Peter Murphy
Sábado, dia 14 de fevereiro de 2009 no Via Funchal em São Paulo/SPQuem acompanha a história do Bauhaus desde 1978, certamente sonhou diversas vezes com a possibilidade de a banda vir ao Brasil, especialmente quando a turnê mundial Resurrection foi anunciada em 1998. Infelizmente nunca tivemos esse privilégio... Porém, para minha grande surpresa, recebi a notícia de que Peter Murphy, vocalista e frontman do Bauhaus, viria ao Brasil em fevereiro e sinceramente, minha primeira reação foi a de duvidar! A notícia parecia boa demais pra ser verdade! Mas para a felicidade geral da nação, o show foi confirmado e mais do que depressa adquiri meu ingresso de pista, porque eu precisava estar frente a frente com esse que sempre foi um de meus maiores ídolos!
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Depois que Peter Murphy interrompeu as atividades com a banda Bauhaus, que o lançou como o ícone da música gótico-alternativa/pós-punk, Murphy lançou-se em carreira solo que, apesar de guardar muitas diferenças da carreira do Bauhaus, não deixou nada a desejar aos fãs como eu. Claro que existem aqueles que acham que apenas o trabalho do Bauhaus é legal ou vale a pena ser ouvido, mas felizmente me enquadro no grupo que gosta de ver seus ídolos na ativa, fazendo coisas novas e boas e não como ícones sagrados que simplesmente sumiram depois do término de suas bandas.
E lá fui eu, quase descrente ainda, porque eu precisava ver aquela criatura que sempre me pareceu inalcançável, inatingível, para acreditar que tudo estava realmente acontecendo. O Via Funchal estava surpreendentemente vazio... Para mim isso foi um grande choque! Eu que presenciei a cena dark começar aqui em São Paulo, que frequentei algumas casas e festas alternativas, que fui proprietária de uma casa noturna e DJ de música dos anos 80, esperava reencontrar aquelas pessoas que conheci durante todos esses anos e que se diziam apaixonadas por Bauhaus. Mas, com muito pesar preciso dizer que não encontrei quase ninguém! Acho que no fundo, nenhum deles era assim tão fã, ou então todos eles fazem parte de um grupo que eu chamo de "puristas" que, não podendo ver o Bauhaus original e completo, preferem não ver nada... Eu certamente não me enquadro nesse perfil e sou muito grata a todos que tornaram possível essa apresentação aqui em São Paulo.
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Mesmo com pouca gente e com 10 minutos de atraso, Peter Murphy e banda entram majestosamente no palco. Um arrepio percorreu meu corpo inteiro, quando aquela figura já não tão esguia quanto no final dos anos 70, mas ainda extremamente elegante, entrou no palco, parou ao fundo do cenário na plataforma esquerda e entre luzes brancas que piscavam não tão freneticamente como uma estroboscópia, nos deixou conferir as poses características daquele que foi a marca registrada da maior e mais significativa banda do gothic rock do mundo. Na mesma plataforma, Peter ainda fingia andar, porém sem sair do lugar, enquanto os primeiros acordes de Burning From The Inside ( Bauhaus ), cobriam os gritos da platéia. Vestindo um terno escuro, camisa roxa quase bordô e gravata preta, Peter Murphy entra por fim no palco a todo vapor, andando em círculos como um leão enjaulado, parando na frente do microfone, para soltar sua voz tonitruante, fazendo-nos reviver os bons tempos do Bauhaus.
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A banda que o acompanhou formada por Nick Luceno ( bateria ), Mark G. Thwaite ( guitarra ) e Jeff Shartoff ( baixo ), representou à altura, Daniel Ash, David J. e Kevin Haskins, formação original daquela que começou em Northampton, Inglaterra nos idos de 1978. Cheio de poses e performances como nos tempo do Bauhaus, seguiram-se as músicas The Line Between The Devil's Teeth ( 1990, do álbum Deep ) e a maravilhosa Disappearing ( 1995, do álbum Cascade ). Nesse momento, Peter Murphy pegou as rosas que enfeitavam o microfone, arrancou as pétalas e as jogou na platéia. Logo a imprensa deixou o corredor em frente do palco e, livre dos zilhões de flashes, Peter passou a se aproximar mais dos fãs que se espremiam nas primeiras fileiras. Arrancando a gravata e o paletó, Peter prosseguiu com a Gliding Like A Whale ( também do álbum Cascade - 1995 ).
