Kreator & Exodus
Sábado, dia 31 de outubro de 2009
no Via Funchal em São Paulo/SP
 

    No dia 31 de outubro de 2009, os alemães do Kreator e os norte americanos do Exodus, dois dos maiores ícones do thrash metal mundial, estiveram finalizando a sua tour sul-americana no Via Funchal em São Paulo/SP. Foi a melhor maneira para comemorar a noite do Halloween, afinal, assistimos ao espetáculo destas duas grandes escolas do thrash metal. A atual turnê passou por mais três cidades brasileiras ( Fortaleza, Porto Alegre e Belo Horizonte ) antes desta única data na capital paulista. Quando adentrei na casa haviam ainda poucos presentes e até me deu uma cisma se teríamos um show deste porte com pouca gente, mas com o passar do tempo foi enchendo, mas não lotou, embora alguns milhares de headbangers ( em torno de 4.000 ) corresponderam perfeitamente às expectativas das bandas ao finalizarem a 'perna' sul americana da tour conjunta.

Exodus

    O Exodus está em plena turnê de divulgação do álbum Let There Be Blood ( regravação feita em 2008 do clássico Bonded By Blood ) e a banda formada em 1980 em São Francisco, Califórnia veio ao Brasil com os seguintes membros: Rob Dukes no vocal, Gary Holt e Lee Altus nas guitarras, Jack Gibson no baixo e Tom Haunting na bateria. Eles tiveram pouco mais de uma hora para desfilar um set list matador com mais músicas do álbum regravado, mas sem esquecer de músicas importantes destes quase trinta anos dedicados ao thrash metal.

    Já para a abertura o gradalhão Rob Dukes dispara um dos maiores clássicos da banda com Bonded By Blood e já notava-se aí que o set preparado seria mesmo destruidor. Gary Holt ( com camisa do Torture Squad ) e Lee Altus com suas guitarras Flying V solavam sem piedade enquanto agitavam bastante e se dirigiam de um lado para outro do palco. A reação explosiva que seguiu por todo o Via Funchal com este clássico só foi superada pelas rodas de empolgação em tamanho 'família' que víamos na parte central pista.

    A segunda foi Inconoclasm do álbum The Atrocity Exhibition Exhibit A, porrada fundamentada totalmente na forma dos longos riffs guitarras que mostram bem a características da escola americana de guitarristas, mais rock, bem diferente da européia que é mais precisa e de certa forma semelhante à uma usina de fundição. A rifflerama desta longa canção caiu como uma luva para aumentar ainda mais força dos presentes que respondiam berrando e abrindo rodas cada vez maiores. Depois o Exodus, mostrando toda a sua magia de conduzir um show, nos enviou um clássico das antigas com Fabulous Disaster ( do disco homônimo de 1989 ) e durante os longos solos iniciais desta música adivinha o que Rob Dukes fez? Se respondeu 'bangeou o tempo todo' acertou, pois o vocalista só 'sossegava' quando chegava a hora dele cantar ( detalhe, ele está com poucos cabelos, mas ´mandou bala´ assim mesmo  ). Aliás, o headbanging foi um ato repetido também por Gary Holt, Lee Altus e Jack Gibson freneticamente por todo o show do Exodus.

    A fúria existente nos álbuns de estúdio da banda foi transportada para o show ao vivo, e para arrebatar os fãs de vez, eles mandam outro clássico presente na regravação de 2008 com A Lesson In Violence e como Gary Holt e seus asseclas mostraram nesta apresentação, a idéia era aplicar o thrash metal mais cru, visceral e sem perdão que podiam fazer para que pudessem realmente quebrar muitos pescoços, e a cada instante, Rob Dukes soube despejar toda sua agressividade, mas com muito carisma, por todo o Via Funchal.

    Hora de uma do penúltimo álbum, o The Atrocity Exhibition... Exhibit A com a longa Children Of A Worthless God, e esta é daquelas onde nota-se que a velocidade e o poder de fogo da bateria. Tom Hauting não realiza a devastação apenas no estúdio, ao vivo ele é ainda mais pesado e prova que sabe comandar seu kit com tontons, bumbos, etc.  à toda velocidade, enquanto Rob Dukes vocifera com uma violência enorme para provocar ainda mais força em cada um de nós. Outro hino do passado resgatado no show foi a furiosa Piranha executada com todo o vigor que a banda possui. Durante a execução da seguinte, Deathamphetamine ( do Shovel Headed Kill Machine de 2005 ) Rob Dukes tira fotos dos fãs e mostra que o showbizz está realmente presente no sangue dos americanos, pois mesmo numa 'paulada' como esta, ele sabe como agraciar os fãs. Mais uma vez me rendo ao talento de Tom Haunting, que outra vez destroça tudo com sua bateria.

