Sonata Arctica - The Ninth Hour
 12 Faixas - Shinigami Records - 2016

    Nos últimos anos, desde que surgiu em 1995 na pequena cidade de Kemi, o quinteto finlandês Sonata Arctica vem ocupado as lacunas deixadas no Power Metal tanto de seu país, quanto em outras partes do mundo, graças aos seus ótimos álbuns, que nos últimos lançamentos se distanciaram do Power Metal Melódico 'mais tradicional' e agregaram outras influências em seu estilo, que serviram para renovar e atualizar os caminhos percorridos pela banda.

    Confirmado a atual ótima fase Tonny Kakko nos vocais e teclados, Elias Viljanen na guitarra, Pasi Kauppinen no baixo, Henrik Kilgenberg nos teclados e Tommy Portimo na bateria lançaram em 2016, o seu nono álbum de estúdio com o impactante título de The Ninth Hour, uma referência não só ao versículo da Bíblia "e perto da hora nona exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Meu Deus, por que me desamparaste" - Matheus 27,46.

    Entretanto, a ideia do Sonata Arctica é mais abrangente que o caráter religioso, pois, eles quiseram alertar para o delicado momento da humanidade, onde vivemos a situação tensa dos refugiados na Europa, a questão do terrorismo e até as ameaças de uma guerra nuclear, isso sem contar o total desrespeito com a natureza ( que já está cobrando o seu preço ) e a enorme poluição ambiental que é causada em nome do dinheiro. Enfim, mesmo eles estão aterrorizados com o possível futuro do planeta, que caminha a passos largos para um período sombrio.

    A produção de The Ninth Hour foi da própria banda e a mixagem do baixista Pasi Kauppinen, que foi realizada logo após os primeiros registros caseiros dos músicos em abril de 2016 e terminaram no Studio 57 em Alaveteli na Finlândia. A masterização ficou com o renomado Svante Forsbäck em seu Chatmakers West na cidade de Espoo na Finlândia.

    A lindíssima capa que mostra a natureza e a humanidade fragilizados e envolvidos em uma engrenagem, que se não coexistirem em uma relação harmoniosa, ambos serão destruídos, e isso, nos faz refletir sob o que queremos do mundo para o futuro da vida na Terra é de Janne "ToxicAngel" Pikänen foi definida por Tonny Kakko da seguinte forma: "A arte de The Ninth Hour descreve uma utópica paisagem futurística. A natureza e as tecnologias humanas estão em perfeito equilíbrio. E no meio temos uma ampulheta de vidro com uma espécie de botão. O recipiente direito representa a natureza sem nenhum humano por perto, enquanto que no esquerdo temos a distopia humana depois de nós termos destruído à natureza.

    O conceito que quis passar foi que ao virar a ampulheta, usando o botão, já seja para um lado ou para o outro, um dos recipientes ficará vazio e o futuro será totalmente apagado. Biblicamente se espera que nos arrependamos e nos sacrifiquemos na "Hora Nona"... e mergulhemos de volta para uma realidade mais mundana; é fato que estamos atualmente vivendo em tempos históricos e críticos. As nossas decisões vão definir o futuro. Não só o nosso futuro individual, senão o futuro de todo o planeta. Necessitamos fazer sacrifícios e em muitos casos nos arrependeremos das escolhas já feitas". Este conceito expressa a parte lírica do álbum.

    Com uma atmosfera futurista e nuances mais Power Metal, Closer To An Animal marca o início de The Ninth Hour em uma melodia positiva, que destaca a intensa voz de Tonny Kakko ( que demonstra uma certa preocupação ao cantar ) em linhas que vão cativando à maneira que os minutos passam e que recebem os trechos falados de Aaron Newport, que dá o recado final desta primeira faixa, que você deverá procurar sua tradução dotada de verdades relativas ao nosso cotidiano. Assim como a primeira, a presença dos teclados em Life é bastante grande e aqui notamos todo o 'feeling' dos vocais de Tonny Kakko em uma letra que recomendo direcionar uma atenção maior, além de sentir cada uma de suas ótimas harmonias instrumentais, cujo refrão será cravado facilmente na memória e acompanhado pelos fãs nas suas execuções ao vivo.

