Meshuggah
Abertura: Third Ear
Sábado, 16 de novembro de 2013
no Carioca Club em São Paulo/SP

    Quem iria a um show só porque gostou do nome da banda? Eu fui. Na ida aproveitando para conversar com amigos, descubro que irei assistir uma banda de Djent Metal ( é uma vertente do Metal Progressivo que começa no início de 2000 ), muito esperada pelos fãs do gênero, parece que iriam tocar por aqui no ano de 1998, mas não aconteceu, durante as conversas gosto ainda mais da banda.

 

Third Ear

    Chegando ao Carioca Club às 18h50, sou recepcionada pela primeira música da banda Third Ear, de Curitiba/PR formada músicos de várias bandas em 2012, a saber André Sant' Anna nos vocais, Samuel Ebel e André Luis nas guitarras, Anderson Ferret no baixo e Ravi na bateria, fazem um som Progressivo/Djent e mostram seu trabalho com o EP A New Circle lançado dia 21 de janeiro de 2013, já temos algumas pessoas assistindo a banda, muito atenciosos ouvindo a The Altruist e fico impressionada com a energia dos músicos, para se ter uma ideia, o baixista Anderson Ferret e seu baixo de cinco cordas toca e vai até o chão mostrando toda sua elasticidade corporal enquanto toca, o guitarrista Samuel Ebel também não fica atrás. Ao final da música muitas palmas.

    A segunda música que eles tocam do EP é Off the Grid, os músicos sossegam um pouquinho, mas o peso e a agressividade do vocal aumentam, a pista escuta atenta, os músicos são irrepreensíveis, desde vocal, bateria, tudo muito técnico e sem ser chato. O vocalista André Sant' Anna me lembra o Tico Santa Cruz... Mas, com a vantagem de cantar muito e a pista vai se animando cada vez mais, agora se escuta alguns gritos de 'uouu' e também todos querem conferir a banda bem de perto, muitas palmas sempre, eles merecem.

   Eles são conhecidos de algumas pessoas da plateia, esta é a I'm Leaving Now, muito pesada, mas, ainda sim animada. Samuel Ebel tem um visual que lembra qualquer outro estilo musical, menos Metal, porém, compensa com muita empolgação no palco, tanto que lá está ele tocando sua guitarra de sete cordas até o chão igual ao Anderson Ferret, que gira e pula muito pelo palco, sendo que a galera recebe bem essa.

    O vocalista André Sant' Anna agita: "vamos lá São Paulo!" E todos bangueiam com eles em resposta. André Sant' Anna fala que é muito especial tocar aqui hoje e ser a banda de abertura para o Meshuggah, também comenta sobre o novo EP, uma pequena reunião dos músicos no palco enquanto André Sant' Anna agradece, ainda comenta sobre o site da banda e mais algumas coisas que eu não entendo, porque fica meio enrolado o som da voz limpa no microfone.



    O guitarrista puxa as palmas para a Det är En Egendomlig Och Fascinerande Kraft e nós acompanhamos. O baixista mais animado da noite agita tanto que solta o plug do baixo... E não parou de animar mesmo enquanto arrumava o som do instrumento, já nosso guitarrista show André Sant' Anna mostra um 'bangueado' apenas com a franja... Exótico no mínimo. O outro guitarrista André Luis é mais na manha, fica por ali, 'banguea' de leve vai ate o batera e só.

    André Sant' Anna, o vocalista 'mais loko que o batmá', se joga do palco no meio do povo ( mais para um mini stage diving ) e não para de cantar em nenhum momento, o vocal limpo dele sai um pouco baixo, o palco estava sem adornos dessa banda, mas, com muito trabalho nas luzes e pouca fumaça. O baixista Anderson Ferret, não satisfeito, toca o 'foda-se' deixando o baixo para um lado e se jogando na galera... Isso no meio da música! Além de sobreviver volta pedindo palmas, eu estou impressionada.

    Ao final do show eles agradecem e batemos palmas até fecharem totalmente as cortinas. Às 19h20 acaba o show, mas volta e meia, quando aparece algum dos músicos na cortina ou mesmo quando eles descem do palco, sempre tem uma chuva de palmas, se você procura técnica, animação e loucuras no palco esses são os caras.

