Neste começo do mês de julho de 2006, conversei com Fábio Elsas, Hugo Mariutti e Luís Mariutti ( bateria, guitarra e baixo do Henceforth, respectivamente ), que estão lançando pela Voice Music seu excelente álbum de estréia autointitulado ( leia resenha ). Falamos sobre a história da banda, como foram as gravações e produção do disco, influências, o convite para Andre Matos cantar em I.Q.U., shows e uma curiosidade: Luís Mariutti contou-me  também sobre seu outro projeto, o Motor Blues. Confiram tudo isso nas linhas abaixo:

Rock On Stage: Em 2006, o Henceforth está completando 12 anos dedicados ao rock. Vou pedir para você nos contar como foi a trajetória da banda desde o seu início até a gravação deste primeiro álbum, realizada por Guilherme Canaes? E os resultados obtidos pelo Guilherme foram os esperados pela banda?
Fabio Elsas: A banda começou após eu e o Hugo encerrarmos as atividades de nossa primeira banda, o Wardeath ( que tocava thrash metal ). Nos juntamos ao André Nikakis ( então recém-saído do Final Garden, que também fazia um som bem porrada ) com a proposta de fazer um som diferente, que pendesse mais para o lado do rock progressivo e aos poucos a formação foi completada com o Cristiano Altieri nos teclados e o Daniel Matos ( irmão do Andre Matos ) no vocal. A banda passaria por algumas mudanças na formação, sendo que as últimas foram a entrada do Frank nos vocais e a entrada do Luis no baixo no lugar do Andre Nikakis que se mudou para a Grécia.

    A parceria com o Guilherme começou em 1999. Trabalhamos com a pré-produção com ele e com o Luis ( na época, apenas co-produtor ) por dois anos e em 2001 começamos a gravar. O processo, apesar de longo, devido aos percalços decorrentes da falta de recursos, foi bastante satisfatório no sentido de que pudemos dar ao CD a nossa cara, experimentar bastante com timbres e coisas do tipo. Hoje posso dizer que estamos plenamente satisfeitos com o resultado de todos estes anos de trabalho.

Rock On Stage: Como a mudança de alguns membros da formação original foi ajudando e até alterando a própria evolução do som do Henceforth? E quais as diferenças entre os trabalhos demos The Last Day e In The Garden para o primeiro álbum? Vocês tiveram de rearranjar essas músicas para adequarem a nova sonoridade dos atuais integrantes da banda?
Fábio Elsas: Eu diria que a evolução da sonoridade da banda foi influenciada por vários fatores, incluindo as mudanças de formação, uma vez que um novo integrante sempre traz novos elementos ao som do conjunto. Além disso, a evolução de cada um de nós ao longo destes anos também teve um papel importante, pois começamos a banda com uma média de 17, 18 anos de idade e chegamos ao CD com uma média de 31 - com certeza estes anos refletiram na nossa maneira de tocar, compor e fazer letras. Isto fica bastante evidente ao se ouvir as duas demos e o CD na sequência "cronológica".

Rock On Stage: As gravações deste primeiro trabalho começaram em 2001 e pararam por dois anos, quais os motivos desta parada? E num âmbito geral, esta pausa acabou sendo benéfica para a banda?
Fábio Elsas: Esta parada aconteceu por motivos que fugiram ao nosso controle, pois como eu disse o CD foi produzido em parceria com o Guilherme, mas com recursos próprios, e todos nós sabemos que isto pode ser um problema enorme. Olhando em retrospecto, eu diria que a parada foi benéfica, pois uma banda que não encerrou de vez as atividades com esta "pausa" não sai de campo por nada!

Rock On Stage: No disco, vemos influências de hard rock, prog metal, um pouco de gótico, heavy tradicional e até notei um pouco de Rush ( da época do Test For Echo ) nas músicas Issues e Higher Ground. Nota-se também, que o disco é experimental tornando-se difícil rotular o trabalho, sendo assim prefiro dizer que é apenas heavy metal. Isso foi intencional ou foi apenas resultado da aglutinação das diferentes influências dos integrantes da banda? E quais seriam essas influências?
Fábio Elsas: O único objetivo absolutamente certo quando nos pusemos a preparar o material para o CD era de que o som teria que ser o mais original possível, então você pode definitivamente dizer que foi intencional. No entanto, para alcançar este objetivo foi muito bom ter dentro da banda influências completamente distintas, indo de Marillion e Yes a Metallica e Anthrax, passando por Black Sabbath, Paradise Lost e Queensryche, para ficar em apenas alguns nomes.

