Virada Cultural 2010
São Paulo/SP - 15 e 16 de Maio de 2010, Mogi Guaçú/SP - 22 e 23 de Maio de 2010

    Desde o final dos anos 90 que, nós ( público rocker ), não temos um festival fixo anual, tivemos a tentativa do Live’n’Louder, mas não passou de duas ótimas edições ( 2005 e 2006 ), sendo assim nos últimos anos a época do ano que eu mais espero é entre abril e maio pois sei que vai acontecer algo de espetacular na capital paulista, algo que, por incrível que pareça, é sempre idealizado e patrocinado pelo governo do estado, a Virada Cultural.

    Desde 2007, quando descobri que o evento existia já vi inúmeros shows históricos como reuniões de grandes bandas de Rock de verdade feito no Brasil como Inocentes, Patrulha do Espaço, Joelho De Porco, O Terço, Harppia, Terreno Baldio, Casa Das Máquinas, Os Mutantes, Pepeu Gomes, Novos Baianos, Som Nosso de Cada Dia, Sá Rodrix & Guarabyra, Camisa de Vênus, Ultraje A Rigor e muitos outros e também grandes nomes internacionais como Paul Dianno, Jon Lord ( com a Orquestra de São Paulo ), Ike Willis ( ex-Mothers Of Invention ).

    Esse ano, não poderia ser diferente, mas foi, depois de muito atraso, saiu umas 2 semanas antes a programação, enxutíssima em vista das anteriores, cortaram o orçamento e o palco do rock saiu da Praça da República pra ir para a mítica Avenida São João, uma troca que eu não gostei pois o espaço físico de uma praça é mais largo e o público não se aglomera tanto, ele se espalha e numa avenida ( estreita ) o público fica mais condensado e apertado, sendo assim ficou difícil, mas mesmo assim valeu a pena.

Grand Mothers - Re:Invented

    Ao chegar lá uma hora antes do evento, não tinha muita gente e eu fui direto pra frente do palco que por volta das 20:00hs recebeu Grand Mothers - Re:Invented ( que nada mais é do que os remanescentes originais e sobreviventes da banda de Frank Zappa, os Mothers Of Invention ) contando com Don Preston ( vocal, piano e vocals, piano e synth ), Napoleon Murphy Brock ( vocal, saxofone, flauta ) que estava 100% carismático e feliz de estar no Brasil, uma simpatia só; Roy Estrada ( vocal, baixo ), Miroslav Tadic ( guitarra ) e Chris Garcia ( bateria ). Executaram grandes clássicos da era Zappa.

Big Brother & The Holding Company

    Na sequência outra reunião de sobreviventes, a Big Brother & The Holding Company, primeira banda oficial de Janis Joplin veio até Sampa com 3 membros originais, o vocalista, guitarrista e fundador Sam Andrew, Peter Albin ( no baixo ) e Dave Getz ( na bateria ), além de um novo guitarrista que substituiu o falecido James Gurley Bem Nieves e claro uma cantora excepcional para cantar os clássicos imortalizados por Janis, Sophia Ramos, que apesar do nome, não sabia falar nem espanhol direito enquanto Sam aprendeu o português só para conversar com o público da São João, foi digno de aplausos empolgados de todos.

   Sophia além de cantar extremamente bem se superou, pois, mesmo grávida ela botos todo seu feeling nos clássicos Piece of My Heart e Summertime ( onde o improviso foi tão além do esperado que todos achamos que ela teria o filho ali mesmo ), lágrimas rolando, guitarras em profusão e emoções à mil, a banda saiu de lá com o jogo ganho!

Patrulha Do Espaço

    Após tudo isso ainda tínhamos muito mais, era a vez da primeira banda brasileira da noite, a mítica Patrulha Do Espaço, que atualmente conta com seu membro fundador Rollando Castelo Jr. na bateria, Danilo Zanite na guitarra, Allan no baixo, Marta Benevolo nos vocais e o inigualável vocalista Percy Weiss de volta ao line-up para interpretar grandes clássicos da Patrulha como "Ovnis", "Vou Rolar" ( da fase anos 2000 ), "Sexy Sua" ( em homenagem ao seu fundador Arnaldo Dias Baptista ).

