A trajetória do músico que partiu da bateria para os vocais
e se tornou um dos maiores ícones ingleses de todos os tempos

    Dentre os muitos músicos ingleses, que se tornaram deveras importantes para a Cultura Pop e para o Rock Mundial, o inglês Phil Collins foi uma espécie de 'patinho feio', que se tornou um dos maiores hitmakers e vendedores de discos da história, alcançando a cifra de 100 milhões de álbuns. Nascido em Londres no dia 30 de janeiro de 1951, Phillip David Charles Collins é filho de Winifred M. "June" ( agente teatral ) e Greville Philip Collins ( agente de seguros ).

    Seu primeiro contato com a bateria - instrumento que foi o responsável pela sua notoriedade no mundo da música - aconteceu aos cinco anos de idade, quando ele ganhou uma de brinquedo. Anos posteriores, um tio montou uma bateria improvisada, a qual Phil Collins tocou com uma certa frequência. Apesar de ter contato com vários outros instrumentos, Phil Collins não teve o mesmo grau de estudos musicais em comparação com os seus futuros companheiros do Genesis, um dos baluartes sagrados do Rock Progressivo.

    Aliás, no Genesis, Phil Collins esteve na banda desde seu início em 1967 até os dias de hoje, exceção apenas a um breve período que ficou fora entre 1997 a 1998. Embora o Genesis não seja uma banda em atividade frequente como outrora. Durante sua primeira era nos anos 70, tivemos o que podemos considerar como  a sua formação clássica: Peter Gabriel nos vocais, Steve Hackett na guitarra, Mike Ruterford no baixo, Tony Banks nos teclados e Phil Collins na bateria, que juntos nos brindaram com álbuns que podem e são considerados como fundamentais para quaisquer amante do Rock Progressivo e que nos renderam felizes horas em suas repetidas audições ao longo dos anos.

    Estou falando de discos como Trespass de 1970, Nursery Cryme de 1971, o meu favorito, o Foxtrot de 1972, o emblemático Selling England By The Pound de 1973 e o conceitual e maravilhoso The Lamb Lies Down On Broadoway de 1974. Disse que são álbuns fundamentais, pois, são deles as pérolas "The Musical Box", "Seven Stones", "The Fountain Of Salmacis", "Supper's Ready", "Horizons", "Watcher Of The Skies", "Dancing With The Moolit Knight", "I Know What I Like ( In Your Wardrobe )", "Firth Of Fifth", "The Battle Of Epping Forest", "The Cinema Show", "The Lamb Lies Down On Broadway", "Back IN N.Y.C.", entre tantos outros clássicos seminais.

    Acontece que em 1975, o vocalista Peter Gabriel decidiu sair por estar sentido-se separado da banda e em seguida, ele iniciou sua carreira solo. Após considerarem vários vocalistas para substituí-lo, a decisão foi para que Phil Collins assumisse os vocais, e assim, abandonando o posto de baterista, ele se mostrou um ótimo vocalista e um frontman perfeito para os novos caminhos do Genesis.

    Em 1976, o sétimo álbum de estúdio do Genesis intitulado A Trick Of The Tail foi lançado e o então quarteto nos shows contava com Bill Bruford ( ex-Yes ) e Chester Thompson na bateria ( quando Bill Bruford não pode continuar no Genesis ). No final do ano seguinte - 1977 - foi disponibilizado o álbum Wind And Wuthering, que foi o último com Steve Hackett na banda levando o Genesis a se tornar um trio com Mike Rutherford acumulando a função de guitarrista, especialmente em estúdio, sendo que este trio lançou em 1978 o álbum  ...And Then There Were Three.

    Desta trinca em que o meu favorito é o A Trick Of The Tail tivemos as músicas "Dance On A Volcano", "Robbery, Assault and Battery", "A Trick Of The Tail", "Eleventh Earl Of Mar", "Blood On The Rooftops", "Follow You, Follow Me" como seus maiores destaques. Nesta época a liderança de Phil Collins ficou evidente e a banda ganhou ares mais Pop, que foram explorados nos anos 80 exaustivamente.