Rock On Stage: Como foi o processo de composição? Vejo que ele rendeu excelentes frutos, pois a temática abordada no disco é bem vasta e diversa, temos letras sobre minas terrestres ( I.Q.U. ), reencarnação ( Higher Ground ), sonhos perdidos ( The Pain ), médicos viciados em morfina ( White Addiction ), enfim, cada música tem uma excelente e distinta sonoridade além de uma temática diferente. A idéia foi de mostrar um pouco dos problemas enfrentados pela sociedade moderna?
Fábio Elsas:
Agradecemos pelos elogios! Na parte de composição das músicas em si, na maioria das vezes funcionou assim: o Hugo apresentou um "rascunho" ou uma idéia inicial e fomos trabalhando nos ensaios de forma absolutamente democrática até chegarmos no que considerávamos o formato ideal de cada música. Depois disso, na pré-produção, o Guilherme e o Luis nos ajudaram muito a dar a "lapidada"  final no material para que alcançássemos o resultado do CD.

    Já com relação às letras, houveram basicamente dois caminhos: na maioria das vezes, escolhemos em conjunto o tema a ser abordado e depois disso esse tema foi desenvolvido, normalmente por mim ou por mim em parceria com o Hugo. As letras foram escritas por mim, sobre temas mais subjetivos, e o resto da banda aprovou.

Rock On Stage: Como foi e quem teve a idéia de convidar Andre Matos para cantar com vocais limpos em I.Q.U., contrastando com a voz mais grave de Frank Harris?
Fábio Elsas:
Olha, essa idéia surgiu não sei de onde numa madrugada de gravação no estúdio MOSH, em SP. Alguém falou: " vamos chamar o Andre pra uma participação? ", e quando percebemos ele já estava aprendendo a letra e criando suas partes. Ficamos muito felizes com o resultado e recentemente tivemos a oportunidade de reproduzir este dueto ao vivo pela primeira vez em nossa apresentação no festival Vitória Hot Live, em Vitória/ES.

Rock On Stage: Ter 75% do Shaaman reunidos em I.Q.U. e não soar como o Shaaman foi uma tarefa difícil? Pergunto isso, porque as pessoas podem pensar que pelo fato do Henceforth ter o Luís e o Hugo Mariutti na banda, o som deveria ser parecido com o Shaaman ( coisa que vi que não é ). Essas pessoas podem comparar as bandas, então, aproveito para saber se existem e como vocês encaram e lidam com essas possíveis comparações?

Fábio Elsas: Na verdade foi uma coisa bastante natural, pois quando o Andre gravou a participação, a música já estava pronta e a I.Q.U. é tão diferente da sonoridade do Shaaman quanto a Issues ou a Nervous Breakdown.

    Com relação às comparações, elas obviamente existem e nós sabemos que uma parcela dos fãs do Shaaman não vai gostar do nosso som. No entanto, sabemos por experiência que a parcela mais " cabeça aberta "  dos fãs não só está gostando do som, como está virando fã da banda e isto é muito gratificante.

Rock On Stage: Conte-nos um pouco de como foi o contrato com Sílvio Golfetti e a Voice Music para o lançamento e distribuição do álbum? Como a banda tem sentindo a reação do público e da crítica com relação ao disco?
Fábio Elsas:
Conhecemos o Silvio a bastante tempo e depois de analisar as opções de selo disponíveis, chegamos à conclusão que era o dele, a Voice Music, que oferecia as melhores condições, principalmente no que diz respeito à distribuição.

    A reação do público e da crítica especializada não poderia ser melhor, todas as resenhas que obtivemos foram bastante positivas.

Rock On Stage: Além do som, outro merecido destaque deste álbum está no desenho da capa e toda a caprichada parte gráfica dos encartes feitos pelo Patrick Korb. Quais os significados dos desenhos?
Fábio Elsas:
Obrigado de novo! Realmente, a relação da banda com este desenho do Patrick foi de " amor à primeira vista "; ele levou o desenho em um ensaio e a aceitação foi unânime. Este desenho reúne símbolos ligados a várias religiões do mundo, muitas das quais vivem em pé-de-guerra a séculos, e mostra ainda a figura da mulher - que tem um caráter divino em algumas crenças e é humilhada em outras.

