Cynic - Ascension Codes
18 Faixas - Shinigami Records - 2021

    Durante os sete anos que separam o aclamado Kindly Bent To Be Free Us e o quarto e novo álbum de estúdio do Cynic, o Ascension Codes, muita coisa aconteceu com os norte-americanos originados em Miami na Flórida em 1987 e que são liderados pelo guitarrista e vocalista Paul Masvidal ( ex-Death ), pois, a banda enfrentou a saída do baterista e membro fundador Sean Reinert e do baixista Sean Malone.

     Entretanto, o pior aconteceu em 2020 com os falecimentos de ambos os músicos, sendo em janeiro de Sean Reinert aos 48 anos e em dezembro de Sean Malone aos 50 anos. Mesmo fora da banda, a morte dos dois amigos quase colocaram um fim ao Cynic, mas, Paul Masvidal já tinha a ideia de um quarto álbum ainda em 2014 e decidiu seguir em frente conforme afirmou: "Eu já queria fazer este álbum logo depois de Kindly Bent to Free Us. Eu estava doido para continuar, hipercriativo, naquele estado de fluxo total. E então tudo implodiu".

    Sean Malone e Sean Reinert, antes de saírem do Cynic trabalharam com Paul Masvidal em alguns elementos deste Ascension Codes, que foram concluídos anos depois com calma, tranquilidade e sem pressa pelo guitarrista e vocalista no intuito de homenagear a memória dos outros dois. Quando Sean Reinert saiu do Cynic em 2015, Matt Lynch foi convocado para a bateria e a química funcionou tão bem que Paul Masvidal comentou o seguinte sobre esta mudança: "o estilo moderno híbrido de Lynch é como uma fusão de influências da bateria e do baixo da música eletrônica combinadas com abordagens modernas de Jazz / Progressivo. Lynch [...] é um baterista totalmente preparado, construindo suas partes com o mesmo cuidado que qualquer outro elemento de composição demanda em um disco do Cynic. Cada detalhe e nota vindos dele nascem de um lugar preciso e inspirado."

    Para substituir Sean Malone, Paul Masvidal disse "nem tente" e o baixo em Ascension Codes foi executado no sintetizador do tecladista Dave Mackay, sendo que o guitarrista e vocalista falou sobre isso: "Eu sabia que nunca poderia substituir Malone. Se espera que qualquer um que eu encontrasse deveria tocar como ele, e isso não é justo com o novo músico."

    Ascension Codes foi mixado por Warren Riker ( que trabalhou com o Cynic no disco Traced In Air de 2008 e que mixou a trilogia acústica solo de Paul Masvidal ) e masterizado por Andrew Mendelson. A capa é de Martina Hoffmann e possui o nome de The Landing e suas imagens mostram praias que foram inspiradas após a sua passagem pela costa da Bretanha na França após as mortes de seu parceiro de longa data Robert Venosa ( que trabalhou com o Cynic entre 1993 e 2008 ) e de sua mãe. No seu desenho vemos uma nave mãe feita de luz e carne pairando sobre a paisagem praiana e Paul Masvidal disse sobre a artista Martina Hoffmann: "Seu espírito e talentos multidimensionais são verdadeiramente um presente para este mundo. Eu sinto que ela é uma das grandes vozes artísticas de nossa época".

    Dito tudo isso, vamos agora imergir nas dezoito faixas de Ascension Codes rumo ao universo musical desconhecido presente no álbum que marca a guinada profunda do Cynic ao Rock Progressivo.

    A viagem começa com a curta e quase instrumental Mu-54* ornamentando o caminho para The Winged Ones, essa com uma atuação marcante do baterista Matt Lynch e do tecladista Dave Mackay nos conduzindo à outra dimensão, sendo que recomendo sentir suas exuberantes climatizações instrumentais de olhos fechados como se estivesse atravessando o cosmo a bordo da nave da capa de Ascension Codes, sendo que em alguns momentos sentimos inclusive uma tensão nas melodias, como se a viagem enfrentasse algumas dificuldades também.

