Neste início de março, conversei com o Márcio Baraldi, o hilário,  divertido, criador do Roko Loko e mais um belo número de personagens. Neste papo abaixo, ele nos conta com muito bom humor suas influências, prêmios, inspirações para desenhar, livros, seus personagens, o game do Roko, enfim, conheçam o mago dos quadrinhos do rock: 

”Hay Que Misturar, Pero Sin Perder La Cultura Jamás!”
 

Rock On Stage:  Como e quando você viu que poderia desenhar especificamente quadrinhos de rock ?  E você sempre gostou de desenhar?
Márcio Baraldi: Na verdade eu não desenho apenas quadrinhos de rock, eu sou cartunista profissional e faço quadrinhos de tudo quanto é assunto que você possa imaginar. Modéstia a parte, tenho uma das maiores produções de cartuns do Brasil, são milhares e milhares, nem me atrevo a contar. Mas o rock’n’roll  sempre esteve presente na minha vida e eu fui entrando nas revistas de rock brasileiras e fazendo um trabalho novo, bacana, original, que acabou me dando um reconhecimento legal nesse assunto. Acabei conhecido como o cartunista mais rock’n’roll do país, e, provavelmente, do mundo, porque jamais vi outro cartunista estrangeiro com um trabalho como o que eu faço. Acredito que criei algo novo, um estilo novo, a “chargerock”, sacou?

    Quanto ao meu amor pelos quadrinhos vem do berço mesmo, pois desde pirralho, quando botei os olhos num gibi, me apaixonei imediatamente e jurei dedicar minha vida aos gibis ( gargalhadas ). Sabe o juramento que o Fantasma e o Batman fizeram, de dedicar suas vidas ao combate ao crime? ( N. E.: E como eu sei, sou super fã de quadrinhos e especialmente do protetor de Gotham... ) Pois é, eu também fiz o meu ( risos )!  

Rock On Stage: Neste período inicial, você imaginava que seria uma "autoridade " nos quadrinhos de rock, criando personagens como o Roko-Loko, que imortalizaram o Márcio Baraldi no estilo? E como você teve a idéia de criar o Roko?
Márcio Baraldi:
Eu não imaginava, não. Foi tudo muito espontâneo, eu criei o Roko sem pretensão nenhuma de virar uma série. Eu estava numa dureza desgraçada e bolei uma HQ pra vender pra Rock Brigade e ganhar uns trocados ( risos )! De repente aquela HQ virou uma série de sucesso que já dura DEZ anos e vai durar muito mais ainda. Engraçado que eu nem vi esse tempo passar, parece que foi ontem que eu ofereci a primeira HQ pra Brigade, aliás, parece que foi anteontem que eu estava na rua jogando fubeca e soltando pipa ( gargalhadas )! O tempo ficou doido, está passando muito depressa! Sorte que eu sou que nem o vinho, fico mais gostoso a cada ano que passa ( gargalhadas )!!!! 

Rock On Stage: O “ Roko-Loko ” foi o seu primeiro personagem conhecido, gostaria de saber quais são os outros personagens que junto com o “Roko”, a “Adrina”, o “Tattoo Zinho” compõem o que posso chamar de  " Universo Baraldiano ".
Márcio Baraldi:
Eu trabalho na Imprensa Sindical, em jornais e revistas de sindicatos, desde os 16 anos e tenho muitos personagens como “Euriko e Ritalinda”, o casalzinho bancário, o “Zé Ácido”, a “Maria dos Remédios” e “Caveirinha”, para o Sindicato dos Químicos do ABC.

    Além disso, faço o “Sabujo Vingador” e o “Ultravesti”, dois super-heróis diferentes, um é um cachorro e o outro, um travesti, para a revista Dynamite. Também faço o “Guerrilheiro da Guitarra” ( Comando Rock ), “Maluco e Beleza” ( Valhalla ), “Vapt e Vupt”, os passarinhos ( Espiritismo e Ciência ), “Érica, a esotérica” ( Esotérica ), “Zada, a abusada” ( Abusada ), e muitos outros que saem em várias revistas por aí! Enfim, o “Universo Baraldiano” é uma loucura, um verdadeiro universo em expansão ( risos )!!! 

Rock On Stage: Quais desenhistas serviram de inspiração e de certa forma te influenciaram para a criação dos seus personagens?
Márcio Baraldi: Eu gosto até hoje dos autores que li na infância e que me alfabetizaram, tanto na literatura como nos quadrinhos: Mauricio de Souza Ziraldo e Monteiro Lobato. Esses são meus três mestres! Aos mestres com carinho ( risos )! 

Rock On Stage: Assim como Jim Aparo, Frank Miller e aqui no Brasil, Maurício de Souza, que criaram sua forma única de desenhar, os seus cartuns serão únicos ou você pensa em criar um sucessor? 
Márcio Baraldi: Não terei sucessor jamais, sou Baraldão primeiro, único e último ( risos )! Santo padroeiro dos cartunistas roqueiros ( gargalhadas )!!!

