Extreme Noise Terror
Abertura: Bandanos e Oitão
Quarta, dia 25 de janeiro de 2012 no Inferno Club em São Paulo/SP

    Na véspera do show eu tinha conversado com o Ed, baixista do Oitão e ele me disse que o show iria começar as 19:00 horas e comentei com ele que sempre atrasa e eu rumei para lá com a fotógrafa Érika, que não conhecia o lugar e chegamos um pouco depois das 19:00 horas e ainda estavam passando o som e a casa nem tinha sido aberta. Não havia nem 150 pessoas na frente do Inferno, o que indicava que o pessoal sabia que o show ainda iria demorar um pouco. Quem não conversava por ali ou bebia, ficava aguardando algum conhecido ou esperando a casa abrir e para muitos, a diversão começou mais cedo com uma banda itinerante que anda pela cidade onde a dupla de guitarrista e baterista monta os instrumentos na calçada e faz um som pesado pra galera curtir.

    A banda se chama Test e eles chegam numa Kombi branca e armam a parada. Li sobre esses caras dias antes num site e que até quem liberava eles para tocarem na frente dos prédios do centro de São Paulo acabava expulsando-os dali jogando água. O legal que eles entraram por conta própria na Virada Cultural num canto qualquer da cidade e atraíram um bom público que apreciava um Hardcore com influências de Death Metal e Grindcore. E lá estavam eles de novo! Dessa vez parte do público era de músicos que iriam se apresentar logo a seguir e integrantes de outras bandas, fora as pessoas que chegavam ao local para fotografar e filmar. Esse show relâmpago durou cerca de meia hora ou menos e serviu para animar mais.

Oitão

    A casa de show abriu logo depois das 19:40 e as pessoas foram entrando aos poucos, sem muita fila grande. Boka, baterista do Ratos de Porão estava na entrada do show vendendo seus cd´s e vinis e alguns fãs tomavam seus lugares nas poltronas do local ou próximos ao palco esperando pela primeira banda, o Oitão. Mas antes que o quarteto de Hardcore fosse ao palco, víamos os músicos do Extreme Noise Terror andando pelo salão da casa de show e também figuras como João Gordo, vocalista do Ratos de Porão e Markon, ex-vocalista da banda Lobotomia.

    O Oitão foi ao palco mandando bem o seu estilo caprichado e contagiante, mas o público só olhava com atenção e lá pela quarta ou quinta música que resolveram agitar um pouco. Mal tinha 100 pessoas quando o Oitão tocou e logo emendaram no setlist um cover do Cólera, Quanto Vale A Liberdade e a galera se agitou e logo a seguir a música Isto É Olho Seco da lendária banda Olho Seco. O Oitão é uma banda nova que une Punk, Hardcore e Metal, mas o que predomina é o Metal com vocais ora bem claros, nítidos e poderosos e ora guturais.

Bandanos

    Depois de uns 20 minutos chega a vez do Bandanos, que mantém o agitado e quase canguru Chris Maffra nos vocais e Marcelo Papa na guitarra, trazendo na nova formação o baterista Helder e o baixista Lauro, que é balconista da loja Consulado do Rock na Galeria do Rock. Eu conheço o Lauro de lá, mas nem imaginava que ele tocava algum instrumento e ainda por cima estava tocando no Bandanos.

    Até estranhei ele na rua carregando um bag com o instrumento e pensei “ele vai entrar com o negócio no show?” e lá estava ele no palco e agitando tanto quanto o Chris. É Lauro, você manda bem e proporcionou muitas poses ótimas para muitos fotógrafos que estavam de olho em você. E para quem sabe o esquema de agitar dos Bandanos, sacou que o Chris dava seus famosos pulos no começo de cada música.

    O Bandanos agitava o público cada vez mais e algumas pessoas subiram no palco para dividir os vocais com o Chris até que Fábio Prandini, vocalista das bandas Paúra e Mandíbula, veio ao palco para dividir os vocais com o Chris, na música Subliminal, cover do Suicidal Tendencies, que é a principal influência do Bandanos. Ah, nessa hora o público agitou muito claro. Mas, o Bandanos não soa como Suicidal Tendencies e sim segue uma linha parecida com o Accüsed e Cryptic Slaughter, girando entre o Hardcore e o Thrash, que no final quase tudo soa como Crossover. Foi um pouco mais de meia hora que valeu a pena.

Extreme Noise Terror

    Um tempo um pouco maior e logo mais entraria o Extreme Noise Terror e muita gente ainda adentrava o Inferno, que por ser quente, combina com o nome. O legal é que na entrada do Inferno, em frente ao caixa há um bebedor de água para quem não gosta de beber e não quer gastar com água no bar e muita gente não sabia disso.

