Ministério da Discórdia - AbismøPortal
 11 Faixas - Shinigami Records - 2018

    Com a intenção de "jogar gasolina no resto", o Ministério da Discórdia é uma banda de Heavy Metal formada em 2007, que em seu início tocava covers do Black Sabbath na cidade de São Paulo/SP, porém, em pouco tempo começaram a trabalhar em canções autorais, cuja temática é centrada nos conflitos ideológicos culturais e religiosos com letras em português, que resultaram no primeiro cd autointitulado de 2013 com nove faixas.

    Este cd AbismøPortal é a junção dos EP's Abismo de 2015 e O Portal de 2017. Isso é explicado pelo baterista Inácio Nehme da seguinte forma: "Juntamos os EPs, pois muitas pessoas pediram pelo 'Abismo' físico e achamos pertinente juntar o mesmo às nossas novas músicas e compor um cd maior e melhor. Colocamos dois covers em 'O Portal', que são 'O que teria acontecido à Baby Jane?' da banda Troll Porrada Sonora e 'Fuga nº II', d'Os Mutantes.

    O Troll foi uma banda que nos acompanhou em muitas situações pelos bares de São Paulo e acabamos perdendo nosso parceiro Júnior Bertoldi esse ano ( 2018 ), que agora está descansando em paz. Resolvemos homenageá-lo, com ajuda do backing vocal do grande Cblau, também fundador do Troll. Já o cover d'Os Mutantes veio em função do programa Rota BDG no UOL; nos propuseram o desafio de tocar um cover por lá e pensamos: 'Por que não?'."

    Este novo trabalho foi lançado pela Shinigami Records, que o fez através de um ótimo digipack, onde é destacada na capa a união dos trabalhos e a do EP O Portal no encarte de muitas páginas valorizando a sua versão física. Além do citado Inácio Nehme completam a banda os músicos Maurício Sabbag ( vocais, guitarra, violões e flauta transversal ) e Carlos Botelho ( baixo ). AbismøPortal foi gravado por Rafael Gomes e Rafael Carvalho no Estúdio Audio Fusion: Bureau e no Studio Latitude em 2015 e 2018. A mixagem e masterização foi realizada por Rafael Gomes no Estúdio Audio Fusion: Bureau e a citada capa anteriormente é assinada por Sílvio Senna ( do Sunset Red Lights ).

    O Power Trio começa seu Heavy Metal com O Portal ao som de trovões e raios, que trazem linhas robustas, vocais poderosos e empolgantes riffs de guitarras, onde tenho o dever de salientar os vocais de Maurício Sabbag e as evoluções aplicadas por eles surpreendendo o ouvinte e provocando aquela vontade de banguear e socar o ar. Com a escolha feita ( se ligue na letra da anterior ), o Ministério da Discórdia dispara a acelerada e cheia de adrenalina Mensageiros da Desgraça, um Heavy de primeira dotado de reluzentes solos de guitarra, modificações certeiras em seu andamento que são deveras positivas e diria até que inesperadas, que te fazem perceber que estamos diante de uma verdadeira sonzeira altamente criativa, confirme percebendo as passagens viajantes e praticamente Progressivas que vão longe e depois retornam com o andamento Heavy Metal de muitos solos efervescentes tais quais notados no início, enfim, esta se tornou uma das minhas favoritas no cd.

    Na terceira somos expostos aos toques do baixista Carlos Botelho durante a brilhante Espelho, onde melodia, solos de guitarra contagiantes, vocais, toques de bateria são exibidos com precisão pelos caras elevando o potencial da música a patamares incríveis e superando a sua expectativa.

    A revoltada Motim Elétrico é a pesada e envolvente quarta criação deste álbum AbismøPortal, que mantém a energia do álbum lá no alto com seus riffs constantes de guitarra ( até um pouco sujos se for ver, mas totalmente robustos ) e os repiques de bateria sempre incansáveis, que nos conduzem para um andamento que fica cada vez mais agressivo em outra frenética composição, que também é merecedora de uma atenção detalhada em sua letra.

