Tributo ao Redson, vocalista do Coléra
Terça, dia 15 de novembro de 2011
no Hangar 110 em São Paulo/SP
   

    Esse era um show aguardado onde vários nomes consagrados da cena Punk dividiram o palco para cantar junto com os dois membros remanescentes da banda Cólera, Pierre ( bateria e irmão de Redson ) e Val ( baixo ) várias músicas que marcaram a carreira da banda. A noite um pouco fria e com garoa e chuva leve nesse feriado não deixou que muitas pessoas aparecessem no Hangar 110 para assistir ao ótimo show em homenagem ao Redson, que tinha falecido menos de dois meses antes, ou melhor, quase dois meses. Desde o dia do enterro cogitava-se na homenagem ao frontman de uma das bandas mais intensas e celebradas do underground.

    Quem entrava no Hangar 110, que abriu suas portas a partir das 19:00hs se deparava com uma decoração com a temática Cólera, com pôsteres, fanzines, cartazes e fotos contando a trajetória da banda, tudo organizado por parte da “Família Cólera”, que era como Val, Pierre e o falecido Redson sempre chamaram sua equipe, que por sinal era só de amigos. A discotecagem ficou a cargo do Luizinho Ratinho, grande amigo do Redson e amigo de muitos que estavam por ali.

    O show começa apenas com Val e Pierre no palco tocando a música instrumental Bombeiros, que ao final da música sempre vinha com o grito de “Cólera” dado pelo Redson, mas que dessa vez ao invés de “Cólera”, Val soltou os pulmões no microfone gritando “Redsoonnnnnn” e daí o publicou respondeu gritando e aplaudindo. Para a primeira música Qual Violência? vieram ao palco os amigos Anselmo Pessoa, guitarrista da banda Kolapso 77 e o vocalista Wendel Barros, da banda Sociedade Sem Hino, que era produzida pelo Redson. Wendel também era da "Família Cólera" e olha, o show começou bem com o pessoal acompanhando com a cabeça ou pogando. Parece que a energia começava a fluir bem no local e a emoção começava a tomar conta da casa.

    A seguir vem ao palco para reforçar o time, Cacá, guitarrista dos Garotos Podres e então os cinco tocam “São Paulo”, “C.D.M.P.” ( Cidade Dos Meus Pesadelos )" e “Alucinado”, sendo todos ovacionados pelo público fazendo o astral do lugar melhorar. Val e Pierre continuam no palco e os outros três saem para a entrada do vocalista Nenê Altro e do guitarrista Fausto, ambos da banda Dance Of Days, para tocarem “Vivo Na Cidade”, do álbum Pela Paz Em Todo Mundo, lá do ano de 1986, um dos maiores álbuns Punks dos anos 80, álbum este que fez muita gente conhecer o mundo Punk, inclusive eu. Nenê faz um breve discurso emocionado contando sobre o que foi e o que é o Cólera para ele e o cenário, e então partem para a música. Mas ambos ficam apenas essa música no palco e logo Cacá está de volta ao time junto com o vocalista Kojeka, do Kolapso 77, para disparar três clássicos do Cólera: “Medo”, “Humanidade” e “Adolescente”. Ah, nem preciso dizer que só pelas duas primeiras músicas que eles tocaram o Hangar estremeceu e muita gente se emocionou. A intensidade foi tremenda que notava-se isso nos olhos dos músicos.

    Uma nova mudança de músicos e é voz feminina de Cherry, vocalista e guitarrista da banda Hellsakura, que comanda agora o microfone e junto com os demais toca Gritar, que faz a galera pogar muito. Logo na sequência, Daniel ET, guitarrista da banda Muzzarelas ( e que também é desenhista ), assume os vocais comentando: “não foi nem a sociedade, nem a escola e nem os meus pais que me fizeram ser gente e sim esses caras aqui” apontando para Val e Pierre. Isso é algo chocante de se ouvir até, mas como não sou sociólogo deixo a mensagem de Daniel e a conotação da mesma para lá.

    Terminada essa fala eles mandam ver com a música EA EO, do álbum Verde, Não Devaste. Daniel sai do palco dando um 'tchau' para a plateia e cumprimentando Val e Pierre. Com a saída dele é Clemente, dos Inocentes, que vem ao palco. Nos últimos anos, Clemente tem tocado também na Plebe Rude. Clemente, Val e Pierre tocam “Subúrbio Geral”, “Duas Ogivas”, “Somos Vivos” e “Amnésia”, músicas que Clemente decorou a letra de última hora, e que ficou apreensivo se lembraria da letra, pois tirar as músicas na guitarra não abalou muito ele.

    Dessa vez Val sai do baixo e Fábio, baixista da banda Sociedade Sem Hino assume as quatro cordas enquanto Val assume os vocais e novamente com Cacá na guitarra, tocam Direitos Humanos. Desta vez quem sai do palco é Pierre e Miro de Melo, da banda 365, assume as baquetas. Val volta pro baixo, o vocalista Finho e o guitarrista Ari Baltazar, ambos também do 365, juntos com Helinho ( guitarra - fundador do Cólera e também guitarrista dos Condutores de Cadáver ) e Tatola, vocalista do Não Religião, mandar ver na música X.O.T.; a  mudança de músicos e instrumentos começa a acontecer, Val começa a falar com a plateia e chama por Pierre, que demora a voltar.

