Dream Theater - Along For The Ride Tour
Sábado, 4 de Outubro de 2014
no Espaço das Américas em São Paulo/SP
 

    De volta ao Brasil após dois anos, o Dream Theater trouxe até nós a sua nova turnê mundial, a Along For The Ride Tour, que foi realizada em sete capitais brasileiras ( Porto Alegre/RS, Curitiba/PR, São Paulo/SP, Rio de Janeiro/RJ, Brasília/DF, Recife/PE e Fortaleza/CE ) e o Rock On Stage acompanhou o show realizado em São Paulo/SP no Espaço das Américas.

    E este retorno ao Brasil marca a divulgação do álbum autointitulado lançado em setembro de 2013, que é o décimo-segundo de estúdio da carreira da banda norte-americana formada em 1985 pelos colegas da universidade de Berklee, em Nova Iorque, que já vendeu mais de 10 milhões de cópias de todos os seus álbuns.

Show antes mesmo de entrar no palco

    Adentramos ao Espaço das Américas por volta das 20:15, após o nosso rápido credenciamento e a casa já continha um grande público, que foi aumentando ao passar dos minutos, muito provavelmente tornando o show "sold-out" na capital paulista.

    E mesmo ainda faltando 45 minutos para o início oficial do show, a verdade é que se você fosse um bom observador sentiria que o espetáculo já havia começado, pois existia um pano muito grande à frente do palco exibindo o logotipo da banda ( e com algumas imagens espaciais se mexendo ) e sons que lembram um New Age de um Moog sintetizado, que ia entretendo a galera e já criando as primeiras viagens em nós. Isso só foi interrompido para as instruções de segurança e as propagandas dos próximos espetáculos no Espaço das Américas.

Primeira parte - A viagem tem início

    Ansiosa, a plateia vibrava cada vez mais ao aproximar das 21hs e finalmente, quando o telão exibiu um planeta formado por partículas foram rodando em uma viagem interplanetária aos gritos de "Dream Theater...Dream Theater" e  o imenso pano caiu... para que então um vídeo introdutório fosse exibido e nele víamos as capas dos cd´s desde o primeiro EP até o último cd, de uma forma animada, onde alguns objetos começavam a realizar interações entre os personagens, veículos, etc, presentes nas capas iam se movimentando. Já havia visto isso em algumas apresentações do Rush, e sempre quando uma banda utiliza desta ideia, o resultado é fenomenal e causa um imenso frisson.

    Esse vídeo transita por todas as fases do Dream Theater e chega até ao novo álbum ao som de False Awakening Suite provocando os primeiros arrepios pelo que estava por vir e então John Petrucci na guitarra, John Myung no baixo, James LaBrie nos vocais, Jordan Rudess nos teclados e Mike Mangini na bateria vão ao palco para que o delírio coletivo fosse iniciado.

    E o quinteto liga esta introdução à segunda música do novo cd, a agressiva e pesada The Enemy Inside, cujo vídeo mostra de que lado devemos ficar na Guerra ao Terror, que estamos vivendo no mundo atual, servido como uma propaganda, que por sinal estava na ponta da língua de muitos fãs, que a cantaram e vibraram bastante. James LaBrie se movimenta bastante pelo palco indo de um lado para outro, enquanto que John Petrucci sole com precisão cada nota com uma das suas JPS Majesty de sete cordas, já John Myung toca seu baixo sem também se movimentar tanto e Jordan Rudness vira de um lado para outro a mesa  giratória onde ficavam seus teclados. E bem, Mike Mangini toca com uma técnica indiscutível, lá de trás de sua enorme bateria de praticamente três níveis e com quatro zabumbas.

    A galera sentiu que a banda estava afiada e disposta a realizar um dos melhores shows do ano em São Paulo e foi realmente mágico a atuação de cada um dos membros, com destaque neste princípio ao John Petrucci, que solou sua guitarra de forma brilhante. Para a seguinte, que foi a Shattered Fortress do Black Clouds & Silver Linings ( de 2009 ), os fãs cantaram alguns "hey...hey" e saudaram a canção em sua parte instrumental, momento em que o vocalista brincava com o pedestal de seu microfone e depois a cantou com a plenitude de seu carisma e competência.