    Gozado você falar do Jim Aparo, porque sou apaixonado pelo trabalho que ele fazia nos anos 70, com o Batman, na maravilhosa revista Brave and Bold, e também pelo Espectro e o Desafiador, que ele desenhou melhor que ninguém, a não ser claro, o Neal Adams, que é outro gênio ( risos )! Eu cresci lendo esses quadrinhos e autores e adoro isso até hoje! E assim como o Jim Aparo, Jack Kirby, Gil Kane, Hal Foster, Alex Raymond, Péricles ( Amigo da Onça ), Henfil, Luiz Sá ( Reco-Reco, Bolão e Azeitona ), todos já falecidos, não deixaram sucessores, eu também não deixarei. Cada um desses artistas escreveu uma página da grande história das Histórias em Quadrinhos e eu estou escrevendo a minha agora também!

    Até já pensei em treinar alguém para copiar o meu traço e continuar depois do meu passamento, mas o meu traço é tão, digamos, pessoal, que somente um cachorro poderia desenhar igual ( gargalhadas )!

Rock On Stage: O game “Roko-Loko no castelo  do Ratozinger” é excelente e resgata a magia dos vídeo-games dos anos 80 ( simples e divertido ), gostaria de saber o que foi mais trabalhoso para criar o jogo. E você chegou a ter algum problema com a Igreja, afinal o “Ratozinger” é o atual , bem, vocês sabem quem, né ( risos!!!  )!?!
Márcio Baraldi:
Sim, eu sei que o Ratozinger é uma paródia do atual digníssimo Papa ( risos ). Um sujeito muitíssimo moderno que considera o rock’n‘roll música do diabo e condena o uso da camisinha em plena época de Aids, enfim, uma pessoa muito sintonizada com a realidade ( gargalhadas )!

Não tenho problemas nenhum com a Igreja Católica, pelo contrário, esse Papa antipático e atrasado é que deve estar lhe causando problemas, isso sim! A Igreja precisa acompanhar as mudanças culturais da sociedade se quiser sobreviver. Ninguém pode permanecer com a cabeça na Idade Média  em pleno século 21. No mais, no ritmo que a Ciência vai, as religiões terão que se tornar cada vez menos fantasiosas e mais racionais se não quiserem perder espaço para a Ciência.

    Quanto ao game foi muito divertido fazê-lo, este é um produto pioneiro, é o primeiro game rock’n’roll do Brasil!!! Fizemos o game em três pessoas, eu, Sidney Guerra e Richard Aguiar, ambos são sócios e fazem o meu site ( www.marciobaraldi.com.br ), e levamos cinco meses para concluí-lo. Para a trilha sonora chamamos a poderosa banda Exxótica ( www.exxotica.com.br ), que fez um serviço espetacular! Ficou genial! O jogo pode ser comprado, em sua versão prensada, com caixinha e capinha, por apenas dez reais no site da Rock Brigade ( www.rockbrigade.com.br ), ou baixado de graça - sem caixa e capa, lógico, no mesmo site! Não deixe de jogar e se divertir muito com o primeiro game Rock’n’Roll do Brasil!!!

Rock On Stage: No futuro teremos novas aventuras do “Roko-Loko” ou mesmo do “Tattoo Zinho” no mundo dos games? E você já pensou em fazer um filme ou mesmo um desenho animado envolvendo seus personagens e as personalidades encontradas por eles nas histórias?
Márcio Baraldi: Num futuro muito breve ( risos )! Já estamos fazendo o game do “Tattoo Zinho”, onde os membros do Exxótica, além de fazerem a trilha sonora também participarão como personagens do game! Vai ser um jogo mais complexo que o do “Roko”, com mais fases , novos ângulos, etc. Aguardem que vai ser muito legal!

    Quanto as animações eu tenho vontade sim, mas não tenho tempo agora, os games já estão servindo com experiências de animação, e estão me dando know-how para fazer pequenos filmes de animação para um futuro breve. Aguarde que virão também, na hora certa! 

Rock On Stage: E como pinta a idéia de criar cartuns e histórias originais com cada banda, além das aventuras hilariantes do “Roko”? Você lê jornais, assiste TV, enfim como surgem em sua cabeça essas engraçadas peripécias do “Roko”?
Márcio Baraldi:
Eu tenho que ler jornais e estar sintonizado em tudo que acontece, tanto no mundo do rock, como na conjuntura mundial. Tudo vira matéria prima pras minhas HQs. E, claro, eu tenho que ter muita imaginação e pensar muita besteira o dia inteiro ( risos )! Mas cartunista é assim mesmo, só pensa besteira ( gargalhadas )! 

