Deep Purple - Live In Long Beach 1976
 15 Faixas - Duplo - Shinigami Records - 2016

    Ao discordar com o direcionamento mais Funk e Soul que David Coverdale ( vocais ) e Glenn Hughes ( baixo e vocais ) estavam colocando no Deep Purple desde que foram chamados para os postos de Ian Gillan ( vocais ) e Roger Glover ( baixo ) - depois de dois históricos álbuns ( Burn e Stormbringer ) - e obtendo a anuência de Jon Lord ( teclados ) e Ian Paice ( bateria ), o sempre temperamental Ritchie Blackmore ( guitarra ) decide sair pela primeira vez da banda encerrando o ciclo da consagrada MK III.

    Entretanto, os remanescentes procuraram um guitarrista a altura do desafio e encontraram o formidável jovem norte americano Tommy Bolin de Sioux City/Iowa, que já tocara com Billy Cobham, Mahavishnu Orchestra e James Gang.

    Mesmo inicialmente recebendo uma certa desaprovação dos fãs e da crítica em sua meteórica passagem, o guitarrista concedeu uma roupagem única e impecável à banda registrando em estúdio o álbum Come Taste The Band em 1975, e nascia assim, o Deep Purple MK IV. E com o álbum Come Taste The Band não produzindo o impacto de seus clássicos predecessores, ao vivo, o Deep Purple era espetacular e este Live In Long Beach 1976 foi gravado no famoso Long Beach Arena na Califórnia nos Estados Unidos em 27 de fevereiro de 1976 pela rádio americana The King Biscuit Flower Hour é uma das raras provas desta magnificência.

    Como era o costume nas turnês desde sua entrada na banda em 1973, um empolgado David Coverdale agradece ao calor que sentia do público ao som de fogos de artifício e o "aquecimento" dos integrantes chamado de Introduction traz a explosiva Burn literalmente 'botando para quebrar' com o vocalista e com o baixista Glenn Hughes demolindo qualquer fã presente ( ou agora ouvinte do cd ) com suas atuações embasadas no reluzente ritmo de Ian Paice na bateria, de Jon Lord com seus improvisos nos teclados e toda a vibração de Tommy Bolin na guitarra. E já exclamo: que riqueza sonora que temos... e graças ao guitarrista... muito mais Rock´n´Roll!!! O eletrizante show prossegue com uma saudação dos vocalistas aos fãs e um anúncio de que a próxima canção é do então novo disco ( de 1975 ), o Come Taste The Band, e o Rock pulsante de Lady Luck mostra o impacto do caminho mais Funk escolhido pelo Deep Purple cativando os fãs e destacando os solos de Tommy Bolin na guitarra.

    Em seguida, uma das melhores deste álbum: a emocionante Getting Tighter, que nesta versão deste Live In Long Beach 1976 ficou ainda mais radiante. Confirme ao notar seu andamento todo dançante e suas vocalizações flertando com o Soul onde David Coverdale e Glenn Hughes pulverizam nos vocais. Além disso, o repare também em seus improvisos, que habilitam Tommy Bolin para solar com maestria ao acompanhar a furtiva cozinha de Ian Paice, que muda o ritmo o tempo todo na sua bateria e Glenn Hughes com toques incríveis em seu baixo. Enfim, temos uma sinfonia lindíssima repleta de improvisos deliciosa de se saborear, como no duelo de voz e guitarra feitos por Glenn Hughes e Tommy Bolin entre tantos outros em seus quase quinze minutos.

    Após esta verdadeira avalanche, hora de respirar com a faiscante Love Child ( outra do Come Taste The Band ), que exala riffs mais pesados na guitarra e vocalizações cheias de 'feeling' em um estilo crescente e envolvente até que seu mergulho nos improvisos mais Funk aconteçam com os solos de teclados de Jon Lord disparando verdadeiros 'lasers sonoros' e ainda com Ian Paice provando porque sempre foi considerado como um dos melhores bateristas de todos os tempos. O já clássico Smoke On The Water do Machine Head aparece em fraseados nervosos do guitarrista Tommy Bolin, que produzem uma versão mais robusta desta conhecidíssima música, cujos vocais foram divididos com perfeição por David Coverdale e Glenn Hughes.

     Quem curte o que o Deep Purple faz na parte instrumental deve ficar bastante atento aqui para absorver tudo e sentir a ligação que fizeram com a Georgia On My Mind, que ganhou fama com Ray Charles, que é totalmente Soul e Blues, além de ser belíssima com agudos fortíssimos da "Voz do Rock" Glenn Hughes até que David Coverdale retorne com força para terminar a canção.