    A brevíssima e introspectiva A'-va432 nos conecta a Elements And Their Inhabitants em que o Cynic alia a competência de suas linhas instrumentais com vocais distantes até encerrar bruscamente essa melodia e uni-la na instrumental Ha-144, que por sua vez traz a Mythical Serpents, onde o trio te deixa totalmente imerso em sua linhagem Progressiva, além de ser o ponto em que destaco os vocais de Paul Masvidal e as inúmeras viradas e licks feitos por Matt Lynch em sua bateria amplificando junto ao ambiente criado pelo tecladista Dave Mackay o grau imenso da viagem que esta sexta música de Ascension Codes nos proporciona.

    Depois temos Sha48*, um interlúdio que traz a 6th Dimensional Archetype, que é extremamente viajante, saborosa de se ouvir e ótima para liberar a mente para absorver suas intricadas melodias e seus vocais. Em DNA Activation Template temos uma espécie de sequencia computadorizada e altamente intimista com vozes sintetizadas tais como se estivéssemos diante de uma inteligência artificial enviando sonoridades calmas, porém, instigantes com o que encontraremos no decorrer da música me remetendo à passagens do Hemispheres do Rush ( em umas sons específicos ). E o Cynic faz uma inversão com um ritmo envolvente nesta canção, que é dotada de um crescente interessante que se interrompe e encerra-a .

    Isso ocorre para que Shar-216 entre em cena e nos leve até a Architects Of Consciousness, um Rock Progressivo cujas evoluções instrumentais elevam-se até o instante que os seus vocais aparecem trazendo um teor de tristeza no ar e o que se tem em seguida são alternações de andamento e camadas que para entendê-las só ouvindo o disco mesmo e assim ser exposto ao seu magnífico estilo complexo.

    Ascension Codes continua com DA'z-a86.4, que parece uma marcação de tempo para que Aurora chegue exibindo um aroma pacífico nesta décima terceira composição em que Paul Masvidal canta com muita emoção os seus versos, que contém uma formosa e impactante sequencia de viagens na sua parte instrumental. E antes de uma canção elaborada como a anterior, o Cynic optou por mais um interlúdio instrumental, este agora chamado de DU-*61.714285, que parecem coordenadas espaciais com a ideia de mandar sua mente para longe e resgatá-la quando a magnitude da imersão Progressiva chegar como acontece no momento em que In A Multiverse Where Atoms Sing entra em nossos ouvidos criando neste caso uma grandiosa viagem de aromas positivos.

    E isto necessita percorrer o próximo interlúdio, que recebeu o título de A'jha108, que parece como as demais nomes e planetas e então nos transporta para Diamond Light Body, a penúltima de Ascension Codes e que o lado Heavy Metal do Prog Metal do Cynic fica em evidência sendo habilmente alternado com outros trechos bastante viajantes e culminando em um clímax deveras animador, que é finalizado de forma serena em Ec-ka72.

    Se Paul Masvidal decidir que este é efetivamente o último disco do Cynic em virtude das lastimáveis perdas de seus amigos e colocar um fim à banda ( tomara que não faça isso... ), ele fez isso com um brilhante álbum nas mãos, que deverá ser apreciado por todos os fãs de Rock Progressivo que estejam preparados para 49 minutos de viagens únicas e incríveis por linhas impressionantes e que acompanharão o ouvinte para outro plano astral. Se você se identificou com a proposta do Cynic neste Ascension Codes caro leitor(a) do Rock On Stage, então se surpreenda neste lançamento da Shinigami Records no Brasil.
Nota: 10,0.

Por Fernando R. R. Júnior
Junho/2022

Site: http://www.cyniconline.com/.   
Instagram: https://www.instagram.com/cynic_official/.   
Twitter: http://twitter.com/CynicOnline.   
Facebook: https://www.facebook.com/Cynicofficialpage.   
Bandcamp: https://cyniconline.bandcamp.com/album/ascension-codes.
Apple Music: https://music.apple.com/br/album/ascension-codes/1582921130.
Tidal: https://tidal.com/browse/album/195291906.
Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=ZWIaoiT6rUs.
Deezer: https://www.deezer.com/br/album/254709052.
Amazon: https://music.amazon.com/albums/B09DN4F1N1.  

 

Voltar para Resenhas