    Tatóla deixa o palco e os outros que já estavam por lá seriam as pessoas que cantariam os próximos sons. Val tenta apressar Pierre para que retorne dizendo que ele não foi tomar um ar e sim fumar, brincando com ele. Todos mandam bem em emocionadas versões de “Deixe a Terra em Paz”, “Águia Filhote” e “Doce Libertar”, sendo que nesta última Helinho fez questão de contar a história de como foi escrita pelo Redson nos primórdios da banda e como ele foi descobrindo sua espiritualidade. Helinho prendia a atenção da plateia com suas intervenções bem apropriadas e coerentes, o que fez a noite ficar mais interessante.

    Nova mudança de músicos e todos do 365 saem do palco e Wendel volta, e ainda com Helinho na guitarra, tocam E.S.S.M. ( Ela Só Sabia Matar ) e Desforra. Sem muita enrolação, uma troca rápida nos vocais e era a vez de Nem, vocalista da banda Punk Cama de Jornal, da distante Vitória da Conquista na Bahia. Ele veio até São Paulo por conta própria, especialmente para a homenagem e manda bem, cantando de forma emocionada a música Quanto Vale a Liberdade?. Agora seria a vez de Ariel vocalista e fundador da banda, dos Restos de Nada e também vocal dos Invasores de Cérebros cantar, mas como estava com um problema de voz, preferiu apenas declamar a música Quanto Vale a Liberdade? e fez isto de forma muito emocionante no silêncio do Hangar 110. Ariel sabe muito bem agitar a plateia, seja falando ou cantando, e está familiarizado com o palco e com a casa de show.

    Os altos e baixos de sua voz ficaram interessantes e sua emoção ao declamar foi notada. O próximo vocalista que surgiu no palco foi o Houly, da banda catarinense Horda Punk, que ao conduzir a letra da música Histeria, fez a galera agitar. Esta músicas costumava encerrar os últimos shows do Cólera, e para os desavisados que achavam que o show terminava por ali, não ia terminar. Faltava Pela paz claro, e outras mais. E faltavam convidados como os que viriam a seguir, que eram João Gordo e a Jão, ambos dos Ratos de Porão. A dupla se juntaram a Val e Pierre para tocarem uma bela sequência com “Em Setembro”, “Palpebrite”, “João” e “Quanto Vale a Liberdade?”, que o povo ouviu com felicidade pela terceira vez na noite. João Gordo comentou no palco que no ensaio do dia anterior sentiu o espírito de Redson no lugar, e ele ficou todo arrepiado e Val concordava com Gordo acenando a cabeça e fazendo gestos. A performance de Gordo é conhecida internacionalmente, e nessas músicas nem precisa dizer o quanto o público agitou. De fato, o público agitava muito em certas músicas e pouco em outras, independendo de que artista estava no palco e sim o quanto o momento lhes era apropriado.

    Algo imprevisto acontece e um pedido de última hora faz com que chamem ao palco o emocionado Alê, ex-vocalista da banda Lixomania que, após lembrar de sua amizade com Redson, canta a sua versão de X.O.T., que já tinha sido cantada antes. Alê tem voz rouca e parecia que não iria dar conta de cantar até o fim, mas não posso avaliar melhor, pois nunca vi show com ele no Lixomania e não lembro de ter ouvido músicas da banda. Mas, surgindo da lateral do palco vindo da plateia, eis que surge Marcão, vocalista da banda Lobotomia e ajudou no vocal, e sinceramente, ninguém se importou com músicas repetidas.

    Wendel reassume o vocal, Val fica no baixo, Pierre na bateria e Cacá na guitarra, e recebendo um reforço nos backing vocals, Val chama Ricardo “Cachorrão” Flávio, repórter e fotógrafo do Portal Rock Press, Renata Lacerda, fotógrafa oficial da banda e Deise Santos, da Revoluta Produções, vinda do Rio de Janeiro especialmente para este show. Daniel ET retorna e assume os vocais, e eles cantam Dia e Noite, Noite e Dia, muito emocionados. E, para finalizar o show, era a vez de uma das músicas mais ouvidas, cantadas e aclamadas do Cólera, o hino Pela Paz, que cantada por muitos que lá tinham passado naquela noite como Ariel, Kojeka, Wendel, Helinho, Nenê Altro, Tina, Renata, Deise, Mnarcão entre outros, cada um deles fazendo a sua homenagem a banda e ao Redson.

    Ao final da música e com as luzes acesas, Pierre se aproxima da beira do palco e não usa o microfone ou porque não quer ou porque tinham desligado já, não sei ao certo, mas ele não se importou. Ele disse que desde o dia da morte do irmão não chorou e o motivo disto foi pela energia e carinho que os fãs e amigos tiveram com ele. Ele grita obrigado e aplaude aos que ainda estavam por ali e não tinham saído. Depois os músicos descem logo para confraternizar com os fãs e amigos.

Aos organizadores do evento e ao Alemão, dono do Hangar 110 e toda a equipe da casa, o público, fãs e amigos só tem a agradecer. E ao Val, ao Pierre, seus filhos e esposas, a toda a ‘Família Cólera’, todo o conforto e alegria do mundo, pois por tudo que foi vivenciado naqueles 90 minutos, onde quer que esteja, Redson deve estar orgulhoso e feliz pela festa que foi, e sempre será ao mencionarem suas ideias, músicas, feitos e a amizade que tinham com ele. Força para todos!

Por Hamilton Tadeu
Fotos: Hamilton Tadeu e Cristina Sá
Dezembro/2011

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