Mr. Speed - The Snake Ass
12 Faixas - Independente - 2011

    A cena da baixa mogiana está voltando a ser aquecida por uma grande gama de bandas autorais, após um longo e negro período em que ela ficou adormecida e afundada em bandas covers ( ainda tem bastante tirando espaço das autorais na noite, mas isso, é consequência dos tempos medíocres em que vivemos ).

    Uma das melhores e mais antigas bandas autorais da nossa região é o power-trio de Hard Rock de Itapira/SP Mr. Speed composta pelos músicos Everton Coraça ( baixo e vocal ) ex-Hard Attack e Love Gun KISS Cover, Rafael Coradi ( bateria e vocal ) e Fernando Bazani ( guitarra e vocal ) ex-Anonimato e também integrante da Love Gun KISS Cover onde interpreta ‘Space-Ace Frehley’. Com músicos de longo currículo na cena do interior, o Mr. Speed que já tem bons anos, já tinha lançado alguns materiais antes, mas esse The Snake Ass é definitivamente o que se auto-intitula, ou seja, é “O Cú da Cobra”.

 

      Um Hardão sujo, estridente, politicamente incorreto e direto é o que você tem espalhado por doze belas faixas que te faz bater cabeça o tempo todo, tocar sua ‘air guitar’ ou batucar no sofá, além de fazer pensar os mais atentos com os mais variados temas de suma importância para mentes abertas, inteligentes e de saco-cheio de tudo quanto é cretinice e hipocrisia que nos cerca no dia-a-dia, como em Rock And Roll Suckers, carro-chefe do disco, que trata explicitamente a situação vergonhosa da nossa cena dando 100% de valor e importância aos covers em detrimento aos reais artistas que se dedicam a criar algo próprio, com destaque para a voz revoltada de Everton que criou uma espécie de híbrido de estridente/agudo/gutural em meio às estrofes e ao coral ‘chute-na-cara’ do refrão. Bela escolha para divulgar o disco.

    Falar de solos de guitarras aqui é redundante para quem conhece o trabalho irrepreensível de Fernandão em todas as bandas que já tocou ao longo dos anos, mas para quem nunca o viu tocar esse aqui é um belo exemplo do que ele é capaz de fazer com seis cordas na mão, riffs cavalares e solos inspirados são apenas palavras... Guerra Santa já no nome deixa bem explícita a temática anti-religiosa e hipócrita dos ‘homens de bem’ da nossa sociedade, o interessante é que a letra é mezzo-português-mezzo-inglês, o refrão em português deixa uma bela frase em nossas cabeças : “Todas as mentiras ensinadas por uma cruz”, nada mais a dizer.

  Everton além de vocalista principal, é um guitarrista convertido à baixista, que se vira muito bem com os timbres do baixão e ainda cede o microfone principal aos companheiros de trio que também cantam muito bem sem deixar a peteca cair como Fernando faz em On This Time, melódica e muito boa, onde Everton dá um exemplo do que sabe fazer com seu baixo e a banda mostra o poder das três vozes unidas em coral no refrão, muito bom gosto, isso sim resume a banda, poderiam usá-la como segundo carro-chefe do disco, mostra uma outra faceta do grupo em si.

    Insane pega carona na melodia da anterior para enganar a gente, começa tranquilinha e bonitinha para nos pegar de assalto com um pusta refrãozão pesado, que desemboca numas paradas meio ‘Sabbáthicas’ lá pelo meio da música com direito a um contraponto vocal gutural e fantasmagórico enquanto os riffs à lá Tony Iommi comem soltos encaminham você para um solo insano ( sem trocadilhos com o nome da música ), nessa hora você identifica duas distintas guitarras e te faz pensar, será que o Everton deixou baixo de lado e pegou sua guitarra por alguns instantes? Sabe-se lá.

    Com uma urgência de dar gosto Back Off Bitch abre caminho para mais um pouco de riffs ‘Sabbáthicos’ em I’m Sorry, que se mescla com o melhor das influências Sleaze-Glam do grupo com peso, muito peso e melodia. Eu por pouco não a colocaria em meio ao play-list do disco Sabotage do Black Sabbath.

     Price To Pay, que eu me lembre é uma das mais antigas da banda e começa com aquele climão Scorpions baladeiro do final dos anos 80 e começo dos anos 90, na melhor das comparações, me lembrando Woman do disco Face The Heat de 1993 ou até algo do Savage Amusement de 1988, o importante mesmo é que é uma bela amostra do Hardão da banda, que depois descamba para o peso e melodia, com pontes e refrãos inteligentes e de extremo bom gosto flertando até com um ‘Q’ de Thrash lá pelas tantas, o que acaba resultando num solo de guitarra digno do Metallica dos bons tempos. Posso arriscar dizer que Against The World é a que mais se aproxima de um tema comercial neste disco, e mesmo assim ainda habita a área dos malditos do Rock, lembrando um pouco do trabalho dos irmãos Busic ( Platina, Cherokee, Taffo,Supla, Dr.Sin... )no refrão e a última faixa do disco, Jon Can’t Play In The Band me deixou cara-a-cara com influências de Golpe de Estado, corrijam-me se eu estiver errado.

    Resumindo, Mr. Speed ( guarde bem este nome ) é mais um exemplo de ‘pérolas aos porcos’, que temos neste país, mais um grupo de talento que será deixado de lado por causa da falta de interesse do público atual pelas bandas novas e autorais de fora do esquemão. Mais uma banda que não conseguirá trabalhar seus discos por causa da alta temporada de bandas covers que sempre tocam todas as mesmas músicas. Mais uma banda que facilmente poderia se tornar grande se tivéssemos profissionais sérios na cena nacional do Rock And Roll. Mais uma banda que irá entrar para o rol das mesmas bandas talentosas que sumiram sem deixar vestígios como Toy Shop, Penélope, Exóttica, Pedra, Monster, Pittbulls On Crack, Hip Monsters, Big Balls, Acron, Anjos da Noite, Tuatha de Danann, Carrão D Gás, Anti-Tape, Rei Lagarto... Não deixem isso acontecer de novo.

Faixas:
1.  One More Capitalist
2.  Alone In The Darkness
3.  Mr. Speed
4.  Rock And Roll Suckers
5.  Guerra Santa
6.  On This Time
7.  Insane
8.  Back Off Bitch
9.  I’m Sorry
10. Price To Pay
11. Against The World
12.  Jon Can’t Play In The Band

Sites:www.mrspeed.xpg.com.br e www.myspace.com/mrspeedband.

 

 

 

Por Alexandre WildShark
Junho/2012

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