Rock On Stage: Márcio, sobre os prêmios Ângelo Agostini que você recebeu, você considera que foi uma conseqüência natural do trabalho? E foi um sonho realizado ser chamado para receber o prêmio no meio de tantos outros cartunistas famosos?
Márcio Baraldi:
Eu já ganhei seis "Angelos Agostinis" e dois "Vladimir Herzogs", são prêmios muito legais e pra mim foi muito emocionante ganhá-los, porque estou trabalhando que nem um condenado a vida inteira e uns prêmios como esses vêm bem a calhar ( risos )! É um sinal de que meu trabalho está sendo visto e reconhecido por muita gente. Nada mais justo depois de tantos anos de suor e empenho! Aliás, acho que mereço muitos outros ( risos )!

Rock On Stage: Algum músico lá de fora que participou de alguma "aventura" com o “Roko-Loko” já comentou alguma coisa com você ou com o pessoal da Rock Brigade?  Se comentou você pode nos contar quem e o que ele(s) falou(aram)?
Márcio Baraldi:
Eu já entreguei livros e cartuns pro Paul Dianno, Helloween, Bruce Dickinson, mas geralmente é aquele contato rápido, eles dão risada na hora, agradecem, tiram uma foto e tchau. Eu preciso criar vergonha, melhorar meu inglês de índio e me corresponder com esses caras por e-mail pra colher comentários mais consistentes. Nos próximos livros do “Roko”, quero colocar alguns comentários de roqueiros internacionais!

Rock On Stage: Você lê alguma revista de HQ? Se sim quais e porque?
Márcio Baraldi:
Eu tenho uma coleção de gibis da minha época de moleque que eu guardo como um tesouro e estou toda hora fuçando e relendo. Gosto de ver uns gibis bem trashes que eu tenho, como Sansão, Turok, Solar, Magnus, uns heróis bem meia-boca, mas muito divertidos. Também adoro o Capitão Marvel, aquele moleque pentelho que grita “Shazam!” e o Poderoso Thor, o herói cabeludo heavy-metal ( risos )! Quando eu era criança vivia gritando “Shazam!...
; pra ver se eu me transformava num herói também ( gargalhadas )!  Eu gosto dessas HQs antigas que eram mais divertidas, mais emocionantes, hoje em dia tem muita HQ “cabeça “ como “Cavaleiro das Trevas” e “Watchmen”, que eu não entendo porra nenhuma, acho que só o Caetano Veloso e o Carlinhos Brown entendem ( risos )! 

Rock On Stage: Quanto tempo demora para você "compor" uma HQ, um cartum ou uma tirinha de seus personagens ou mesmo de uma banda, enfim, o roteiro, os desenhos, e a arte final da HQ?
Márcio Baraldi:
O processo todo é bem rápido, como eu preciso fazer muitas charges e HQs por dia, já tenho prática e fluência pra escrever e desenhar. As vezes, faço charges em meia hora, vinte minutos, é pauleira mesmo, vivo correndo contra o relógio. Eu sou um cartunista Hardcore ( risos )!

Rock On Stage: Depois dos dois livros do “Roko Loko e Adrina-Lina” e os recentes livro do “Tattoo Zinho” e o game do “Roko-Loko”, quais os planos para o futuro?
Márcio Baraldi:
Este ano sairá o terceiro livro do Roko-Loko, ”Born To Be Wild”, e estamos trabalhando pro game do “Tattoo Zinho” sair também. Depois tenho outros personagens e séries pra transformar em livros, como o “Sabujo Vingador” e “Humortífero”, minha seção de humor que sai na revista Metalhead há dez anos. Também vou dar uma incrementada nas camisetas do “Roko-Loko” e do “Tattoo Zinho”, enfim, vem muita coisa bacana por aí. E muita trabalheira também ( risos )! 

Rock On Stage: Bem, Márcio é uma grande honra ter realizado essa entrevista com você. Peço para que deixe uma mensagem para os fãs dos quadrinhos e do rock´n´roll.
Márcio Baraldi: Apóiem todos os sites, revistas, programas de rádio e TV, zines, enfim, todos os veículos voltados para fortalecer o rock, o metal e a cultura independente do Brasil! É triste ver tanto brasileiro pagando mico pra gringos e desprezando tanta coisa boa que se produz no Brasil! Vamos dar valor pro que é nosso, pro nosso próprio talento e cultura originais.

     Em tempos de globalização, em que as multinacionais querem engolir tudo, em que as pessoas parecem todas cada vez mais padronizadas, não perca sua cultura brasileira. Vamos misturar e fazer o novo, mas sem perder o que é nosso! Hay que misturar, pero sin perder la cultura jamás ( gargalhadas )!  Sucesso e saúde a todos!!! Visitem meu site e comprem os livros e games, seus pães-duros ( risos )! Abraços!

Site: www.marciobaraldi.com.br

Por Fernando R. R.  Júnior

Voltar para Entrevistas