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A nova realidade italiana
do Rock Mundial
Desde o
começo de carreira, os italianos do Lacuna Coil chamaram a
atenção do público e das gravadoras, não apenas por causa da beleza
da vocalista Cristina Scabbia, mas também pela sua qualidade
musical. Atualmente, estão a conquistar o mercado norte-americano.
Prestes a desembarcar no Brasil, Costabile Salzano Jr.
conversou neste mês de maio de 2010 com a atenciosa frontwoman para
uma entrevista reveladora. Com vocês, Cristina Scabbia em
longas palavras.
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Rock On Stage: Cristina, o
Lacuna Coil é uma banda muito conhecida no Brasil, porém poucos membros da
imprensa tiveram a oportunidade de conversar com algum dos integrantes do
grupo. Por isso, vamos começar falando sobre os primeiros passos da banda.
Quais são os momentos mais marcantes do início da carreira?
Cristina Scabbia: Vai ser muito difícil resumir 16 anos em algumas
linhas, mas vou tentar! Nós nos conhecemos em 1993, quando Andrea (
vocalista ) e Marco ( baixista ) já estavam tocando em
uma banda local e buscavam um contrato com uma gravadora. Quando eles
souberam que eu tinha essa grande paixão por cantar, eles me pediram para
fazer parte da banda. Assim que produzimos nossa demo, nós chamamos a
atenção de algumas gravadoras e então decidimos assinar com a Century
Media. O resto é história: começamos a excursionar pelo mundo logo
depois de assinar nossas próprias turnês e festivais ( mesmo antes de
lançar o primeiro EP! ) ao lado dos maiores nomes do Metal, lançamos
cinco álbuns e dois EP´s e ainda estamos aqui, firmes e fortes, promovendo
nosso último álbum Shallow Life.
Nós temos muitas lembranças maravilhosas e é praticamente
impossível escolher um momento que amamos do passado, mas com certeza posso
mencionar o dia em que descobrimos que estávamos indo assinar um contrato de
gravação e lançar nosso primeiro álbum. Estávamos tão entusiasmados e você
pode entender o porquê! Hoje, eu diria que entrar na parada da
Billboard na 16 ª posição é uma coisa maravilhosa!
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Rock On Stage: Um dos
fatores mais perceptíveis no som da banda é a sua evolução musical,
lançamento após o lançamento. Você acha que depois de cada material
vocês precisam se superar ou o processo de composição da banda é
natural e sem esse tipo de preocupação?
Cristina Scabbia: Nós amamos evolução. Nós amamos descobrir
e experimentar coisas novas na vida. É a mesma coisa com a música.
Nosso núcleo mais profundo será sempre o mesmo mas, ao mesmo tempo,
sentimos que temos de criar algo diferente e mais fresco a cada novo
álbum. Nós não gostamos de clichês e queremos que nossos fãs se
envolvam e cresçam conosco. Nós não temos nenhuma preocupação, pois
nossa música é a nossa arte pessoal e ninguém pode nos dizer como
criar a nossa arte pessoal. Nós também não pensamos muito quando
compomos música; nós gostamos de mantê-la o mais espontânea
possível, porque é a única maneira de sermos honestos com nossos
fãs, que consideramos da família.
Rock On Stage: A Itália
se tornou conhecida na cena mundial do metal por revelar várias
bandas de metal melódico e hoje vocês são o principal nome do metal
italiano. Como é mudar esta tradição?
Cristina Scabbia: Mesmo quando começamos como uma banda, nós
já éramos o “elemento diferente”: ninguém na Itália estava tocando o
mesmo tipo de música que nós. Particularmente, acho que nós ainda
estamos aqui, porque trabalhamos duro para chegar neste ponto e,
acima de tudo, nunca tivemos medo de não virarmos um clichê.
Rock On Stage: O Lacuna
Coil iniciou suas atividades em 1994, mas vocês só foram notados
tempos depois principalmente com a tendência das bandas com
frontwomans. Como você vê este período?
Cristina Scabbia: Nós realmente chamamos atenção com o álbum
Comalies, quando a canção Heaven's A Lie se
tornou popular e foi tocada em mais de 100 rádios americanas. Vários
canais, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, estavam exibindo
o vídeo também. A tendência "feminina", como você chamou, começou
anos depois, especialmente nos Estados Unidos... pois ter uma mulher
numa banda na Europa não era nada estranho.
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Rock On Stage: Com poucos anos
de estrada vocês já estavam tocando no palco do maior festival de metal do
mundo, o Wacken. Como foi este momento?
Cristina Scabbia: Nós tocamos no Wacken pela primeira
vez em 1998, no ano do lançamento do nosso primeiro EP. Foi absolutamente
fantástico! Sendo uma banda nova e desconhecida, a chance de tocar em um
dos maiores festivais de metal do mundo... é uma sensação fenomenal que não
podemos esquecer, é impagável.
Rock On Stage: No entanto, hoje em dia vocês estão confirmados para se
apresentarem em todos os grandes festivais do mundo. Como é ver a banda
crescer, sem deixar que o sucesso suba à cabeça?
