Myrath - Shehili
12 Faixas - Shinigami Records - 2019

    Quando se fala da Tunísia para nós brasileiros, a primeira lembrança recorre para a sua seleção de Futebol que não costuma ir muito bem em Copas do Mundo, das areias do deserto e mais recentemente ao país que iniciou a Primavera Árabe ( movimento que visava mais democracia e que se espalhou para outros países vizinhos, que aconteceram nem sempre de forma pacífica ), porém, desde 2001 na cidade de Ez-Zahra, o Myrath está na ativa, e eles são uma banda que alia suas influências do Oriente Médio e regionais com o Metal Progressivo. Da data de sua fundação para cá, eles já lançaram cinco discos, sendo este Shehili, o quinto da carreira, sendo que o Myrath é atualmente formado por Zaher Zorgati nos vocais, Malek Ben Arbia na guitarra, Anis Jouini no baixo, Elyes Bouchoucha nos teclados e backing vocals e Morgan Berthet na bateria.

    E com os seus discos, o Myrath vem alcançando uma ótima aceitação dos fãs e da crítica, tanto que isso os levou para se apresentaram ao lado do Dream Theater e do Symphony X, um fato muito significativo para a banda tunisiana ( aliás, ambas as bandas são claras influências dos tunisianos ). As gravações de Shehili aconteceram em três países diferentes com três renomados produtores, sendo eles: Kevin Codfert - tecladista do Adagio - na França, Mike Freese na Alemanha e Jens Bogren na Tunísia e este último já trabalhou com o quinteto em 2016 no álbum Legacy. E com o lançamento de Shehili no Brasil pela Shinigami Records podemos apreciar mais prazerosamente esta verdadeira joia do deserto, cuja capa contém um planeta ao fundo e uma figura bastante enigmática.

    Asl ( Intro ) nos expõe a toda mística árabe no ar entre cânticos e falas com a participação de Mehdi Ayachi e sons de instrumentos típicos da cultura local nos levando para uma viagem até a cidade de Tunis durando até que a junção com seu eficiente Prog Metal ocorra em Born To Survive destacando os cativantes vocais de Zaher Zorgati entre as contundentes linhas instrumentais, que estão por vezes mais pesadas e por outras mais progressivas. Depois do começo vibrante, o Myrath mantém sua empolgação com You've Lost Yourself, que percorre seu estilo Progressivo em meio a vocalizações cheias de emoção de Zaher Zorgati em um estilo que me lembrou do Queensrÿche nos tempos de Geoff Tate nos vocais entre formosos, bem feitos e pesados solos de guitarra feitos por Malek Ben Arbia. Atente para suas lindas melodias de baixo, de bateria e teclados na cortesia de Anis Jouini, Morgan Berthet e Elyes Bouchouca, respectivamente.

    Com os ritmos árabes construindo o ambiente para Dance, o Myrath exibe a continuação direta de Believer, que conta a seguinte história segundo o vocalista Zaher Zorgati: "uma dançarina síria que enfrentou ameaças de morte por parte do Estado Islâmico, mas, preferiu continuar dançando, mesmo que isso significasse dançar através de ruínas e tumbas. Mesmo com seu formato pesado e repleto das linhas da cultura árabe, Dance vai te conquistar facilmente, assim como sua letra, confirme ouvindo atentamente os solos de guitarra e a excelente base feita nos demais instrumentos para que o vocalista cante seus versos e faça o seu refrão fixar em sua memória.

    Para Wicked Dice temos um Prog Metal robusto de andamento mais lento e vocalizações cheias de feeling em que os toques do baterista Morgan Berthet estão reluzentemente harmonizados com os demais instrumentos. Inclusive, não posso deixar de salientar também os solos de guitarra feitos por Malek Ben Arbia e os toques do baixista Anis Jouini. Com as místicas percussões locais e um clima viajante temos Monster In My Closet, cujo refrão é deveras envolvente e animado, assim como seu ritmo instrumental repleto de técnica em que evidencio o seu solo de guitarra, cujas variações refletem o lado árabe e um estilo moderno, e claro, o Heavy Metal intricado nas melodias.

    Em Lili Twil encontramos um início elaborado de ótimas viagens elétricas metade em árabe e inglês criando um dueto natural, que está bastante pesado e saboroso de se ouvir ao realizar - em tese - uma colisão entre as culturas, que fica consideravelmente emocionante em que te desafio não cantarolar seu refrão após algumas audições.

    De ares positivos e admiráveis, a oitava de Shehili é No Holding Back e o Myrath nos coloca em frente de uma belíssima melodia vocalizada com destreza por seu vocalista, onde merecem serem lembrados os solos de guitarra e de teclados, que são breves, mas fundamentais para o clima da música, tanto que não foi por acaso que ela foi escolhida para um dos clipes dos tunisianos. Nos toques lindos feitos pelo tecladista Elyes Bouchoucha, o Myrath apresenta agora a impactante Stardust, que começa mais lenta e ganha um formato épico excelente e de certo ponto de vista até dramático, além de soberbas linhas viajantes e vocais admiráveis. Depois em Mersal sentimos uma ar festivo cujos primeiros versos são em árabe e depois em inglês te conectando à música imediatamente. Aliás, esta alternação em seus versos continua lhe conferindo um estilo único e intrigante, e isso, sem mencionar suas formosas linhas instrumentais.

    Quase se entregando totalmente ao seu lado Heavy Metal, Darkness Arise é a penúltima de Shehili e os tunisianos souberam mesmo como mesclar seu vocais poderosos ao lado Metal com as partes Progressivas em claras influências de Symphony X, porém, com seu fundo árabe garantindo o seu diferencial nesta magnífica composição.

    Por fim, o quinteto nos mostra a canção título do cd, a Shehili que logo em seu princípio emblemático deixa claro que é tão grandiosa quanto as demais ao mesclar com precisão oriente com ocidente, ou seja Prog Metal com música árabe nos conduzindo para uma deliciosa viagem em cada um de seus minutos, que te farão abrir um sorriso pela música que curtiu.

    É o Myrath não só conseguiu entregar em Shehili um disco em que fundiu tudo com habilidade ( ou seja seu Prog Metal com seu lado cultural árabe em uma produção cristalina ) bem como foi além confirmando e superando as expectativas de todos que ouviram Believer e que certamente será um dos melhores discos do ano através de canções, que foram definidas por Zaher Zorgati como: "O propósito da nossa música é induzir felicidade e alegria, para homenagear aqueles que se recusam a cair ou a perder a esperança, mesmo em um mundo cheio de ódio e incerteza." E concordo plenamente com esta afirmação do vocalista, tanto que a viciante energia positiva presente nos pouco mais de quarenta e cinco minutos do álbum te fazem desejar ouvi-lo mais vezes, e é o que vou fazer.
Nota: 10,0.

Por Fernando R. R. Júnior
Novembro/2019

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