Marcelo Nova
Abertura e encerramento: Confraria da Malandragem e Malvadeza Hot Rock´n´Blues
Sábado, 26 de julho de 2014
no Bar da Montanha em Limeira/SP

   De volta ao Bar da Montanha, o ícone do Rock´n´Roll Brasileiro, Marcelo Nova realizou no último sábado de julho mais dos seus excelentes e sempre diferentes shows. Sim, excelente porque a garra que ele e seu conjunto possuem no palco é muito grande e diferente pelo fato que ele não muda apenas o set list ou sua sequencia, mas, modifica também os arranjos e o andamento das canções, o que tornam cada uma de suas apresentações únicas e porque não dizer... inesquecíveis.

    Nesta ocasião, eles estão divulgando o novo trabalho de Marceleza, o álbum 12 Fêmeas e também realizando uma comemoração pelos 25 anos do disco A Panela do Diabo, que foi gravado ao lado do mestre Raul Seixas. Ao chegar no Bar da Montanha e realizar o rápido credenciamento fiquei aguardando pelo início do show principal, onde pude desfrutar de toda ótima estrutura do lugar, além de conversar com os amigos e assistir alguns vídeos de bandas clássicas do Rock no telão e monitores da casa.

Confraria da Malandragem
e Malvadeza Hot Rock´n´Blues

    Foi por volta das 23:20 que pude acompanhar pela primeira vez esta formidável banda de Blues e Rock formada em Limeira/SP por Thiago Franklin Martins na guitarra e vocais, Rafael Lalla no baixo, Thiago Santos na gaita e Juliano Caritá na bateria e vocais. E o quarteto já mostrou a sua cara e como seria a linha de seu show com Crossroads, composição do lendário Robert Johnson e regravada por Eric Clapton entre muitos outros. E a versão do Confraria da Malandragem e Malvadeza Hot Rock´n´Blues não ficou devendo nada à original e o gaitista Thiago Santos deu muito mas feeling à música.

    Em seguida, caminham mais para o Blues/Rock presente em You Don´t Love Me do The Allman Brothers Band, que trouxe linhas emocionantes de guitarra e foram trazendo várias pessoas para a parte do bar onde eles estavam tocando, pois se apresentaram na chopperia.

    Gotta Get Over do Eric Clapton exibiu uma mistura de Soul e Blues com vibrantes solos de gaita, que fluiram livremente pelos demais integrantes, pois, Thiago Franklin Martins realizou longos solos em sua guitarra e a cozinha da banda ( baixo e bateria ) feita por Rafael Lalla e Juliano Caritá traziam uma linhagem mais Rock´n´Roll, que nos fez perceber como a banda estava com a pegada para um grande show.

   Clássico gravado por B. B. King e Eric Clapton, além de intitular o álbum, Riding With The King, trouxe uma atmosfera mais dançante ao show da Confraria da Malandragem e Malvadeza Hot Rock´n´Blues e mais uma vez tivemos um solo de gaita de arrepiar feito por Thiago Santos. Depois prosseguiram com I´m Tore Down, um dos muitos grandes Rocks de Eric Clapton e Start It Up de Robben Ford, cuja versão do quarteto passou uma vibração muito grande e toda aquela energia que Blues assim possuem.

    E o show estava tão bom que um fã exagerado chegou a dizer "que até estava se esquecendo que tinha o Marcelo Nova pouco depois" e neste ambiente, eles nos enviaram a clássica My Mojo Workin composta pelo lendário bluesman Muddy Waters com uma interpretação pulsante de cada um dos integrantes do Confraria da Malandragem e Malvadeza Hot Rock´n´Blues aplicaram o coração em cada nota. Resultado: uma grande interação por todos os presentes que estavam de olho no show.

    Com muitos solos de guitarra e uma certa linha mais dançante tivemos o Blues Rock de Pride And Joy, criação do guitarrista Stevie Ray Vaughan, que também causou muita alegria pelos apreciadores do estilo, aliás, quem de repente se diga que não é fã de Blues, saiba que tudo, tudo mesmo quando falamos em Rock e Heavy Metal, originou-se daí. E aproveitando a deixa o Confraria da Malandragem e Malvadeza Hot Rock´n´Blues executou mais uma das muitas e excelentes músicas de Stevie Ray Vaughan com Cold Shot.

