Ibaraki - Rashomon
10 Faixas - Shinigami Records/Nuclear Blast Records - 2022

    Há mais de 20 anos Matt "Kiichi" Heafy criou o Trivium com os amigos na Flórida ( E.U.A. ), sendo que seu empenho rendeu álbuns como Ember To Inferno de 2003, Ascendancy de 2005, Shogun de 2008 e In Waves de 2011 ( entre vários outros ao longo da carreira da banda ). Todavia, Matt "Kiichi" Heafy quis ir mais além e lançou o projeto Ibaraki ( nome de um demônio do Japão Feudal ), que é voltado ao Black Metal Progressivo e é inspirado por Ihsahn ( do Emperor ).

    Ao atirar-se como artista solo, essa inspiração resultou em uma amizade com Ihsahn, além do convite para que o líder do Emperor realizasse a produção do álbum do Ibaraki, inclusive isso se relaciona com o disco em si, conforme Matt "Kiichi" Heafy explica: "Estávamos no Facetime e mencionei que gostaria de ser escandinavo. Eu estava tipo 'eu gosto da tradição, eu poderia escrever sobre historias norueguesas, escandinavas'. Mas Ihsahn estava tipo 'isso já foi feito, você deve realmente canalizar o que você tem, olhar para sua própria cultura e entrar de cabeça nisso' e foi como 'oh, sim, eu sou japonês!'

    Então eu deveria estar escrevendo sobre essa vasta e incrível variedade de histórias que eu já tatuei no meu corpo. Quero dizer, cada tatuagem que tenho é uma história japonesa antiga específica de deuses, deusas e monstros do Xintoísmo que minha mãe me ensinou. Por mais que eu quisesse ser um norueguês em uma banda de Black Metal cantando sobre Thor, o que eu deveria estar fazendo estava bem diante dos meus olhos. Era eu. Isso mudou tudo e eu comecei a vomitar essas letras."

    Assim posso dizer como nasceu Rashmon, o disco fortemente motivado pela mitologia e pelo folclore japonês, que serviu para que o músico catalisasse as recentes tragédias nos Estados Unidos, além do aumento da violência e o fanatismo anti-asiáticos, conforme ele salientou ao dizer: "A violência nos Estados Unidos contra os asiáticos, os assassinatos de asiáticos por causa da mesquinhez das pessoas, podemos ver o que está acontecendo. É como se eu nunca me sentisse asiático o suficiente porque sou metade e nunca me senti branco o suficiente porque sou metade, mas sinto que é importante falar sobre isso agora. Tudo tem uma cultura rica, incrível e linda por trás: cada civilização, cada cultura, cada estilo de vida. Então eu espero que isso possa fazer com que os headbangers asiáticos ou os fãs asiáticos da música em geral se sintam um pouco mais representados. É ótimo poder dizer: 'isto é de onde eu sou' e 'este é quem eu sou'".

    E de acordo com o mencionado acima, Rashomon conta com Matt "Kiichi" Heafy nos vocais e guitarra, Jordan Lonn na bateria e vários outros convidados, os quais mencionarei suas participações ao longo desta resenha. Ihsahn não só cuidou da produção de Rashomon como também da engenharia, composição e instrumentos adicionais; enquanto que a mixagem e masterização é de Jens Bogren ( Angra, Dragonforce, Kreator, Sepultura, Dark Tranquility, Haken e muitos outros ).

    Na capa temos um Shogun que representa o Rashomon e o desenho foi criado por Jon Paul Douglass e o disco apresenta os títulos das músicas em japonês, porém, suas letras são em inglês, salvo em alguns versos de Susanoo No Mikoto. Desta forma, vamos conhecer como o guitarrista do Trivium se saiu ao cantar e tocar neste projeto de Black Metal orientado por sua ascendência japonesa.

   E é com um som instrumental e melancólico, que Hakanaki Hitsuzen abre Rashomon para que então Matt "Kiichi" Heafy libere a brutalidade contida em Kagutsuchi, que embora seja um Black Metal de ares Melódicos encontramos também alguns vocais limpos e modernos, onde o baixo é comandado por Paolo Gregoletto do Trivium e chamam a atenção as modificações que exibem arranjos calmos, belos e inesperados até que a música termine de forma demolidora.

