Este conceito de união é a base de Unsung Prophets & Dead Messiahs, que foi inspirado nos ensinamentos do famoso filósofo Platão e nos - infelizmente - frustrados sonhos pacíficos de nomes como Mahatma Gandhi e Martin Luther King, sendo que eles sentem raiva da forma como os líderes mundiais tratam seu povo. Kobi Farhi se posicionou quanto à isso e declarou: "Sim, estamos zangados com os governos, a mídia e qualquer outra lavagem cerebral que você possa imaginar. Estamos presos em um sistema que simplesmente se tornou mais esperto. Ele apenas/parece/como se fosse liberdade. Os imperadores ainda são imperadores e não importa o quanto a humanidade avançou na tecnologia, ciência ou qualquer outra coisa, quando se trata de como um ser humano trata outro ser humano, ainda estamos no mesmo lugar. Estamos sendo anestesiados pela mídia e pelas fofocas que nos mantêm longe daquelas coisas que são realmente importantes. Nós lemos e sabemos mais sobre a bunda de Kim Kardashian do que sobre as crianças que estão morrendo na África só porque elas não têm água potável. Einstein disse uma vez: 'O mundo não será destruído por aqueles que praticam o mal, mas por aqueles que assistem sem fazer nada'. Somos aqueles que têm medo da luz, como os homens da caverna de Platão, como os filhos de Israel que não queriam abandonar sua vida de escravidão no Egito".

    E continua sua tese dizendo: "Quando estou compondo com a banda, sempre tento descobrir o porquê da humanidade ser incapaz de romper com o ciclo de guerras, derramamento de sangue e ego. Não é por falta de soluções. Existem muitas soluções. O problema principal é que as pessoas não querem enfrentar esses problemas. Nosso sistema de ensino nos ensina trigonometria, mas não sobre comportamento humano, aprendemos sobre uma história sangrenta sem fim, mas, não sobre como dialogar, como escutar um ao outro, se você olhar a história da humanidade, existe um padrão. Toda vez que uma figura revolucionária surgiu ao longo da história, seja Sócrates, Jesus Cristo, Che Guevara, Martin Luther King, Mahatma Ghandi e muitos outros, todos eles foram assassinados. É um padrão que Platão reconheceu 2500 anos atrás e você pode ver que ainda estamos presos nisso. Neste álbum, nós dizemos isto em alto e bom som".

    De um princípio envolvente em seus dedilhados, que se tornam maiores com a presença de vocais femininos In Propaganda é a excelente terceira canção do cd, que deixa claro que os israelenses fizeram um grande álbum mesmo, como pode-se notar durante suas formosas harmonias com uma tendência Progressiva em sua maioria até se ligarem nos exuberantes dedilhados presentes em All Knowing Eye, que contém uma ambientação linda nos teclados feita pelo convidado Mikael Elu e nos vocais de Kobi Farhi, porém, seria injusto se não citar também a atuação dos guitarristas Chen Balbus e Idan Amsalem, que nos brindam com marcantes solos.

    Yedidi submerge em seu estilo e vocais árabes, cuja envolvente melodia passa toda a magia que sentimos na música oriental e isso se amplifica em Chains Fall To Gravity, a admirável sexta canção de Unsung Prophets & Dead Messiahs, que conta com a participação do genial ícone do Rock Progressivo Steve Hackett ( ex-Genesis ), que junto ao Orphaned Land fazem desta a mais cativante composição do cd na mistura homogênea do Progressivo ocidental com as evoluções musicais do oriente, cujo final deverá ser apreciado de olhos fechados nas incursões de Steve Hackett na guitarra e de Michael Elul nos teclados, sendo que ambos estão perfeitos em suas atuações, enfim, simplesmente épico.

Depois da maravilhosa canção anterior, o Orphaned Land eleva o peso em um andamento normal e Kobi Farhi recebe mais um ilustre convidado, agora Hansi Kürsh do Blind Guardian para cantar a notável Like Orpheus e nos conquistar por seu padrão Power Metal viajante. A quase instrumental Poets Of Prophetic Messianism contém dedilhados calmos e apenas dois versos cantados em árabe e em coro, que fazem desta uma calma, viajante e deliciosa canção de se ouvir.     Para Left Behind, somos surpreendidos pela forma que eles juntaram seu andamento árabe, seus vocais e suas partes viajantes em uma melodia sedutora, que se eleva nos solos de guitarras e suaviza quando assim o quinteto deseja, ou seja, outra magnífica composição deste álbum. Em My Brother's Keeper, o lado Prog Metal aparece entre as narrações feitas por Kobi Farhi, que ao cantar exibe toda a magia do deserto e captura nossa atenção até culminar em um vibrante solo de guitarra, além de alguns vocais agressivos.

    A décima primeira é a Take My Hand e entre algumas falas distantes, o seu ritmo robusto domina o ambiente até que Kobi Farhi cante sua letra depositando muita emoção a cada verso, que passam uma aura Progressiva em que recomendo acompanhar com o encarte nas mãos para sentir melhor sua mensagem e também perceber os toques de Matan Shmuely na sua bateria e percussão. Novamente com os dedilhados e demais instrumentos regionais preparando o clima da composição, onde entremeiam isso a sirene de ataque aéreo, a agressiva Only The Dead Have Seen The End Of War conta com Thomas Lindberg do At The Gates e do The Lurking Fear ao lado de Kobi Farhi, porém, mesmo mais encorpada que as demais, o Orphaned Land vai além e sabiamente não deixa suas partes Death Metal se sobressaírem como poderia se imaginar na primeira audição. Para encerrar temos The Manifest Epilogue, que possui versos em árabe e inglês, que são exibidos entre um grandioso solo de guitarra e também viajantes linhas orquestradas, que terminam em falas e dedilhados melancólicos.

    Embora Unsung Prophets & Dead Messiahs seja um dos melhores discos do Orphaned Land, aliás, na minha opinião está entre os três mais da carreira, que independente das posições atingidas nos charts mundiais, o que é mais importante para a banda é definido com uma história real por Kobi Farhi: "Em uma conversa com um fã da Síria, ele me disse o quão importante nós somos, mas eu disse a ele: 'Não sei se somos tão importantes já que não conseguimos salvar a vida de uma criança na Síria...', o que é verdade. Mas, então ele disse: 'Talvez vocês não tenham salvado a vida de uma criança, mas, deram esperança a muitas pessoas'. Isso é muito importante e não devemos menosprezar este fato. Eu ficaria satisfeito se o Orphaned Land pudesse apenas mostrar às pessoas que há outro caminho e que podemos sair da escuridão e ir em direção à luz".

    Nesta afirmação reside um dos mais importantes motivos que escuto música e Heavy Metal há tantos anos, pois temos unidos aqui a esperança, a animação e o prazer que bandas como o Orphaned Land nos fornecem, mesmo no caso dos israelenses acreditando em alcançar a utopia da convivência pacífica entre judeus, árabes e cristãos. Quem sabe, como ficou muito bem colocado nas letras deste formidável disco, isso seja alcançado através de uma maior compreensão da história da humanidade e uma maior harmonia entre os povos com respeito de suas diferenças. São sonhos que somente com muito estudo e conhecimento serão atingidos. Nós aqui do outro lado adoramos, concordamos e devemos procurar realizar isso em nosso dia a dia, por mais difícil que seja. Lançado no Brasil graças à parceria da Shinigami Records com a Century Media, Unsung Prophets & Dead Messiahs é altamente recomendável que você adquira a sua versão física para absorver intensamente seus conceitos.
Nota: 9,5.

Por Fernando R. R. Júnior
Maio/2020

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