Um breve tributo ao genial mestre dos mestres dos bateristas de Rock

    É triste, muito triste escrever algumas palavras para homenagear um músico do gabarito de Neil Peart, que na sexta feira dia 10 de janeiro tomamos conhecimento da sua prematura partida aos 67 anos. O falecimento do sensacional e extremamente técnico baterista, percussionista, escritor e letrista do Rush aconteceu na terça feira dia 07 de janeiro em Santa Mônica, Califórnia e somente hoje, Elliot Mintz, um porta-voz da família Peart revelou a triste notícia.

    A nota oficial colocada pelo Rush em sua página oficial do Facebook foi a seguinte:

    "É com nossos corações partidos e com a mais profunda tristeza que devemos compartilhar a terrível notícia de que, na terça-feira, nosso amigo, irmão de alma e companheiro de banda a mais de 45 anos, Neil, perdeu sua incrivelmente corajosa batalha de três anos e meio com câncer no cérebro ( glioblastoma ). Pedimos que amigos, fãs e mídia respeitem compreensivelmente a necessidade de privacidade e paz da família neste momento extremamente doloroso e difícil. Aqueles que desejarem expressar suas condolências podem escolher um grupo de pesquisa de câncer ou de caridade de sua escolha e fazer uma doação em nome de Neil Peart.

Descanse em paz irmão.

Neil Peart, 12 de setembro de 1952 - 7 de janeiro de 2020".

 

    Neil Peart nasceu na cidade de Hamilton do estado de Ontário no dia 12 de setembro de 1952 e aos treze anos ganhou um par de baquetas, algumas almofadas de aprendizado e lições de bateria, que resultaram em uma bateria mesmo aos 14 anos, que ganhou dos pais após um ano de estudo com afinco na escola.

    O músico tentou a sorte em várias bandas regionais até largar os estudos para ser um baterista em tempo integral e depois de tentar a sorte na Inglaterra retornou para a casa e então fez o teste para entrar no Rush. Suas maiores influências foram Keith Moon e John Bonham, mas nomes do Jazz como os semi-deuses Gene Krupa e Buddy Rich também influenciaram o canadense. É quase surreal dizer que um baterista da grandeza de Neil Peart precisasse de aulas de bateria, porém, ele se tornou amigo e aprendiz de Freddie Gruber em 1994 e reaprendeu tudo de bateria incorporando componentes do Swing e do Jazz ao seu estilo, que levou inclusive ao Rush.

    Como muitos no país, conheci o Rush por intermédio da série "Profissão Perigo" do personagem MacGyver, onde a música Tom Sawyer do álbum Moving Pictures foi escolhida como o tema de abertura e aprofundei mesmo na banda por volta de 1988, quando o álbum A Show Of Hands foi lançado e acompanhei o Rush seja em seus álbuns que saíram antes deste ano bem como todos os que foram lançados posteriormente.

 

    A técnica de Cornelius Ellwood Peart - ou simplesmente como conhecemos... Neil Peart - é simplesmente absurda, incrível, surreal, única e que não será vista novamente no mundo tão cedo, mesmo, com tantos grandes bateristas que existem. Confirmando esta constatação, posso acrescentar que termos como tempos, contratempos, licks, viradas, solos de bateria fazem sentindo, mesmo você não sendo baterista quando ouvia ou assistia Neil Peart tocando.

     Tal como disse Charlie Benante, que é baterista do Anthrax: "Existem bateristas e existe Neil Peart. Acredito que para a maior parte de nós, ele era o cara. Eu corria da escola para casa para tocar 'Natural Science', 'Subdivisions' e inúmeras outras músicas. Seu estilo de tocar ajudou a formar o baterista que sou hoje. Descanse em paz, professor".

Estreia no Rush

    Quando entrou no Rush no lugar do baterista John Rutsey ( que infelizmente também já não está mais entre nós ), Neil Peart mudou a sonoridade banda com suas histórias de ficção científica, seu peso nas baquetas, sua habilidade descomunal e foi alavancando junto a Geddy Lee e Alex Lifeson o Rush ao estrelato e alcançando mais e mais espaço nos corações dos fãs de todo o mundo. Muitas de suas histórias cravadas em vários discos do Rush tiveram inspiração nos livros da escritora e filósofa russo-americana Ayn Rand e se tratavam de letras complexas que eram difíceis para Geddy Lee cantá-las.

 

     Sua estreia no Rush foi com o álbum Fly By Night em 1974 e prosseguiu com os espetaculares "2112", "Caress Of Steel", "A Farewell To Kings", "Hemispheres", "Permanent Waves", "Moving Pictures" e vou parar por aqui, porque particularmente sou apaixonado por todos os 20 discos de estúdio do Power Trio, dos quais 19 contaram com Neil Peart segurando as baquetas, e isso, sem considerar os 10 seminais álbuns ao vivo e os DVD´s que ele participou. Além de todos os álbuns e DVD's, Neil Peart também escreveu livros como O Ciclista Mascarado de 1996 e Ghost Rider: A Estrada da Cura de 2002, entre muitos outros.

