Deep Purple - Now What? South America Tour 2014
Abertura: Plexiheads
Terça, 11 de Novembro de 2014
no Espaço das Américas em São Paulo/SP

    Quem viveu durante os incríveis anos 80 lembra da completa escassez de shows internacionais que vivíamos naquela época, com raríssimas passagens de bandas por aqui e que graças à Deus que isso foi começando a mudar com shows de grandes bandas, que começavam a entrar em decadência e nosso país foi se firmando na rota dos grandes shows internacionais. E atualmente chega a ser raríssimo alguma turnê que não passe por terras brasileiras, onde temos às vezes três atrações internacionais de grande quilate no mesmo dia em São Paulo, e isso é muito bom para a cultura musical do país.

     E quando a passagem por aqui é de uma das maiores lendas incontestáveis do Heavy/Hard Rock como o Deep Purple, que junto com Black Sabath, Uriah Heep e Led Zeppelin solidificaram o Rock por todo o mundo e ajudaram na criação do Heavy Metal, claro que a expectativa foi bastante grande e a procura pelos ingressos enorme, e várias gerações de fãs estiveram nos dois dias que eles se apresentaram na capital paulista para conferir seus shows, mas a nossa reportagem centrou-se no primeiro dia. 

    Com mais de 100 milhões de álbuns vendidos em todo o planeta, os ingleses do Deep Purple retornaram ao Brasil pela décima primeira vez para a turnê do novo álbum Now What?, o primeiro lançamento de estúdio desde 2005 e que é um excelente disco, diga-se de passagem. O line-up atual da banda, a Mk VIII, é composta por Don Airey nos teclados, Ian Gillan nos vocais, Roger Glover no baixo, Ian Paice na bateria e Steve Morse na guitarra, formação esta que está junta desde 2002 e trouxe uma estabilidade nunca antes mantida na história da banda, mas, antes da apresentação do Deep Purple finalmente podemos assistir uma das grandes surpresas do Rock Nacional, a banda Plexiheads, que foi responsável pelo primeiro show do dia no Espaço das Américas.

 

Plexiheads

     A banda paulista que conheci no lançamento do CD Rock and Road ( leia resenha ) do Ivan Busic, já que o guitarrista Luiz Sacoman participa deste álbum. E quando ouvi o disco do Plexiheads constatei que estava diante de um Hard Rock com uma pegada bem setentista, realmente é uma das maiores virtudes, e embora esteja aumentando o número de bandas que estão trilhando o estilo no país, ainda não existem grandes bandas de qualidade como o Plexiheads pelo Brasil.

    Além de Luiz Sacoman nos vocais e guitarra, a banda é formada por Fred Berlowitz na guitarra e backing vocals, que apesar de ter gravado o cd foi convidado pela banda para integrar este show, Biel Astolfi na bateria ( substituindo o Athos Costa, que está se recuperando de um problema de saúde ) e Renato Sapiro no baixo e backing vocals.

 

    Divulgando seu álbum de estreia, o Let Me Show You Something, o Plexiheads começa com uma de suas grandes canções, a The Voice Of Shanty Town, seguida pela título Let Me Show You Something e como era bom ver uma banda deste nível tocando em uma casa grande como o Espaço das Américas, que começava a ganhar público naquela terça feira.

    You Look So Good, I Feel So Bad foi a seguinte e vendo a banda com no Espaço das Américas deu para reparar que os músicos tinham uma boa presença bastante coesa, que conquistou os fãs do Deep Purple. E comprovando isso, eles tocaram a minha preferida, que foi a Friends Like Ghosts, muito bem executada e esta é sem dúvidas uma das melhores do disco, que funcionou muito bem ao vivo.

     Após a ótima If She Did, houve um pequeno solo do baterista Biel Astolfi, que apesar de ter sido muito bom, a banda poderia ter tocado mais uma música do excelente disco de estreia Let Me Show You Something, mas aí... é apenas uma opinião pessoal de um fã.

    E já na parte final desta curta, mas cheia de qualidades, apresentação do Plexiheads, chegava a hora de trazer um convidado da banda, o excelente vocalista Nando Fernandes. Então executam duas canções, a primeira foi a King's Daughter do Plexiheads e logo após, finalizaram com o grande hit do Cavalo Vapor com a música Sem Escalas.

