Orphaned Land - El Norra Alila
15 Faixas - Shinigami Records - 1996 - Relançamento - 2018

    A mais famosa banda de Heavy Metal de Israel conhecida como Orphaned Land lançou em 1996 o seu segundo álbum de estúdio intitulado como El Norra Alila. Seu nome é uma combinação de El Nor ( o deus da luz ) e Alila ( o demônio da noite ) e refere-se a canção do povo judeu para pedir perdão a Deus no Yom Kippur, entretanto, sua temática abrange religiões monoteístas ( islamismo, cristianismo e judaísmo ) pregando a paz entre árabes e judeus. Este relançamento faz parte da comemoração dos 25 anos do Orphaned Land, sendo remasterizado a partir das fitas 'dat' originais, além de conter um novo layout, capa feita por Ehud Graff e uma introdução oriental escrita pelo líder da banda, Kobi Farhi.

    A gravação original de El Norra Alila foi realizada entre março e maio de 1996 no Sigma Studios, junto a Udi Koomran, que assina a mixagem realizada em parceria com Kobi Farhi e Yossi Sassi e a masterização original é de Ran Bagno. A remasterização é de Patrick W. Engel e aconteceu no Temple Of Disharmony em setembro de 2016. Neste tempo a formação do Orphaned Land era a seguinte: Kobi Farhi nos vocais, Yossi Sassi e Matti Svatizky nas guitarras, Uri Zelcha no baixo e Samir Bachar na bateria, que deram vida a El Norra Alila, que acabou se tornando um clássico da banda. Vejamos porque.

    E a viagem até o Oriente Médio inicia-se com Find Yourself, Discover God, que alterna vocais robustos, peso e também suas atmosferas regionais ( um grande diferencial em sua parte instrumental ) com o seu Heavy Metal, sendo que tudo está harmonizado corretamente pela banda em uma canção mais arrastada, que praticamente se aproxima de um Doom Metal, porém, com bases voltadas ao Death, conforme percebe-se nos vocais de Kobi Farhi alternando linhas guturais com trechos falados e alguns coros ao fundo fundindo a música em algo inesperado, ainda mais na década de 90. Deflagrando o som que ficou conhecido posteriormente como Oriental Metal logo no princípio de Like Fire To Water com suas percussões típicas, o Orphaned Land caminha por uma sonoridade nua e crua através dos vocais urrados de Kobi Farhi, porém, nos trechos falados aparecem guitarras distorcidas e é percebido um flerte mais Progressivo e melodioso, onde pode reparar também nos vocais em coro mais suaves.

    Na terceira, a The Truth Within, notamos uma volta da linhagem mais Doom ante a falas que parecem orações, para que então suas modificações acontecerem durante os longos solos de guitarras executados por Yossi Sassi e Matti Svatizky, que seguem até serem interrompidos bruscamente e retomados um pouco depois em um formato melodioso com vocalizações faladas e urradas alternadas frequentemente por Kobi Farhi surpreendendo o ouvinte por serem totalmente inesperadas essas ações.

    Entretanto, quando isso acontece, já estamos em The Path Ahead sem que a mudança de faixa tenha sido notada. Interessante também são os novos flertes Progressivos e a complexidade instrumental que os israelenses fizeram na música, que a unem na calma, contagiante e praticamente espiritual A Neverending Way. Puramente voltada ao lado árabe, a instrumental Takasim conta com Felix Mizrahi no violino introduzindo a encorpada Thee By The Father I Pay, cujo ritmo nas guitarras não se alternam e suas incursões orientais lhe conferem um intrigante estilo todo próprio.

    Na oitava, que é a Flawless Belief, o Orphaned Land apresenta uma canção em que a bateria de Sami Bachar fica em evidência assim como os constantes solos da dupla Yossi Sassi e Matti Svatizky, que facilitam para Kobi Farhi soltar seus guturais e seus trechos falados ( praticamente narrados ) até que entre uma sequencia e outra - sempre pesada - a música chegue ao seu final. A curta instrumental Joy com seus instrumentos percussivos tecem o clima inconfundível dos países do Oriente Médio  para a agressiva Whisper My Name Whe You Dream, que mergulha em alguns pontos viajantes com uma riqueza musical enorme, sempre direcionada nos solos da dupla de guitarristas nesta faixa que Kobi Farhi recebe os vocais femininos pontuais de Hadas Sasi. A canção tradicional Shir Hama'Alot é cantada em seu idioma local e produz uma reflexão única no conceito religioso do disco, cujos vocais são de Davi Sasi e um destaque vai para o seu dramático violino tocado por Felix Mizrahi e o oud ( um alaúde ) tocado por Avi Sharon.

    Esta imersão na cultura do israelense continua com a encorpada El Meod Na'Ala, outra canção tradicional em que seu ambiente único conta com a presença de Avi Agabada no dumbek, duff e darbuka e Abraham Salman no quannum ( instrumentos locais de percussão e cordas ), que produzem sonoridades incomuns para nós, porém, que são devidamente enfeitiçantes.

    O lado Heavy Metal volta forte com Of Temptation Born, porém, mesmo com as partes urradas, o ambiente árabe presente na anterior continua e divide as atenções nos levando a momentos intimistas e viajantes para que possamos refletir ao observar sua letra. Aos dedilhados mais calmos suavizando a fúria da anterior e com outro convidado, agora Sivan Zelikoff no violino temos a belíssima The Evil Urge, cujas partes faladas passam um ar sinistro e pensativo, que passo a passo ganham seu peso embalado em uma linhagem entristecida ao fundo. Encerrando El Norra Alila, o Orphaned Land incluiu mais uma música tradicional com a também espiritual Shir Hashirim, que parece novamente outra oração.

    Posso concluir que El Norra Alila é um álbum desafiador, que fixa seu olhar no Doom e no Death Metal, porém, foi muito além disso ao acrescentar sua claríssima influência regional árabe e judia, que acabou por gerar o Oriental Metal envolvendo o ouvinte em todos os seus minutos implicando em algo não conhecido pelo resto do mundo até então e facilitando assim o aumento da curiosidade em conhecer o trabalho do Orphaned Land. Que bom que a Shinigami Records relançou no Brasil este instigante álbum para que os seguidores dos israelenses possam adquirir e completar sua coleção.
Nota: 9,5.

Por Fernando R. R. Júnior
Março/2019

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