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Roger Waters - The Wall Live
1º de Abril de 2012 no Estádio do Morumbi em São Paulo/SPQuando foi anunciado em novembro que a turnê de uma das obras-primas do Pink Floyd, The Wall, capitaneada por Roger Waters viria no Brasil, eu e os milhares de fãs brasileiros ficamos extasiados só por saber que veríamos sua encenação diante de nossos olhos. E esse êxtase incontido foi aumentando mais e mais com a proximidade de assistir a mais famosa Ópera Rock do mundo com tudo que tínhamos direito. Na América do Sul, o espetáculo foi ainda maior que em outras partes do mundo, pois os shows aconteceram pela primeira vez na turnê em estádios em um muro de 137 metros de largura e 11 metros de altura.
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Mas, o que é a obra The Wall?
Bem, os embriões da alienação, guerra, rejeição, raiva, tristeza, introspecção foram plantados no inigualável The Dark Side Of The Moon, apareceram nos álbuns seguintes, Wish You Where Here, e com mais força ainda no Animals, inclusive o título de sua turnê era In The Flesh, e foi durante essa turnê que Roger Waters começou a traçar os planos de The Wall ( aliás, esse foi o título dado a primeira música do então vindouro novo disco ). E quando finalmente em 1979, Roger Waters compôs e lançou o álbum duplo The Wall, quase que autobiográfico ( pois, ele perdeu o pai na guerra e o seu personagem era demasiadamente protegido pela mãe e oprimido pelos seus professores e vê como a única solução a construção de um muro em sua consciência que o separasse de todos ) foi um sucesso gigantesco que se tornou um filme em 1982.
Esses temas foram levados ao extremo em um disco que serviu de base para muitas gerações, pois, todos já sofremos em nossas vidas e já quisemos que um muro nos protegesse de todos os problemas do cotidiano. Com este principio, o Pink Floyd ( ou Waters ) decidiu levar todo o conceito para o palco e a tour teve apenas alguns shows, porque a produção nos anos 80 ficou muito cara e a banda gastou tudo que ganhou chegando quase a quebrar. Reza a lenda, que o único que ganhou dinheiro foi o tecladista Rick Wight, demitido da banda pelo então egocêntrico Roger Waters e contratado como músico de apoio ( era o tempo das divergências dentro do Pink Floyd, que culminaram na saída de Roger Waters e o posterior domínio de David Guilmour com a famosa briga judicial pelos direitos do nome da banda ). Em 1989, com a queda do muro de Berlim na Alemanha um ano antes, Roger Waters realizou uma nova apresentação de sua maior Ópera Rock para meio milhão de pessoas na Potsdamer Platz que resultou em um cd, e depois um DVD, conhecido como The Wall Live In Berlin.
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The Wall Live
Porém, mesmo sendo um show revolucionário nos anos 80, somente agora com a tecnologia que temos hoje de som, pirotecnia e luz foi possível realizar o show de The Wall da forma que este senhor de 67 anos desejava fazer, afinal, neste marcante e fabuloso espetáculo foram utilizados 172 alto falantes ( incluindo surrounds e monitores ), que deram uma dimensão maior ao show, além de 82 Moving Lights e 23 projetores e muitos outros equipamentos, que garantiram uma emoção quase indescritível, mas, que vou tentar contar nas próximas linhas desta resenha.
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O Show
Marcado para começar as 19:30, um pequeno atraso ocorreu, provavelmente para que os mais de 70.000 presentes pudessem se acomodar dentro do Morumbi e às 19:45, as luzes são apagadas e homens vestidos de preto surgem com um boneco e fazem uma execução do mesmo simbolizando um regime totalitário “sumindo” com um dissidente e ao fundo, a música I’m Spartacus e os toques fúnebres presentes em When The Tiger Brokes Free fazem a introdução do show.
Com vários figurantes no palco com os estandartes dos martelos cruzados, o som ( aliás, que som soberbo, nunca vi algo assim, seja em casa de shows ou em estádio ) surge em um espetáculo de luzes e fogos de artifícios perfeitos para que a primeira música de The Wall, In The Flesh? fosse tocada. Quando Roger Waters surge no palco, ele é ovacionado pelos fãs. Assim que coloca seu sobretudo de um ditador militar, Roger começou a interpretar Pink, personagem chave do disco e canta esta música com toda a agressividade que ela pede. Nesse momento um avião atravessa o Morumbi, com uma sonorização fantástica e bate no muro, confesso que não vi isso acontecendo, pois fiquei procurando o avião e quando voltei meu olhar novamente para o centro do muro os fogos de artifício já tomavam conta e nos mantinham enfeitiçados. Pensei comigo: esse show será o melhor da minha vida!!!