    Para fechar esta primeira entrada do quarteto eles literalmente incendiaram tudo com Hoochie Coochie Man, hino de John Lee Hooker tocado com Thiago Franklin Martins utilizando um slide e uma guitarra quadrada ( como se fosse algo artesanal e rural ), além de inúmeros solos de gaita e aquela sempre vibrante linhas de baixo e bateria. Foi um excelente aquecimento para o show do Marcelo Nova e uma prova que a semente do Blues ainda germina com força em muitas cidades. E eles voltariam mais tarde, depois do show do Marcelo Nova para encerrar a noite, mas por conta do horário não pude acompanhar essa segunda entrada do Confraria da Malandragem e Malvadeza Hot Rock´n´Blues, mas a prova do talento do quarteto já estava dada neste começo de noite.

Marcelo Nova

    Passados poucos minutos depois que o Confraria da Malandragem e Malvadeza Hot Rock´n´Blues encerrou seu show, eis que o empresário Ari Mendes anuncia que o show de Marcelo Nova ia começar. E instantes depois do anúncio Drake Nova na guitarra, Leandro Dalle no baixo, Célio Glouster na bateria, cada um em sua posição no palco, começaram as primeiras notas de Sinais de Fumaça do novo 12 Fêmeas trazendo o ícone com seu topete, óculos escuros e sua guitarra para assim iniciarem o fervoroso show de Rock´n´Roll da noite, aos gritos de "Bota Pra Fudê...Bota Pra Fudê..." , a tradicional saudação dos fãs para Marceleza e ele nos relembra "este é o meu grito" e canta os versos críticos e ácidos desta primeira canção da noite. Se no passado Marceleza não tinha farpas na língua, não será agora que ele deixará de ter.

    Por se tratar de uma música recente, os fãs ainda não cantaram a totalidade de sua letra, mas na segunda, que foi o Rockão Faça a Coisa Certa ( do cd A Sessão Sem Fim de 1994 ), aí sim, muitos cantaram com Marcelo Nova e cabem dois destaques: mais uma vez ele mudou o ritmo da canção e o baterista Célio Glouster imprimiu muito peso em cada baquetada. Na hora dos solos de guitarras ele solou se movimentando pelo palco sentindo a eletricidade de cada fraseado de guitarra e inclusive deixou que nós completássemos alguns versos.

    Na primeira pausa ele nos envia o tradicional "Boa Noite Limeira" e complementa dizendo que "de novo estamos aqui e para aqueles que nos acompanha há 33 anos, é bom ver vocês de novo e para os que estão chegando agora sejam bem-vindos", bem nem preciso dizer que isso foi uma demonstração de carinho e respeito pelos fãs, não é?

    Ele ainda disse: "nós vivemos na estrada... com todas as benesses, com todas as perversidades, que ficam escondidas nelas" e um fã grita: "Camisa de Vênus" e o vocalista replica: "Camisa de Vênus é na farmácia" e continua o seu discurso dizendo: "o negócio é o seguinte, tem dias que ela é mais perversa, tem dias que ela pega mais leve, estamos numa sequencia de eventos absolutamente desgastantes e sabe o que o faz tudo isso valer a pena, é subir neste palco, aliás, nesta casa eu me sinto extremamente à vontade, pois já perdi a conta de quantas vezes eu já toquei aqui, sou amigo dos donos, me sinto bem..." e alguém o interrompe dizendo: "porra...caralho" e ele brada: "para com esse negócio de ficar falando porra, caralho, isso é coisa de criança, a gente fica falando isso quando é menino".

    E ele encena um diálogo infantil: "vá toma no cú.... vá você...", para alguns risos dos presentes e conclui dizendo: "brigado...brigado, foi ótimo...Jukinha resolve seu problema... bom... para encerrar os comentários, eu queria dizer só uma coisinha, obrigado de verdade por estar aqui". Imagino a cara de quem disse os palavrões, ao tomar uma 'carcada' do cantor. É Marcelo Nova continua com toda sua irreverência, inteligência e ironia, enfim, o nervo ainda está exposto.

    E a próxima música do set foi justamente uma composição do Camisa de Vênus com Eu Não Matei Joana D´Arc em um andamento Rock´n´Roll cheio de distorções na guitarra de Drake Nova, bem diferente da versão de estúdio, que obviamente fez todo mundo cantar seus versos com ele, especialmente o refrão, que teve momentos alongados, que nos ligaram ainda mais na música. Com um "Obrigado" ele nos agradece e dá outra alfinetada em quem ficava pedindo músicas ao falar: "você fica tanto tempo pedindo isso que não arruma tempo de curtir o show, e eu fico contente de ver que vocês continuam tão excitados como sempre foram".

