D.R.I.
Abertura: Violator e Ação Direta
Domingo, dia 17 de abril de 2011 no Carioca Club em São Paulo/SP

    Este era um show que eu queria ter visto desde o início por causa do Ação Direta que é uma banda que gosto muito e que vale a pena ver quando é convidada para tocar com algum nome grande do Metal, Crossover, Grind ou seja lá que subgênero pesado do Rock for essa banda. Acontece que eu não tinha sido credenciado para o show, pois fui atrás disso apenas dias antes e como sou editor de uma revista em quadrinhos, fui pra lá ver se a galera Hardcore e Thrash iria curtir a revista. Para me facilitar, a fila para entrar no show estava grande, com cerca de 150 pessoas e sempre mais chegando gente, daí fui abordando do primeiro da fila até o último para ver quem comprava e como sempre as negativas eram as mesmas: “Cara, só tenho dinheiro pra cerveja” ou “Estou sem grana” e até uns que diziam “Poxa, até que eu compraria, mas não agora, pois lá dentro do show vai amassar” e acredite em mim, faço isso há mais de dois anos e são poucos que ignoram e a maioria que diz não, responde sorrindo que não pode comprar ou agradecem. Resta a mim sorrir de volta e agradecer a eles pela atenção.

    Dei uma volta por ali para continuar vendendo lembrando quem estava no final da fila para depois ir oferecer para o que vinha atrás dele até o novo final da fila, afinal a fila anda, mas acabei vendendo várias revistas e tive um saldo bom e uma surpresa boa no meio do show do Violator. Ah, se eu tive a surpresa é porque entrei no show, não é? Pois bem, fui apresentado a dois dos três organizadores do show que me liberaram sem stress nenhum após verem meus gibis e nem se importariam se tivesse resenha ou não e daí resolvi fazer uma resenha de uma banda que curto e de um showzão, claro.

    Adentrando ao local do show, vi muita gente ali prestando atenção no final do show do Ação Direta e haviam poucas pessoas do lado de fora e aquela fila grande já tinha acabado. Foi com certeza um dos shows de Metal mais lotados no Carioca Club e olha que era um show cheio de gente que abre rodas gigantes, dá mosh, stage dive, grita e agita. O vocalista Gepeto dava uns recados finais antes de terminar o show e pelo pouco que vi, a banda mantém o mesmo pique de sempre e Gepeto não para de pular e agitar. Ainda bem que atrasou um pouco, pois muitos dos que estavam na fila puderam entrar para apreciar o show do Ação e eu era um deles. Para quem achou que ia ficar apenas do lado de fora esperando o povo sair para vender revistas para eles, o role foi melhor do que o esperado.

    Voltando a parte do lado de fora, fui oferecendo revistas e vi uma conhecida que conversava com um membro da equipe do D.R.I. chamado ou apelidada de Guli ( ou algo assim ) e que há cerca de 20 anos foi motorista do Sepultura. Ela me apresentou a ele e eu dei minhas revistas para que ele entregasse ao pessoal do D.R.I. pois as mesmas também estão em inglês e lá foi ele para dentro e eu em busca de outras pessoas, os da fila de quando cheguei e contei acima. Mas voltando ao show, o Violator entra e era muito esperado pelo pessoal que começa a agitar logo no primeiro acorde da primeira música. Era algo visceral e feroz a energia deles para plateia e mais de 40 pessoas se esmurrando amigavelmente numa roda aberta a frente do palco quase até o meio do salão.

    E assim foi até o final do show e isso se repetiu no show do D.R.I. então com duas rodas se formando, sendo a segunda mais atrás perto dos merchandise. Essa segunda roda tinha músicos conhecidos do underground que até incomodaram alguns que estavam mais a frente prestando atenção no show e não sabiam o que eram aqueles empurrões vindo de trás. Bom, mas cá estou eu pulando a cronologia das coisas e intercalando os momentos pré-show, inicio e meio, mas tudo bem, escrevo assim mesmo e você deve estar entendendo. Algumas pessoas subiram no palco do Violator, mas depois os seguranças e equipe de apoio ficaram mais espertos e não deixaram que tantos subissem ali, mas o pessoal do Violator nem tava aí, pois eles agitavam tanto quanto o pessoal que foi ali para assistir e até um dos músicos da banda poderia ser o responsável de desplugar o pedal ou instrumento um do outro de tanto que pulavam no palco.

