Rock
On Stage: Como e quando você viu que poderia desenhar especificamente
quadrinhos de rock ? E você sempre gostou de desenhar?
Márcio Baraldi:
Na verdade eu não desenho apenas quadrinhos de rock, eu sou cartunista
profissional e faço quadrinhos de tudo quanto é assunto que você possa
imaginar. Modéstia a parte, tenho uma das maiores produções de cartuns do
Brasil, são milhares e milhares, nem me atrevo a contar. Mas o rock’n’roll
sempre esteve presente na minha vida e eu fui entrando nas revistas de rock
brasileiras e fazendo um trabalho novo, bacana, original, que acabou me
dando um reconhecimento legal nesse assunto. Acabei conhecido como o
cartunista mais rock’n’roll do país, e, provavelmente, do mundo, porque
jamais vi outro cartunista estrangeiro com um trabalho como o que eu faço.
Acredito que criei algo novo, um estilo novo, a “chargerock”, sacou?
Quanto ao meu amor pelos quadrinhos
vem do berço mesmo, pois desde pirralho, quando botei os olhos num gibi, me
apaixonei imediatamente e jurei dedicar minha vida aos gibis (
gargalhadas ). Sabe o juramento que o Fantasma e o Batman
fizeram, de dedicar suas vidas ao combate ao crime? ( N. E.: E
como eu sei, sou super fã de quadrinhos e especialmente do protetor de
Gotham... ) Pois é, eu também fiz o meu ( risos )!
Rock
On Stage: Neste período inicial, você imaginava que seria uma "autoridade "
nos quadrinhos de rock, criando personagens como o Roko-Loko, que
imortalizaram o Márcio Baraldi no estilo? E como você teve a idéia de criar
o Roko?
Márcio Baraldi: Eu não imaginava, não. Foi tudo muito espontâneo, eu
criei o Roko sem pretensão nenhuma de virar uma série. Eu estava numa
dureza desgraçada e bolei uma HQ pra vender pra Rock Brigade e ganhar
uns trocados ( risos )! De repente aquela HQ virou uma série de
sucesso que já dura DEZ anos e vai durar muito mais ainda. Engraçado que eu
nem vi esse tempo passar, parece que foi ontem que eu ofereci a primeira HQ
pra Brigade, aliás, parece que foi anteontem que eu estava na rua
jogando fubeca e soltando pipa ( gargalhadas )! O tempo ficou doido,
está passando muito depressa! Sorte que eu sou que nem o vinho, fico mais
gostoso a cada ano que passa ( gargalhadas )!!!!
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Rock On Stage: O
“ Roko-Loko ” foi o seu primeiro personagem conhecido, gostaria de saber quais
são os outros personagens que junto com o “Roko”, a “Adrina”, o “Tattoo
Zinho” compõem o que posso chamar de " Universo Baraldiano ".
Márcio Baraldi: Eu trabalho na Imprensa Sindical, em jornais e
revistas de sindicatos, desde os 16 anos e tenho muitos personagens como
“Euriko e Ritalinda”, o casalzinho bancário, o “Zé Ácido”, a
“Maria dos Remédios” e “Caveirinha”, para o Sindicato dos
Químicos do ABC.
Além disso, faço o “Sabujo Vingador” e o “Ultravesti”,
dois super-heróis diferentes, um é um cachorro e o outro, um travesti, para
a revista Dynamite. Também faço o “Guerrilheiro da Guitarra” (
Comando Rock ), “Maluco e Beleza” ( Valhalla
), “Vapt e Vupt”, os passarinhos ( Espiritismo e Ciência
), “Érica, a esotérica” ( Esotérica ),
“Zada, a abusada” ( Abusada ), e muitos outros que saem em várias
revistas por aí! Enfim, o “Universo Baraldiano” é uma loucura, um
verdadeiro universo em expansão ( risos )!!!
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Rock
On Stage: Quais desenhistas serviram de inspiração e de certa forma te
influenciaram para a criação dos seus personagens?
Márcio Baraldi:
Eu gosto até hoje dos autores que li
na infância e que me alfabetizaram, tanto na literatura como nos quadrinhos:
Mauricio de Souza, Ziraldo e Monteiro Lobato. Esses
são meus três mestres! Aos mestres com carinho ( risos )!
Rock
On Stage: Assim como Jim Aparo, Frank Miller e aqui no Brasil, Maurício de
Souza, que criaram sua forma única de desenhar, os seus cartuns serão únicos
ou você pensa em criar um sucessor?
Márcio Baraldi:
Não terei sucessor jamais, sou
Baraldão primeiro, único e último ( risos )! Santo padroeiro dos
cartunistas roqueiros ( gargalhadas )!!!