    É... desta vez ele estava um pouco mais ácido que o normal, mas, literalmente com o 'sangue no zóio' e disposto a fazer um grande show. E novamente desafiando a todos na música seguinte, cujos arranjos mais uma vez estavam diferentes, eles tocaram Século XXI ( do cd A Panela do Diabo ) em uma versão Rock´n´Roll bem bacana e dotada de ótimos solos, que mais uma vez fizeram nós todos acompanhar o refrão para assim extrair um sorriso de satisfação de Marcelo Nova.

    Para anunciar a seguinte ele diz: "essa canção que não é minha, que vocês vão identificar exatamente de quem é... define com uma propriedade singular o nosso estado de ignorância latente, que vem através de gerações e gerações, nós não choramos quando nossa mãe não é atendida no hospital, nós não choramos quando nossos filhos não tem segurança para ir para a escola pública, mas nós acabamos de chorar quando tomamos de sete da Alemanha... é só um esporte como bola de gude, como tênis, como vôlei, são só onze batendo a bola pra dentro do fuleko...".

    Isso foi uma clara referência muito irônica e correta aos problemas que ficaram escondidos por conta da Copa do Mundo e a morosidade dos brasileiros, e assim, mais Rock´n´Roll dos bons com Não Fosse o Cabral do histórico Raul Seixas foi tocado. Tivemos um verdadeiro tapa na cara dos fãs, aliás, o verso "falta de estrutura pra cuspir na estrutura" deveria ser um mantra da sociedade para tentar modificar essa mediocridade que vivemos.

    Em um andamento mais lento e muito emocionante ouvimos Só O Fim, sucesso do Camisa de Vênus que teve uma versão com direito a um longo solo de guitarra de Drake Nova na sua Fender Telecaster, daqueles que enchem de orgulho de se assistir. E aí te pergunto caro leitor(a), pense aí na alegria de Marcelo Nova ao ver seu filho realizando este solo.

    Bomba Relógio Ambulante, uma das grandes composições solo de Marcelo Nova ( da coletânea Em Ponto de Bala de 2003 ) continuou o show e a linhagem Rock´n´Roll contagiante da música seja nos versos ou nos solos eletrizantes de guitarras exibiram a grandeza do  show que estávamos assistindo. No final, todos novamente gritam o "Bota pra Fudê" incessantemente e Marcelo Nova complementa: "Este é o meu Grito" para então tocar Best Seller, uma das sonzeiras dos tempos do Panela do Diabo, que teve também um trecho de Câimbra no Pé e confesso que tive uma grande felicidade ao ouvir esta música ao vivo, ainda mais com as algumas pequenas modificações realizadas por ele e sua banda, que a deixaram ainda mais divertida.

     E o show estava quente e Marcelo Nova explica que ele não tem uma banda, que ele tem um conjunto e sai para descansar um pouco. Assim, Drake Nova, Leandro Dalle, Célio Glouster realizam uma competente versão instrumental de Nuit ( outra do álbum A Panela do Diabo ) bem Rock´n´Roll com destaque para o Drake Nova que solou muito bem, e assim que o público do Bar da Montanha percebeu de qual música se tratava, cantou alguns de seus versos com uma euforia.

    No retorno, ele toca a épica A Ferro e Fogo de seu álbum Correndo o Risco com o Camisa de Vênus em um ritmo mais agressivo, um verdadeiro Rock mais nervoso e em seu decorrer todos os quatro músicos se movimentam bastante pelo palco do Bar da Montanha, aliás, nesta hora a dupla Marcelo Nova / Drake Nova realizaram os melhores solos de guitarras da noite, tocados juntos com toda a técnica e experiência acumulada que vai até um crescente sensacional e retorna aos versos finais da composição.

    Antes de começar a próxima, ele beija a mão de uma fã com todo o respeito, anuncia: "esta música é do disco de 25 anos atrás chamado A Panela do Diabo" e junto com seu conjunto entoa os acordes de Quando Eu Morri, que nos passou uma adrenalina incrível e para mim um dos melhores momentos da noite, pois além de ser um grande clássico do Rock´n´Roll brasileiro, a letra desta música é muito impactante e emocionante, e essa sensação se amplificou nos solos de guitarras da 'família Nova' e também no solo de baixo realizado por Leandro Dalle no seu Fender Jazz Bass. E ele emenda o refrão de Banquete de Lixo ( também do mesmo álbum ) que foi uma excelente surpresa do show. Valeu Marceleza!!!

