Inocentes, Clan Bastardo, Excluídos e Deserdados 
Terça, dia 8 de outubro de 2011
no Hangar 110 em São Paulo/SP

    Cheguei um pouco atrasado e peguei o final do show do Deserdados, ouvindo a última música que vazava para fora do salão do Hangar 110. Ao entrar e tentar achar um lugar para notar o show e sentir o ambiente, eles encerraram dizendo que dedicaram a música ao Redson Pozzi do Cólera, que faleceu no final de setembro e provavelmente era um cover, segundo me disseram, mas não falaram que música era. Pelo que soube o set deles foi curto, mas bom e preciso na escolha das músicas.

    A banda toca um Punk 77 e pelo suor que notava em alguns presentes, deduzi que tinha muita gente agitando no meio do show deles. Para quem chegava no Hangar, deparava-se com uma surpresa: a exibição do documentário 3 Acordes de Cólera, exibido nos dois telões da casa de show entre uma banda e outra.

Excluídos

    Achei que a demora para a próxima banda seria mais longa do que 20 minutos, mas em menos de 15, a banda Excluídos entra no palco com seu visual com terninhos e topetes. Como eu nunca tinha visto show deles e nem ouvido músicas da banda, embora os conhecesse por nome, pensei que ia vir um Rockabilly ou Psychobilly, mas lá que vem um som mais pesado, meio “dançante” e forte.

    Eu lembrei muito da banda que tocava no baile de formatura dos alunos de Hill Valley no filme De Volta Para O Futuro I e daí o pessoal vem com algo bem Punk para cima da gente e isso deu mais gás na plateia, que assistia e participava do show deles.

    Além desse visual, o pessoal da banda pintava o rosto com um desenho de lágrima saindo dos olhos ou coisas do tipo, reforçando o visual deles. A banda é criticada por não usar moicanos ou outro visual Punk e sim por usar topetes e a lágrima desenhada na face é uma homenagem a um ex-integrante já falecido, como eu soube depois. Foi cerca de meia hora de som, que valeu a pena saindo daquelas guitarras que estão mais para Jazz e B.B. King do que para som pesado. Uma surpresa atrás da outra, fora que o pessoal da banda é gente fina.

Clan Bastardo

    Mais uma pausa de alguns minutos e logo depois entra no palco a banda Clan Bastardo, que tem italianos e brasileiros em sua formação. A banda é formada por Pino ( guitarra e vocal ), Enzo ( baixo ), Dino ( bateria ) e eram acompanhados do guitarrista Gordo da banda Blind Pigs. A banda ficou sintonizada com o público e seu som lembra o Rancid.

    E eles não são de frescura e circulavam entre o público presente durante os shows das duas primeiras bandas. Eu só fui saber quem é quem depois que estavam no palco claro e lembrar de um ou outro andando por ali. O show do Clan Bastardo foi bem certinho e baseado no álbum de estréia deles intitulado Nei Migliori Negozi Di Disch e no single Hotel Babylon, que empolgou muita gente ali. Com certeza, a banda arrebatou mais uns fãs com este show. Se você quiser conferir vídeo da banda, clique em http://www.youtube.com/watch?v=JCXEYxAamy4 e http://www.youtube.com/watch?v=hCxjFzfIjY0 e comprove.

    Depois do final do show do Clan Bastardo as cortinas se fecham e volta a ser exibido nos telões o documentário do Cólera e a maioria dos olhos e ouvidos se volta para os telões. O som estava grave demais e não se entendia muito bem o que falavam em determinados momentos. Até depoimento do Clemente, líder e vocal dos Inocentes, havia no documentário em que ele lembrava uma passagem junto com Redson para enfrentar a polícia no começo dos anos 80. Os Inocentes não iam fazer show qualquer e sim, comemorar os 30 anos de banda, o que deve ter deixado a banda nervosa e ansiosa para essa apresentação especial num lugar mais do que especial para o estilo de som que eles fazem. Embora o Hangar 110 faça muitas bandas se sentirem em casa, numa ocasião especial como essa, a coisa é um pouco diferente.