   A título de curiosidade - e raridade - devo mencionar também que em maio de 1977, o Genesis se apresentou no Brasil e foi uma das poucas bandas internacionais de renome, que tocaram por aqui em plena Ditadura Militar cuja apresentação em São Paulo/SP, onde Phil Collins falou bastante em português com o público pode ser ouvida no link https://www.youtube.com/watch?v=HfiWwN7TRPo em um show que teve seguinte set list:

1 - Squonk
2 - One For The Vine
3 - Robbery, Assault & Battery
4 - Inside And Out
5 - Firth Of Fifth
6 - Carpet Crawlers
7 - ... In That Quiet Earth
8 - Afterglow
9 - I Know What I Like
10 - Eleventh Earl Of Mar
11 - Supper's Ready
12 - Dance On A Volcano
13 - Drum Duet
14 - Los Endos
15 - The Lamb Lies Down On Broadway
16 - The Musical Box

    Na década de oitenta foram lançados os álbuns Duke ( de 1980 ), Abacad ( de 1981 ), Genesis ( 1983 ) e o Invisible Touch ( de 1986 e que fez um enorme sucesso ), tanto que a música Mama do álbum de 1983 teve uma versão registrada pelo nosso Angra e possui uma letra muito significativa sobre um filho que percebe que será abortado. A canção título do álbum Invisible Touch também foi outra que marcou bastante quando saiu, mesmo sendo mais Pop, o que causou uma certa revolta nos fãs mais antigos.

    Ainda no início dos anos 80, Phil Collins lançou-se como músico solo e disponibilizou os álbuns Face Value ( de 1981 ), Hello, I Must Be Going! ( de 1982 ), No Jacket Required ( de 1985 ) e o ... But Seriously ( de 1989 ), que na sua turnê gerou o ao vivo Serious Hits... Live! ( de 1990 ) em um dos seus melhores discos solo ( e ao vivo ), o qual recomendo você não só ouví-lo, como também incluí-lo na sua coleção.

    As músicas destes álbuns são consideravelmente mais Pop, até românticas eu diria e foram sucessos instantâneos, sendo largamente tocadas nas rádios FM's, além de embalar os namoros de muitas pessoas naqueles anos. Destaco desses álbuns canções como "Behind The Lines", "I Missed Again", "In The Air Tonight", "Do You Know, Do You Care", "I Don't Care Anymore", "I Cannot Believe It´s True", "Sussudio", "Take Me Home", "One More Night", "Inside Out", o megasucesso "Do You Remember".

    Nos anos 90, Phil Collins lançou com o Genesis o cd We Can't Dance em 1991, que nos trouxe canções como I Can´t Dance e em 1996 antes do Calling All Stations ser exposto ao público em 1997, Phil Collins saiu da banda e foi substituído por Ray Wilson ( ex-Stiltskin ). Neste período, apesar das grandes vendagens dos discos anteriores, que lhe conferiam muitos shows, o álbum Both Sides de 1993 refletiu problemas pessoais do cantor e não foi muito bem aceito pelos fãs, porém, ainda assim rendeu hits como Both Sides Of The Story e Everyday.

    Dance Into The Light de 1996 também é considerado como um álbum desta fase menos popular de Phil Collins e suas mais conhecidas canções são Dance Into The Light e It´s In Your Eyes. Em 2002, o lendário músico lançou o álbum Testify, cujos maiores destaques ficaram para as canções Can't Stop Loving You e Thru My Eyes, que marcou a primeira turnê de despedida de Phil Collins dos palcos em 2003 e resultou no DVD Finally! The First Farewell Tour de 2004.

    Este período longe dos palcos durou até sua reunião com o Genesis para a turnê Turn It On Again, anunciada em 7 de novembro de 2006 e que passaria pela Europa e Estados Unidos no ano seguinte. A ideia era mais ambiciosa e deveria ter reunido também Peter Gabriel e Steve Hackett, entretanto, estes dois acabaram declinando do convite. Para os fãs tivemos os álbuns ao vivo Turn It On Again - The Hits: Tour Edition e o Live Over Europe, ambos de 2007.

    Como músico solo, Phil Collins só retomou a carreira em 13 de setembro de 2010, quando registrou o álbum Going Back com covers de grandes nomes da Motown Records e da Soul Music. Em março de 2011 uma notícia triste para os fãs: Phil Collins iria dedicar-se apenas à sua família e estava oficialmente abandonando a música.

