Nailed To Obscurity - Black Frost
10 Faixas - Shinigami Records - 2019

     Da pequena cidade Esens ( que tem apenas 17 mil habitantes ) na Alemanha, os então adolescentes Jan-Ole Lamberti e Volker Dieken formaram em 2005 o Nailed To Obscurity com a ideia de executarem um Death Metal Melódico. Neste período inicial de muita instabilidade que é inerente à trajetória de qualquer banda, o Nailed To Obscurity lançou Our Darkness ( demo de 2005 )  e Abyss... ( de 2007 ). Em 2012, Alexander Dirks saiu da banda e Raimund Ennega ( Burial Vault ) ocupou o seu posto de vocalista ao lado de Carsten Schorn no baixo e Jann Hillrichs na bateria, além dos citados Jan-Ole Lamberti e Volker Dieken nas guitarras. Juntos eles gravaram Opaque ( 2013 ), King Delusion ( 2017 ) e este Black Frost ( 2019 ).

    O título é referente a geada negra, conceito da terminologia marítima relacionado quando os navios ficam pesados demais e por conta que deste fenômeno em que o nevoeiro ou a chuva congela nas amarras ou mastros causando um desequilíbrio nos navios, que podem facilmente entornar, porém, Raimund Ennega aplicou aos seres humanos que lutam para controlar sentimentos como medo, ira e raiva.

    Entretanto, ele comenta que o conceito é mais amplo que parece: "Eu canto sobre diferentes assuntos. Em geral, tento encontrar metáforas interessantes de meus próprios conflitos e lutas internas. Foi o que fiz em 'Opaque' e 'King Delusion' [anteriores álbuns]. É a mesma coisa em 'Black Frost', mas é uma imagem diferente. As metáforas são diferentes. É difícil falar sobre as letras porque são abstratas. Vamos colocar desta maneira: todos nós passamos por diferentes episódios da vida. As coisas que me aconteceram entre 'King Delusion' e 'Black Frost' tiveram um grande impacto. Acho que ‘Black Frost’ resume tudo. É um fardo da nossa alma e mente. Ele fala sobre o que acontece quando você tem que lidar com isso. Há músicas sobre o medo. Tipo quando você está sozinho em um quarto mas não sente que está sozinho. Não há ninguém ao seu redor, mas sente uma presença lá. 'Black Frost' é sobre a mente passando por dificuldades, acho. Mas gosto de deixar a letra aberta para interpretações".

    A produção, gravação, mixagem e masterização de Black Frost foram todas realizadas no Woodshed Studio em Landshut na Alemanha com o engenheiro e produtor V. Santura ( que é guitarrista do Triptykon e Dark Fortress ). Para ilustrar a capa, onde vemos um rosto humano surrealista e obscuro, o Nailed To Obscurity contratou o argentino Santiago Caruso, que não é fã do estilo Death Metal, mas soube captar a atmosfera proposta pela banda e a partir de agora saberemos como eles a traduziram em suas músicas.

    O álbum começa como uma percussão forte e toques duros no baixo ligados a alguns solos distorcidos já em sua faixa título, a Black Frost, que os alemães criam um clima tenso, sinistro e lento até que os seus urros, falas e sussurros entrem em cena sempre com muita habilidade da banda ao executá-los. Isto prossegue até o final da música quando recebemos dedilhados calmos e exuberantes riffs de guitarras tocados por Jan-Ole Lamberti e Volker Dieken.

    Em seguida, o rumo traçado é para a cadenciada Tears Of The Eyeless, que apresenta vocais suaves e um ritmo sereno para que Raimund Ennega libere seus vocais limpos antes dos urros nesta composição com nuances Progressivos e Doom Metal, onde vamos apreciar suas melodias imediatamente em que alternam trechos agressivos com outros mais serenos. A terceira é The Aberrant Host com seus longos e fúnebres solos melódicos, que chamam a atenção logo em seus primeiros momentos e pouco depois são seguidos por uma atmosfera sombria entre os urros contidos em sua letra que caminham poderosos até os dedilhados entristecidos e viajantes retornarem ao Death Metal arrastado e devidamente obscurecido.

