Meshuggah - The Violent Sleep Of Reason
10 Faixas - Shinigami Records - 2017

    Os suecos da cidade de Umeå, que desde 1987 formam o Meshuggah, uma das potências do Metal Extremo Progressivo, que também pode ser considerada com Math Metal, Djent Metal ou Avant Garde Metal já disponibilizaram nestes 30 anos de banda oito álbuns de estúdio, seis EP's, dois cd's e DVD's ao vivo, sendo o oitavo e último intitulado como The Violent Sleep Of Reason, que foi lançado em 2016 após quatro anos de seu predecessor, o disco Koloss.

    Em The Violent Sleep Of Reason, Jens Kidman ( vocal ), Marten Hagström e Fredrik Thordental ( guitarras ), Dick Lövgren ( baixo ) e Thomas Haake ( bateria ) gravaram de forma ao vivo, ou seja, ensaiaram e aprenderam suas músicas para posteriormente registrá-las em definitivo praticamente de uma só vez. A mixagem é do experiente Tue Madsen e foi realizada no Puk Studios na Dinamarca. e a masterização de Thomas Eberger. A elaborada capa e os desenhos do encarte são inspirados pela obra O Sono da Razão Produz Monstros do pintor espanhol Francisco Goya é de Keerych Luminokaya, que já cuidou das capas dos álbuns Koloss ( 2012 ) e The Ophidian Trek ( 2014 ).

    Aliás, sobre esta demora, o tecladista Thomas Haake explica: "Ouça as faixas como 'Nostrum' e 'By The Ton' e facilmente entenderá o porquê tem passado quatro anos desde um álbum de Meshuggah. Porém, a complexidade do material não foi a única razão. Nós somos muito ruins em multitarefas. Nunca escrevemos um único riff durante as turnês e após lançar um álbum, você quer dar tudo o suporte possível e fazemos turnês por dois anos e meio. E após compor um novo álbum, revisamos o novo material uma vez e outra e outra e outra e mudamos coisas. Há muitas músicas que só tem um riff da composição original. Portanto, compor nos leva um bom tempo, sem dúvida. Eu diria que a média é de dois meses para compor uma faixa ".

   E é com um peso descomunal que Clockworks abre The Violent Sleep Of Reason através de linhas cadenciadas e vocais urrados, que recebem algumas variações mais complexas, que até parecem que estamos em uma plena revolução das máquinas contra os humanos e atenção na técnica do baixista Dick Lövgren ao se sobressair em tanto caos sonoro na atuação dos demais integrantes. A usina esmagadora do Meshuggah continua a sua destruição sonora com Born In Dissonance, que é mais aniquiladora que a anterior através de uma tonelada de urros de Jens Kidman ante a um andamento voraz, complexo e sombrio na parte instrumental. Seria possível soar ainda mais pesado? Para o Meshuggah sim. E para confirmar repare no que é gerado com os urros da dilacerante Monstrocity, também em sua bateria e especialmente nos toques opacos do baixo, que ao mesmo tempo são absurdamente técnicos na mesma proporção que os solos de guitarras.

    Em By The Ton percebe-se um clima denso e aparentemente arrastado, sendo que o quinteto desfere golpes insanamente violentos tanto nas suas linhas instrumentais quanto em seus vocais guturais, porém, obedecendo a massacrante linhagem cadenciada estabelecida pelo baixista Dick Lövgren. Para a faixa título, a The Violent Sleep Of Reason, o Meshuggah aplica mais velocidade em seu início e segue explorando a complexidade instrumental para depois Jen Kidman vociferar com uma cólera extrema em um andamento mais cadenciado. Aqui notam-se algumas viagens, entretanto, o ambiente é tão devastador, que elas acabaram ficando em segundo plano.

    Ivory Tower, nome da sexta do cd, segue o padrão intricado e mais lento dos suecos com o índice de revolta estourando em urros extasiantes, distorções nas guitarras e toques fulminantes de baixo. A seguinte é Stifled e não chega a se diferir tanto da anterior, porém, é mais cadenciada e demasiadamente violenta em seus urros, onde posso destacar seus solos de guitarras limpos e longos, que vão caminhando para um final obscuro, que recebem pontos viajantes e até melancólicos em uma grata surpresa do cd.

    Isso se conecta em Nostrum, que percebe-se como sua fúria foi elevada dimensionando o tamanho da explosão que eles desejaram colocar, seja nos vocais guturais de Jen Kindman ou na fortíssima e insana linhagem instrumental. Com um ritmo encorpado Our Rage Won't Die, o Meshuggah envia outra dose imensa de urros e uma aniquiladora combinação de guitarras, baixo e bateria. A última de The Violent Sleep Of Reason é a Into Decay, que chega com um estilo mais viajante nas opacas notas do baixista Dick Lövgren e nos solos distorcidos dos guitarristas Marten Hagström e Fredrik Thordental, mas, novamente a raiva é tamanha que, de certa forma, esconde a complexidade que temos na música.

    The Violent Sleep Of Reason é um álbum que fatalmente serão necessárias muitas audições para que se possa absorver sua inesgotável fonte de violência sonora, pois, o Meshuggah demorou, mas quando resolveu disponibilizar seu novo registro, quis mostrar toda a sua insatisfação com o mundo que vivemos. Acredito que este lançamento da Shinigami Records no Brasil é uma ótima trilha sonora para o final dos tempos, pois, estamos diante de um caos imponderável executado com uma precisão técnica de altíssima destreza, que dentre todos rótulos que citei no início deste texto é difícil dizer qual seria o mais adequado ao que ouvimos aqui e detalhe, tudo em um trabalho de masterização em que conseguimos ouvir os instrumentos e os vocais claramente de forma homogênea.
Nota: 8,0.

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Por Fernando R. R. Júnior
Dezembro/2017

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