    Nesta música, o feiticeiro da banda, Jordan Rudness nos enviou solos de teclados que levaram nossas mentes à outro ponto no tempo, aquela energia proporcionada pelo apenas Rock Progressivo em suas maravilhosas viagens, e cada um desses solos sempre contava com a participação efetiva de John Myung e John Petrucci, além das intervenções na medida de Mike Mangini. Antes da próxima música, os fãs gritam o nome de Jordan Rudness, ainda mais pelo fato que ele veio à frente do palco com um teclado de mão.

    James LaBrie nos pergunta como estamos, recebe um grande "yeaahhh" de resposta e enfatiza que é absolutamente gratificante estar de volta aqui e que será o melhor tempo nesta cidade. Ele completa dizendo que se conhecemos o álbum do A Dramatic Turn Of Events ( de 2011 ) e com o "sim" berrado pelos fãs, complementa: "Ok... eu acredito" para então anunciar a progressivíssima On The Back Of Angels deste disco. O vocalista pede para que nós gritássemos os "ôôôôôôôôôô" no ritmo da música, que atendemos felizes da vida, no telão imagens de cidades e guerras, que ajudaram a criar um ligação cada vez maior entre os nós e a banda, pois não havia como olhar para o lado, ainda mais com o show de luzes que acontecia a cada música.

   Depois foi a vez da melodia animada de The Looking Glass, canção do novo álbum que passou toda sua positiva intensidade com os vocais carismáticos de James LaBrie e os competentes solos de guitarra de John Petrucci, que realizou na sequencia um solo com harmônicos impressionante, que somados aos efeitos de luzes e as imagens no telão produziram um dos momentos mais viajantes do show, parecia que a máquina do tempo foi ligada e que retornamos aos anos 70. É... o barbudo guitarrista, com certeza, inspirou este solo no que David Gilmour fazia no Pink Floyd.

    Esses solos vão pouco a pouco se ligando na emblemática Trial Of Tears, suíte que encerra o Falling Into Infinity de 1997, e com o primor que foi apresentada, não tinha como não cantar com o vocalista alguns trechos com muita alegria, aliás, que presença de palco e que timbre de voz James LaBrie possui. Quando Jordan Rudness assume os solos com seus teclados, a vontade que temos é de fechar os olhos e viajar até outra dimensão com suas notas, sensacional. Mas a coisa fica séria mesmo quando os demais participam, aí com toda aquela iluminação, as imagens no telão principal.... que sinfonia musical tivemos até o final mais melancólico da canção, que foi cantado por todos.

    E o telão exibe imagens de um carro com placa 'DT 1985' andando por alguns lugares até´que apareça a chamada do desenho "DT x DT" e somos conduzidos para a execução da longa Enigma Machine, com uma divertida animação em cartoon com os integrantes da banda, que nos delicia ainda mais durante esta soberba suíte instrumental e totalmente progressiva. E para quem sentia falta dos solos de bateria quando Mike Portnoy estava na banda, o seu sucessor no posto mostrou porque seu enorme kit continha tantas peças e realizou um solo daqueles que não se esquece tão cedo, tanto que plateia gritou "hey...hey".

    Entretanto, acompanhar Mike Mangili mesmo assim não é uma tarefa fácil, e quem o fez com perfeição foram seus companheiros de banda, que retornaram na mesma nota em que pararam para terminar esta música de forma perfeita. Bem nem é preciso dizer que após esta sessão instrumental e que este solo fizeram os fãs berrar o nome do baterista não é?

    Com luzes amarelas pelo Espaço das Américas, a nova e exuberante balada Along For The Ride, que empresta seu título para a turnê, foi a seguinte cantada com muita emoção por James LaBrie e muitos cantaram juntos com ele criando um momento de sinergia muito grande, ainda mais com o lindo solo de teclados que Jordan Rudness imprimiu em sua melodia, aliás, ele deitava seus teclados para uma captação melhor da imagem que era exibida nos telões e também para que nós pudéssemos ver ele atuando com mais perfeição.