     Junto ao Rush, o autodidata Neil Peart ajudou a banda a criar clássicos que caminharam pelo assumidamente pelo Rock Progressivo, porém, com incursões certeiras ao longo da carreira por New Wave, Hard Prog, Prog Metal e Rock Clássico. Não vou listar as minhas músicas favoritas aqui, pois, gosto demais de todas, entretanto, me permito um pequeno exemplo: o álbum triplo ao vivo Different Stages, que ficou no meu aparelho de som da véspera de Natal de 1998 até após o final de março de 1999, sendo que escutava-o todos os dias, ao menos um dos três cd's que fazem parte dele, e ainda atualmente, vez ou outra com a coleção já bem maior, sempre ele está na minha lista de audições.

 

No Brasil com o Rush

    Lembro-me de quando o Rush tocou no Brasil em 2002 li que muitos bateristas renomados disseram que não sabiam tocar bateria após ver seu solo para lá de surreal, e mais estarrecidos ficamos ainda, quando o próprio disse que precisou reaprender bateria após os tristes eventos ocorridos em sua vida pessoal entre 1997 e 1998 ( perda da filha em acidente de carro em seu primeiro dia de faculdade e da esposa por doença ).

    Orgulhosamente posso cravar que vi a história do Rock Progressivo acontecer diante dos meus olhos por duas vezes. O primeiro foi em uma sexta, dia 22 de novembro de 2002 no Estádio do Morumbi na turnê do álbum Vapor Trails em um dos melhores shows de todos os tempos que já presenciei e que o trio nos brindou com uma apresentação impecável que durou praticamente três horas ( relembre aqui ).

    A segunda vez foi durante a Time Machine World Tour também no Estádio do Morumbi no dia 08 de outubro de 2010 em que fomos brindados com a execução na integra do disco Moving Pictures entre outros clássicos em outro show que a palavra magnífico não descreve a soberba maravilha que os canadenses nos presentearam naquela sexta feira ( relembre como foi ).

 

    Aliás, em ambos os shows o espetacular baterista, percussionista, escritor e letrista Neil Peart teve uma atuação irretocável e em muitas vezes jogava sua baqueta para o alto, girara-a e no instante certo de bater em uma de suas caixas, 'tom toms', etc; ela estava nas suas mãos para que isso acontecesse e olhando ele fazer parecia até que fácil, mas, óbvio que não era, como muitos amigos bateristas me confirmaram nas conversas que tivemos.

    Sempre sonhávamos com uma terceira apresentação do Rush no Brasil, porém, a última turnê aconteceu em 2015 na comemoração dos 40 anos do Rush, e em dezembro deste ano, Neil Peart disse que não iria mais excursionar e passaria mais tempo com sua filha Olivia e sua esposa Carrie Nuttal, que ele conheceu nas longas viagens entre 1998 a 2000 que fez com sua motocicleta ao redor dos Estados Unidos, Canadá, México e há quem diga que ele desceu - discretamente como sempre - pela América do Sul nos 88 mil quilômetros que rodou.

    A confirmação da aposentadoria do Rush foi informada em janeiro de 2018 pelo guitarrista Alex Lifeson devido à problemas de saúde do irmão e companheiro de tantos anos de estrada Neil Peart, porém, sabíamos apenas que era tendinite e artrite crônicas.

Imortal

    2020 só está começando, ainda estamos cheios de planos que pretendemos executar no ano, pensamos em quais shows vamos, porém, infelizmente, iniciamos com esta profunda tristeza ao saber que o mestre dos mestres da bateria, referenciado por nomes como Mike Portnoy, Dave Grohl, Matt Sorum, Charlie Benante, Aquiles Priester, Max Koslene, entre tantos outros simplesmente como "O Professor", que contribuiu tanto para o Rock Mundial como este comedito, admirável e extraordinário canadense conhecido como Neil Peart não está mais entre nós.

    Mas sabem caros leitores(as) do Rock On Stage, nós que somos fãs do Rush e do trabalho de Neil Peart na banda nunca vamos esquecer do ícone, nunca vamos esquecer de sua seriedade ao tocar, seus sorrisos próximo dos amigos Geddy Lee e Alex Lifeson nos shows, em resumo.... Neil Peart é imortal.

    Prova disso é que sempre ouviremos as muitas memoráveis canções que ele gravou com o Rush e que por tantas vezes tocou perfeitamente nos shows ao vivo, sempre lembraremos das vezes que vimos ele no palco ( ao menos quem esteve presente em suas apresentações no Brasil ) e quando bater uma saudade deste músico fenomenal poderemos assistir um DVD ou procurar um vídeo no Youtube, como estes que anexei neste especial.

Só posso concluir dizendo...

    Muito obrigado Neil Peart por me alegrar em todos estes anos com tantas músicas, tantos discos,  tantos DVD's e, não menos importantes, nos dois shows que pude ver você atuando brilhantemente. Aos amigos, músicos, familiares e fãs, meus sentimentos.

Por Fernando R. R. Júnior
Janeiro/2020

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