    Pedro Poney, vocalista e baixista do Violator, se comunicava com a plateia de forma humilde e até com um discurso esperado que muitas bandas fazem comentando da união deles com o Metal e da posição deles não como músicos incontáveis e sim como headbangers, que uma vez estavam ali assistindo a shows como os demais assistiam. Aliás, os músicos do Violator ficam no meio do público depois dos shows mesmo para curtir como fãs. Esse “discurso esperado” feito pelo Poney é mais uma observação do que uma crítica, pois cada um tem sua linha de se comunicar com o povo, ainda mais se for uma banda de Thrash, Death ou Extremo, do que os do Heavy tradicional e Hard Rock. O povo que é chegado num som mais violento é mais comunicativo, mas seja como for, chega uma hora que cansa sempre o mesmo papo, a mesma reação da plateia, mas o Poney sabe dosar o papo com música, pois quando o discurso aumenta, acaba mudando o foco da plateia que está ávida por som.

    No meio do show do Violator aparece um cara que logo pensei que iria dar mosh ou aprontar alguma e percebo que é um dos músicos do D.R.I., mais precisamente Harald Oimoen. E não é que ele pega uma cadeira e senta-se ao lado do microfone do Poney e abre a minha revista em quadrinhos fingindo que a lê?! Pois é. Lá está ele e fala algo em inglês dizendo “...esses caras mais do que malucos do Violatoooooooor”. Depois ele joga a revista para plateia e começa a andar pelo palco bagunçando e tomando toda a atenção de todos pra si. Após o breve show ele sai e o Violator toca mais uns sons e termina sua apresentação sob aplausos e gritos dos presentes.

    É hora de dar um tempo e esperar pelo D.R.I., que chega cerca de 20 minutos depois abrindo o show com Beneath The Wheels, uma das músicas que eu mais queria ver no show e estranhei ela ser tocada logo de cara, mas nem eu e nem o resto do público achamos ruim a música e lá foram todos pra roda de novo que teve cerca de seis metros de diâmetro. No começo, como sempre, o som não está 100% e achei que a distorção da guitarra diferente do som habitual deles e da distorção dos discos do D.R.I., mas depois me acostumei. O som só ficar estranho de novo no final do show, mas sem que afetasse muito o som da banda.

    Era uma pancadaria atrás de outra e muitos clássicos indo e vindo. Músicas como Thrashard”, “Five Year Plan”, “Abduction”, “Commuter Man”, “Who Am I” e “I Don´t Need Society” foram cantadas e agitadas por todos. A banda era de falar pouco mas se comunicava bem com os fãs e os músicos se locomoviam bem pelo palco. A banda deu o famigerado bis, mas voltou para tocar várias músicas, entre elas, Violent Pacification, "coverizada" pelo grande Slayer em seu disco Undisputed Attitude e terminam o show com chave de outro tocando a esperadíssima The Five Year Plan, que parecia entrar na raiz da emoção das pessoas ali. O som estava perfeito e o público acompanhava o som cadenciando com a cabeça ou braços ao alto.

    Para quem agitou na roda, fez um bom exercício e para quem assistiu de longe, ficou feliz sem nenhum hematoma e pode comprovar uma noite que irá se tornar história dentro do circuito de shows que ocorreram no Brasil. Nenhuma confusão foi registrada e quem estava vendendo discos de vinis, cd´s e outras coisas acabou ganhando um troco. No final do show ganhei uma palheta para presentear um amigo colecionador de palhetas e fui no camarim conhecer a banda, com exceção do baterista que saiu para arrumar sua bateria. Foi uma noite que posso dizer que saí no lucro, não só eu, mas centenas dos que ali estavam.

Texto: Hamilton Tadeu
Fotos: Mateus Mondini
Maio/2011

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