    Em seguida, ele nos agradece e avisa que a seguinte se chama A Balada do Perdedor ( do cd O Galope do Tempo de 2005 ), que foi tocada com seus longos riffs de guitarras em um ritmo mais lento, calcado no Blues, cuja letra, que tece várias críticas foi acompanhada por muitos dos presentes no Bar da Montanha, aliás, mais uma vez me rendo e enalteço o talento de Drake Nova em sua Fender Telecaster. Sem pausas, Cocaína do cd Grampeado em Público de 1999, trouxe todo aquele punch único de sua letra, que naturalmente fez muitos de nós saírem cantando com o vocalista, ainda mais nos momentos em que ele fez questão de deixar completarmos em uma sincronia muito bacana que ajuda a imortalizar um show.

    Não parecia que estávamos chegando ao final, e ele nos relembrou perguntando "vocês não querem que eu vá embora então?" e nos sonoros gritos de "não" recebemos Hoje, uma das músicas com mais adrenalina dentre as compostas pelo Camisa de Vênus nos anos 80, que nesta noite teve uma versão onde Célio Glouster aplicou muito peso em sua bateria e durante os solos de guitarra feitos por Drake Nova, eles improvisam com um trecho de Negue ( gravada pela Maria Betânia, que o Camisa de Vênus regravou ), e lógico, isso inflamou ainda mais os fãs, que gritaram os versos: "me diga horas... eu vou me embora... hoje... eu tô atrasado" a plenos pulmões.

    E o hino Rock´n´Roll do álbum A Panela do Diabo foi inteligentemente escolhido para fechar o show e o contentamento de todos no Bar da Montanha certamente foi sentido por Marcelo Nova, pois esta foi cantada em uníssono. Marcelo Nova na hora do refrão virava seu microfone para que nós participássemos ainda mais da música.

    Ele depois apresentou cada um dos membros de seu conjunto, com direito a um curto solo individual, brincou com cada integrante com o seu sarcástico bom humor e naquele frissom grande que um prolongamento assim sempre causa e nossa retribuição foi com vários gritos de "Bota Pra Fudê...", que ecoaram na casa. Ele nos agradece e acrescenta versos 'AC/DCdianos' que homenageiam Evandro Negucci ( do Bar da Montanha ). Neste momento enquanto se despedia e cantava os versos finais, ele ainda assinou o encarte de um cd de um fã... ( que me pediu a minha caneta para isso... incrível!!! ).  Neste clima do puro Rock´n´Roll dos anos cinquenta ele sai do palco e o empresário Ari Mendes retorna para realizar o encerramento oficial do espetáculo.

    Acompanhei nestes últimos dois anos  três shows de Marcelo Nova ( contando o desta noite ), um no mesmo Bar da Montanha no dia do Rock em 2012, outro em Itapira/SP ( confira cobertura ) e todos os três foram diferentes entre si, com set lists na plenitude do Rock´n´Roll provando este senhor ainda leva muitos fãs por onde passa, pois tem um carisma e uma capacidade única de se apresentar.

   É como Marcelo Nova deixou claro quando falou com sua plateia, existem semanas que passamos por problemas que não dão vontade de sair de casa e este ícone, certamente que passou por alguns, mas nem por isso diminuiu a qualidade do vibrante Rock´n´Roll que está acostumado a fazer, muito pelo contrário, ele e seu conjunto, mais uma vez nos contemplaram com mais outro brilhante show. 

Texto e Fotos: Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos à Evandro Negucci do Bar da Montanha
pela atenção e credenciamento
Agosto/2014

Set List Marcelo Nova

1 - Sinais de Fumaça
2 - Faça a Coisa Certa
3 - Eu Não Matei Joana D´Arc
4 - Século XXI
5 - Não Fosse o Cabral
6 - Só o Fim
7 - Bomba Relógio Ambulante
8 - Best Seller / Câimbra no Pé
9 - Nuit
10 - A Ferro e Fogo
11 - Quando Eu Morri
12 - A Balada do Perdedor
13 - Cocaína
14 - Hoje
15 - Rock´n´Roll

Clique aqui e confira uma galeria com 134 dos shows de Marcelo Nova e  Confraria da Malandragem e Malvadeza Hot Rock´n´Blues no Bar da Montanha em Limeira/SP

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