    Na seguinte temos a Fairytale, onde o Sonata Arctica mergulha no seu Power Metal com alguns trechos mais viajantes na atuação do tecladista Henrik Kilgenberg, que são vocalizados com a empolgação de sempre de Tonny Kakko, mas, expõem um sinal de alerta muito atual em sua letra relacionada ao aquecimento global, nesta que é a mais pesada desta trinca inicial e que nos exibe soberbas melodias, que sejam elas ou seu refrão, tenha certeza... também ficarão memorizados com poucas audições.

    Em We Are What We Are recebemos um começo mais introspectivo e cheio de sentimento aos toques de piano e Overton Low Wistle ( um tipo de flauta ), que destacam o convidado Troy Donockley do Nightwish, onde ouvimos os motivadores e emocionados vocais, que fazem desta quarta faixa de The Ninth Hour ser muito emblemática até por conta de sua condução mais próxima à uma balada encantadora de mensagem linda ( confira observando atentamente seus versos ).

    Depois, eles partem para um misto de suavidade e agressividade com Till Death's Done Us Apart, que conquista e surpreende com suas variações, sejam no andamento de sua competente parte instrumental ou no formato que seus versos são cantados, tais quais como uma história romântica, épica e dramática com referências a uma canção da Madonna. Para Among The Shoothing Stars encontramos uma esfera Progressiva, que dá lugar para uma encorpada canção de andamento mais lento em uma letra mais melódica conduzida com primor pelo Sonata Arctica.

    Resgatando os Power Metals velozes de outrora, Rise A Night marca a sétima do cd e será facilmente apreciada pelos fãs mais tradicionais por conta da combinação eficaz de solos  rápidos de guitarra, baixo, teclados e bateria unidos aos vocais, que creio que será outra faixa adicionada aos shows por sua energia. Fly, Navigate, Communicate até lembra um pouco do Stratovarius e começa emocionada e ganha mais vibração nos toques de guitarra de Elias Viljanen e de teclados de Henrik Kilgenberg combinados, que caminham para um refrão que deverá ficar na memória, porém, o Sonata Arctica surpreende pelas camadas comoventes que incluiram na música, algumas até praticamente urradas.

     A nona de The Ninth Hour é a Candle Lawns, que é mais lenta com uma bela melodia oriunda do piano de Henrik Kilgenberg e vocalizada com destreza por Tonny Kakko tornando esta faixa uma grandiosa balada, onde destaco também seus ótimos solos de guitarra, capitaneados por Elias Viljanen. Na mais épica e - porque não dizer erudita -  canção do álbum, a White Pearl Black Oceans Part II: ( By The Grace Of The Ocean ), os finlandeses contaram com as orquestrações de Mikko P. Mustonen ao percorrerem várias passagens e crescerem de forma empolgante com sua melodia, que te deixa fascinado e leva a exclamar: que música magnífica!!! Pois, temos solos de guitarra e teclados ante aquela base de baixo e bateria sempre fortes e no ponto certo com vocalizações sensacionais. Enfim, a melhor do cd e com uma letra positiva, confira.

    Na última do tracklist normal temos On The Faultline ( Closer To An Animal ) somente no piano e vocais passando muita sentimento a cada toque e a cada estrofe, onde devemos refletir ao ouvir sua melodia quase que Progressiva, porém, belíssima e saborosa.

    Como tem sido um costume da Shinigami Records em seus lançamentos no Brasil temos uma faixa bônus e a escolhida foi o cover de Run To You do Bryan Adams, que ficou bastante Rock'n'Roll, vibrante e que fará você querer cantar com a banda. Além desta música bônus, a versão brasileira de The Ninth Hour está embalada em um luxuoso 'digipack' triplo, que lembra dos nossos amados e valorosos álbuns de vinil e conta com um encarte de muitas páginas.

    Se a intenção do Sonata Arctica com este formidável disco foi de nos fazer pensar e procurar mudar o futuro caótico para o qual a humanidade tende a seguir, acredito que conseguiram, pois, até eles mesmo saíram da sonoridade típica de seu Power Metal para uma mais Progressiva e reflexiva com diversos momentos para se ouvir de olhos fechados imaginando qual futuro desejamos para as próximas gerações. É claro que os puristas irão reclamar, mas, para dar um choque, às vezes é preciso modificar tudo e "assustar" aos fãs. Parabéns Sonata Arctica pelo diferenciado, desafiador e diria até inesperado disco aos que não possuem uma mente aberta.
Nota: 10,0.

Sites: http://www.sonataarctica.info/, https://www.facebook.com/sonataarctica e
https://www.youtube.com/user/SONATAARCTICA.

Por Fernando R. R. Júnior
Abril/2017

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