Scrupulous - Ostia and Genocide
10 faixas - Heavy Metal Rock - 2021

     A origem do Scrupulous remete ao distante ano de 1992, época que Death Metal puro, técnico, voraz e matador tinha o seu melhor momento no planeta e os baianos da cidade de Itabuna começaram a exibir sonoridades - que hoje são chamadas de Death Metal Old School - entre 1992 e 1996 com as Demo Tapes Souls In Agony ( 1992 ), Shadows Of Pain ( 1993 ) e The Abusa ( 1994 ), sendo que esta última despertou a atenção da Heavy Metal Rock, que ficou responsável também pelo lançamento deste primeiro álbum de estúdio nomeado como Ostia and Genocide.

    Com a gravadora baseada em Americana/SP, o Scrupulous fez parte da compilação Death Or Glory 2 ( 1996 ), porém, a banda acabou entrando em um hiato que perdurou até 2019 quando Crispim Skullcrusher Jr. ( vocais ), Arthur "Azagthothinho" Mozart ( guitarra ) e Fabiano "Hammerheaded" Souza ( bateria ) juntos ao convidado Leandro Kastiphas ( teclados ) decidiram retomar as suas atividades.   

    E assim, desta forma Ostia And Genocide foi gravado, mixado e masterizado por Rodrigo Hohlenwerger no Subsolo Estúdio em Ipiaú/BA, local onde já foram registrados álbuns de nomes como Behavior e Drearylands. Sobre o debut Crispim Skullcrusher Jr. disse: "as 10 músicas do disco são novas, nenhuma composição do passado, foram todas compostas a partir desse retorno da banda, por essa nova formação."

    E prossegue seu raciocínio ao dizer: "o melhor de tudo é que não tivemos muito desafios no processo criativo, ou na produção. Foi natural nos mantermos nessa linha de Death Metal Old School... essa é a nossa raiz. Alguns esforços foram concentrados no nosso guitarrista jovem Arthur "Azagthothinho" Mozart que tem apenas 21 anos e não viveu aquela cena dos anos 90, mas é filho de um de guitarrista que foi da banda no passado e ele deixou esse legado para o filho. o Arthur entendeu muito bem a mensagem que queremos passar". E por fim, definiu: "O Scrupulous sempre buscou enfatizar a atmosfera das músicas na busca por uma sonoridade obscura. Até mesmo pelo próprio conceito de Death Metal sempre ( Metal da Morte ) de pegada caótica sombria com riffs mórbidos. Eis a síntese do nosso som."

    Embora o seu título seja totalmente atual e se entrelace com o atual momento político e social que enfrentamos, o seu conceito é mais abrangente, conforme explica Crispim Skullcrusher Jr.: "A ideia do título do conceito do álbum tanto representam o que estamos vivendo hoje como também as atrocidades que a humanidade enfrentou no passado, durante todos esses períodos de outras pandemias e genocídios. O conceito de hóstia é a representação da Igreja Católica que fecha os olhos para todas as catástrofes humanas. A capa do álbum também representa bem a ideia das letras e ilustra o que o mundo estava passando no momento inicial da pandemia. Não obstante, é uma arte que resgata as antigas capas de Death Metal".

    Aliás, capa esta que foi desenhada por Guto Digo da GR Designer e deixa totalmente clara a realidade do mundo atual ao exibir quem deveria se importar com o povo e não está nem um pouco preocupado com isso, pelo contrário, são os responsáveis diretos por mergulharem todos nós a este imenso e interminável caos a que fomos submetidos através de suas gestões desastrosas. Antes de começar a comentar as músicas de Ostia And Genocide vale salientar que o encarte do cd conta com as letras traduzidas para que saibamos melhor cada uma de suas ideias e críticas feitas pela banda a temas que com certeza eles possuem razão no que fizeram.