    O novo retorno de Phil Collins aos palcos foi motivado pelo seu filho, que desejava assistir shows do seu lendário pai e isto foi comemorado por fãs do mundo todo. O anúncio oficial aconteceu em uma coletiva de imprensa realizada no Royal Albert Hall em Londres no dia 17 de outubro de 2016 com a Not Dead Yet Tour apenas na Europa com shows em junho de 2017 no mesmo Royal Albert Hall em Londres, Lanxess Arena em Colônia ( na Alemanha ) e AccorHotels Arena em Paris ( França ).

    Em novembro de 2017 foi anunciado um prolongamento deste retorno aos palcos e pela primeira vez na história do Rock, Phil Collins realizará shows solo no Brasil e também na América Latina com datas em México, Peru, Chile, Uruguai, Argentina e Porto Rico na The Legendary Phil Collins Live Tour. Por aqui serão quatro datas, sendo uma no Rio de Janeiro/RJ no Maracanã ( dia 22 de fevereiro ) duas em São Paulo/SP no Allianz Parque ( dias 24 e 25 de fevereiro ) e a última em Porto Alegre/RS no Beira Rio ( dia 27 de fevereiro ).

    Sobre este novo giro pelo mundo Phil Collins disse: "Eu pensei que eu me aposentaria quieto, em silêncio. Mas graças aos fãs, a minha família e ao apoio de alguns artistas extraordinários, redescobri minha paixão pela música e pelas apresentações ao vivo. É hora de fazer tudo de novo e estou entusiasmado. Parece a coisa certa a ser feita."

    Certamente que foi uma brilhante decisão Phil Collins de retornar e naturalmente que dezenas de milhares de fãs brasileiros estão aguardando ansiosamente para conferir suas apresentações e suas sensacionais músicas, que entraram para a história do Rock'n'Roll.

Algumas Curiosidades

    Phil Collins, além do Genesis nos anos 70 ( especificamente entre 1975 a 1980 ) foi integrante da banda de Fusion Brand-X, pois, queria preencher o seu tempo livre com outra atividade, em suma, um wokaholic convicto. Além disso foi o baterista nas gravações de alguns álbuns solo de dois músicos ingleses dos mais importantes: Robert Plant ( nos álbuns Pictures At Eleven de 1982 e o The Principle Of Moments de 1983 ) e Eric Clapton ( no Behind The Sun de 1985 e no August de 1986 ).

    Em 1985 tivemos festival Live Aid realizado no dia 13 de julho por Bob Gedolf e Midge Ure para arrecadar fundos para os famintos da pobre Etiópia. Os shows aconteceram no Wembley Stadium em Londres na Inglaterra e no John F. Kenedy Stadium na Filadélfia nos Estados Unidos e Phil Collins se apresentou nas duas cidades, sendo que para chegar lá utilizou de um jato Concorde, além de ser baterista do Eric Clapton e do Led Zeppelin ( nesta histórica e uma das poucas reuniões da banda após o seu fim ) no JFK.  Aliás, no avião ele convidou a cantora Cher para participar e esta topou e apareceu no final do show na Filadélfia.

    Em 1990, além de tocar no festival Knebworth algumas músicas com o Genesis e outras com sua banda da sua carreira solo, ele foi o baterista de Eric Clapton na sua apresentação e fez um longo solo de bateria durante a Sunshine Of Your Love, que foi simplesmente magnífico. Neste festival tocaram também Tears For Fears, Status Quo, Cliff Richards & The Shadows, Robert Plant ( com inclusive uma participação de Jimmy Page ), Genesis, Dire Straits, Elton John, Paul McCartney e Pink Floyd... dá para imaginar toda essa galera junta??? Bem... aconteceu e Phil Collins também esteve lá.