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Roger Waters saúda a plateia de braços erguidos para o alto e sem delongas tocam a emocionante The Thin Ice que continua o show brilhantemente até dar lugar a Another Brick In The Wall Part I e revelo, a alegria tomava conta de cada parte do meu corpo e tenho certeza que todos os presentes também se sentiam assim. Detalhe, nos perfeitos toques no baixo que Roger Waters fez com seu Fender Jazz Bass, o muro exibiu a imagem de vários “gente boa” da história do nosso planeta que foram responsáveis pela morte de milhares de jovens em guerras e atentados, vi isso e falei para as pessoas próximas a mim: "olha.. todos esses caras devem estar queimando no inferno ( bem... os mortos )". No final, ao som forte do helicóptero, que fez muitos olharam para o céu ver onde poderia estar a aeronave que faz a ligação para a música seguinte, que traria o primeiro convidado aparecer no palco: o boneco gigante do professor que caracteriza The Happiest Days Of Our Lives e Roger tocando no seu baixo mostrava que estava bastante empolgado e contente ao olhar a multidão na sua frente.
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Mother
Para Mother, Roger Waters avisa que vai tocá-la em uma versão mais acústica, fato que em 1980 no Earls Court em Londres resultou em uma discussão com David Guilmour, que queria a versão elétrica. Bem... tivemos a versão acústica apresentada com o imenso boneco da mãe de Pink atrás do muro olhando para seu filho no centro do palco ficou excepcionalmente emocionante. No momento que Roger canta o verso “Mother, Should I Trust The Goverment?”, duas mensagens são escritas no telão: “No Fucking Way” e o nosso popular “Nem fodendo”, é Waters sabe dar o recado e criticar com facilidade quando é preciso. Enquanto essas canções são tocadas o muro estava cada vez mais fechado, fato que foi apontado pelos críticos da época como um suicídio do Pink Floyd na tour em 1980, pois separar a banda do público não iria dar certo. Bem deu certo, tornou-se histórico e fantástico. Mais ao final de Mother aparece escrito no muro "The Big Mother Is Watching You", frase interpretativa, mas, certamente, nossas mães sempre estão nos olhando...
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Intervalo
Enquanto se preparavam para o retorno, que demorou cerca de 25 minutos, Roger Waters preparou-nos outra surpresa: a ficha e uma foto de centenas de pessoas que morreram em alguma guerra, recente ou antiga, em atentados terroristas, além dos que foram mortos por não concordarem com um governo totalitário ou por "acidente" como Jean Charles e Chico Mendes ( é Roger está muito bem informado sobre o que acontece em todo o mundo ). Entre tantos rostos, o do seu pai Eric Fletcher Waters, também foi exibido, enfim, ele fez de um momento que seria destinado para que os fãs comentassem do que haviam visto até aí, tornar-se uma reflexão no que um líder governamental ou um extremista político podem fazer com as vidas de muitos jovens, e a lição que ficou em minha mente foi apenas uma: precisamos viver em paz uns com os outros, sem guerras, sem preconceitos, sem diferenças, enfim, sem muros.
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Segundo Ato
Com nenhuma fresta no muro, os dedilhados no violão de Hey You abrem o segundo e ato final do show. E com esta impactante música conquistando os milhares de fãs, que se manifestaram cantando seus versos felizes da vida e viajaram em seu inspiradíssimo solo de guitarra realizado com muita categoria por Dave Kilmister, que conseguiu passar o mesmo grau que sentimos nos originais de David Guilmour, é.... a eletricidade estavam de volta em nossas veias. Em Is There Anybody There? Roger Waters vem à frente do muro e simulou que estivesse querendo colocá-lo abaixo dando murros na tentativa em vão de derrubá-lo para então sair para o backstage, e enquanto isso sua excelente banda ia ganhando tempo na parte instrumental para a surpreendente surpresa seguinte...
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No apartamento
Uma parte do muro foi aberta transformando-se em um apartamento com uma cadeira e uma TV LCD trouxe Pink/Roger Waters exatamente na frente de onde eu me encontrava e ele começou a cantar sentado nessa cadeira uma das mais sintomáticas músicas do disco The Wall: Nobody Home, que começa mais melancólica e termina em uma agressividade enorme, afinal, Pink encontra-se em desespero pelo seu isolamento do mundo. Depois foi a vez de Vera em execução soberba abrir o caminho para a toda a emoção presente em Bring The Boys Back Home com Roger Waters no centro do palco e com o muro/telão exibindo imagens de mortos em batalhas de várias guerras. Pelo menos, as imagens de soldados retornando para casa com a reação positiva dos familiares, nos fez novamente pensar nas tristezas de uma guerra em que ninguém ganha nada, enfim, fora criado um clima mais sentimental e intimista. E os presentes cantaram com Roger Waters com o sentimento vindo do fundo dos seus corações.