Meshuggah

    A ansiedade é palpável essa noite e às 19h40, os roadies começam a testar os instrumentos por trás das cortinas, o que já é o suficiente para o povo se amontoar na frente do palco e ir gritando de tempos em tempos Meshuggah!!!Meshuggah!!!

    E às 20h em ponto abrem as cortinas, eu estou de frente para o palco e no meio da galera gritando e cada vez que um músico assume a sua posição o público enlouquece mais e mais, eles sóbrios e nós loucos. Os músicos suecos trabalham com músicas complexas desde 1987 e seu guitarrista Fredrik Thordendal quem deu a alcunha de Djent ao som que produzia na guitarra, um fã me avisa que eram esperados no Brasil há muito tempo e isso fica claro logo no primeiro riff de Swarm do ultimo álbum Koloss de 2012, o povo faz roda e 'bangueados' violentos, eu fico impressionada com os efeitos usados nas guitarras, também me pergunto que bateria é essa 'chessus!' Todos juntos no "hey, hey", minha primeira experiência com Djent Metal é suprema.

    O porém, fica pelo exagero de fumaça que é jogado no palco, não dá para ver nada... E os fotógrafos vão a loucura pois não estavam conseguindo fotografar Jens Kidman ( vocais ), Fredrik Thordendal ( guitarra solo/vocal ), Mårten Hagström ( guitarra base/vocal ), Dick Lövgren ( baixo ) e Tomas Haake ( bateria/narração ), corretamente.

    A música Combustion ( presente no obZen de 2008 ) faz uma roda que toma quase metade da pista, daquelas que não sobra gente parada e não há lugar para quem está escrevendo show, essa foi a minha deixa e correr para as colinas do camarote. Os músicos são impressionantes. Com a luz apenas em Fredrik Thordendal, para sua intro de Rational Gaze ( do cd Nothing de 2002 ) no início da música já se mostra mais uma roda daquelas, aqui em cima a galera canta junto, pista e mezanino fazem "hey hey", gostei muito dos riffs, lá embaixo toda uma pista apaixonada.

    A obZen, que intitula o cd é sensacional, a vontade é de jogar bloco e caneta para o alto e 'banguear' de corpo inteiro como o Jens Kidman, que ainda arrisca vir para frente do palco até as caixas de retorno, mas, o resto da banda continua firme mais para trás do palco. Ele até faz umas 'dancinhas mais zuadas' com os braços e diz um "obrigado Brasil", e pergunta "se estamos no Brasil". Depois de nos ouvir gritar diz que não pode nos ouvir, mas nem termina de falar e já estão gritando de volta, os músicos animados vem um pouco mais para frente do palco.

    Todos acalmam para escutar a Lethargica, mais uma do cd obZen e como de praxe sacam suas câmeras, volta e meia acendem a luz da plateia e dessa vez o Jens Kidman vem até a beira do palco, para nos ver melhor, é uma música mais lenta e muito bem trabalhada, tem uma galera no canto que faz roda ( ok... tá um pouco mais como empurra, empurra ) independente do ritmo.

    A próxima deixa todas as mãos da casa para o alto, essa é a Do Not Look Down ( do Koloss ), que começa com os melhores riffs da noite. A casa está cheia, um jogo de luzes tão complexas quanto as músicas dos caras ao fundo bandeiras com o tema do cd Koloss, o 'fumaceiro' continua firme e forte. Nos intervalos, as luzes sempre se apagam e sem tempo para respirar, eles trazem a The Hurt That Finds You First ( outra do Koloss ), uma verdadeira destruição total e quanto mais rápido a música, já sabem, maior e mais rápida a roda. Os músicos impecáveis e intricados, uns focos de luz azul passeiam pela casa, lindo de se ver.

    A I Am Colossus do último álbum ( se tem Colossus no nome vale a pena ser ouvido ), é um primor, uma parte da galera está em transe, só movem a cabeça suavemente com os olhos fixos no palco o tempo inteiro, isso sempre acontece quando é a primeira vez da banda no país. Um "thank you" jogado rapidamente ao palco por Jens Kidman, junto com um "Brasil é um prazer estar aqui essa noite e como vocês estão? estão bem?" termina dizendo que vai agitar um pouco as coisas por aqui.