Cristina Scabbia: Eu acho que é o que paga nossas contas. Nós
não somos uma banda que se uniu por causa de uma gravadora; nós começamos a
partir de zero e construímos a nossa carreira na maneira old school: tocando
em todos os lugares, dando um monte de entrevistas e literalmente
trabalhando muito... Desta forma, nós sempre podemos lembrar de onde viemos
e deixar para outras pessoas aquela atitude irritante que não nos pertence.
Você não precisa ser um idiota para provar que você pode tocar rock!
Rock On Stage: Shallow
Life é outro período em sua carreira. As canções são cativantes e o
som é muito moderno, muito diferente do que vocês costumavam fazer
no início. Qual é o objetivo com este material?
Cristina Scabbia: Não há nenhum objetivo, nós tocamos a
música que gostamos. Ao ouvir muitas músicas boas, do passado e do
presente, nós percebemos que é muito mais difícil criar uma canção
muito intensa, na qual a mensagem vá direto para o ouvinte. Te dou
um exemplo bobo: pense em canções como Imagine, de John
Lennon. Eu ouvi um monte de gente dizendo: "essa música é tão
simples que eu poderia escrevê-la !"... Obviamente, eu nunca nos
compararia com ele, mas o que eu estou tentando dizer é que é MUITO
difícil ser simples, claro, forte e intenso em um vocal, muito mais
do que unir riffs complicados e palavras que você realmente não
compreende. Muita gente não entende isso. Nós tentamos fazer isso no
Shallow Life e eu acho que alcançamos o que queríamos
fazer.
Rock On Stage: Neste
álbum você trabalhou com Don Gilmore, que tem artistas como Avril
Lavigne, Linkin Park e Pearl Jam em sua história. A ideia é alcançar
novos públicos?
Cristina Scabbia: Não, na verdade não! Nós só queríamos
trabalhar com um produtor diferente para aprender algo novo e ver
onde nós poderíamos ir a partir do Karmacode.
Conhecemos Don em Milão, onde tocamos algumas músicas para
ele e nos demos bem desde o primeiro dia.
Certamente,
ele é extremamente profissional e tem um ótimo portfólio, mas ele é
também uma pessoa muito descontraída, que te coloca de volta no
lugar quando é hora de se concentrar na gravação. Ele é um grande
produtor que nos ensinou como abordar as coisas de forma diferente e
se nós vamos trabalhar novamente com ele ou não, nós estimaremos sua
experiência.
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Rock On Stage: Nos últimos anos,
a cena metal brasileira tem crescido tanto que temos várias bandas se dando
bem internacionalmente. No entanto, não temos ouvido muito da cena italiana.
O que você pode nos dizer sobre o que está acontecendo em seu país de
origem?
Cristina Scabbia: Honestamente, tenho que dizer que não faço ideia
sobre o que está acontecendo agora, porque eu passo mais tempo fora da
Itália do que em casa!
Rock On Stage: Cristina, o Lacuna Coil é uma banda que gosta de
futebol. Qual é a relação de vocês com o esporte dentro da banda? Na minha
opinião, a única coisa errada é você torcer para o Milan! P.S.: Não me
interprete mal, eu sou fanático pelo Juventus ( risos )
Cristina Scabbia: Humm, se você é um torcedor da Juventus,
então eu não deveria responder às suas perguntas! ( risos gerais ).
Deixando de lado as piadas, todos nós amamos futebol, alguns mais do que
outros. Quem acompanha futebol no Lacuna Coil é fã do AC Milan
e, sempre que estamos na estrada, estamos tentando acompanhar as partidas
mais importantes no ônibus, via satélite. Nosso baterista também tem uma
grande paixão pela arte marcial chinesa.
Rock On Stage: Por ser torcedora, você tem algum contato direto com
algum dos jogadores brasileiros do Milan?
Cristina Scabbia: Infelizmente não: mesmo que eu conheça várias
pessoas estritamente ligadas ao time, eu nunca tive a chance de conhecê-los,
até agora.
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Rock On Stage: Ainda sobre
futebol, a turnê sul-americana da banda vai ser durante a Copa do Mundo. Já
pensou que você pode estar tocando em território inimigo? ( risos )
Cristina Scabbia: É, eu estou realmente animada com a Copa do Mundo.
Obviamente, eu espero que a Itália ganhe e sei bem que o Brasil é um time
MUITO forte para vencer. Mas nós nem sabemos se vamos nos encontrar em uma
partida, então vamos esperar para ver!
Rock On Stage: Por um tempo,
você namorou com o Marco Zelati. Como é o relacionamento de vocês hoje em
dia? Afinal, vocês não estão mais juntos, saíram com outras pessoas, mas
existem fãs que seguem vocês, etc. Muitas bandas não suportam esse tipo de
situação e, geralmente, um ou o outro acaba abandonando.