    No cinema e TV, Phil Collins participou de vários, quando jovem no filme A Hard Day's Night, o primeiro longa-metragem dos Beatles, mas aí apenas como um dos muitos que assistiam ao show da banda no final. Em 1984 esteve no Phil The Shill, episódio da segunda temporada da famosa série Miami Vice. Foi apresentador do Billboard Music Awards, estrelou o filme Buster ( Procura-se um Ladrão ) em 1988, fez aparições nos filmes Hook - A Volta do Capitão Gancho de 1991 e no And The Band Play On ( E a Vida Continua foi título aqui ) de 1993, dublou o filme Frauds de 1993, o de animação Balto de 1995 e o The Jungle Book 2 ( Mogli - O Menino Lobo 2 ). Participou também do jogo Grand Thief Auto Vice City cantando In The Air Tonight.

   E Phil Collins gostou do cinema, pois, teve uma pequena aparição na série The Naked Brothers Band no episódio Os Ursos Polares e foi responsável pela trilha sonora do sucesso de animação da Disney, que recontou a história do Tarzan em 1999 e fez também a trilha do filme - também de animação - Irmão Urso de 2003, que também foi do Disney Studios.

Premiações

    Óbvio que a enorme vendagem de discos de sua carreira solo, Phil Collins foi indicado por várias vezes ao Grammy e sagrou-se vencedor por cinco vezes, sendo elas:
- 1985 na categoria de Melhor Performance Vocal Pop Masculina por Take A Look At Me Now do álbum Against All Odds de 1984.
- 1986, com vários prêmios em quatro categorias: Álbum do Ano, Melhor Performance Vocal Pop Masculina, Produtor do Ano não-Clássico junto com Hugh Padgham e todos pelo álbum No Jacket Required de 1985.
- 1989 foi vencedor na categoria de Melhor Música Escrita para Filme, Televisão ou Outro Meio Visual com Two Hearts, da trilha do filme Buster de 1988, junto com Lamont Dozier.
- 1991 venceu na categoria de Gravação do Ano para a música Another Day In Paradise de 1989.
- 2000 ganhou na categoria de Melhor Compilação de Trilha Sonora para Filme, Televisão ou Outro Meio Visual com a trilha sonora do sucesso Tarzan de 1999 junto com Mark Mancina.

    Além do famoso Grammy, Phil Collins colecionou também dois American Music Awards, sendo um em 1991 em duas categorias: Álbum Favorito de Pop/Rock e Melhor Artista Masculino de Pop/Rock para ...But Seriously de 1989. E em 2000 como Artista Favorito Adulto/Contemporâneo para a trilha do filme Tarzan de 1999.

    Outros prêmios emblemáticos na carreira de Phil Collins foram o Oscar de Melhor Canção Original para a You'll Be In My Heart de Tarzan ( 1999 ) e o Disney Legend em 2002. Fechando esta galeria de estatuetas tivemos também o Golden Globe em 1989 na categoria de Melhor Canção Original de longa-metragem para a canção Two Hearts do filme Buster de 1988 junto com Lamont Dozier e em 2000 - Melhor Canção Original  Longa-metragem do filme Tarzan com a You'll Be In My Heart.     

    Por fim, vale mencionar que sua autobiografia, a Not Dead Yet: The Autobiography teve sua publicação pela Penguin Random House e todos seus álbuns de estúdio foram reeditados em 2017, além de uma seleção chamada The Singles, que foi lançada em diversos formatos: 2 cds, 3 cds, 4 LPs e digitalmente para download pela Atlantic Records em 24 de outubro.

    Várias destas músicas que citei aqui neste especial já podem serem escolhidas para um aquecimento para os shows, para audições que sempre nos levam para grandes viagens imersivas, sendo que muitas delas certamente estarão no repertório do show, pois, seja cantando mais canções mais Pop ou mais voltadas ao Rock Progressivo, temos a garantia de uma imensa satisfação, afinal, Phil Collins é o artista com mais singles no topo das paradas britânicas do que qualquer outro da década de 80.

    E a emoção de ver pela primeira vez Phil Collins no Brasil - como será o caso da imensa maioria dos fãs que comparecerão aos shows - levarão grandes multidões aos shows, que provavelmente serão 'sold out', onde além de grande diversão que será proporcionada veremos ao vivo finalmente como e porque Phil Collins se tornou um dos maiores artistas Rock do planeta.

Por Fernando R. R. Júnior
Fevereiro/2018

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