campo por nada!
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Rock On Stage: No disco,
vemos influências de hard rock, prog metal, um pouco de gótico, heavy
tradicional e até notei um pouco de Rush ( da época do Test For Echo )
nas músicas Issues e Higher Ground. Nota-se também, que o disco é
experimental tornando-se difícil rotular o trabalho, sendo assim prefiro
dizer que é apenas heavy metal. Isso foi intencional ou foi apenas
resultado da aglutinação das diferentes influências dos integrantes da
banda? E quais seriam essas influências?
Fábio Elsas: O único objetivo absolutamente certo quando nos
pusemos a preparar o material para o CD era de que o som teria que ser o
mais original possível, então você pode definitivamente dizer que foi
intencional. No entanto, para alcançar este objetivo foi muito bom ter
dentro da banda influências completamente distintas, indo de
Marillion e Yes a Metallica e Anthrax, passando
por Black Sabbath, Paradise Lost e Queensryche,
para ficar em apenas alguns nomes.
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Rock On Stage: Como foi o
processo de composição? Vejo que ele rendeu excelentes frutos, pois a
temática abordada no disco é bem vasta e diversa, temos letras sobre minas
terrestres ( I.Q.U. ), reencarnação ( Higher Ground ), sonhos perdidos ( The
Pain ), médicos viciados em morfina ( White Addiction ), enfim, cada música
tem uma excelente e distinta sonoridade além de uma temática diferente. A
idéia foi de mostrar um pouco dos problemas enfrentados pela sociedade
moderna?
Fábio Elsas: Agradecemos pelos elogios! Na parte de composição das
músicas em si, na maioria das vezes funcionou assim: o Hugo
apresentou um "rascunho" ou uma idéia inicial e fomos trabalhando nos
ensaios de forma absolutamente democrática até chegarmos no que
considerávamos o formato ideal de cada música. Depois disso, na
pré-produção, o Guilherme e o Luis nos ajudaram muito a dar a
"lapidada" final no material para que alcançássemos o resultado do
CD.
Já com relação às letras, houveram basicamente dois caminhos: na maioria
das vezes, escolhemos em conjunto o tema a ser abordado e depois disso esse
tema foi desenvolvido, normalmente por mim ou por mim em parceria com o
Hugo. As letras foram escritas por mim, sobre temas mais subjetivos, e o
resto da banda aprovou.
Rock On Stage: Como foi e quem teve a idéia de convidar Andre Matos
para cantar com vocais limpos em I.Q.U., contrastando com a voz mais grave
de Frank Harris?
Fábio Elsas: Olha, essa idéia surgiu não sei de onde numa madrugada
de gravação no estúdio MOSH, em SP. Alguém falou: " vamos chamar o
Andre pra uma participação? ", e quando percebemos ele já
estava aprendendo a letra e criando suas partes. Ficamos muito felizes com o
resultado e recentemente tivemos a oportunidade de reproduzir este dueto ao
vivo pela primeira vez em nossa apresentação no festival Vitória Hot
Live, em Vitória/ES.
Rock On Stage: Ter 75% do
Shaaman reunidos em I.Q.U. e não soar como o Shaaman foi uma tarefa
difícil? Pergunto isso, porque as pessoas podem pensar que pelo fato do
Henceforth ter o Luís e o Hugo Mariutti na banda, o som deveria ser
parecido com o Shaaman ( coisa que vi que não é ). Essas pessoas podem
comparar as bandas, então, aproveito para saber se existem e como vocês
encaram e lidam com essas possíveis comparações?
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Fábio Elsas: Na verdade foi
uma coisa bastante natural, pois quando o Andre gravou a
participação, a música já estava pronta e a I.Q.U. é tão
diferente da sonoridade do Shaaman quanto a Issues ou a
Nervous Breakdown.
Com relação às comparações, elas obviamente existem e nós sabemos
que uma parcela dos fãs do Shaaman não vai gostar do nosso som.
No entanto, sabemos por experiência que a parcela mais " cabeça
aberta " dos fãs não só está gostando do som, como está virando fã da
banda e isto é muito gratificante.
Rock On Stage: Conte-nos um
pouco de como foi o contrato com Sílvio Golfetti e a Voice Music para o
lançamento e distribuição do álbum? Como a banda tem sentindo a reação do
público e da crítica com relação ao disco?
Fábio Elsas: Conhecemos o Silvio a bastante tempo e depois de
analisar as opções de selo disponíveis, chegamos à conclusão que era o dele,
a Voice Music, que oferecia as melhores condições, principalmente no
que diz respeito à distribuição.
A reação do público e da crítica especializada não poderia ser melhor,
todas as resenhas que obtivemos foram bastante positivas.