    A terceira é Ibaraki-Doji e logo no princípio sentimos seus riffs destruidores, que aumentam e pavimentam o caminho para que os seus vocais rasgados e furiosos tomem conta do som, porém, Matt "Kiichi" Heafy soube como alternar levemente a música incluindo breves partes acústicas com trechos falados e vocais serenos em seus versos, além de dedilhados com melodias excelentes nos surpreendendo outra vez até o momento que ele resolve atacar novamente com seu Black Metal Melódico totalmente atormentado, que explana as passagens da sua cultura em sua letra.

    Em seguida temos os introspectivos toques no violão presentes em Jigoku Dayu com Matt "Kiichi" Heafy cantando com emoção esta música, entretanto, quando esta parte termina temos a mais colérica faixa do cd até aqui, que relata a história da filha de um Samurai que foi vendida para a prostituição através de vocais rasgados e totalmente agressivos, que somadas às linhas instrumentais melódicas e robustas nos colocam diante de uma marcante composição, que termina em um clima entristecido.

    Para a avalanche chamada Tamashii No Houkai, cuja composição é dividida entre Matt "Kiichi" Heafy e Ihsahn, temos outra implacável criação de vocais rasgados e gritados em um clima de Black Metal intenso e também os solos do líder do Emperor na guitarra, aliás, como é de praxe neste Rashomon, a música possui trechos limpos nos vocais muito bem construídos através de formosas melodias em meio à toda a sua inabalável ira que ouvimos na sua maior parte. Mais outra co-escrita com Ihsahn é a paulada Akumu, que traz o vocalista Nergal do Behemoth para cantar alguns de seus dilacerantes versos conclamando para si o posto de mais brutal e bárbara faixa do álbum, mesmo com suas partes melódicas teoricamente suavizando um pouco.

    Aparentemente cadenciada e de início esmagador, Komorebi traz a participação de Corey Beaulieu ( parceiro de Matt "Kiichi" Heafy nas guitarras do Trivium ) levando muita depressão ao Ibaraki nos trechos com vocais calmos e muita vibração em seus solos de guitarra nesta diversificada e bastante criativa composição. A oitava de Rashomon é a intimista e Progressiva Ronin, cujos solos de guitarra são de Ihsahn e que é cantada por Gerard Way ( vocalista do My Chemical Romance ) nas partes rasgadas e ensandecidas e por Matt "Kiichi" Heafy nas limpas em um duelo de vozes consideravelmente interessante, tais como as suas mudanças notadas em seu andamento, que fazem esta música ser deveras singular no cd e que vamos gostar imediatamente.

   Supostamente direcionada ao Black Metal Melódico por conta de seu ritmo e de seus vocais rasgados, Susanoo No Mikoto traz Heidi Solberg Tveitan ( do Starofash, Peccatum e Hardingrock ) nos backings vocals e o seu marido Ihsahn nos vocais em uma mistura que fazem esta música exibir ares épicos e posteriormente sinistros com vocalizações agonizantes. A curta e folclórica Kaizoku parece que foi extraída de um circo por conta de seu andamento e de seus vocais, que comprovam que Matt "Kiichi" Heafy foi além e criou um álbum único dentre os discos extremos.

     Assim sendo, recomendo uma audição deste Rashonom, não somente aos fãs de Trivium e do Emperor ou ainda para os fãs de Black Metal, mas também para quem é fã de ouvir um álbum repleto de variações, que te surpreenderão não apenas comparando uma de suas canções com a outra, mas, também no decorrer de cada uma delas, ainda mais se você realizar imersões - através de suas letras - na mitologia e no folclore japonês ( sim, Matt "Kiichi" Heafy nasceu Iwakuni no Japão ). Em suma, com o Ibaraki, posso dizer que ele se superou neste seu primeiro trabalho como artista solo.
Nota: 9,0.

Por Fernando R. R. Júnior
Janeiro/2024

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