Márcio Baraldi realiza palestra na ESPM de São Paulo/SP
 sobre o Movimento Punk no Brasil - Punk´s Not Dead

    Tive uma experiência muito feliz e honrosa no dia 25 de maio último. Fui convidado para palestrar na ESPM ( Escola Superior de Propaganda e Marketing ), em São Paulo, sobre o Movimento Punk no Brasil, que surgiu espontaneamente e praticamente sincronizado com o foco original na Inglaterra em 1977, e que está, portanto, prestes a completar 30 agitados anos de vida. 

    Eu, que na minha adolescência nos anos 80, fiz muito fanzine, desenhei e colei pelas madrugadas muitos cartazes de shows punks e até me arrisquei a tocar em algumas bandas de garagem ( tá legal, não era na garagem que ensaiávamos, era na edícula dos fundos mesmo! ).

    Eu, que nasci e me criei no ABC paulista , então terra da revolta operária, berço da CUT e PT e, não por acaso, um dos primeiríssimos pólos do movimento punk brasileiro.    

   Eu, que, com o tempo, me tornei cartunista profissional e passei a desenhar para praticamente todas as revistas de rock do país, tendo caricaturado zilhões e zilhões de bandas de punk, metal e rock’n’roll nacionais e internacionais, além de ter criado personagens bem-sucedidos no ramo como Roko-Loko e Tattoo Zinho.

     Pois bem, nem com todo esse envolvimento com o punk e o rock em geral eu podia imaginar que estaria um dia palestrando ao lado de Jão e Jabá, a dupla dinâmica que fundou os Ratos de Porão, uma das primeiras, mais longevas e mundialmente conhecidas bandas de punk rock nacional. E que, como se não bastasse, ainda fundaram recentemente o Periferia S/A, projeto paralelo ao Ratos, que já rendeu um CD espetacular, muitíssimo bem recebido pela crítica e público. 

    Também estava ao lado do lendário Ariel, peça-chave para se compreender o punk no Brasil, já que o figura foi fundador e vocalista de nada menos que três bandas seminais que praticamente deram a largada para o movimento punk na terra brasilis: Inocentes, que segue firme até hoje sob a batuta do genial Clemente, Restos de Nada, e Invasores de Cérebros, banda com a qual segue em frente até hoje, levando sua poesia iconoclasta e poderosa aos ouvidos de quem tiver a oportunidade de encarar sua oratória enérgica e brilhante, além do farto carisma. 

    Como se não bastasse, ainda estive ao lado de outro lendário, o Praxedes, fundador e vocalista do Excomungados, pioneira banda formada por punks da USP, que além do barulho descomunal, ainda primou sempre por um saudável bom-humor. Aliás, nisto Praxedes é mestre, pois revelou-se durante o evento um hilário palestrante, arrancando risadas freqüentes de todos.

    Pra encerrar minha noite de honra com chave de ouro, ainda contei com a presença de Ciro Pessoa, multifacetado artista brasileiro, que entre mil outras glórias, fundou os Titãs, sendo co-autor de clássicos do rock nacional como Sonífera Ilha e Homem Primata. Jornalista premiado, poeta inquieto, autor de inúmeros livros e roteiros para cinema, compositor gravado por músicos consagrados como Elza Soares, Adriana Calcanhoto, Frejat e Cássia Eler, entre outros, Ciro ainda foi fundador nos anos 80 da Cabine C, uma das primeiríssimas bandas góticas do Brasil. Enfim, um artista dinâmico, multimidiático e inovador. 

    Mas como alegria pouca é bobagem, ainda tive a felicidade de, além de compartilhar das experiências de vida dessas figuraças históricas do rock brasileiro, ouvir Ciro Pessoa, acompanhado de Zorro ao violão ( outro punk  rocker histórico ) interpretar Mudança de Comportamento, gravada pelo grupo IRA!. Felicidade também foi ouvir Praxedes desfilar alguns clássicos dos Excomungados e, por fim, ouvir Jão e Ariel mandando ver nas duas maiores pérolas do punk brasileiro, Garoto do Subúrbio e Pânico em SP, sendo que nesta última ainda tive a honra de dar um palhinha vocal ( rs )!

    E tudo isso para um auditório bem numeroso e muitíssimo interessado e participativo, que fez com que o evento se estendesse por cerca de três horas , que por sinal, passaram voando! 

        Voaram tão rápido quanto esses quase trinta anos do Punk-Rock, o que me fez perceber que o espírito do punk, personificado no seu poderoso lema "Faça você mesmo!", não envelheceu absolutamente nada. Pelo contrário, demonstrou ser, tamanha a carga de anti-comodismo e inconformismo que ela carrega, uma atitude pessoal cada vez mais atual, coerente e necessária. Realmente o Punk não morre jamais, porque punk é ideologia e quem morre são os homens, não as idéias.

Márcio Baraldi na ESPM: confira quem é quem.....

1 - O sabão Ariel na mão do Ariel foi uma zueira que rolou mesmo. Antes da palestra, eu comprei um sabão Ariel e entreguei pra ele de presente só para zuar. Todo mundo caiu na gargalhada. Ele é o mais radical, fala pra cacete e faz discursos inflamados!

2 - O Mata Baratas na mão do Praxedes é por causa da música dos Excomungados que fala que depois da guerra atômica só sobrarão as baratas do mundo. Ele cantou essa música lá e todo mundo rolou de rir. Aliás, ele é muito engraçado, só fala merda! rárárá!!!!

3 - Jão é sossegado, tocou violão, cantou "Garoto do Subúrbio " e "Pânico em SP" com o Ariel e comigo. No palco o homi vira bicho, mas fora dele é sussa total.

4 - Jabá e tímido e falou muito pouco. Mas é uma figura engraçada: grandalhão, meio carpirão, muito bonzinho, parece o Brucutu. Ele devorou altos sandubas que tinha lá pra gente comer. rarrar!

5 - Ciro Pessoa era o mais culto lá, sossegado e gente boa pra carvalho. Ele não chegou a ter uma banda punk mas foi pioneiro do pop-rock dos Titãs e depois pioneiro dos góticos com o Cabine C. Hoje ele é jornalista e escritor. Tá cabeludo e grisalho precoce, parece poeta beatnick. O fósforo na mão dele e uma brincadeira com "Fósforos de Oxford", o único disco gravado pelo Cabine C e hoje disputado a tapa nos sebos ( diz que custa 200 contos o vinil na Galeria do Rock ).

    Marcio Baraldi é cartunista nas revistas Rock Brigade, Roadie Crew, Dynamite, Valhalla, Comando Rock, aqui do Rock On Stage, entre outras. Visite seu site: www.marciobaraldi.com.br ou veja alguns de seus cartuns aqui na seção Fun On Stage.

Por Marcio Baraldi

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