    O grande destaque mesmo ficou para depois, quando normalmente alguma banda de abertura encerra seu show, quando o público gosta aplaude, mas com moderação, mas no caso do Plexiheads, eles foram muito bem aplaudidos por todos e saíram ovacionados, mostrando o 'feedback' de uma banda talentosa, que certamente não muitos conheciam, mas que conseguiu um número maior de fãs após sua apresentação.

 Set List do Plexiheads

1 - The Voice Of A Shanty Town
2 - Let Me Show You Something
3 - You Look So Good, I Feel So Bad
4 - Friends Like Ghosts
5 - If She Did
6 - King's Daughter
7 - Sem Escalas

Deep Purple

    Chegava a hora finalmente de uma das maiores bandas de todos os tempos  voltarem a se apresentar na capital paulista, desde sua última passagem no extinto e saudoso Via Funchal e conversando com um jornalista da imprensa de um site amigo do Rock On Stage, o site paulistano RockSP, devido a idade dos membros do Deep Purple, ele simulou uma conversa de um dos netos de quaisquer um dos membros da banda, onde o garoto falaria: "não vejo você muito com seu avô.... o que ele faz?", aí o garoto pegaria um dos clássicos gravados pelo avô todo orgulhoso e responderia: "isso..." - exibindo um vídeo dos muitos shows do Deep Purple... e claro que a gargalhada foi geral...

     Todas as luzes do palco se tornam ou púrpuras ou azuis e de repente, tudo fica escuro ao som de Mars, The Bringer Of War de Gustav Holst, que traz a presença da banda no palco, que começa com a introdução conhecida de bateria feita por Ian Paice para logo de cara, o hino Highway Star do clássico e lendário Machine Head de 1972 ser tocado com toda sua potência e eletricidade, e eles a tocaram com fervor. Mas sendo franco, estava sendo bem diferente assistir a condução da música sem os teclados do saudoso John Lord, embora Don Airey esteja na banda há mais de dez anos e que solo foi aquele feito por Steve Morse nesta primeira música para aquecer os dedos....

    Eles foram aplaudidíssimos e sem pausas para conversar com a plateia emendaram o primeiro clássico do In Rock de 1970, com o Blues Rock pesadão de Into The Fire, com uma aquela pegada conhecida e adorada, que é recheada de belos riffs de guitarras absolutos feitos por Steve Morse. E não é que Ian Gillan berrou com vontade seu título, comprovando que sua voz vai muito bem... obrigado...

    Com uma introdução feita pelo 'cigano' Roger Glover no baixo e um solo de teclados sensacional de Don Airey marcou a introdução para outra canção do In Rock, aliás, depois disso, o baixo se torna mais pesado e devidamente acompanhado de Ian Paice martelando sua bateria trouxeram o Heavy Rock de Hard Loving Man para alegria dos fãs mais antigos ( embora, quem é novo se não conhecer estes dois discos merece um puxão de orelha ). E a condução pesada feita pela Mk VIII foi digna da magia dos shows ao vivo dos anos 70, com riffs eletrizantes e muitos improvisos de teclados, bateria e guitarra.

    Na improvisação e melodia que estava imperando no show, eis que surgiu Strange Kind Of Woman do álbum Fireball de 1971 com todas suas quebras de ritmos, que mostraram-se muito empolgantes em um mês com tantos shows progressivos, e embora o Deep Purple não seja nem de longe Progressivo, o ritmo dançante desta música contagiava bastante e ao final, Ian Gillan e Steve Morse realizam um duelo entre voz e guitarra próximo ao mesmo estilo que acontecia antigamente, só que com Ian Gillan e Richie Blackmore, e mesmo sem ter o mesmo potencial de antes, o vocalista ainda manda muito bem e possui experiência suficiente para tornar este momento muito interessante aos olhos de quem assistia.

    "Obrigado... adoramos o Brasil", disse Ian Gillan em sua primeira interação com o público e que banda era aquela ao vivo, Ian Paice martela a bateria como poucos, Roger Glover possui a maior presença de palco, Steve Morse praticamente um destaque técnico tocando muito e Ian Gillan, apenas com uma camiseta comum, e assim foi em toda turnê, aliás, Ian Gillan nunca foi de se impor pelo visual e sim por sua capacidade vocal, que ainda continua alta.