    O cd Tempo Of Damned, de 2004, foi lembrado com a implacável Blacklist e sua uma introdução de guitarras e baixo mais cadenciados fazem muitos bangear e agitar a cada verso cantado por Rob Dukes, tanto que no meio ele puxa os " hey..hey..hey " com a galera. Antes de executarem a agressiva War is My Shepherd, Rob Dukes apresenta a banda, enaltece a presença de todos e comenta um pouco sobre a tour conjunta com o Kreator, puxa os "oooo" e quando finalmente a tocam, outra devastação é sentida por toda a casa. Vale lembrar o vocalista do Exodus andava de um lado para o outro conclamando os fíes guerreiros a interagirem a todo momento. O show já se aproximava do final e a grande maioria já estava certamente feliz pelo grande show que estavam presenciando, mas o Exodus ainda guardava mais dois ases na manga para aniquilar com os thrashbangers, o primeiro foi a cadenciada The Toxic Waltz ( do Good Friendly Violent Fun de 1991 ), hora que o vocalista Rob Dukes deixa o microfone para os fãs completarem o refrão. Já o segundo foi Strike Of The Beast, última do set, responsável pela formação de uma roda de empolgação monstruosa próxima ao palco do Exodus - aquela sim - validou a expressão "quebrar tudo" mesmo.    

    O Exodus realizou uma apresentação tão brilhante em pouco mais de uma hora de show, passando por cima de pequenas falhas no sistema de som, que fizeram alguns amigos exclamarem para mim: " Não foi o Exodus que abriu o show para o Kreator, mas sim que o Kreator 'fechou' para o Exodus!!!". E olha que apesar do show do Kreator ter sido acima da média, os americanos do Exodus provam que seu thrash metal vigoroso irá se perpetuar ainda por muitos anos ( para o desespero de muitos, risos ).

Set List do Exodus

1 - Bonded By Blood
2 - Iconoclasm
3 - Fabulous Disaster
4 - A Lesson In Violence
5 - Children of a Worthless God
6 - Piranha 
7 - Deathamphetamine
8 - Blacklist 
9 - War Is My Shepherd
10 - The Toxic Waltz
11 - Strike Of The Beast

 

Kreator

    O Kreator, banda originária da cidade de Essen na Alemanha, é considerado pelos fãs um dos representantes da "trindade do thrash metal germânico", ao lado do Destruction e do Sodom. Em janeiro de 2009 é lançado Hordes Of Chaos e foi a turnê deste disco que trouxe Miland 'Mille' Petrozza nos vocais e guitarra, Sami Yli-Sirniö na guitarra, Christian 'Speesy' Giesler no baixo e Marco Minemann na bateria ( no lugar de Jürgen 'Ventor' Reil, que segundo colegas da imprensa, não compareceu para essa tour alegando que exceção feita ao Brasil, os shows nos outros países não compensavam ) para o segundo show desta noite.

    Uma grande bandeira fez o fundo para que o Kreator despejasse a avalanche sonora que estava disposto a mostrar aos fãs, que agora já estavam praticamente lotando todo o Via Funchal. Os alemães abrem com Choir Of The Damned do álbum Pleasures To Kill  e em seguida enviam a nova pedrada Hordes Of Chaos ( A Necrologue For The Elite ), título do novo cd, que empolgou bastante, visto a agitação que ela provocou, pois via-se a maioria cantando o refrão com Mille Petrozza

  Antes de iniciar Phobia do álbum Outcast de 1997, Mille Petrozza diz: "São Paulo é a cidade do metal. E quando o Kreator toca aqui, é como estar em casa". É, o vocalista ganhou direitinho a platéia apresentando este clássico. Depois, com os riffs furiosos de Mille e Sami Yli-Sirniö, eles nos trouxeram a feroz paulada Terrible Certainty ( título do álbum de 1997 ) que é outra daquelas para esmagar com tudo. Eles prosseguem com Betrayer do Extreme Agression e o vocalista com sua guitarra Flying V dispara solos velocíssimos para arrasar com nossos ouvidos. Aliás, nos solos desta ele 'bangea' e exibe muita técnica a cada nota que tirou de seu instrumento.

    Para mostrar músicas de toda a extensa discografia do Kreator, os alemães optaram por apresentarem algumas antigas e também mais novas como Voices Of The Dead ( do Enemy Of God de 2005 ) que começa mais lenta, nos dedilhados, ganha em peso e energia que foi compartilhada tanto pelos fãs quanto pelos músicos que agitavam seus longos cabelos. Voices Of The Dead foi tocada com muita perfeição e parecia um clássico. O falante Mile Petrozza novamente ressalta que esta é a noite final da tour sul americana e reforça que está muito feliz pelo último show ser em São Paulo, comenta sobre as religiões ( blasfema na verdade ) para finalmente tocar Enemy Of God, que teve seu título gritado com muita força pelos fãs, e meus amigos, que solos de guitarra  'Mille' Petrozza  e Sami Yli-Sirniö tiravam de suas guitarras, eram fúria pura, para mim, um dos melhores momentos do show.

