3º Poços de Caldas Jazz & Blues Festival com:
Lil Ray Neal, Little Will e Marcio Sciallis, Savoy Jazz Trio
Sábado, dia 10 de julho de 2010 no Complexo Cultural da URCA em Poços de Caldas/MG

    O 3º Poços de Caldas Jazz & Blues Festival realizado em julho de 2010 convidou atrações do porte de Flávio Guimarães ( ex-Blues Etílicos ), Tio Jazz, Marcio Sciallis e Little Will, Savoy Jazz Trio e o guitarrista americano Lil Ray Neal para os três dias de festival. Como nossa base de operações é na cidade de Espírito Santo do Pinhal/SP, infelizmente não pudemos acompanhar todos os dias do evento e optamos por cobrir o segundo dia do evento, quando a atração internacional Lil Ray Neal, filho do lendário bluesman Raul Neal estaria presente.

    Lil Ray Neal é considerado com um dos grandes guitarristas de blues da atualidade e já se apresentou com os grandes e lendários nomes do blues como: Muddy Waters, Big Mama Thornton, B.B. King, James Cotton, Buddy Guy, Bobby Bland, "Lil Milton" Campbell, Tyrone Davis, Johnny Taylor e Bobby Rush. Só este currículo seria motivo suficiente para nós marcamos presença no evento, mas, conforme vou contar nas linhas abaixo, o festival teve muito mais e foi marcante.

Savoy Jazz Trio

    A abertura do sábado ficou à cargo do Savoy Jazz Trio formado por Abrahan Noronha na guitarra, Anderson Bacha no baixo e Gilson Negron na bateria, aliás, vale dizer que o trio esteve pela primeira vez na cidade de Poços de Caldas/MG e seus números de jazz foram realmente perfeitos. Durante o show, o Savoy Jazz Trio exibiu algo que o jazz tem de melhor: os solos técnicos e precisos do grande baixo acústico de Anderson Bacha, que improvisou o tempo todo fazendo walking bass conseguindo um timbre impressionante que foram somados à maestria na bateria de Gilson Negron. Isso sem contar a viagem alcançada na guitarra de Abrahan Noronha, que fazia as notas do trio penetrarem no fundo em nossas almas e assim, vimos e sentimos todo o talento e a capacidade que estes representantes do jazz possuem.

    Shows de jazz não costumam terem muitos diálogos como os de outros estilos, e o Savoy Jazz Trio foi emendando música atrás de música e todas com muito improviso, que emocionavam e de certa forma nos enfeitiçavam.

    Era fascinante ouvir os toques leves no baixo de Anderson e repiques na bateria de Gilson criarem um ambiente admirável para que Abrahan Noronha fosse extraindo solos e belas notas de sua guitarra semi-acústica, enfim, estávamos presenciando uma verdadeira aula de música ao vivo. E falando em precisão, o curto solo de bateria com um feeling enorme mostrou porque músicos do porte de Neil Peart amam o jazz.

    Quem fala com o público é justamente o baterista, Gilson Negron, que agradece ao público presente e também a produção. Em resumo, o Savoy Jazz Trio, realizou um começo de noite na altura da grandeza do festival com muito deleite e feeling.

Marcio Sciallis e Little Will

    Continuando com o 3º Poços de Caldas Jazz & Blues Festival Marcio Sciallis e Little Will subiram no palco do Complexo Cultural da URCA às 22:15 e nos contaram sobre a história da gaita e sua contribuição para a música americana. Eles relatam a história de John Henry, colocava os pinos nos trilhos de trem e disseram que ele apostou uma corrida com a máquina, que um ser humano ganharia da 'máquina à vapor', mas, embora sagrando-se vitorioso na competição, John Henry faleceu por extremo esforço físico, assim conta a lenda. Bem a verdade é que Marcio Sciallis e Little Will realizam um show muito bom com suas gaitas e violão sendo tocados perfeitamente. Quando tocaram a música John Henry constatei porque Little Will é um exímio gaitista e vi uma habilidade nunca vista por este que vos escreve, e este blues de primeiro escalão trouxe passagens que me lembraram do Led Zeppelin III.

    Depois Marcio comenta que os gaitistas quando estão tocando imitam muito o som de um trem e também de uma Harley Davidson, e cá entre nós, não é que é verdade? E com esse clima descontraído, a dupla apresenta outro clássico da história do blues com Sweet Home Chicago, uma dos melhores criações de Robert Johnson. A versão exibida por Marcio Sciallis e Little Will trouxe solos de arrepiar a todos os presentes e garantiu muitas palmas da platéia. Muito comunicativos, em seguida explicam a importância da música country para o blues e também para o rock e tocam Get Back To The Country de Steve Baker e Little Will sola sua gaita como se fosse uma guitarra.

    E como eles estavam passando por vários estilos musicais, eles não deixaram de homenagear o rock em seu set list, e então Blue Moon Of Kentucky, sucesso na versão de Elvis Presley entra em cena com solos de violão e gaita que deram uma imensa vontade de até sair dançando. Mais ao final da música a dupla recuou para aquela linha tradicional de blues que encerra competentemente a música.