    Para suavizar após a porrada anterior e mostrar outra face de sua sonoridade, o Ministério da Discórdia nos coloca diante de sua belíssima versão para Fuga Nº II do Os Mutantes ( presente no segundo disco de 1968 ) com a participação de Renato Domingues do Armadha resultando em um emocionante momento do cd em que destaco os solos de guitarra com suas belíssimas melodias, que te fazem sorrir de satisfação pela habilidade do Power Trio, e isso sem contar os vocais inspiradíssimos de Maurício Sabbag ( que também é responsável pela flauta no início ) e que não só emocionam como também fazem sua letra ficar na memória, além de conceder a você um delicioso prazer ao ouvir esta canção.

    A outra banda que o Ministério da Discórdia homenageia neste disco é o Troll Porrada Sonora com a veloz e eletrificada versão para O que teria acontecido a Baby Jane? com a presença de Cblau Barsanulfo do próprio Troll Porrda Sonora enriquecendo a canção com sua atuação nos backing vocals. Viajante em seus primeiros momentos, Abraçe a Discórdia já é a sétima do AbismøPortal e depois se torna um Heavy Metal rápido e ácido para se socar o ar fortemente, além de banguear a cada verso pronunciado por Maurício Sabbag, cujo refrão e cintilantes solos de guitarra ecoarão em sua mente instantaneamente até porque repercutem como um mantra nestes complicados tempos políticos que vivemos.

  

    Para Abismo, o Power Trio começa mostrando sua tenacidade, depois segue por solos longos e consideravelmente encorpados de guitarra para posteriormente, assim que seus versos aparecem, estourar o grau verdadeiramente incendiário desta música mais cadenciada e de estilo voltado ao Stoner, que é guiada pelos riffs tocados por Maurício Sabbag e que também não posso deixar de mencionar as evoluções de baixo e de bateria executados por Carlos Botelho e Inácio Nehme, respectivamente, que recomendo fechar os olhos e senti-las na totalidade, pois, a banda deixou os instrumentos fluírem livremente até  E em tempo, a letra é outra das que devemos absorver suas mensagens.

    De princípio viajante, ritmo espacial, um flerte com o Doom Metal tal qual como o Black Sabbath ensinou, Supremo Concílio sofre uma virada em que o Ministério da Discórdia nos entrega uma composição marcante e vibrante a cada um de seus minutos seja quando ela está mais lenta ou quando eles aplicam acelerações destruidoras, onde cada um dos três músicos vai além do previsto em suas atuações, ouça, confirme e me fale, porém, não se esqueça de acompanhá-la com o encarte nas mãos, pois, sua letra é admirável.

 

    A penúltima deste formidável álbum é a Orquídea Negra, que comparada às duas pedradas anteriores é até que mais calma, porém, tão infectante quanto elas, sendo que aqui temos um ritmo mais cadenciado e vocais impactantes ante a um crescente fascinante nos solos de guitarra, de baixo e de bateria até que a melodia do refrão retorne com seu padrão ouvido antes.

    Encerrando este excelente disco temos Perdidos, composição de solos longos e vocais firmes de muito feeling, cuja letra te captura e deixa claro um problema social grave que temos por aqui ( crianças abandonadas ) e não posso esquecer de ressaltar os esbeltos solos do Hammond feitos pelo convidado Guzz Sancehs amplificando o caráter viajante desta primorosa canção.    

    Cravo com toda segurança: estamos diante de um dos melhores discos lançados no Brasil nos últimos anos com este AbismøPortal do Ministério da Discórdia, que é uma injustiça contigo mesmo se você não conhecer a banda o quanto antes. Entretanto, após isso, certamente ficará viciado em cada uma das canções registradas aqui.
Nota: 10,0.

Por Fernando R. R. Júnior
Julho/2020

 
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