Cristina Scabbia: Normalmente, eu não gosto de compartilhar minhas
coisas pessoais; eu sou muito extrovertida, mas ao mesmo tempo sou uma
pessoa muito reservada e gosto ficar na minha quando se trata da vida
pessoal. Eu só posso dizer que eu e Marco estamos felizes na banda e somos
grandes amigos.
Rock On Stage: Como surgiu o convite para gravar o cover do Megadeth
para A Tout Le Monde?
Cristina Scabbia: O Megadeth apenas me pediu para fazer e eu
aceitei de bom grado. Eu sempre amei a música A Tout Le Monde e o
fato deles me convidarem para fazer parte disso foi uma coincidência
curiosa, pois esta é a música que mais gosto do Megadeth. Nós a
tocamos ao vivo algumas vezes juntos e foi uma experiência fantástica.
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Rock On Stage: O mercado
norte-americano sempre foi conhecido por não ser confiável e por não
aceitar muito bem o que vem de outros países. No entanto, parece que
ele mudou ao longo dos últimos anos e várias bandas estrangeiras
como vocês e o Shadowside, do Brasil ( liderado pela bela vocalista
Dani Nolden ), estão dominando os Estados Unidos. Como interpretar
tal recepção dos norte-americanos?
Cristina Scabbia: Não há uma receita para ser bem-sucedido
nos Estados Unidos, mas o que posso dizer é que nos sentimos em casa
quando estamos lá. Nós estivemos lá tantas vezes que alguns dos
nossos fãs pensam que somos ítalo-americanos de Nova Jersey! (
risos )
Rock On Stage: Falando sobre beleza, você está sendo
considerada uma das divas Metal. Este título ajuda ou atrapalha?
Afinal, se você não tiver talento, a beleza não ajuda muito, não é?
Cristina Scabbia: Este "título" só ajuda você a
conseguir um pouco de atenção, mas o que você disse sobre a beleza
não ser o bilhete premiado para ser bem-sucedido e respeitado é
absolutamente verdadeiro. A beleza é volátil e é apenas algo que
você vê na superfície. Você precisa de muito mais, como mulher, para
ser considerada e respeitada. Há um monte de garotas bonitas na
cena, especialmente neste momento em particular, mas nem todas elas
estão encontrando seu espaço no mundo da música: um rosto bonito não
é o suficiente e você tem que provar o seu potencial, ser capaz de
cantar ou tocar um instrumento. Pelo menos, se você quiser estar em
uma banda!
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Rock On Stage: Ao longo
dos últimos anos, pudemos observar que o Metal está mudando. Como
você vê essas transformações?
Cristina Scabbia: Algumas bandas foram inspiradas por
diferentes estilos de música e criaram algo diferente. Outras
fizeram o mesmo com outros estilos e assim por diante. Os estilos só
continuam se misturando. É a evolução natural. Haverá sempre os
clássicos que todos nós amamos, mas você não pode parar as mudanças,
mesmo que você tente!
Rock On Stage: Por que você acredita metal sueco dita as regras hoje
em dia? O que você acha que causou isso?
Cristina Scabbia: Eu não acho que o metal sueco dita as
regras ... com todo o respeito a cada banda sueca, é claro!
Rock On Stage:
Infelizmente, há poucos dias perdemos Peter Steele. Você acha que as
pessoas podem dizer o quanto esta perda significa para a música?
Cristina Scabbia: Eu não sei o que as pessoas podem pensar
sobre esta notícia devastadora... Eu só sei que ele me inspirou, eu
o amava tanto como um amigo quanto como músico e sinto sua falta.
Sem ele, eu não seria quem sou agora: é por causa de bandas como
Type O Negative que nós, o Lacuna Coil, estamos aqui
hoje.
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Rock On Stage: Cristina,
qual o seu maior sonho?
Cristina Scabbia: Eu só tento aproveitar o que tenho, todos
os dias. Eu tenho sido extremamente abençoada até agora, então se eu
pudesse torná-la real, adoraria manter esta serenidade interior para
sempre.
Rock On Stage: Na sua
opinião, como seria a turnê perfeita?
Cristina Scabbia: A turnê perfeita é aquela onde a multidão
enlouquece todas as noites, pulando e cantando com você, te
alimentando com energia. E não deveria realmente importar quem está
tocando, pois ela deveria ser sobre curtir junto, sentindo a música.
Esta seria a turnê perfeita.
Rock On Stage: Esta é
sua primeira vez tocando no Brasil. O que os fãs podem esperar deste
único show?
Cristina Scabbia: Uma quantidade insana de energia pura e
crua. Nós gostamos de interagir com nossos fãs durante o show e de
se mover no palco. Nosso show não será nada estático!!
Rock On Stage: Deixe uma mensagem aos fãs.
Cristina Scabbia: Mal posso esperar para conhecer todos
vocês!! Vocês têm esperado por tanto tempo que merecem um grande
espetáculo. Vamos nos emprenhar 100% e eu já estou animada! Nos
vemos lá e rock on!
Por Costábile Salzano Jr
Junho/2010
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