    Desta maneira, mandam a Bleed ( outra do obZen ) e o nosso "hey, hey" é tão alto que aproxima Jens Kidman ainda mais para perto de nós, e percebi também o foco de luz nos dedilhados Fredrik Thordendal e sua guitarra de oito cordas durante essa música que é querida do público, pois é comemorada do início ao fim, lá embaixo vejo air guitar, air drums, air toda banda. Nesse momento só espero que esse mezanino aguente todos 'bangueando' e pulando juntos. Por mais incrível que pareça jogam ainda mais fumaça no palco... Oh não, mal consigo ver os músicos!

  Na Demiurge ( do Koloss ), eis que surge um 'tablet' de 10 polegadas no meio da plateia ( tirar fotos com tablet vale o risco de alguém esbarrar e cair? ), o povo empolgado sempre quer mais e mais, também contribuem com muitas palmas. Essa é mais uma pauleira e Jens Kidman só gira o dedo pedindo mais roda... Como se em alguma música não houvesse roda...

    Impossível não banguear de corpo inteiro, mais solos do nosso guitarrista iluminado Fredrik Thordendal, o camarote é mais fresquinho que a pista e já está muito quente. New Millennium Cyanide Christ ( do álbum Chaosphere de 1998 ), tem um peso grande e um vocal mais agressivo, a minha favorita da noite! Tem sempre um abençoado pra gritar "vai curitiaaaa...".

    Mais uma vez todas as luzes se apagam e o foco fica em Fredrik Thordendal para a Dancers To A Discordant System ( mais uma do obZen de 2008 ) com todos acompanhando esse solo cantando e aplaudindo bastante. Essa o pessoal curte de boa, mas não a eterna roda perto do palco, que ignora os tempos das músicas, só o rodar importa, com todo esse entusiasmo ganhamos um 'joinha' de Fredrik Thordendal.

    Antes de começar o encore, vários fãs gritam Future Breed Machine sem parar e quando acendem as luzes do palco o povo, mais uma vez grita "Meshuggah, Meshuggah!!!", depois voltam a insistir na Future Breed Machine, Jens Kidman volta com um "ok Brasil, São Paulo", então olha para os companheiros e pergunta o que querem a galera do fundo e continuamos no coro da Future Breed Machine.

     Ele tenta argumentar dizendo que tem outras músicas e que não tem ideia do que vai tocar... ( sei e esse set list aí no palco? ) mas, ele se reúne com os músicos e finalmente volta com a Future Breed Machine ( gravada no Destroy Erase Improve de 1995 ) para nós, cheguei a espiar o set list dos caras e lá estava escrito para última música, a Catch 33, sério não lembro de uma banda que tenha mudado o set só por causa dos pedidos, mas minha memória não é das melhores ;).

    É o caos reinando em cima e embaixo do palco. Gritada, aplaudida ou pulada, não importa, todos sem exceção estão extasiados, no palco músicos satisfeitos. Muitas palmas no ritmo da música, Jens Kidman ao fim diz "muito obrigado Brasil, por virem essa noite e se cuidem galera".

    Bem, não estamos no Facebook, mas ganhamos vários 'joinhas' de todos os músicos, eles também batem palmas para nós e vem até a frente do palco para fazer a alegria do povo, nos agradecem e saem, vem os 'roadies' e jogam algumas coisas do palco, tem um que tenta jogar o set list para nós, mas, sempre que ele joga o set volta para ele ( nem o set queria que o show acabasse... ) e então, às 21h25 fecham as cortinas e eu saio.

    Lá fora uma grata surpresa, os músicos João Kombi ( guitarra/vocal ) e Barata ( bateria ) da banda Test está tocando na chuva fina, várias pessoas estão em volta prestigiando a garra dos caras. Uma noite memorável, conheci mais uma vertente do Metal, vi músicos se jogando do palco durante a música, uma roda que nunca acaba, um trabalho magnífico de luz e música até de baixo d’água!

Texto: Erika Alves de Almeida
Fotos: Erika Beganskas
Agradecimentos à Marcos Paulo da Dark Dimensions
pela atenção e credenciamento.
Janeiro/2014

Set List Meshuggah

1 - Swarm
2 - Combustion
3 - Rational Gaze
4 - obZen
5 - Lethargica
6 - Do Not Look Down
7 - The Hurt that Finds You First
8 - I Am Colossus
9 - Bleed
10 - Demiurge
11 - New Millennium Cyanide Christ
12 - Dancers To A Discordant System
Encore:
13 - Future Breed Machine

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