Krisiun - Mortem Solis
11 Faixas - Shinigami Records/Sound City Records/Century Media - 2022

    Em 1990, na cidade de Ijuí/RS, três irmãos resolveram criar uma banda de Death Metal que ficou conhecida mundialmente como Krisiun e que era influenciada por Slayer, Venom, Destruction, Motörhead, Morbid Angel e Sepultura. Após muito trabalho, eles conseguiram um contrato com a Dynamo Records de São Paulo/SP e assim lançaram o álbum Black Force Domain em 1995.

    Nas mais de duas décadas que se seguiram, o Krisiun se tornou um dos principais expoentes do Heavy Metal Brasileiro e uma das mais importantes bandas do Death Metal do planeta realizando diversas turnês pela Europa, Estados Unidos, Ásia, América do Norte e Latina e sempre embasando o seu poder de fogo em álbuns como Apocalypse Revelation ( 1998 ), Conquerors Of Armaggeddon ( 2000 ), Works Of Carnage ( 2003 ), Southern Storm ( 2008 ) e Scourge Of Enthroned ( 2018 ). E isso, citando apenas alguns dos petardos destruidores de sua frutífera discografia, que ao somar com este novo Mortem Solis chegamos ao resultado de doze álbuns de estúdio e posso garantir que todos são sem exceção clássicos do Death Metal.

    Sobre este novo disco, o guitarrista e vocalista Moyses Koslene disse: "Tivemos ideias realmente novas para o Mortem Solis. Talvez porque paramos por dois anos [devido à pandemia], mas também porque víamos a cena do Metal se tornando mais comercial e falsa. Como uma banda mais antiga, nós mantemos o verdadeiro [Death Metal] e essa é a nossa missão agora: trazer o verdadeiro Death Metal de volta".

    E continua sua tese ao dizer: "Mortem Solis é mais direto. Cortamos tudo o que consideramos desnecessário para torná-lo o mais brutal possível. Sem usar um computador ou um metrônomo, tudo sob o verdadeiro espírito do Death Metal. Nós três compartilhamos a mesma visão para o Metal. Somos um exército de três. Claro, evoluímos como irmãos, pessoas e músicos. Nós nos divertimos muito juntos. Mas essa coesão nos deu o jeito Krisiun, o caminho em que estamos e continuamos a trilhar".

    Para explicar a brutalidade deste novo trabalho, Moyses Koslene concluiu: "Vemos uma cena cheia de posers. O Death Metal está ficando mole. Não vamos participar de nada disso. Sabemos de onde viemos e o que o Death Metal significa para nós: ele é tudo! O ódio e a repulsa nos alimentaram. É por isso que Mortem Solis é despojado, a intensidade é ampliada e gravamos sem as muletas da modernidade. Acho que você pode ouvir que estamos extremamente zangados. A música e a vibração que ela emite são intencionalmente óbvias".

    Desta vez o álbum foi registrado no Brasil ( por questões de logística, questões relacionadas com a pandemia e eficiência ), sendo que Mortem Solis foi gravado no Family Mob Studios em São Paulo/SP ( cidade que é a base atual da banda ) por Hugo Silva ( Sepultura e Nervosa ) e Otávio Rossato ( Crypta e Desalmado ). Já mixagem e a masterização ficaram à cargo de Mark Lewis ( Nile, Monstrosity, Kataklysm e Deicide ) e foi realizada no MRL Studio em Nashville no Tennesse nos Estados Unidos.

    Sobre essa mudança de locais de gravação ( vários dos outros álbuns do Krisiun foram produzidos por Andy Classen no Stage One Studio na Alemanha ), Moyses Koslene informou: "As sessões de estúdio foram ótimas. O Family Mob não fica muito longe de onde moramos e nos sentimos confortáveis lá. Além disso, era ótimo ir para casa todas as noites e recarregar as baterias. Nós amamos Andy, mas era hora de mudar. Nós realmente gostamos do som que Mark conseguiu para outras bandas, então foi natural para nós escolhê-lo. Ele também gosta de Death Metal. Mark forneceu muita confiança para alcançar o som que queríamos".

    Para a temática de Mortem Solis ( que significa Morte do Sol ) Moyses Koslene contou: "O sol, além de seus efeitos físicos e condição cósmica, representa algo significativo nas religiões, impérios, reinos, etc. A humanidade deu muita importância ao sol, como reino e salvação. Mas, vivemos em um mundo moribundo. Impérios caem, reis caem, políticos mentem e a fé se perdeu ao longo da história. Então, a metáfora para Mortem Solis é esta: tudo morre em todos os lugares e não há como escapar disso. Fiquei realmente impressionado que Marcelo conseguiu capturar tudo isso e muito mais com sua arte de capa. Ele não teve um trabalho fácil".