    Após estas três músicas, você tem a certeza que o Nailed To Obscurity é melhor do que se pensava e em Feardom, eles novamente deixaram a percussão tocada por Jann Hillrichs conduzir o andamento extraído pelos demais para que o vocalista Raimund Ennega possa alternar seus vocais guturais com trechos limpos nesta envolvente composição, cujas variações instrumentais deixam cada vez mais claro este estilo lúgubre.

    Para Cipher, os alemães iniciam com ares mais calmos, porém, sempre com suas linhas muito bem executados e ganhando mais espaço através de sua cativante melodia seguindo até que os seus urros dividam os seus holofotes, fato que acontece também com seus formidáveis solos de guitarras, que duram até o quinteto trazer em evidência outra vez o seu estilo melancólico e adicionar aquele saboroso formato denso e de vocais limpos deixando a música fluir de uma forma enfeitiçadora, pois, mesmo assustadora você quer saber até onde terminará.

    Na sexta temos a canção Resonance, que mantém sua tristeza em alta e é devidamente robusta no tamanho da intensidade desejada pelo Nailed To Obscurity, sendo que desta forma seus aromas prendem nossa atenção a cada uma das camadas aplicadas, sendo as mais notadas posso dizer que são os flertes com o Gothic Metal, os longos solos de guitarras e os sussurros fúnebres. A última pertencente exclusivamente ao álbum Black Frost é a Road To Perdition, que seja no ritmo ou nos vocais a sensação que é passada é de um sentimento de desgosto e perda, que graças ao seu lado Death Metal em seus urros revoltados acabam por exalar um profundo conflito interno na contumaz atuação do vocalista Raimund Ennega que entrega corpo e alma para a canção e a transforma junto ao ritmo produzido pelos outros ( ouvidos atentos nos solos de guitarras com melodias estourando lindamente em nossos ouvidos ) na mais encorpada faixa do cd e que termina densamente épica.

    Mas, este lançamento da Shinigami Records no Brasil em parceria com Nuclear Blast tem mais... são três canções bônus do Abyss..., o primeiro disco do Nailed To Obscurity de 2007 e que foram regravadas em 2019. A primeira Abyss... é um Death Metal mais rápido e agressivo se comparado ao que ouvimos anteriormente, que em seu decorrer já mostrava também seu lado melódico através de impactantes evoluções instrumentais e claro, muitos urros.

 

    Em Autumn Memories somos levados à um cadenciado ambiente fortificado e carregado em que o Nailed To Obscurity modifica precisamente suas harmonias com sua cólera criando uma combinação que será apreciada logo em sua primeira audição ( caso você não a conheça caro leitor(a) do Rock On Stage ).

    Por fim, o quinteto alemão dispara a entristecida Fallen Leaves, que é interligada com a anterior e suas belas melodias denotam o trabalho do baterista Jann Hillricks até que os urros de Raimund Ennega tomem conta do ritmo, que neste ponto da música já está deveras poderoso. Todavia, o Nailed To Obscurity diminui sensivelmente este andamento ouvido e retoma a melancolia em seus momentos finais.

    Esta edição brasileira de Black Frost do Nailed To Obscurity mesclou suas sete atuais e excelentes composições marcantes de Deah Metal Melódico/Doom Metal com os primórdios Death Metal da banda nas três recentes regravações escolhidas por eles para integrarem o álbum, ou seja, origens e princípios dos alemães aliados ao seu vibrante, mas tétrico, presente. Em suma, fãs de nomes como Dark Tranquility, Opeth, Amorphis e Paradise Lost ouçam atentamente este disco do Nailed To Obscurity e deliciem-se com mais de uma hora de um empolgante Death Metal Melódico/Doom Metal.
Nota: 10,0.

Por Fernando R. R. Júnior
Agosto/2020

Site Oficial: www.nailedtoobscurity.com.     
Facebook: www.facebook.com/nailedtoobscurity.
Instagram: https://www.instagram.com/official_nailedtoobscurity/

 

Voltar para Resenhas