Rock On Stage:  Como são os shows do Henceforth? Há espaço para covers ou mesmo uns solos maiores de guitarra, baixo ou bateria? Gostaria de saber também se seria viável realizar um show ou mesmo uma tour com o Shaaman ou isso seria muito desgastante? Afinal, tocar em duas bandas diferentes na mesma noite....
Hugo Mariutti:
No Henceforth existe o mesmo espaço para tudo que tem no Shaaman, sempre tivemos muita liberdade nas duas bandas, então também tocamos covers as vezes. Quanto uma tour conjunta nunca se sabe, pois gás a gente arruma sempre que for por uma boa causa.

Rock On Stage: Ainda é cedo para falar nisso ou já existem contatos para o lançamento do disco no exterior e até mesmo para uma turnê?
Fábio Elsas:
O lançamento na Argentina deve ocorrer em junho e estamos negociando o lançamento em outros países latinos e na Europa. Já planos para uma tour ainda dependem de conseguirmos lançar em mais países e de obtermos boa aceitação no exterior.

Rock On Stage: Com a atual parada de férias do Shaaman e sabidamente que um músico dificilmente para de tocar mesmo, a idéia agora é realizar uma turnê mais extensa com o Henceforth?
Hugo Mariutti:
Com certeza, estamos agendando shows para que o Henceforth possa ter uma maior visibilidade no mercado, pois muita gente ainda não conhece nosso som e através dos show estamos tendo uma grande resposta por parte do público.

Rock On Stage: Luís, você é um grande fã de blues, como você avalia a cena mundial do Blues? Você aponta algum músico promovendo uma renovação? Afinal vários dos grandes mestres do blues já estão com 70 anos ou mais. Aproveito também para lhe pedir para falar um pouco do Motor Blues.
Luís Mariutti: O que eu escuto é realmente a velha guarda do blues e também gosto demais do falecido Steve Ray Vaughan. Hoje em dia tem gente fazendo coisa boa, mas não tem tanta divulgação, como é o caso do Nuno Mindelis e de outros, mas acho que sempre tem gente tocando blues de verdade com nível ótimo, inclusive jovens. O Motor Blues deu uma parada por eu não ter tempo para me dedicar tanto, mas vamos tentar gravar um CD até o fim do ano que contará com o Fábio Elsas na batera.

Rock On Stage: No início do Henceforth, a banda pendia bastante para o rock progressivo, já na atual fase temos fusão de vários estilos. Vocês pensam um dia gravar um álbum exclusivamente focado em rock progressivo como faziam Yes, Genesis, Pink Floyd e Emerson, Lake & Palmer e tantas outras excelentes bandas dos anos 70?
Hugo Mariutti:
Isso é difícil de responder, pois as nossas composições sempre saíram naturalmente e não dá para prever o que vai acontecer, apesar de gostar muito das bandas que você citou e realmente acho que nessa época existiram as melhores bandas de todos os tempos, pois era uma época em que ninguém se preocupava em fazer músicas curtas para rádio, etc.

Rock On Stage: Quais os planos para o futuro? Já existem idéias para um clip, um segundo disco ou neste momento a proposta é excursionar e mostrar para o público headbanger este grande álbum?
Fábio Elsas:
Temos planos para começar a preparar um clip em breve e ao mesmo tempo estamos nos concentrando em fazer o maior número possível de shows. Já sobre um segundo CD, temos algum material "guardado"  e em breve devemos começar a trabalhar nele.

Rock On Stage:  Muito obrigado pela entrevista, o espaço de vocês para deixarem uma mensagem a todos os fãs do Henceforth e aos leitores do Rock On Stage.
Henceforth:
Agradecemos pelo espaço e pelo apoio, e agradecemos a todos os fãs pela receptividade que nosso CD vem tendo. Fiquem de olho em www.henceforth.com.br e nos veremos em breve!

Mais Henceforth: www.henceforth.com.br e na aqui no Rock On Stage.
Fotos: Henceforth - www.henceforth.com.br
 

 Por Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos a Heloísa Vidal
( Brasil Muisc Press www.brasilmusicpress.com.br )
 

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