    Ostia And Genocide é aberto com a faixa In The Begins...( Intro ), que após os sons mórbidos das ambientações feitas nos teclados por Leandro Kastiphas, eles nos conduzem para crua e destruidora Ius Divinium Schizo/Crown Of Rubble, cujos vocais urrados e totalmente blasfemos expressam uma fúria imensa ante a uma base trabalhada com precisão e dotada de consideráveis evoluções agregando elementos que deixam seu Death Metal muito intrigante. Desferindo mais brutalidade e muita velocidade em seus solos de guitarras combinados aos toques de bateria e de baixo, a faixa título Ostia And Genocide atravessa breves momentos cadenciados e é um soco dado com vontade na cara do ouvinte, que é exibido de forma totalmente áspera.

    Apresentando um excelente solo feito por Arthur Azagthothinho Mozart, The Contestation Knock On Your Door é dotada de uma violência sonora inestimável e também de uma tonelada de urros sendo todos proferidos a toda à plena potência pelo vocalista Crispim Skullcrusher Jr.. Na quinta, o Scrupulous até começa calmo entre dedilhados e climatizações sombrias ( com trovões e chuvas ) e obviamente... totalmente blasfêmicas, porém, Dark Womb é um Death/Doom Metal devidamente assustador em que Crispim Skullcrusher Jr. recebe Eduardo Slayer do veterano The Cross para dividir os urros insanos desta composição arrastada, o que é dedicada ao The Cross e ao Doom Metal praticado pelos um dos principais nomes do estilo no país.

    There's An Emptines That Weights On My Shouders prossegue Ostia And Genocide com o seu ódio surgindo entre ótimos riffs feitos por Arthur "Azagthothinho" Mozart convocando desta maneira o ritmo extremo proporcionado pelos demais e desta forma... podemos sentir o tamanho do impacto contido em seu Death Metal. Sempre eficaz, o baterista o Fabiano "Hammerheaded" Souza faz um breve solo até que aos guturais de Crispim Skullcrusher Jr., o rolo compressor do Scrupulous seja liberto diretamente em nossos ouvidos, sendo que apenas contracenando com este som impuro temos apenas os teclados tocados por Leandro Kastiphas, que fazem a diferença no andamento de Souls Cut To Brunoise, que é a mais desafiadora criação deste cd, onde destaco os solos do guitarrista Arthur "Azagthothinho" Mozart.

     Para oitava, eles escolheram a devastadora Rotten Primacy, que é um Death Metal dos mais violentos encontrados neste álbum, que é expelido a plenos pulmões por Crispim Skullcrusher Jr. destilando todo o seu incontrolável fel e sem parar, assim como acontece também em suas linhas instrumentais com momentos acelerados e outros cadenciados, que estão simplesmente matadores, porém, sempre com muita técnica. A penúltima é Causing The Rascal To Fury, composição em que o Scrupulous ataca com outra criação impiedosa e aniquiladora com direito a mudanças em seu andamento graças ao uso de teclados, que por alguns rápidos instantes exibem uma climatização diferenciada a este maldito Death Metal.    

    Se a intenção era deixar o ouvinte respirar um pouco, o início mais leve de In The Crow's Break até faz isso, mas esta pausa apenas ocorre até que a banda decide te colocar diante de outra hecatombe sonora, ríspida, e obviamente, repleta de blasfêmia do jeito que o fã de Death Metal espera encerrando Ostia And Genocide com bons solos de guitarra e trazendo o seu andamento revolto uma última vez.

    Embora tenha sido composto recentemente, conforme salientei no princípio desta resenha, Ostia And Genocide é o resultado de quase 30 anos de um ímpeto furioso, amargurado e, principalmente, que ficou represado por muito tempo pelo Scrupulous e que agora foi solto no ano de 2021 com a clara intenção de martelar os ouvidos dos amantes do Metal Extremo do Brasil e do mundo, que devem se ligarem neste verdadeiro massacre Death Metal exposto em dez abomináveis composições.
Nota: 8,5.

Por Fernando R. R. Júnior
Janeiro/2022

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