D.O.A. e Olho Seco
Abertura: Agrotóxico e Kob 82
Sábado dia 19 de novembro de 2011
no Hangar 110 em São Paulo/SP 

 

    O Olho Seco faz parte da história do cenário Punk brasileiro e eu nunca tinha visto um show deles. Numa semana com outros shows para cobrir resolvi abrir a exceção para dizer que vi mais uma banda da história do cenário underground brasileiro e ver como eles são ao vivo. Conheço o vocalista do Olho Seco, o Fabião há anos, pois ele tinha uma loja só dele na Galeria do Rock e depois mudou-se para outra loja com um sócio, mas ainda continua por lá. Sua loja era praticamente um point na Galeria do Rock e sua banda com certeza uma lenda.

 

    Mas isso não importa muito e também de nada vale isso sem conhecer mais sobre tudo no universo punk ainda mais vivendo em São Paulo e tendo acesso a inúmeras figuras e lugares relacionados ao gênero. Você não precisa conviver com tudo isso para ser um Punk, um roqueiro ou um headbanger e sim curtir e desfrutar informações do cenário musical underground.

 

    Eu não sabia que a banda Kob 82 iria abrir o show ou nem me toquei nessa parada, mas o que fiquei sabendo é que a banda “principal” da noite, o D.O.A. com mais de 30 anos de história, veio para o Brasil com um bom esforço do Jefferson, baixista da banda Agrotóxico, Flicts e Olho Seco, e também proprietário do selo alternativo Red Star Recordings,  que lança bandas como como Agrotóxico, Lobotomia, Ação Direta, Atroz, D.O.A., dentre outras, afinal fazer uma turnê pelo Brasil com uma banda underground, que apesar de ser longeva poderia não dar um bom resultado e lucro. Ah, isso não faz o agitador do show ficar milionário e ele não quer trazer uma banda por causa da cena, portanto a logística da coisa deu certo para que a banda viesse tocar em São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro. O país anda tendo uma enxurrada de shows de bandas de Heavy Metal, mas para o cenário Punk a coisa anda diferente e como os públicos são diferentes, não tem porque dizer que não há dinheiro para todos os shows, pois isso é o de menos e fica inapropriado relevar isso numa resenha como esta, afinal as pessoas tem outras prioridades e outros gastos. Não sei como foram os shows em Curitiba e Rio de Janeiro, mas o de Sampa foi bem agitado.

    Deixei entre aspas a palavra ‘principal’ referente a banda D.O.A. e depois vou ressaltar o porque disso, mas falemos primeiro da banda Agrotóxico pois perdi o show do Kob 82, que tocou para uma casa quase vazia, com poucas dezenas de pessoas. Pelo que eu soube, apesar do pouco público a banda não decepcionou e o público curtiu-os. Fora do Hangar 110 pelo que se tem notícia já havia pessoas bebendo no bar que fica quase em frente da casa por volta das 17:00 horas, cerca de três horas antes do show começar, mas deveriam estar ali para ver o Olho Seco e o D.O.A. e quem sabe até o Agrotóxico, que tem um público cativo e é um dos grandes nomes do Hardcore nacional.

 

Agrotóxico

 

    Bem depois das 20:00 horas entra o Agrotóxico mandando seu Hardcore acompanhado de muita agitação, moshes e stage dives. Num momento em que alguém tentava subir no palco o guitarrista do Agrotóxico empurrou a pessoa de volta para o chão e ele de novo investiu e subiu no palco para fazer seu showzinho à parte e pular de volta no meio do agito. A banda agita muito no palco e com três vocalistas, dentre os quatro membros da banda, o show se torna mais interessante e agitado. Sobra gás pra todo mundo. Além de Jefferson a banda conta com Arthur ( guitarra e vocal ), Marcos ( guitarra e vocal ) e Pedro ( bateria ), que com exceção de Arthur e Pedro também compõe o Olho Seco.

Olho Seco

 

    A espera para o Olho Seco nem foi tão grande, apenas o baterista André teve que se ajustar na bateria enquanto Jefferson e Marcos ficavam por ali tomando um fôlego e ajudando os equipamentos e eis que quando as cortinas se abrem o público começa a vibrar, algumas pessoas vão mais perto do palco e outros começam a abrir espaço para o agito que iria se seguir. O Olho Seco abre com Me Tirem Deste Inferno o que faz a casa estremecer. Depois seguem com Olho De GatoMuito Obrigado. Fabião já começava a se comunicar com a plateia, mas muito brevemente, sem muita falação e discurso, afinal isto é Olho Seco.