 

 

    O vocalista menciona que ali se iniciaria a segunda parte do show com a fantasmagórica Vincent Price do novo Now What?, onde Steve Morse abusa - no bom sentido - das cavalgadas e realiza um solo fantástico criando o perfeito clima sombrio junto aos teclados de Don Airey.

    Após sua execução Ian Gillan apresentou o nome da canção e avisou que a seguinte seria comandada por Steve Morse, que fez os magníficos solos da instrumental Contact Lost ( gravada no Bananas de 2003 ), onde toda sua técnica foi exposta, deixa claro porque ele já esteve em uma das tours do G3 de Joe Satriani e também como ele se sente em casa no Deep Purple. E Contact Lost foi acompanhada de perto por Don Airey, Ian Paice e Roger Glover, que a deixaram ainda mais bonita, mas depois foi a vez do guitarrista brilhar sozinho solando sua guitarra com muitos harmônicos.

    Com a banda inteira no palco, eles tocaram a nova Uncommon Man, que contou com um primoroso solo de teclados de Don Airey acompanhados de um repique de Ian Paice em seu momento de improviso até que Steve Morse começa a solar sua guitarra e Ian Gillan retorna para os versos finais. Entretanto, o guitarrista exibe sua técnica com The Well-Dressed Guitar ( do Rapture Of The Deep de 2005 ), que contou com um acompanhamento de luxo dos demais integrantes e o vocalista regendo as palmas dos fãs.

    Ian Gillan comenta das músicas que foram tocadas e faz o anúncio da seguinte, o 'Hardão' clássico de The Mule ( outra do Fireball ), onde tivemos um solo de teclados com o bumbo de Ian Paice estourando nos ouvidos e alguns gritos agudos do vocalista. E esse lindo solo é ligado com o eficiente e estrondoso solo de bateria de Ian Paice com as luzes apagadas, apenas com leds em várias cores nas baquetas criando um belo momento, e a técnica que vimos é no mínimo brutal. E a banda volta para terminar The Mule com os seus acordes implacáveis.

    Como no passado Ian Gillan grita o nome do baterista e um longo "Thank You" e então com uma introdução de teclados genial, pensei: nessa hora... fica difícil analisar qualquer banda que venha tocar em São Paulo depois de assistirmos um show dessa magnitude e Don Airey estava realizando a perfeita introdução de Lazy do Machine Head com direito a novas improvisações dos músicos e muito vigor a cada nota, até que o vocalista começa a cantar seus versos. Inclusive tivemos direito até a vermos um Ian Gillan na gaita e seu término no mais puro Blues. Esplêndido.

    Hell To Pay do novo álbum Now What? foi a seguinte com seu peso atual e claro, que lembra algum outro clássico da banda, afinal, o Deep Purple tem inúmeros e algumas músicas se parecem com uma ou outra, mas o bacana foi ver Ian Gillan, Roger Glover e Steve Morse  juntos ao centro do palco cantam o refrão "...gonna be hell, hell to pay..." e isso era mostrado no telão para alegria dos fãs, que também gritaram o refrão com a banda. E uma característica ficou clara no show, o Deep Purple voltou a aplicar longos improvisos durante as suas músicas, que bom... pois, isto estava faltando aos shows da banda.

    Ian Gillan anuncia o incrível Don Airey e então tivemos um longo solo de teclados, que teve momentos de música clássica, além, é claro de um trecho do nossa música Brasileirinho, que foi aplaudidíssima pela homenagem que o músico fez à plateia. Nessa momento, ele foi até o teclado Hammond para guiar seu solo em uma linha espacial até introduzir a conhecidíssima de Perfect Strangers do álbum de mesmo nome de 1984, que marcou a volta da Mk II  ( a mais clássica do Deep Purple, que tinha Richie Blackmore - Ian Paice - Ian Gillan - Jon Lord - Roger Glover ) depois de vários anos de hiato. E a excelente versão deste hino exibida nesta noite no Espaço das Américas causaram um frisson imenso nos presentes, que agitaram bastante e cantaram seus versos com força.