Gozado você falar do Jim Aparo, porque sou apaixonado pelo trabalho
que ele fazia nos anos 70, com o Batman, na maravilhosa revista
Brave and Bold, e também pelo Espectro e o Desafiador,
que ele desenhou melhor que ninguém, a não ser claro, o Neal Adams,
que é outro gênio ( risos )! Eu cresci lendo esses quadrinhos e
autores e adoro isso até hoje! E assim como o Jim Aparo, Jack
Kirby, Gil Kane, Hal Foster, Alex Raymond,
Péricles ( Amigo da Onça ), Henfil, Luiz Sá
( Reco-Reco, Bolão e Azeitona ), todos já falecidos, não
deixaram sucessores, eu também não deixarei. Cada um desses artistas
escreveu uma página da grande história das Histórias em Quadrinhos e eu
estou escrevendo a minha agora também!
Até já pensei em treinar alguém para
copiar o meu traço e continuar depois do meu passamento, mas o meu traço é
tão, digamos, pessoal, que somente um cachorro poderia desenhar igual (
gargalhadas )!
Rock
On Stage: O game “Roko-Loko no castelo do Ratozinger” é excelente e resgata
a magia dos vídeo-games dos anos 80 ( simples e divertido ), gostaria de
saber o que foi mais trabalhoso para criar o jogo. E você chegou a ter algum
problema com a Igreja, afinal o “Ratozinger” é o atual , bem, vocês sabem quem, né
( risos!!! )!?!
Márcio Baraldi: Sim, eu sei que o
Ratozinger é uma paródia do atual digníssimo Papa ( risos
). Um sujeito muitíssimo moderno que considera o rock’n‘roll música do diabo
e condena o uso da camisinha em plena época de Aids, enfim, uma pessoa muito
sintonizada com a realidade ( gargalhadas )!
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Não tenho problemas
nenhum com a Igreja Católica, pelo contrário, esse Papa antipático e
atrasado é que deve estar lhe causando problemas, isso sim! A Igreja precisa
acompanhar as mudanças culturais da sociedade se quiser sobreviver. Ninguém
pode permanecer com a cabeça na Idade Média em pleno século 21. No mais, no
ritmo que a Ciência vai, as religiões terão que se tornar cada vez menos
fantasiosas e mais racionais se não quiserem perder espaço para a Ciência.
Quanto ao game foi muito divertido fazê-lo, este é um produto pioneiro, é o
primeiro game rock’n’roll do Brasil!!! Fizemos o game em três pessoas, eu,
Sidney Guerra e Richard Aguiar, ambos são sócios e fazem o meu
site (
www.marciobaraldi.com.br ), e levamos cinco
meses para concluí-lo. Para a trilha sonora chamamos a poderosa banda
Exxótica (
www.exxotica.com.br ), que fez um serviço espetacular! Ficou genial! O
jogo pode ser comprado, em sua versão prensada, com caixinha e capinha, por
apenas dez reais no site da Rock Brigade (
www.rockbrigade.com.br ), ou baixado de
graça - sem caixa e capa, lógico, no mesmo site! Não deixe de jogar e se
divertir muito com o primeiro game Rock’n’Roll do Brasil!!!
Rock On Stage: No futuro
teremos novas aventuras do “Roko-Loko” ou mesmo do “Tattoo Zinho” no mundo
dos games? E você já pensou em fazer um filme ou mesmo um desenho animado
envolvendo seus personagens e as personalidades encontradas por eles nas
histórias?
Márcio Baraldi: Num futuro
muito breve ( risos )! Já estamos fazendo o game do “Tattoo Zinho”,
onde os membros do Exxótica, além de fazerem a trilha sonora também
participarão como personagens do game! Vai ser um jogo mais complexo que o
do “Roko”, com mais fases , novos ângulos, etc. Aguardem que vai ser
muito legal!
Quanto as animações eu tenho vontade sim, mas não tenho tempo agora, os
games já estão servindo com experiências de animação, e estão me dando
know-how para fazer pequenos filmes de animação para um futuro breve.
Aguarde que virão também, na hora certa!
Rock
On Stage: E como pinta a idéia de criar cartuns e histórias originais com
cada banda, além das aventuras hilariantes do “Roko”? Você lê jornais,
assiste TV, enfim como surgem em sua cabeça essas engraçadas peripécias do “Roko”?
Márcio Baraldi: Eu tenho que ler jornais e estar sintonizado em tudo
que acontece, tanto no mundo do rock, como na conjuntura mundial. Tudo vira
matéria prima pras minhas HQs. E, claro, eu tenho que ter muita imaginação e
pensar muita besteira o dia inteiro ( risos )! Mas cartunista é assim
mesmo, só pensa besteira ( gargalhadas )!
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Rock On Stage: Márcio, sobre os prêmios Ângelo
Agostini que você recebeu, você considera que foi uma conseqüência natural
do trabalho? E foi um sonho realizado ser chamado para receber o prêmio no
meio de tantos outros cartunistas famosos?