    Breaking All IIlusions do A Dramatic Turn Of Events prosseguiu o show com uma bela harmonia e com um ritmo acompanhado nos "ôôôôôôô" pelos fãs e depois dos primeiros versos, o andamento que o Dream Theater exibiu foi simplesmente fantasmagórico, cortesia do Fingerboard do incrível Jordan Rudness e também do mestre John Petrucci em sua guitarra. Ah... como faz bem para a alma receber viagens assim. O vocalista nos agradece, as luzes são apagadas e um contador regressivo de quinze minutos aparece e é a hora de ir tomar uma cerveja ou água e conversar com os amigos, enfim, relaxar para a segunda parte.

Intervalo

    Durante o intervalo, aquela animação de tela vista antes do Dream Theater subir no palco voltou a ser mostrada no telão principal do Espaço das Américas e quando estava próximo da banda voltar, várias imagens de bastidores, entrevistas com os músicos, piadinhas típicas de DVD, como por exemplo band-aid de Jordan Rudness, bonecos de action comics com os integrantes, fãs tocando versões de  músicas do Dream Theater, propagandas de brinquedos foram exibidas, enfim, tudo isso se tornou um belo divertimento para os fãs.

   Segunda parte - Awake Remembering

    E em um desses vídeos revemos o táxi 'DT-1985' - um dos símbolos desta turnê -  e com um flash de luzes, a banda retorna para a segunda parte do show que iniciou com The Mirror, a primeira disco Awake de 1994 executada na sequencia, que foi recebida com vários "hey...hey..." e toda a exuberância técnica da banda.

    As variações instrumentais desta composição provou que o grau de afiação que o Dream Theater se encontra, além de seu vocalista estar demonstrando muita capacidade ao vivo e comandando os "hey...hey...hey" com muita atitude. Durante a parte dos solos de Jordan Rudness e John Petrucci ligam a música com maestria na seguinte, a Lie, que fez a galera cantar com muita empolgação.

    Em uma breve pausa para conversar com os fãs, James LaBrie fala que há exatos 20 anos, o álbum Awake era lançado pelo Dream Theater e complementa dizendo que muitos que estão na plateia provavelmente nem teriam nascido, quando brincando John Petrucci até toca algumas notas de Smoke On The Water do Deep Purple e todos na banda sorriem para ele.

    Então, James LaBrie pede para que gritássemos e então executa mais uma deste disco com a Lifting Shadows Off A Dream, que teve várias de suas encantadores partes cantadas pela animada plateia do Espaço das Américas, afinal, a vibração positiva, que tanto os vocais quanto a parte instrumental nos passam, não tinha como não participar neste belíssimo momento do show.

    Sem delongas, a suíte Scarred nos fez mergulhar com todas as suas luzes que foram exibidas ainda mais fundo na progressividade que o quinteto desejou nos passar. E era isso mesmo, era um olho nas luzes, outro no telão e bem, tinha que virar a cabeça várias vezes para ver o que cada um dos músicos estava tocando para deixar esta música ainda mais bela, mesmo quando ela fica um pouco mais rápida, caótica e pesada. E quando chega a hora dos solos, Jordan Rudness brilha como era de se esperar, inclusive, ele sempre tombou seu teclado principal para que ficasse mais fácil de nós assistirmos ele tocando suas teclas ( seja no telão ou olhando no palco ).

    Terminando este pequeno revival em comemoração ao Awake tivemos a Space-Dye Vest, que aos seus toques melancólicos nos teclados recebeu muitos "ôôôôôôô" dos fãs e sempre com o táxi 'DT-1985' perambulando nas animações do telão. Nesta, os samplers de conversas a deixaram ainda mais emocionante sua execução e atingiram com sua melodia direto em nossos corações, aliás, nesta tivemos um solo de guitarra com uso na medida da alavanca por John Petrucci.

    Retornando ao novo cd com uma climatização sensacional, eles apresentaram a longa Illumination Theory com todos os seus vinte minutos de duração, que produziu uma viagem espacial em quem fixou seu olhar nas luzes, no telão e nos músicos. De princípio, recebemos partes melancólicas, depois os resplandecentes solos de guitarra, incursões vibrantes na bateria e baixo, ou seja, tudo que é necessário para que a euforia dos fãs estoure quando o vocalista comece a cantar seus versos.