    Instantes depois, hora de outro clássico dos clássicos: Space Truckin' do Machine Head e até comentei com um amigo como a música parecia uma da banda U.F.O., mas ledo engano meu, onde penso na verdade se não é outro desejo de ver novamente a lenda por aqui. A execução de Space Truckin´ contou com Roger Glover indo mais à frente do palco disparando todas as pesadas notas de seu baixo e sua pegada Heavy Rock fez todos irem o máximo para frente do palco para agitar ( esqueça as cadeiras nesta hora ). 

    Steve Morse vem a frente, brinca com alguns riffs e inicia um dos mais conhecidos solos da história do Rock, que foi rapidamente acompanhado pelo baixista Roger Glover e pelo baterista Ian Paice. E tanto banda quanto plateia ficaram na mais perfeita sintonia durante Smoke On The Water do Machine Head, que foi cantada com muita categoria por Ian Gillan ( se ele guardou sua voz para esta música não sei dizer, mas que foi sensacional foi ... ) e era um mistura no telão com imagens de fogo e com os solos de Steve Morse, que promoveu uma verdadeira euforia na casa e finalizou a primeira parte do show com os fãs cantando o refrão com Ian Gillan ( atendendo um pedido dele, como se precisasse ). Isso realmente emociona, ainda mais quando o vocalista diz que somos inacreditáveis, magníficos e outras coisas.

    O bis veio rápido com todos ao palco com o Blues presente em Green Onions, cover de Booker T. & The MG's., que serviu de introdução para a música seguinte, que foi até surpresa pra mim, pois era o cover de Billy Joe ( gravado no álbum Shades Of Deep Purple de 1969 ) com Hush, canção com um 'punch' único, que fez todos agitarem novamente com a banda, aliás essa música também foi regravada pelo Gotthard. E mais uma vez tivemos suas doses de improvisos com Steve Morse e Don Airey brincando com seus instrumentos na forte base da cozinha de Roger Glover e Ian Paice, e meu amigo(a), isso era hipnotizante.

    Faltava ainda um solo individual para acontecer e chegou a vez de Roger Glover realizar seu solo perfeito para servir como entrada da última da noite, que só poderia ser Black Night ( lançada em single em 1970 ), cujo ritmo colocou todo mundo para cantar e dançar com o Deep Purple, especialmente os trechos de "ôôôôôôôôô ôôô ôôô". E mesmo em Black Night, o quinteto tocou uma versão alongada repleta de improvisos, com direito a um duelo entre fãs e Steve Morse nos solos de guitarra ( no passado quem fazia isso era o Ian Gillan com o Richie Blackmore, mas eles eram bastante jovens... ).

   Depois dos agradecimentos finais dos músicos fica uma certeza: sem dúvida assisti a um grande show, de uma banda que tem mais tempo de palco do que a maioria dos fãs presentes, mas com a felicidade de que ainda temos nomes como o Deep Purple realizando shows memoráveis, nomes que mantém a chama do Rock'n'Roll acesa e provam que Gene Simons estava errado quando disse que o estilo morreu. Que estes senhores que formam o Deep Purple possam manter esse pique incrível por muitos anos e nos brindarem com exuberantes apresentações como esta no Espaço das Américas.

Obs: Sonhar não custa mas queria que tivessem tocado a Burn, mesmo isso sendo impossível, já é uma canção dos tempos da Mk III e MK IV.

 

Texto: Marcos César de Almeida
Fotos: M. Rossi - Deep Purple e Rafael Dolinski - Plexiheads
Agradecimentos à Denise Catto Jóia da Midiorama e a Mercury Concerts pela atenção e credenciamento
Dezembro/2014

Set List do Deep Purple

1 - Highway Star
2 - Into Tthe Fire
3 - Hard Lovin' Man
4 - Strange Kind Of Woman
5 - Vincent Price
6 - Contact Lost
7 - Uncommon Man
8 - The Well-Dressed Guitar
9 - The Mule
10 - Lazy
11 - Hell To Pay
12 - Keyboard Solo
13 - Perfect Strangers
14 - Space Truckin'
15 - Smoke On The Water

Encore:
16 - Green Onions (Booker T. & The MG's cover)
17 - Hush (Billy Joe Royal cover)
18 - Bass Solo
19 - Black Night

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