    Jon Lord e Ian Paice são destacados pelo vocalista, o primeiro produz aqueles solos de teclados inigualáveis, com aura de música clássica, viajantes e que são de outra dimensão até se conectarem a Lazy ( do Machine Head ) com a multidão presente aplaudindo cada um deles. E aí, a usina sonora do segundo tece com sua bateria a base para que o Deep Purple inflame a todos com este hino do Rock, que teve nesta noite um duelo de vocais entre David Coverdale e Glenn Hughes, riffs encorpados na guitarra feitos por Tommy Bolin em algumas partes e uma tonelada de improvisos, que vão culminar em um solo de bateria que só posso definir como espetacular e que impressiona gerações de bateristas até hoje. Para o final deste primeiro cd temos os "raios gama" emitidos dos teclados de Jon Lord em Homeward Strut ( canção solo de Tommy Bolin ), que vão se elevando em um ritmo Rock´n´Roll te causando uma vontade de dançar ou sair pulando em meio a tantas alterações quase inacreditáveis.

     Na continuação do show, David Coverdale nos avisa que tocarão músicas dos álbuns Machine Head e Stormbringer e que a nova ( naquele momento ) This Time Around é dedicada à Stevie Wonder com Glenn Hughes delineando em sua voz um feeling gigantesco, que lança muita magia no ar, que em sua virada para seu lado mais Rock/Blues se torna a Owed To G acontece com uma precisão enfeitiçante e segue até a Guitar Solo Tommy Bolin, onde o guitarrista norte americano realizou seus brilhantes solos, que caminham pelo Blues, pelo Rock e transcende até o Heavy de forma emocionante resultando em muitas palmas dos extasiados fãs.

    Quando ele retomou as linhas mais pesadas de incomparável técnica, agora com a participação de Ian Paice na bateria, sendo que o jovem guitarrista - que nos deixou muito cedo - mostrou um vigor fabuloso a cada nota de sua Fender. Este solo termina no instante que Stormbringer entra 'devastando' com sua indiscutível adrenalina musical em exibição de gala pelo quinteto, que me deixa pensando no 'estrago' que causaram nos presentes no show em Long Beach, pois, quando chega o momento de seus improvisos, David Coverdale pende para um Blues repleto de suingue e canta muito ( na acepção da palavra ) cravando o grande frontman que é até hoje.

    No bis, o Deep Purple temos a incendiária Highway Star, que foi apresentada com uma significativa tenacidade Rock´n´Roll, que mais uma vez destacaram os 'flamejantes' solos do guitarrista Tommy Bolin e dos vocais de David Converdale, que demonstrou uma garra sensacional junto a Glenn Hughes. Entretanto, o Deep Purple estava nos Estados Unidos neste dia e não poderia deixar de prestar uma homenagem a um dos artistas que influenciaram eles antes de encerrarem o espetáculo e notamos trechos de Not Fade Away, canção de Buddy Holly um dos criadores do Rock´n´Roll.

    De bônus neste Live In Long Beach 1976 temos três canções registradas na noite anterior do show principal, pois, no dia 26 de fevereiro de 1976, o Deep Purple esteve em Springfield, no estado de Massachusetts, e assim, Smoke On The Water acende novamente a chama com todo sua excelência nos fazendo desejar viajar no tempo e no espaço para estar vendo o show de perto e conferir a sua junção com Georgia On My Mind quase espiritual.

   

    O segundo bônus é a emblemática Going Down ( do Come Taste The Band ), que inicia-se com improvisos exalando a capacidade técnica e a coesão da MK IV do Deep Purple em um Blues/Rock incomensurável, que te conquista facilmente com suas evoluções ( especialmente no que o mago Jon Lord concebeu em seus teclados ). Os prolongamentos são simplesmente alucinantes, que caminham para o terceiro bônus com a Highway Star, mais rápida, pesada e derramando fagulhas em uma versão de muito Rock´n´Roll e diferente da que ouvimos há poucos minutos, pois, é simplesmente fenomenal.

    Este Live In Long Beach 1976 chegou só agora 40 anos depois que foi registrado e já se classifica como um dos melhores álbuns ao vivo lançados pela Shinigami Records ao longo de sua história. Porém, mais que isto, este álbum duplo de duas horas de duração é um dos melhores que já ouvi, tanto que tenho que classificá-lo como um dos Top 10 ao vivo do Deep Purple, que você cometerá um sacrilégio se não incluir na sua coleção. Quem é mais novo tem aqui uma oportunidade de entender porque o Deep Purple pertence ao 'sagrado triunvirato' do Rock.
Nota: 10,0.

Sites: http://www.deep-purple.com/ e https://www.facebook.com/officialdeeppurple.

Por Fernando R. R. Júnior
Outubro/2016

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