Márcio Baraldi:
Eu já ganhei seis "Angelos Agostinis" e dois
"Vladimir Herzogs", são prêmios muito legais e pra mim foi muito
emocionante ganhá-los, porque estou trabalhando que nem um condenado a vida
inteira e uns prêmios como esses vêm bem a calhar ( risos )! É um
sinal de que meu trabalho está sendo visto e reconhecido por muita gente.
Nada mais justo depois de tantos anos de suor e empenho! Aliás, acho que
mereço muitos outros ( risos )!
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Rock
On Stage: Algum
músico lá de fora que participou de alguma "aventura" com o “Roko-Loko” já
comentou alguma coisa com você ou com o pessoal da Rock Brigade? Se
comentou você pode nos contar quem e o que ele(s) falou(aram)?
Márcio Baraldi: Eu já entreguei livros e cartuns pro Paul Dianno,
Helloween, Bruce Dickinson, mas geralmente é aquele contato
rápido, eles dão risada na hora, agradecem, tiram uma foto e tchau. Eu
preciso criar vergonha, melhorar meu inglês de índio e me corresponder com
esses caras por e-mail pra colher comentários mais consistentes. Nos
próximos livros do “Roko”, quero colocar alguns comentários de
roqueiros internacionais!
Rock
On Stage: Você lê alguma revista de HQ? Se sim quais e porque?
Márcio Baraldi: Eu tenho uma coleção de gibis da minha época de
moleque que eu guardo como um tesouro e estou toda hora fuçando e relendo.
Gosto de ver uns gibis bem trashes que eu tenho, como Sansão,
Turok, Solar, Magnus, uns heróis
bem meia-boca, mas muito divertidos. Também adoro o Capitão Marvel,
aquele moleque pentelho que grita “Shazam!” e o Poderoso Thor,
o herói cabeludo heavy-metal ( risos )! Quando eu era criança vivia
gritando “Shazam!...”; pra ver se eu me transformava num herói também (
gargalhadas )! Eu gosto dessas HQs antigas que eram mais
divertidas, mais emocionantes, hoje em dia tem muita HQ “cabeça “
como “Cavaleiro das Trevas” e “Watchmen”,
que eu não entendo porra nenhuma, acho que só o Caetano Veloso e o
Carlinhos Brown entendem ( risos )!
Rock On Stage: Quanto tempo demora para você
"compor" uma HQ, um cartum ou uma tirinha de seus personagens ou mesmo de
uma banda, enfim, o roteiro, os desenhos, e a arte final da HQ?
Márcio Baraldi: O processo todo é bem rápido, como eu preciso fazer
muitas charges e HQs por dia, já tenho prática e fluência pra escrever e
desenhar. As vezes, faço charges em meia hora, vinte minutos, é pauleira
mesmo, vivo correndo contra o relógio. Eu sou um cartunista Hardcore (
risos )!
Rock
On Stage: Depois dos dois livros do “Roko Loko e Adrina-Lina” e os recentes
livro do “Tattoo Zinho” e o game do “Roko-Loko”, quais os planos para o
futuro?
Márcio Baraldi: Este ano sairá o terceiro livro do Roko-Loko,
”Born To Be Wild”, e estamos trabalhando pro game do
“Tattoo Zinho” sair também. Depois tenho outros personagens e séries
pra transformar em livros, como o “Sabujo Vingador” e “Humortífero”,
minha seção de humor que sai na revista Metalhead há dez anos.
Também vou dar uma incrementada nas camisetas do “Roko-Loko” e
do “Tattoo Zinho”, enfim, vem muita coisa bacana por aí. E
muita trabalheira também ( risos )!
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Rock
On Stage: Bem, Márcio é uma grande honra ter realizado essa entrevista com
você. Peço para que deixe uma mensagem para os fãs dos quadrinhos e do
rock´n´roll.
Márcio Baraldi:
Apóiem todos os sites, revistas, programas de rádio e TV, zines, enfim,
todos os veículos voltados para fortalecer o rock, o metal e a cultura
independente do Brasil! É triste ver tanto brasileiro pagando mico pra
gringos e desprezando tanta coisa boa que se produz no Brasil! Vamos dar
valor pro que é nosso, pro nosso próprio talento e cultura originais.
Em
tempos de globalização, em que as multinacionais querem engolir tudo, em que
as pessoas parecem todas cada vez mais padronizadas, não perca sua cultura
brasileira. Vamos misturar e fazer o novo, mas sem perder o que é nosso!
Hay que
misturar, pero sin perder la cultura jamás
(
gargalhadas
)!
Sucesso e saúde a todos!!! Visitem meu site e comprem os livros e games,
seus pães-duros ( risos )! Abraços!
Site:
www.marciobaraldi.com.br
Por
Fernando R. R. Júnior
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