    Uma dobradinha de hinos dos invencíveis Heróis do Rock que encararam de frente a ditadura Robot ( dedicado ao falecido Sergio Santana ) e Meus 26 Anos ( original da banda Joelho De Porco ), e finalizando com seu maior clássico, Columbia, mas não sem antes Junior prestar a sua homenagem à cidade de São Paulo, dizendo que Brasília nunca foi a capital do Rock no Brasil e sim São Paulo City, música do disco .comPactO de 2003, dedicada aos ex-membros Marcello Schevanno ( atual Carro Bomba ) e Rodrigo Hid ( atual Pedra ) que fizeram parte da banda do seu retorno em 99 até 2005.

     Junior também não se esqueceu de agradecer ao seu fiel roadie Samuca que está com a banda há 10 anos. Um show magnífico e que, além de ser idolatrado por um imenso público de mais ou menos 5 mil pessoal ainda foi prestigiado pelo pessoal da banda americana L.A. Guns que estavam atônitos ao lado do palco, apreciando o poder de fogo que emana da bateria de Júnior, talvez o maior e mais injustiçado baterista dessa terra que não reconhece as próprias jóias.

L.A. Guns, Velhas Virgens, Living Colour e Krisiun 

    Na seqüencia veio o L.A. Guns, banda de Tracii Guns que infelizmente não assisti o show, por medidas de segurança própria, pois há essa hora, por volta de 01:30hs a situação na frente do palco estava insustentável devido ao imenso público que lá se encontrava, eu estava sendo quase esmagado contra a grade e pela primeira vez em 16 anos de shows saí da frente de um palco para ficar vivo.

    Infelizmente durante essa madrugada, que ainda teve Velhas Virgens ( de novo, acho que já deu 2 anos seguidos né? ), Krisiun, Living Colour tocando na Praça Júlio Prestes entre outros. Um garoto de 17 anos foi assassinado à facadas num bar na extensão da Avenida São João, bem perto do palco Rock, o que queima muito o nosso filme, e outra nota triste mas que foi de arrepiar qualquer banger, foi a banda Krisiun que no meio do show parou para dar a pior notícia do ano, o falecimento de Ronnie James Dio ( confira especial/tributo aqui ) levando muita gente às lágrimas, quando improvisaram um pouco do clássico Heaven and Hell.

  No dia seguinte, com o sol no céu era possível ver muitas famílias andando juntas por todo o centro de SP atrás de cultura, isso por si só já vale, é desse tipo de iniciativa que a população precisa pra crescer intelectualmente! Inclusive este que vos fala, levou o filho para passear e até ver uma exposição de Star Trekk/Star Wars, foi hilário, mas como já disse, na Virada Cultural, tudo é cultura e tudo vale a pena, até acompanhar um trio tocando na boléia de um caminhão pelas ruas.
Virada Cultural de Mogi Guaçú/SP

    Uma semana depois a Virada invadiu o interior e em Mogi Guaçú/SP nós pudemos conferir Arrigo Barnabé ( para quem gosta ), Arnaldo Antunes ( o ex-Titãs) que veio acompanhado por Edgard Scandurra ( ex-IRA! ) e tocou músicas de seu novo disco baseado na Jovem Guarda e Beto Guedes no encerramento no dia seguinte, tentando interpretar algo de seu repertório cheio de hits, mas o som ficou devendo no seu show e sua saúde parece não estar das melhores, pois muitas vezes sua voz desaparecia, mas o que impressionou o público guaçuano mesmo foram dois agrupamentos de artistas que apostam na soul music e funk de raiz, o grupo Sandália de Prata ( que apesar desse nome horrível não toca forró e sim boa música negra calcada nos anos 70 ) e o Funk Como Le Gusta, que há muitos anos leva o público à loucura com seu som calcado em Gérson King Combo, James Brown, Sly & Family Stone entre outros, com um show apoteótico a banda literalmente desceu do palco e foi tocar no meio do povão com muito improviso de metais e percussão, coisa de artista e não de estrelas!

    Mais uma vez o saldo das Viradas Culturais espalhadas pelo estado todo foi positivo e nos enche de esperança para que tenhamos muitas mais nos anos que virão.

Por Alexandre Wildshark
Fotos: Rock On Line - www.rockonline.com.br
Junho/2010

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