Inocentes

    E lá vem Clemente e Cia., a saber, Ronaldo ( guitarra ), Anselmo ( baixo ) e Nonô ( bateria ) abrindo o show com Miséria e Fome e ganhando a atenção do público ali presente com Punks e tanto roqueiros de 20 e poucos anos quanto cidadãos com bem mais de 40 anos, que certamente pensaram na sua história dentro da cena em que cresceram ouvindo bandas como os Inocentes, Cólera, Garotos Podres, RDP, Plebe Rude, As Mercenárias, entre outras.

    Para quem era fã dos Inocentes desde os anos 80 ouviram e curtiram clássicos como “Garotos do Subúrbio”, “Rotina”, “Ele Disse Não”, “Aprendi a Odiar”, e outras mais. Em Aprendi a Odiar, Clemente assume apenas os vocais e peita qualquer um que suba no palco, como se ele estivesse possuído por ódio e violência, que torna a performance da música bem interessante e até autêntica.

    Como é de costume no Hangar 110 em praticamente todos os shows, mesmo a pedido da banda que não subam no palco, o pessoal não quer saber e começaram a pogar no palco, cantar junto com o vocalista, pegar o microfone dos backing vocals e esbarrar nos instrumentos, claro. Sinceramente, não vejo alguém que usa o show para se divertir e subir no palco, sem ver por onde anda ou esbarra, desligando pedal da guitarra ou fazendo o som de algum instrumento sumir, deixando o público sem apreciar 100% do som.

 

    A banda seguiu seu set e durante o citado clássico Rotina, já era uma rotina o sobe e pula do palco, e a banda já estava ficando nervosa. Clemente pede por gentileza que não subissem mais no palco, pois aquilo estava atrapalhando a banda e consequentemente ia atrapalhar o público e parece que alguns ouviram e o show seguiu sem problemas até o final.

    Eu particularmente aguardava os clássicos dos anos 80 como “Ele Disse Não”, “Expresso Oriente” e “Pânico em SP”, músicas que estavam em seus três primeiros discos fora de catálogo há anos e foram lançadas em cd pela Warner Music recentemente. Ouvir esses três sons particularmente, me deixaria feliz sem interrupções no palco ou em algum lugar no salão e foi o que aconteceu, mas, a festa iria melhorar e os Inocentes tocam um hino do Rock Paulista da banda 365, que se chama simplesmente São Paulo e a galera toda acompanhando a letra ou o refrão, um dos pontos altos do show, na minha opinião.

 

   O show aproximava-se do seu final e Clemente fala ao microfone um pouco mais do Redson e de sua amizade com o finado e saudoso vocalista e guitarrista do Cólera. Então, tocam Quanto Vale a Liberdade?, do Cólera, fazendo uma bela e apropriada homenagem, que pode ser vista neste link www.youtube.com/watch?v=USKGGedjrpQ. É claro que mais clássicos não poderiam ficar de fora, e faltava Pânico em SP para satisfazer pessoas como eu, e creio que todos os presentes ali que foram ao show pelos Inocentes. Em seguida, a banda vem com o cover do The Clash Should I Stay or Should I Go, mais do que um clássico do Punk Rock.

    Foi uma noite tranquila e por volta das 23:10 o show havia se encerrado. Fica aqui a minha conclusão, que cai no lugar comum nessa manjada torcida e desejo de que os Inocentes tenham mais 30 anos de vida ou pelo menos mais 10 ou 20 anos. Que eles façam shows memoráveis para celebrar essas datas, com uma produção melhor, não desmerecendo o Hangar 110, mas sem probleminhas de palco de quem não era para estar lá e com uma casa mais cheia, pois quando o Hangar 110 fez oito anos de existência, os Inocentes foram a banda escolhida para se apresentar na noite em um evento gratuito e aberto para qualquer um.

    Longa vida aos Inocentes, ao Hangar 110 e as bandas que ali estavam e ao público também, afinal eu estava lá e queria viver muito também.

Por Hamilton Tadeu
Fotos: Erika Beganskas
Novembro/2011

 

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