    Como você já deve estar imaginando caro leitor(a) do Rock On Stage, o responsável por ilustrar este conceito idealizado pelo trio formado pelo citado Moyses Koslene ( guitarra e vocais ) junto de Alex Camargo ( vocais e baixo ) e Max Koslene ( bateria ) foi o competente brasileiro Marcelo Vasco, que além de outras capas do Krisiun já desenhou para o Slayer, 1349, Dark Funeral, Venom e tantos outros. Obviamente, que a arte deste álbum é obscura e aqui reflete a caveira de um guerreiro - possivelmente - romano chegando à um templo que é perfeita para o que ouviremos em seguida e que seus detalhes serão contados nas próximas linhas.

    O Death Metal matador do Krisiun neste Mortem Solis começa com a feroz e direta Sworn Enemies com ótimas variações sem perder sua potência por nada com todos os instrumentos ouvidos com clareza. Prosseguindo seu esmagador e técnico massacre sonoro, eles enviam a Serpent Messiah, que assim como a primeira possui muitos 'triggers' oriundos da bateria de Max Koslene e muitos urros nos vocais de Alex Camargo, e lembrando que cada um destes urros exalam muita fúria e demonstram que o trio continua totalmente disposto a destroçar tudo, confirme reparando nas reluzentes alterações que eles executam na música.    

    O rolo compressor segue sem dó e implacável com Swords Into Flesh através de linhas instrumentais hábeis e adoravelmente aniquiladoras trazidas por uma banda tão afiada que nem parece que são apenas três caras. Durante os solos percebemos o clima opressor que eles criaram para a composição que não para por nada, mesmo com as brilhantes modificações feitas em seu andamento. Com o baixo tocado por Moyses Koslene convocando a guitarra executada por Alex Camargo bem como as eficazes evoluções feitas por Max Koslene em sua bateria, a cadenciada Necronomical é vocalizada com uma violência enorme e que é realmente incansável tornando desta forma, esta quarta música de Mortem Solis odiosamente empolgada.

    A exterminadora Tomb Of The Nameless continua o álbum e nesta faixa o Krisiun nos colocou diante da mais dilacerante até aqui, onde cada parte foi concebida e tocada com muita categoria por eles elevando assim o grau que desejaram enviar para nós. Na instrumental Dawn Sun Carnage ( Intro ) sentimos seus ares sinistros ante aos seus dedilhados relativamente árabes e à sua percussão, que precipitam a pauladaça que está por vir e que chega impiedosa com a elaborada ( em seu início ) e cortante ( em seu decorrer ) Temple Of The Abattoir, música que você ouve e sabe que é o Krisiun por trás dela, pois, a banda sabe aliar como poucos no mundo a brutalidade, a destreza e o 'know how' acumulado de tantos anos fazendo desta voraz sétima faixa de Mortem Solis soar impecável a cada um de seus segundos ( é ... repare em cada detalhe e me diga ).    

    Quando o álbum é tão bom quanto este Mortem Solis, nem parece que ele já está se encaminhando para o final e War Blood Hammer já é a oitava martelada crua e sem clemência disparada pelo Krisiun com todos os seus urros repletos de ira e linhas instrumentais avassaladoras, porém, sempre com muitas variações cativantes. Co-escrita pelo canadense Jed Simon ( Tenet, Zimmers Role e ex-Strapping Young Lad ) a aceleradíssima As Angels Burn é talvez a mais demolidora composição do cd, onde o Krisiun decidiu entregar um Death Metal tão bárbaro, que você só poderá avaliar sua grandiosidade ouvindo bem alto ( e assustando os vizinhos ).

    A última do tracklist normal é a Worm God, que também possui um caprichoso início antes do terremoto torturador de seu Death Metal cair em nossos cérebros de forma a nos deixar satisfatoriamente atordoados e pensativos: "como que eles conseguem???". Aliás, é impossível não gostar dessa faixa logo após sua primeira audição. Finalizando mais esta obra prima do Krisiun temos como bônus Death Of The Sun, um Death Metal simplesmente devastador que contém partem instrumentais que desferem porradas certeiras e uma tonelada de urros furiosos, que provocam uma vontade de ouvir toda essa insana bestialidade expressa nas músicas de Mortem Solis novamente.

    Disparado um dos melhores discos de 2022, Mortem Solis mantém o padrão altamente elevado que o Krisiun é detentor há tantos anos com uma excelência que não é vista no Death Metal com frequência e os gaúchos fizeram isso através de suas sempre complexas, selvagens e alucinantes composições, sendo que este lançamento da Shinigami Records em parceria com a SoundCity Records e a Century Media no Brasil veio embalado em digipack. Tais como os álbuns anteriores de sua  discografia, Mortem Solis não desapontará os fãs, pois, a instituição do Heavy Metal Brasileiro que é o Krisiun mantém sua tradição de lançar álbuns trituradores.
Nota: 10,0.

Por Fernando R. R. Júnior
Julho/2023

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