    Quando as partes orquestradas são exibidas e o telão intercede com suas imagens, podemos crivar apenas um fato: que sensação espetacular o Dream Theater nos proporcionou, é praticamente indescritível. Quebrando a viagem, John Myung realiza acordes pesados no seu baixo que trazem um James LaBrie mais agressivo e uma sequencia explosiva de teclados, bateria e guitarra, que voltam a ficarem melancólicos e continuam até o final cinematográfico da canção. E por consequência... da segunda parte do show, aos gritos estrondosos de "Dream Theater....Dream Theater", que foram ouvidos muitas vezes na casa.

Bis Explosivo

    Se no final da música anterior eles já foram extremamente aplaudidos, o que dizer então de quando os telões começaram a exibir uma contagem regressiva de 2014 até 1928, deixa para a obra-prima Metropolis Part II: Scenes From A Memory? Sinceramente, quase colocaram abaixo o Espaço das Américas pelo tamanho da alegria que todos sentiram ao perceberem qual seria a parte final do show. A primeira obviamente foi a Scene Two: I - Overture 1928, que encharcou nossa alma de contentação, afinal, estávamos relembrando de uma das melhores criações da banda e sabíamos até onde o Dream Theater queria nos levar.

     Quando James LaBrie começa cantar a Strange Déjà Vu nossa reação foi de cantar com ele em uníssono. Nesta hora, o Espaço das Américas foi tomado euforia, e não havia ninguém parado, todos estavam curtindo muito.

    Com aquela adrenalina única que somente nobres músicos como estes são capazes de realizar a Scene Seven: I - The Dance Of Eternity continuou a parte de maior delírio do show com seus toques instrumentais matadores, que muitos acompanharam nos "ôôôôôôôô" e foi impossível destacar um dos músicos, pois estavam simplesmente espetaculares.

    A última da noite foi a Scene Nine: Finally Free, que elevou os níveis de emoção de cada um de nós para índices astronômicos e por todos os lados da casa notava-se que a imensa maioria cantava com James LaBrie seus versos e os aplaudiam. E o show terminou com o final apoteótico desta composição, que ao vivo ficou ainda melhor.

    Inclusive após as despedidas, entregas de palhetas, baquetas e milhares de aplausos, muitos saíram da casa  cantando: "This feeling inside me, Finally found my love, I've finally broke free, No longer torn in two, Living my own life by learning from you" repetidamente ao som de Illumination Theory nos altos falantes.

  Tivemos três das melhores horas de Rock Progressivo com as célebres pitadas de Heavy Metal deste ano de 2014 nesta noite no Espaço das Américas com o Dream Theater, que registrou sua sétima passagem no país em um show que deixou saudades, já a partir do instante que eles se despediram da plateia e certamente, fez que a vontade de assistir mais um show desta turnê, que seguiria por Rio de Janeiro, Brasília, Recife e Fortaleza, aumentasse exponencialmente. Já ficamos aqui aguardando pelo retorno em São Paulo.

Texto: Fernando R. R. Júnior e André Torres
Fotos: Edi Fortini ( Rock On Line ), Lauro Campellari  ( Território da Música ) e Carol Maiden
Agradecimentos à Denise Catto Joia e
à equipe da Mercury Concerts pela atenção e credenciamento
Outubro/2014

Set List do Dream Theater

Act1
1 - False Awakening Suite
2 - The Enemy Inside
3 - Shattered Fortress
4 - On The Back Of Angels
5 - The Looking Glass
6 - Solo de John Petrucci
7 - Trial Of Tears
8 - Enigma Machine
9 - Solo de Mike Mangini
10 -Volta de Enigma Machine
11 - Along For The Ride
12 - Breaking All Illusions

Act2
13 - The Mirror
14 - Lie
15 - Lifting Shadows Off A Dream
16 - Scarred
17 - Space-Dye Vest
18 - Illumination Theory

Bis:
19 - Scene Two: I - Overture 1928
20 - Scene Two: II - Strange Déjà Vu
21 - Scene Seven: I - The Dance Of Eternity
22 - Scene Nine: Finally Free

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