|
|
As gravações, mixagem e masterização de Servus foram realizadas no Estúdio Rock Lab em Goiânia/GO ( mesmo local onde registraram o disco Opressor em 2014 ) com Gustavo Vazquez e o vocalista Manu Joker entre outubro de 2017 a janeiro de 2019, exceto pelas músicas Dawn e E.L.A., que foram gravadas por Lucas Roza no Mundo da Lua Estúdio em Araguari/MG.
Sobre o álbum Manu Joker comenta: "Se com os dois álbuns anteriores definimos a nossa sonoridade, Servus é um olhar adiante, para o futuro. Mas também consigo ver elementos de todos os nossos outros discos nas novas músicas. Em Servus a banda se arriscou por caminhos onde ainda não foi. Não se trata de estudar o mercado ou seguir tendência. Música é algo muito sagrado para perder tempo com isso. Há mais de duas décadas fazemos peso e groove pois amamos esses dois mundos. Navegar por caminhos aparentemente distintos como o som extremo ou algo diametralmente oposto, nunca nos assustou".
A capa de Servus - que está embalado em digipack e conta com um ótimo encarte - retrata a espiritualidade, pois, o feiticeiro ( Uganga significa feitiçaria em Swahilli ) está com a pintura de guerra Kayapó, usa colares budistas e umbandistas e a luz de sua testa é referência à Raja do Hinduísmo, ou seja, vários símbolos, energias e sentimentos unidos. Ela foi desenvolvida por Wendell Araújo, que já desenhou capas para o Ratos de Porão e o Coléra.
|
|
E prosseguindo com seu estilo raivoso, Medo é também embasada no ritmo feito pelo baixista Ras Franco e denota também a atuação marcante do baterista Marios Henriques, que não para de socar seu kit com muita competência entre os vocais coléricos e os solos fortificados nas guitarras despertando a vontade de bangear. Em trechos da letra de Medo, você pensa: "onde foi que já ouvi isso antes?" e a lembrança que vem à mente é a do livro 1984 de George Orwell, cujos ensinamentos nunca foram tão atuais. Aos dedilhados no violão mais calmos, temos a robusta O Abismo, que mantém a empolgação do som do Uganga em alta, seja no seu andamento instrumental em que os riffs de guitarras, baixo e bateria contracenam entre si brilhantemente nos envolvendo cada vez mais ou nos vocais irados com um tom forte de ironia, onde Manu Joker divide as atenções com Casito Luz do Witchhammer. Atenção para a alteração no final de ritmo e o inesperado solo de saxofone feito por Marco Melo deixando a música mais insana.
Muito tranquila, a curta Dawn já é a quinta de Servus, um momento para respirar e refletirmos nos dedilhados de Thiago Soraggi no violão, isso, antes de chegar a vez da amargurada e poderosa Hienas, canção onde as guitarras ganham o destaque entre os vocais cheios de fúria, mas, o Uganga vai além e traz a banda de Rap chilena Dr. Lexico para cantarem em espanhol um bom trecho de sua letra exalando o lado experimental dos mineiros. Sem parar e já estamos na sétima de Servus, sendo que o Uganga continua sua artilharia firme com a veloz Dedos ( Seu Fim ) que vai te capturar logo na primeira audição pela grande variação a que somos expostos, porém, o Heavy/Thrash Metal tem como seu principal elemento a divisão dos vocais de Manu Joker e Renato BT da banda John No Arms e os ferventes solos de guitarras entremeados com as partes ferozmente cadenciadas. A porrada Couro Cru consegue ser mais intensa que a anterior destacando o baixista Ras Franco com toques a la Lemmy do Motörhead e também o ritmo praticamente incendiário de Thiago Soragi e Christian Franco nas guitarras liberando assim, o ódio expresso nos vocais de Manu Joker em uma letra que merece atenção, vale reassaltar também a presença do DJ Eremita fazendo os efeitos conhecidos como scratches.
|
|
Apesar das experimentações da anterior, os mineiros são mais Metal e com a devidamente sombria e - porque não dizer - épica Depois do Fim, que assinala a última de Servus, sendo que nesta canção o Uganga aplicou um andamento lento tipicamente Doom, onde ouvimos falas 'mecanizadas' na participação do espiritualista Sr. Waldir e também vocais agressivos como se a figura da capa estivesse bradando palavras de ordem de forma que deveríamos atender seu apelo. Inclusive, quero ressaltar aqui a opinião de Manu Joker sobre isso: "A participação do Sr. Waldir foi providencial e me encheu de orgulho, considerando os tempos atuais onde religiões afro-brasileiras são atacadas por falsos moralistas. Na capa, o feiticeiro tem o rosto com pintura de guerra Kayapó, usa colares do budismo e da umbanda e a luz saindo da testa faz referência direta a Raja Yoga/Hinduísmo: é uma fusão louca de simbolismos, sentimentos e energias. Assim como é a música do Uganga".
Assim como em outros trabalhos do Uganga, Servus é incomum, diferente e inesperado, porém, é bastante pesado, agressivo e encolerizado em sua maior parte sendo digno de sua carreira deles, além de nos direcionar para um Heavy Metal com incursões em Thrash, Doom e Punk, e isso, sem citar as experimentações, que agradam os fãs antigos e conquistam novos, enfim, uma banda sem limites em um dos seus mais impressionantes discos. Vale complementar que depois da gravação de Servus, o guitarrista Maurício "Murcego" Pergentino foi substituído por Lucas Carcaça.
Nota: 9,5.Por Fernando R. R. Júnior
Dezembro/2019
|