Fleshgod Apocalypse - King
 12 Faixas - Shinigami Records - 2016

    A vanguardista banda de Metal Extremo Fleshgod Apocalypse formou-se em Perugia na Itália em 2007 e foi inspirada por nomes como o Morbid Angel, Deicide e Cannibal Corpse, além dos compositores clássicos como Franz Joseph Haydn, Wolfang Amadeus Mozart e Ludwing Van Beethoven. Entretanto, dentre os muitos estilos que percebemos no caldeirão sonoro do quinteto italiano houve espaço para influências de alguns dos maiores criadores de trilhas sonoras do cinema, tais como John Willians, Hanz Zimmer e Howard Shore, além do Deah Metal Melódico de Carcass e At The Gates. O primeiro registro desta diversificada miscigenação sonora foi o cd Oracles em 2009, que foi seguido pelo EP Mafia de 2010 e o cd Agony de 2011.

    Para o seu quarto cd intitulado como King, Paolo Rossi no baixo e vocais limpos, Francesco Paoli na bateria, guitarra e vocais, Cristiano Trionfera na guitarra e vocais, Tommaso Riccardi nos vocais e guitarra e Francesco Ferrini no piano e arranjos orquestrais foram ao 16Th Cellar Studios com Stefano Morabito e no Kick Recording Studios com Marco Mastrobuovo entre setembro e outubro de 2015. Para os processos de mixagem e masterização, o Fleshgod Apocalypse convocou o experiente Jens Bogren e o seu Fascination Street Studios em Örebro na Suécia em um processo que aconteceu no mês de novembro de 2015. A capa exibe um rei com toda sua imponência e nobreza é de Eliran Kantor.

    A instrumental Marche Royale abre o cd com todo já esperado estilo cinematográfico, pomposo, épico e beligerante, que se liga na colérica War Eternum em uma atmosfera densa, que fica mais pesada a cada instante seja nos teclados, guitarra e bateria, exceção feita apenas aos vocais limpos de Paolo Rossi, que contrastam com os guturais de Tommaso Riccardi. E a forma que o Fleshgod Apocalypse conduz as músicas não deixa o ouvinte perceber a mudança de faixa, pois, quando Healing Throgh War entra em cena não temos nenhuma diminuição de seu ritmo carregado, pelo contrário, sentimos linhas ainda mais solidificadas, que transparecem ótimos solos de guitarras de Francesco Paoli e Cristiano Trionfera. Depois de uma típica melodia clássica, que rapidamente dá lugar a um veloz Power Metal, que se enrijece e torna-se um Death Metal furioso e matador, a complexa The Fool marca a quarta do cd, onde temos o 'conflito' dos vocais urrados de Tommaso Riccardi e os limpos de Paolo Rossi.

    Em Cold As Perfection encontramos uma fortificada linhagem sinfônica, que serve de fundo para o estilo feroz que o quinteto aplica a cada instante, onde o vocalista receba a participação da soprano Veronica Bordacchini  ( do In Tenebra e Wisteria ) discretamente em sua atuação com seus vocais operísticos, inclusive, te conclamo a ouvir com atenção toda a variação instrumental reluzente a que somos submetidos. Sem diminuir o peso, Mitra entra em cena ainda mais caótica e agressiva em uma sessão 'metralhante' para sair batendo a cabeça entre seus urros e seu andamento devastador, que me levam a perguntar: onde isso vai parar? E a resposta aparece surpreendentemente em seguida com a melancólica Paramour ( Die Liedenschaft Bringt Leiden ) vocalizada em alemão por Veronica Bordacchini e por Tommaso Riccardi em um formato de ópera, que está repleto de sentimento em seus belíssimos toques de piano feitos por Francesco Ferrini.

       A hecatombe destrutiva do Fleshgod Apocalypse é retomada com And The Vulture Beholds, que é rápida em um clima sinfônico tenso com a cantora Veronica Bordacchini realizando a oposição aos guturais de Tommaso Riccardi, que recomendo também saborear belo solo de guitarra feito por ele. Gravity entra mais cadenciada, exibindo muitos triggers na bateria feitos por Francesco Paoli e é vocalizada no estilo violento escolhido pelos italianos, que sempre destilam muita agressividade a cada segundo em um crescente mais clássico, que chama um solo de guitarra melódico.

    Na próxima sentimos um clima de batalha com um embasamento clássico/de trilha sonora de cinema na exibição de A Million Deaths. Porém, as alternações mais aceleradas em alguns momentos e mais clássicas em outros são um verdadeiro deleite auditivo. Syphillis exibe dedilhados e toques introspectivos no piano de Francesco Ferrini ouvimos versos falados por Veronica Bordiccheli, que pouco depois dão lugar aos vocais raivosos de Tommaso Riccardi em um duelo com os vocais líricos da convidada sempre na atmosfera desafiadora e pesada do Fleshgod Apocalypse.

    Finalizando a obra temos a sua faixa título, a King, que é instrumental e traz melodias tristes no piano de Francesco Ferrini nos propondo uma reflexão diante ao conceito do cd definido desta forma por Tommaso Riccardi: "King é sobre o velho mundo que está lentamente chegando ao fim. O próprio rei é, de certa forma, o único personagem positivo de toda a história. Ele representa a justiça, a integridade e a sabedoria que lentamente estão sendo corroídas pela ignorância e a mediocridade espalhadas por toda parte. Nós achamos que esta poderia ser uma perfeita maneira de descrever a nossa indignação sobre a queda irrestringível da nossa sociedade, em uma época que se assemelha mais com a Idade Média que com o século 21. Obviamente, nesta história há uma mensagem positiva: o rei poderia ser cada um de nós e cabe a nós reconhecer o "nosso" rei para encontrar a coragem para defender o que acreditamos. Todos devemos saudar o rei que nós temos dentro!"

    Posso afirmar seguramente que o Fleshgod Apocalypse consegue harmonizar sua fúria Death Metal com passagens orquestrais, cinematográficas e clássicas nestas doze faixas de King de uma forma capaz de deixar o ouvinte satisfatoriamente entretido. Aos amantes de nomes como Borknagar e Dimmu Borgir, temos uma trupe que impressiona e certamente será muito comentada, que continuem assim.
Nota: 9,0.

Sites: http://shop.fleshgodapocalypse.com/.

Por Fernando R. R. Júnior
Outubro/2016

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