    A partir daí ficou a sensação que deu foi que o show ficou ainda melhor e mais poderoso, pois o Kreator começou a tocar algumas das melhores músicas de sua carreira, e olha que antes disso teve a totalmente agressiva canção do novo trabalho Hordes Of Chaos com Destroy What Destroy You, com um impecável trabalho do mestre Marco Minemann na bateria ( especialmente no solo inicial, aliás registro o comentário, abra os olhos Ventor, senão você perde o lugar para esse cara ).

    Hora de executar um clássico para destronar qualquer um que tentasse ficar parado, pois como disse acima, o show do Kreator ficou ainda melhor e a explosiva Pleasure To Kill ( do álbum de mesmo nome ) vem como um rolo compressor passando por cima de tudo e todos, com Mille e Christian 'Speesy' Giesler bangeando fortemente no início desta música ( aliás o baixista inclina sua cabeça de uma forma que quase deixa seu baixo tocar no chão ). A idéia era não dar descanso para os fãs e o Kreator toca em seguida The Patriarch e Violent Revolution ( as duas do cd Violent Revolution de 2001 ), inclusive a última era uma das mais aguardadas pelos fãs, que cantaram o refrão com total firmeza. Músicas como estas promoveram rodas tão fortes que são praticamente indescritíveis para colocar aqui, pois a intensidade que foram, somente quem esteve presente nelas ou no show pode tentar descrever o que viu e sentiu. 

    Extreme Agression ( de 1988 ) foi a próxima, e a cada momento notava-se que a destruição estava cada vez mais completa, tanto que essa foi interligada com a clássica Coma Of Souls, e na sua execução, um momento em especial me chamou bastante a atenção, pois antes de tocá-la, Mille Petrozza começou a dividir a platéia em " lado direito e lado esquerdo "  para ver que berrava mais e um espaço abriu-se no meio da pista, da mesma forma quando Moises dividiu o Mar Vermelho na passagem bíblica, só que aqui, quando o mar de headbangers foi aberto e juntou-se, tivemos uma roda realmente enorme para partir com tudo mesmo; é muito bom receber essa energia que só bandas de thrash metal como o Kreator são capazes de nos fornecer. E Coma Of Souls encerrou a primeira etapa do show do quarteto.

    Aos berros de " Kreator...Kreator" exigindo que a banda retornasse para o bis, eis que Marco Minemann começa um incansável, preciso, técnico e inesquecível solo de bateria, aliás, considero um dos melhores solos que vi neste ano. Com os aplausos para Marco temos a volta dos demais integrantes, e então o Kreator dispara outro agressivo petardo do novo cd Hordes Of Chaoes com Warcurse, muito bem recebida pelo público. Em seguida Mille empunha uma bandeira com o logotipo da banda, fala sobre a tour com o Exodus,  que este é o último show da tour sul-americana, elogia os headbangers, nos faz gritar muito, e então fecha o halloween thrash metal com violenta e rápida Flag Of Hate ( do Pleasure To Kill de 1986 ) emendada com  Tormentor ( do Endless Pain, lá do começinho da banda em 1985 ). Um final perfeito com dois thrashs para ' bater a cabeça ' mesmo.  Já começo a sentir falta do excelente show que assisti.

    Enquanto o artilharia americana do Exodus teve mais carisma e agitação por parte de Rob Dukes e muito, mas muito peso mesmo; a britzkrieg alemã do Kreator foi deveras agressiva, feroz, mostrou bem o novo cd, sem deixar de lado seus maiores clássicos. Resultado: ambos os shows deixaram satisfeitos os thrashbangers presentes na Via Funchal. Que tenhamos em breve um retorno destas duas bandas no Brasil, seja novamente em dupla ou mesmo separadamente.

Set List do Kreator

1 - Choir Of The Damned
2 - Hordes Of Chaos (A Necrologue For The Elite)
3 - Phobia 
4 - Terrible Certainty
5 - Betrayer
6 - Voices Of The Dead
7 - Enemy Of God
8 - Destroy What Destroys You
9 - Pleasure To Kill 
10 - The Patriarch
11 - Violent Revolution
12 - Extreme Aggression
13 - Coma Of Souls
Bis
14 - Drum Solo
15 - Warcurse
16 - Flag Of Hate / Tormentor

Texto e Fotos: Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos à Miriam Martinez - Via Funchal - www.viafunchal.com.br
e Luciana Stabile - All Access
Novembro
/2009

 Galeria de Fotos do Kreator & Exodus

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