 

    O show segue na mesma cadência até que a sétima música vem para arrebentar o lugar, afinal era o clássico da banda Botas, Fuzis, Capacetes, que praticamente fez do Hangar 110 um campo de batalha. Ah, não vamos exagerar, mas que o público tomou boa parte do Hangar 110 agitando, isto tomou. Ao todo menos de 250 pessoas estavam por ali. A esta hora, de tanto subirem no palco e ficarem passando a mão nos P.A. os set lists que estavam no palco, já tinham sido arrancados pelos presentes e parcialmente rasgados, o que dificultou de tirar uma boa foto deles para a resenha.

D.O.A.

 

    O show continua por mais umas músicas até que vem outro clássico: Que Vergonha, e algumas depois, Sinto que foi seguida de mais quatro sons eles encerram a apresentação com Isto É Olho Seco, totalizando ao todo 19 músicas em cerca de 45 a 50 minutos. A banda sai do palco ovacionada e o público parece que estava satisfeito e creio que algumas pessoas começaram a sair, pois quando o D.O.A. entrou parece que havia mais espaço para andar. Ou era impressão devido a agitação geral do público no lugar? Não sei, mas a banda “principal” foi ofuscada pelo Olho Seco. O público agitou durante o show do D.O.A., mas bem menos do que durante o show do Olho Seco.

    A banda, que foi fundada em 1978 pelo canadense Joey ‘Shithead’ Keithley ( vocal e guitarra ), oriundo da banda The Skulls, e eles entraram no palco seguros de si e prontos para agitar um bom show. Dan Yaremko ( baixo ) e Jesse Pinner ( bateria ) completam a banda, que é um trio. Os três começam a tocar animados e Joey tinha andado pelo Hangar durante os shows do Agrotóxico e do Olho Seco e tirado fotos com fãs, mas apesar disso, o povo não agitou tanto quanto devia ou se esperava. O som até que estava bom, mas para mim algumas coisas que Joey falava ao microfone ficaram inaudíveis e tive que perguntar para um ou outro o que ele tinha falado. Ficou um pouco grave, mas entender uma banda em português e outra em inglês com o microfone não tão bom, creio que vence o português. Isso não foi um ponto negativo, pois Joey falava pouco mesmo e agitava muito quase sempre parado no seu lugar de frente para o microfone.

   A banda tocou praticamente tudo em sua trajetória de 32 anos de existência e prendeu a atenção dos que não agitavam muito, mas foi legal. O show deles foi um pouco curto comparando com as outras bandas e intensidade do público frente as músicas dos brasileiros, mas eles foram afiadinhos e não deveram nada comparado aos outros show ou bandas, mas enfim, a coisa andou. A banda tocava e o público agitava, mas depois que saíram do palco sob aplausos até mais por educação do que emoção, o público começou a ir ao banheiro, comprar mais uma bebida no bar se afastar para as laterais e acharam que era o final, ou nem se importavam com o bis.

    O chato foi o Jefferson do Agrotóxico tomar o microfone e pedir para o povo chamar o D.O.A. de volta para o famigerado bis e os presentes corresponderam a altura e a banda regressou ao palco sob aplausos. Tocaram mais algumas músicas, agradeceram aos que ainda aos muitos dos que permaneciam no local,  as bandas de abertura e saíram definitivamente do palco. Logo depois muitos dali gritavam sem parar “Isto é Olho Seco, seco, seco, seco...” provavelmente pedindo o retorno de Fabião e companhia, mas não né! O Olho Seco tinha se “recolhido”, mas creio que se voltassem para mais umas sete ou oito músicas o pessoal iria agitar e sair animado de lá.

    O show terminou um pouco depois das 23:00 horas, nenhuma confusão aconteceu e todos que queriam ir embora para casa ou sair para outro lugar, conseguiram transporte público. Foi uma noite boa! Que haja mais destas noites por aí.

Por Hamilton Tadeu

Fotos: J. Ramonny

Janeiro/2012

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