Paradise Lost - Medusa
11 Faixas - Shinigami Records - 2017

    O décimo quinto álbum dos ingleses do Paradise Lost teve seu título extraído da Gorgona da mitologia grega Medusa, aquela com os cabelos de serpentes venenosas, cujo olhar transforma qualquer ser em pedra. E para o vocalista Nick Holmes, o significado é mais niilista: "as tentativas de evitar olhar diretamente nos olhos representam evitar a realidade ostensivamente deprimente deste universo sem sentido", conforme a ideia do escritor norte-americano Jack London.

    Para relembrar, estão no Paradise Lost, além de Nick Holmes, Greg Mackintosh e Aaron Aedy nas guitarras, Steve Edmondson no baixo e Waltteri Väyrynen na bateria, sendo que o vocalista, os guitarristas e o baixista estão juntos na banda  desde 1988, quando a partir da cidade de Halifax, os ingleses definiram os alicerces do Gothic Metal e içaram o Doom Metal a um nível ainda não alcançando.

    A produção, gravação, mixagem e masterização do álbum Medusa ficou a cargo de Jaime Gomez Arellano ( responsável por Ghost, Ulver e Cathedral, entre outros, além do álbum anterior a este do Paradise Lost, o The Plague Within ) e foi realizada no Orgone Studios em Bedfordshire na Inglaterra, enquanto que a capa com a figura mitológica com alguns detalhes que a diferenciam da original é capitaneada pelo Branca Studio.

    Na abertura de Medusa temos Fearless Sky, que tem seu título explicado por Nick Holmes da seguinte forma: "Sempre gostei da expressão 'o homem mais rico do cemitério', pois, resume bem o conceito de vida, o nosso propósito para a existência e o que realmente significam todas as posses materiais quando morremos. No entanto, particularmente no Ocidente, a vida adulta parece ser acumular coisas sem sentido ou admirar outras pessoas que acumularam coisas mais sem sentido que as nossas. Em um filme famoso, a mãe de alguém disse: 'Só há uma fortuna que um homem realmente precisa... o resto é apenas para mostrar'. Também gosto dessa expressão". E esta primeira faixa começa mais lenta, entristecida até que em poucos instantes depois seu ritmo fúnebre apareça junto aos vocais, que estão devidamente urrados e combinados com as linhas de bateria e baixo em um Doom Metal de primeira, onde recomendo uma atenção maior para as modificações de andamento que o quinteto realizou na música e nas viradas do baterista Waltteri Väyrynen, porém, não se esqueça de perceber como os vocais limpos e rasgados de Nick Holmes também se encaixam perfeitamente.

    Em Gods Of Ancient o estilo carregado do Paradise Lost se evidencia logo de cara, assim como seus vocais ora urrados ora rasgados com a parte instrumental simplesmente 'pesadaça' e executada com primor nos mantendo ligados a cada instante desta faixa, cuja letra avisa que devemos adorar o Sol, as estrelas e a Lua, pois, é mais possível de compreendê-los que os deuses apontados pelas outras religiões. Bom... aí vai da crença de cada um. E Gods Of Ancient conta com a participação de Steve Crobar nos backing vocals. Em From The Gallows, os riffs encorpados e sempre longos feitos por Greg Mackintosh e Aaron Aedy em suas guitarras dão lugar a um andamento por vezes cadenciado e em outras mais rápido, porém, sempre com os vocais raivosos de Nick Holmes em uma execução cativante, que não posso deixar de ressaltar também os toques certeiros do baixista Steve Edmondson.

    Ao som de corvos gritando e ventos, The Longest Winter chega com seu estilo denso e um formato mais Gothic Metal em uma reflexão para cair na memória ( confira sua letra ) e a mescla de vocais limpos com rasgados e urrados conferiram um padrão todo único a esta quarta canção de Medusa, que fatalmente será apreciado em sua primeira audição.

    Para a faixa título, a depressiva Medusa, que surge aos toques de piano, o Paradise Lost se embrenhou por uma fusão de Gothic e Doom pesado, de riffs contundentes e que flerta com um primor digno dos mestres que são, onde seus vocais mais rasgados e urrados trazem uma aura melancólica a canção exalando uma grande insatisfação, que neste caso é excelente.   

   Sempre com solos distorcidos e porque não dizer agonizantes, a seguinte é a No Passage For The Dead e sua letra é vocalizada com fúria por Nick Holmes e é sobre as religiões, que enaltecem uma vida gloriosa após a morte e esquecem do breve tempo de nossa existência no planeta. Mesmo com vocais guturais e um andamento robusto ( mais lento ) neste Doom Metal dos ingleses é possível ouvir tudo claramente, além dos backing vocals do convidado Heather Mackintosh, onde saliento excelente produção do cd. Blood & Chaos flerta com o Gothic Metal, está repleta de urros e seu ritmo te captura facilmente e tudo isso em uma letra que exprime o ódio contra a humanidade, que conforme é sabido... destrói tudo por onde passa. Aliás, a solução para o problema retratado na anterior vem com a emblemática, rasgada e deveras fortificada Until The Grave.

    Solução que é a seguinte - deixar somente poucos humanos no planeta, sendo que Nick Holmes inclusive explica este posicionamento: "As ideias em torno desta música são baseadas em: inocentes abandonados sem motivos, chacinas fundadas em ódio sem fundamento, medo e desumanização gradual com base em mentiras e propagandas". Novamente as viradas do baterista Waltteri Väyrynen e os solos dos guitarristas Greg Mackintosh e Aaron Aedy alcançam o devido brilho em Until The Grave finalizando a edição normal de Medusa, pois, na nacional contamos com dois bônus.

    E o primeiro vem com os trechos falados e os dedilhados mais calmos da sombria Shrines, que transparecem uma canção mais lenta de vocais limpos e devidamente voltada ao Gothic Metal, mas logo seu peso e seus vocais guturais aparecem para contracenarem com os limpos nesta envolvente composição.

    A última do cd é a Symbolic Virtue, que se mostra consideravelmente densa em seu início, soturna nos momentos seguintes e marcantes em seu decorrer graças às suas variações, aos seus toques de piano e aos seus solos de guitarras mais opacos e obviamente pesados o tempo todo. E tenha certeza que, mesmo sendo dotada de ritmos entristecidos, rapidamente sua melodia será apreciada.

    Mais uma vez, o Paradise Lost olha para dentro de si ( e de sua relevante história ) e apresenta um álbum que remete aos primórdios do Doom Metal e do Gothic Metal revelados com sabedoria em letras e ritmo quase sempre angustiante. Em suma, Medusa te deixará sim petrificado tal como a Gorgona grega, porém, não após um olhar, mas uma audição, pois, se trata de um disco que é deveras pesado, conseguiu manter o padrão e até ir além de onde o ótimo anterior The Plague Within chegou, além de certamente ser um dos melhores lançamentos de 2017 e que bom que a Shinigami Records disponibilizou o disco no Brasil.
Nota: 10,0.

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Por Fernando R. R. Júnior
Abril/2018

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