Rock On Stage: Além do som, outro merecido destaque deste álbum está
no desenho da capa e toda a caprichada parte gráfica dos encartes feitos
pelo Patrick Korb. Quais os significados dos desenhos?
Fábio Elsas: Obrigado de novo! Realmente, a relação da banda com
este desenho do Patrick foi de " amor à primeira vista "; ele
levou o desenho em um ensaio e a aceitação foi unânime. Este desenho reúne
símbolos ligados a várias religiões do mundo, muitas das quais vivem em
pé-de-guerra a séculos, e mostra ainda a figura da mulher - que tem um
caráter divino em algumas crenças e é humilhada em outras.
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Rock On Stage: Como são os
shows do Henceforth? Há espaço para covers ou mesmo uns solos maiores de
guitarra, baixo ou bateria? Gostaria de saber também se seria viável
realizar um show ou mesmo uma tour com o Shaaman ou isso seria muito
desgastante? Afinal, tocar em duas bandas diferentes na mesma noite....
Hugo Mariutti: No Henceforth existe o mesmo espaço para
tudo que tem no Shaaman, sempre tivemos muita liberdade nas duas
bandas, então também tocamos covers as vezes. Quanto uma tour conjunta
nunca se sabe, pois gás a gente arruma sempre que for por uma boa causa.
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Rock On Stage: Ainda é cedo
para falar nisso ou já existem contatos para o lançamento do disco no
exterior e até mesmo para uma turnê?
Fábio Elsas: O lançamento
na Argentina deve ocorrer em junho e estamos negociando o lançamento em
outros países latinos e na Europa. Já planos para uma tour ainda
dependem de conseguirmos lançar em mais países e de obtermos boa
aceitação no exterior.
Rock On Stage: Com a atual
parada de férias do Shaaman e sabidamente que um músico dificilmente para de
tocar mesmo, a idéia agora é realizar uma turnê mais extensa com o
Henceforth?
Hugo Mariutti: Com certeza, estamos agendando shows para que o
Henceforth possa ter uma maior visibilidade no mercado, pois muita gente
ainda não conhece nosso som e através dos show estamos tendo uma grande
resposta por parte do público.
Rock On Stage: Luís, você é um grande fã de blues, como você avalia a
cena mundial do Blues? Você aponta algum músico promovendo uma renovação?
Afinal vários dos grandes mestres do blues já estão com 70 anos ou mais.
Aproveito também para lhe pedir para falar um pouco do Motor Blues.
Luís Mariutti: O que eu escuto é realmente a velha guarda do
blues e também gosto demais do falecido Steve Ray Vaughan. Hoje
em dia tem gente fazendo coisa boa, mas não tem tanta divulgação, como é o
caso do Nuno Mindelis e de outros, mas acho que sempre tem gente
tocando blues de verdade com nível ótimo, inclusive jovens. O Motor Blues
deu uma parada por eu não ter tempo para me dedicar tanto, mas vamos
tentar gravar um CD até o fim do ano que contará com o Fábio Elsas na
batera.
Rock On Stage: No início do
Henceforth, a banda pendia bastante para o rock progressivo, já na atual
fase temos fusão de vários estilos. Vocês pensam um dia gravar um álbum
exclusivamente focado em rock progressivo como faziam Yes, Genesis, Pink
Floyd e Emerson, Lake & Palmer e tantas outras excelentes bandas dos
anos 70?
Hugo Mariutti: Isso é difícil de responder, pois as nossas
composições sempre saíram naturalmente e não dá para prever o que vai
acontecer, apesar de gostar muito das bandas que você citou e realmente
acho que nessa época existiram as melhores bandas de todos os tempos,
pois era uma época em que ninguém se preocupava em fazer músicas curtas
para rádio, etc.
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Rock On Stage: Quais os planos
para o futuro? Já existem idéias para um clip, um segundo disco ou neste
momento a proposta é excursionar e mostrar para o público headbanger este
grande álbum?
Fábio Elsas: Temos planos para começar a preparar um clip em breve e
ao mesmo tempo estamos nos concentrando em fazer o maior número possível de
shows. Já sobre um segundo CD, temos algum material "guardado" e em
breve devemos começar a trabalhar nele.
Rock On Stage: Muito obrigado pela entrevista, o espaço de vocês para
deixarem uma mensagem a todos os fãs do Henceforth e aos leitores do Rock On
Stage.
Henceforth: Agradecemos pelo espaço e pelo apoio, e agradecemos a
todos os fãs pela receptividade que nosso CD vem tendo. Fiquem de olho em
www.henceforth.com.br e nos
veremos em breve!
Mais Henceforth:
www.henceforth.com.br e na
aqui no
Rock On Stage.
Fotos: Henceforth -
www.henceforth.com.br
Por Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos a Heloísa Vidal
( Brasil Muisc Press www.brasilmusicpress.com.br
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