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Uma das grandes surpresas foi a música Hurt da banda Nine Inch Nails com quem Peter Murphy já havia excursionado em 2006. Vale a pena mencionar ainda, que o mesmo está trabalhando com Trent Reznor em um novo álbum que deverá ser lançado ainda esse ano. Para apresentar Hurt, Peter Murphy dirigiu-se àquela escada lá no fundo do palco, subiu alguns poucos degraus e como que em sofrimento, cantou e interpretou maravilhosamente a música inteira ali. Um grande facho de luz azul sobre ele, era a única coisa que se via no palco. Simplesmente perfeito! Mais aplausos e muitos gritos!
Segue-se então a incrível Marlene Dietrich's Favourite Poem ( do álbum Deep de 1990 ). Ora ao violão, ora pulando ou girando alucinadamente pelo palco, Peter mostrou que os 51 anos não atrapalham em nada seu desempenho no palco, apesar de ter comentado conosco logo no início do show, que estava exausto! Peter Murphy vinha de Buenos Aires onde se apresentou no dia 11 de fevereiro no Grand Rex Theater, apresentação essa que resultará em um álbum ao vivo. Na seqüência Peter Murphy apresentou Time Has Nothing To Dwi, I'll Fall With Your Knife, The Sweetest Drop, Black Stone Heart, Crystal Wrists, as maravilhosas Huvolla e Deep Ocean, Vast Sea e por último Idle Flow. Muito difícil dizer o que aconteceu em cada uma dessas músicas, especialmente porque eu estava totalmente embasbacada com o maravilhoso espetáculo que acontecia ali, bem na minha frente.
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Nesse pequeno intervalo entre tantas músicas maravilhosas, Peter foi ao microfone acompanhado de seu violão e, como se estivesse esquentando a garganta cantarolou o famoso trecho Mama Mia da música Bohemian Rhapsody do Queen. Prova de seu bom humor apesar da platéia reduzida. Peter apresentou então as músicas All We Ever Wanted ( do Bauhaus ), She's in Parties ( também do Bauhaus ) na qual ele tocou a escaleta e Adrenaline. Ele se dirigiu à platéia dizendo um simples, porém significativo: “Hello São Paulo!!!". Em seguida perguntou se éramos "EMOs"!. Ele perguntou mais de uma vez, mas pouca gente entendeu, portanto a resposta não chegou aos ouvidos dele como deveria chegar. Peter completou: "Eu não sou EMO!". Em seguida perguntou se éramos góticos, mas por incrível que pareça, poucos entenderam novamente e a resposta deixou a desejar. Ele completou: "Eu não sou gótico!", provavelmente ressentido do rótulo que ganhou durante os anos de Bauhaus.
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Saindo do microfone e já começando a pular e dançar pelo palco, vieram as músicas Transmission ( do Joy Division ) que agitou ainda mais a platéia e Lust For Life ( do Iggy Pop ) que, enquanto todos deliravam, ele dançava e rebolava, imitando os trejeitos de Iggy Pop. Foi na A Strange Kind Of Love que ao violão, Peter pediu que os técnicos de iluminação apagassem os canhões coloridos do palco e deixassem apenas um único canhão branco, direcionado a ele e ao violão, e foi nessa música que ele emendou Bela Lugosi's Dead. Ao final ele ainda brincou com a platéia dizendo que Bela Lugosi estava realmente morto, possivelmente fazendo uma alusão ao trabalho do Bauhaus que teve um magnífico desfecho com o álbum Go Away White. Em seguida veio a maravilhosa Cuts You Up ( do álbum Deep ) e o show acabou com a Endless Summer.
Uma despedida rápida, um "obrigado", a reunião dos músicos na frente do palco e a promessa de voltar ao Brasil encerraram essas quase duas horas de show, que passaram voando! Pareceu um sonho do qual se é abruptamente acordado. As imagens desse show ficarão guardadas na minha memória para sempre, bem como cada acorde, cada movimento, cada palavra proferida por Peter Murphy, tudo simplesmente inesquecível! Ao conferir o set-list da turnê, percebi que faltou uma volta ao palco, um segundo biz, no qual ele cantaria três grandes hits: Índigo Eyes, All Night Long e a maravilhosa Final Solution, todas de sua carreira solo. Isso foi mesmo uma pena, especialmente porque quase todos os presentes esperavam por essas músicas. Acredito que em função da plateia reduzida, talvez até do cansaço, Peter tenha deixado essa entrada de lado. Quem sabe numa próxima vez...
Texto e Fotos: Lourdes Azevedo - ( Lu Wolff )
Março/2009
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