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E com o final de Bring The Boys Back Home chegava a hora de um outro sucesso do disco com Comfortably Numb e a vibração causada com Robbie Wyckoff cantando muito bem seus trechos e com Dave Kilmister tocando sua guitarra com precisão, ambos no alto do muro e dividindo as atenções com Roger Waters na base, foi claro sem sombra de dúvidas, um dos pontos altos do show. E o ex-Pink Floyd andava de um lado para o outro do palco aumentando ainda mais o frissom dos fãs graças ao seu enorme carisma a cada vez que ele erguia seus braços para o alto ( e dava para ver ele também sorrindo de felicidade ). Quem é fã do Floyd, certamente lembrou de David Guilmour nessa hora, afinal, era ele quem dividia os vocais com Waters nessa música, mas, até que Robbie cumpriu muito bem esse papel e Dave também merece seu destaque, pois solou sua guitarra com a devida perícia que a música exige. Encerrando esta clássica canção tivemos um efeito visual puramente lisérgico com Roger Waters socando o muro e os projetores criando imagens que foram a mais pura viagem Progressiva.
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Roger nos pergunta se estamos paranoicos, recebe um gigantesco "sim" como resposta da plateia e todos estandartes do regime dos martelos cruzados foram exibidos no palco e a apresentação continua com a primorosa Run Like Hell. Interagindo precisamente com o que assistiam os fãs cruzam seus os braços como se estivessem enfeitiçados com a magia que estávamos presenciando neste domingo primeiro de abril. A letra de Run Like Hell explica claramente até onde os delírios de um governo totalitarista podem chegar senão tiverem freios e o muro/telão mostrava imagens completamente eletrizantes, não dava nem para piscar!!!
Em Waiting For The Worms são exibidos muitos vermes caminhando pelas frestas do muro e Roger Waters canta seus versos com um megafone, tal qual como no disco The Wall, e as animações projetadas que exibem, entre muitas coisas, os martelos marchando como se fossem tropas militares partindo para a guerra e expõem o que a loucura de um líder é capaz de fazer com seu povo em mais outro momento implacavelmente único do espetáculo com Waters discursando seus versos à exaustão. Lembro-me de cantar os "Waiting" cada vez que era necessário.
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O Julgamento Final
Com o palco à frente do muro que servira as anteriores sendo abaixado, a curta e emocionante Stop antecede o ápice do espetáculo com a execução de The Trials e no muro/telão novamente as animações já conhecidas desde o filme The Wall entretêm os fãs até que Roger Waters venha ao centro do palco para dar continuidade à viajante canção. O muro/telão interagia com Waters e exibia um flash-back de tudo que afligiu o personagem com os fãs maciçamente cantando seus versos juntos.
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Com Pink sendo condenado, mais uma vez o verso Tear Down The Wall ( Derrubem o Muro ) foi repetidamente cantado por todos e fez Roger Waters erguer seus braços para o alto, marcando assim, o instante em que o muro seria novamente derrubado em uma cena inesquecível, que caracteriza a vitória na mente do personagem Pink dos mais fracos ante aos opressores poderosos. Foi uma cena que ficará na memória dos 70.000 presentes ( e vale lembrar, muitos na frente levaram um pedaço dos "tijolos do muro" para casa como lembrança, após sua queda ).
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Faltava ainda uma música, que é cantada sobre os destroços do muro, mas, com uma leva de aplausos incessantes e um "Olê...Olê..Olê...Roger...Roger!!!" ecoando por todo o Morumbi, não tinha como não se contagiar cada um dos presentes, inclusive o vocalista. Ele e sua banda aumentaram a felicidade e até improvisaram junto com os fãs cantando alguns "Olê...Olê...Olê...", fato que dimensionou ainda mais a energia positiva vivida neste show. Após a execução em ritmo bastante calmo e suave de Outside The Wall Roger Waters fez questão de apresentar cada um dos músicos que fazem parte de sua banda, e eles foram saindo um a um para o encerramento do mais soberano espetáculo de Rock já visto no Brasil.
Realmente The Wall Live não é um show de Rock apenas, é uma viagem extrassensorial através de luz, imagem, pirotecnias, som e música para dentro de nós mesmos. É uma forma devidamente atualizada para que cada um respeite mais seus semelhantes e lute contra as atrocidades que sabemos que acontecem no mundo, para quem sabe, um dia possamos viver em paz e harmonia uns com os outros. Todos que conversei na saída estavam maravilhados e muito satisfeitos com a imponência do espetáculo de Roger Waters. Agora posso afirmar: foi o melhor show que vi na minha vida!!! Que me perdoem os sensacionais shows de grandes nomes como AC/DC, Rolling Stones, U2, KISS, Rush, não é para menos que onde The Wall Live passa torna-se o maior e mais poderoso show que aconteceu. Desejo que Roger Waters - que afirmou que enquanto sua saúde permitir continuará a se apresentar pelo mundo, e em especial pela América do Sul - nos brinde com toda a grandiosidade de seus espetáculos mais vezes. Valeu Roger Waters por reviver um dos mais importantes discos do Pink Floyd e uma das maiores obras já gravadas em todos os tempos para nós brasileiros.
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Segunda Parte |
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