    Entrando na reta final de sua apresentação, Marcio Sciallis avisa que irão regravar junto com Os Harmônicos o tema do " Vigilante Rodoviário " para um futuro remake da famosa série. Em seguida trazem uma versão muito voltada para o blues/rock de Dancing In The Street para então passarem por Mustang Sally ( sucesso na voz de Magic Slim ) com um vigor tremendo. Com certeza, Marcio Sciallis e Little Will fizeram um dos melhores shows de todo o 3º Poços de Caldas Blues & Jazz Festival pois foram muito bem humorados, divertidos e fizeram o público caldense se agitar-se bastante nas cadeiras do Complexo Cultural da URCA. Após o seu espetáculo, conversamos brevemente com os músicos e além de toda a capacidade vista no palco, ambos são também muito atenciosos com as pessoas.

Lil Ray Neal

     Após um breve intervalo - é caro leitor(a), show de blues assiste-se sentado - para que os presentes pudessem degustar os prazeres do Truck Art Bar, conversarem um pouco e claro sentir um aumento na expectativa de conferir a grande atração da noite. E como já é uma tradição em espetáculos de blues, antes que o músico principal se apresente, a banda que o acompanha ( The Blues Special All Stars nesta ocasião formada por: Naná Maran na guitarra, Guilherme Cabral no baixo, Adrian Flores na bateria e Luciano Boca na harmônica ) tem a missão de esquentar o público e quem assume o comando é o carismático baterista argentino Adrian Flores que soube como mexer com a platéia dizendo: “Vocês estão prontos para Lil Ray Neal....?”  - com a reação calorosa dos presentes, ele convida Lil Ray Neal para adentrar no palco. O guitarrista chega com uma guitarra Gibson SG335 marrom e após uma curta saudação com os fãs incendeia a todos com "I've Been Mistread", "Why I Sing The Blues", "Honey Hush" e "Dryvin Wheel", uma sequencia de blues explosivos que nos mostraram todo o talento e a presença de Lil Ray Neal.

    Seja em momentos mais lentos ou mais eletrificados Lil Ray Neal apresentou uma técnica soberba e suas raízes de Baton Rouge no estado de Lousiana nos Estados Unidos garantiram uma noite com muita maestria. Despejando solos com muita categoria e técnica Lil Ray Neal executou Big Boss e Baby Please - é... só vemos isso apenas nos mestres do estilo meus amigos(as), saibam que o guitarrista americano provavelmente no futuro será um deles.

    Em cada música apresentada, cada um dos músicos que acompanhavam Lil Ray Neal tocavam com muita garra e quando surgia a oportunidade de dividir um solo, seja de gaita, guitarra, baixo ou bateria, faziam com muita vontade. Outra coisa que me chamou a atenção nos solos de Lil Ray Neal era como ele fazia sua guitarra 'falar', de forma muito semelhante ao que B.B. King costuma fazer com sua "Lucille", são em momentos assim que nota-se toda a pureza e destreza únicas do blues que enchem o coração de cada presente em um estado de plena e completa felicidade musical.

   Além de tocar muito bem Lil Ray Neal também possui uma ótima voz e cantou Sweet Home Chicago esbanjando vontade e o duelo com o guitarrista Naná Maran, percebe-se que é cheio de improvisos e que não é combinado, é algo que surge no momento quando eles tocam seguindo a linha que está presente de seus corações naquele momento que se torna ímpar.

    Depois, Lil Ray Neal traz Standing e Feeling So Bad, esta última, sentimos a perícia exuberante do americano que sola sua guitarra sem parar. Lil expôs toda a sua formidável técnica que foi crescendo... crescendo... até culminar em um final majestoso. E com os outros colegas de banda mantendo o clima festivo no ar, o guitarrista americano sai do palco em meio a uma avalanche de aplausos da platéia, que ficou muito satisfeita com a apresentação.

    Mas é claro que haveria um bis e Raining In My Heart marca o 'grand-finale' da segunda noite do 3º Poços de Caldas Jazz & Blues Festival. Temos certeza que todos os presentes, sem exceção, foram embora felizes com os três shows do evento e sempre que acontecer um novo festival, retornaremos à aconchegando cidade de Poços de Caldas para novamente sentir a pura eletricidade e magia que somente o Blues e do Jazz são capazes de nos proporcionar.

 

 

Texto: Fernando R. R. Júnior e André Torres
Fotos:
Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos: Gisele SC - GSC Eventos e Luciano Boca - Bluesmouth Produções
Julho/2010

 

Set List do Lil Ray Neal

- Intro
- I've Been Mistread
- Why I Sing The Blues
- Honey Hush
- Dryvin Wheel
- Big Boss
- Baby Please
- Sweet Home Chigado
- Standing
- Feeling So Bad
- Raining My Heart  ( bis )

 Galeria de Fotos do Lil Ray Neal, Little Will e Marcio Sciallis, Savoy Jazz Trio

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