    Chega a hora e o sexteto inglês surge no palco em sua segunda vinda ao Brasil, pois a primeira foi em 2010 no mesmo local, só que daquela vez, o vocalista Phil Vane estava na banda, mas Phil veio a falecer em 2011, o que muitos consideraram uma das grandes perdas dentro da música extrema. Mas, como o show tem que continuar e a história de 27 anos do Extreme Noise Terror está parecendo longe de terminar, e no lugar de Phil contaram com Roman, do Mind da Alemanha, e contaram também com a colaboração do baterista Barney do Raw Noise.

    Eles abrem o show logo com Deceived do álbum A Holocaust In Your Head de 1989 e emendam os hinos Work For Never e We The Helpless, mais do que clássicos da banda e ambos do álbum Retro-Bution lançado cinco anos depois. A banda é de falar pouco claro, eventualmente com um humor e discursos típicos do som extremo de uma banda que curte mais algazarra e não tem letras focando o Black Metal por exemplo, onde os artistas não são de sorrir e agradecer o público.

    Como o Extreme Noise Terror já tinha tocado aqui e sabia como era o público brasileiro, os músicos sabiam muito bem o que fazer e o entrosamento entre os seis e o público foi o esperado. Claro que as rodas no meio do salão, os moshes e um ou outro subindo no palco para cantar com os vocalistas ou simplesmente pular de volta no meio de todos, era o esperado. E pelo que vi, isso não deu problema para ninguém durante o show. Nada de brigas ou dos músicos reclamando que a plateia estava incontrolável. Aliás, nem reclamavam que o som podia estar um pouco embolado, sem retorno ou coisa parecida. Eles subiram e fizeram acontecer.

    O vocalista Dean Jones havia anunciado que tocariam músicas do split com Chaos U.K,  lançado em 1986, e logo tascam Show us You Care gravada neste álbum, emendando com “Religion Is Fear”, “Lame Brain”, “Raping The Earth” e “Human Herror”. Sim, Human Herror com H em “error” mesmo. Por sinal, essa música também é do split citado acima. Dean dava uma pausa pedindo mais cerveja e até arriscou um pedido em português, com aquele sotaque de gringo saindo algo como “Mais cerveza por favore”.

    E o show continua com “Think About It”, “Bulshit Propaganda”, “Third World Genocide ( By Arms Trade)”, e muito delas com os riffs iniciais inconfundíveis e clássicos, que injeta ânimo nos fãs. De novo, dos idos de 1986 surge Fucked Up System e System Shit. A banda focou o início da carreira, tocando poucas músicas da fase mais atual, e encerram o set com Screaming Fucking Mayhem, do álbum Law Of Retaliation lançado em 2009.

    A banda deu um tempinho apenas para uma volta ao palco e encerrar o show para o encore, também conhecido como bis e mandam Pray To Be Saved, do álbum Phonophobia, de 1991, que foi relançado há pouco tempo com nova masterização, deixando a podreira um pouco mais clara. De fato não sei o termo técnico, mas o cd está um pouco mais cristalino dentro do que pede o som e a história da banda.

    Nessa hora eu estava meio perdido e não sei se eles emendaram Borstal Breakout, cover da banda Sham 69 ou se acabaram pulando devido ao cansaço, mas estava no set list. A banda veio do hemisfério Norte onde é inverno para cair num país tropical em pleno verão e isso acaba pesando no organismo do artista. Mas, nem por isso o povo reclamou ou notou que o show foi “incompleto” pelo contrário, o público saiu muito satisfeito, feliz e até alguns ficaram impressionados.

    Alguns que não eram tão fãs da banda curtiram o som também, como foi o meu caso, pois um riff clássico de uma banda, seja ela qual for acaba fazendo o fã prestar atenção na banda e se sentir feliz. De fato foi uma noite proveitosa e o show terminou cedo para quem queria ou precisava voltar cedo para casa, seja para dormir e trabalhar ou estudar no dia seguinte, ou para ficar em casa mesmo.

    Os que queriam passear ficaram pela Augusta e centro de São Paulo mesmo ou foram para outros locais, mas penso que para onde tenham ido a noite tenha sido agradável e um complemento do show. E que show!!! Boa, Extreme Noise Terror!!! Quando voltarem ao Brasil serão bem recebidos de novo.


Por Hamilton Tadeu
Fotos: Erika Beganskas e Fabbinho
Fevereiro/2012

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