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Douglas Jen
E finalmente às 21h10, abrem as cortinas para Douglas Jen, músico há mais de 17 anos, que é guitarrista da banda de Prog/Power Metal paulista: SupreMa, colunista de diversas revistas de guitarra ( Guitar Shred, Cifra Club/Guitar Battle, entre outras ), além de disponibilizar alguns vídeos aulas no Youtube. Nesse momento temos por volta de 60 pessoas na pista e mais umas 20 aqui em cima, no mezanino.
Ele já começa com a rápida Nightmare ( confira seu clipe no link https://www.youtube.com/watch?v=7pq-bRG2zPI ), o setlist dessa noite é baseado no álbum Traumatic Scenes de 2012, um álbum conceitual sobre o filme O Invisível, do diretor David S. Goyer. Apenas Douglas Jen está no palco e vai tocando em cima de um 'playback', mas a voz do vocalista sai baixa. Todos estão muito atentos nesta primeira música, aos poucos, mais pessoas vão entrando na casa e temos muitas palmas ao fim. Sem pausas, ele emenda a Fury And Rage, conhecida por algumas pessoas que 'bangueavam' ao som da pesada bateria desta música, ao final, ele puxa uma cadeira para começar a sessão de perguntas.
"E aí São Paulo? É uma honra tocar aqui hoje!" Ele comenta sobre a turnê com o Marty Friedman e sobre as músicas. As pessoas estão tímidas, mas, é só o primeiro pegar no microfone que toda coisa começa. Este primeiro fã queria saber se o Marty Friedman e o Douglas Jen vão tocam juntos, mas ele responde que os dois não programaram nada assim, mas que se Marty Friedman chama-lo no palco ele toca de boa.
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A outra pergunta é sobre o set de pedais que ele usa, Douglas Jen responde que já usou muita coisa, mas por conta da quantidade de shows e de estar sempre na estrada, foi diminuindo os sets com o tempo, ainda faz comentários dos equipamentos que usa atualmente e nos conta o porquê de usar uma guitarra personalizada. Alguém pergunta sobre como cortar a microfonia durante os shows e ele responde que é preciso ter muito cuidado com o ganho que é usado na guitarra ou mesmo no amplificador, que é ligado na guitarra. O guitarrista comenta sobre as composições no SupreMa e que a única música, que ele fez e faz os acordes, que possui muito peso e outras coisas é a Before The End, todas as outras músicas da noite, ele segue fielmente o jeito que foram compostas. E então, manda a Before The End, onde mostra toda sua técnica em cima da base desta música, eu achei que ficou muito divertida de escutar já que a todo momento ele fazia algo diferente na guitarra.
Douglas Jen lembra o pessoal que do lado da pista tem um estande vendendo cd´s e camisetas do SupreMa, quando eu passei por lá tinham algumas coisas do Marty Friedman também. Voltando para as perguntas, o pessoal quer saber qual é o método de composição que ele utiliza em suas músicas, mas ele diz que não é algo que tenha muita metodologia, basicamente ele tem uma ideia, foca nela e vai trabalhando as partes até alguma música nova sair. Douglas Jen avisa em seguida que vai tocar mais uma do SupreMa e depois uma homenagem a uma importante banda progressiva que acredita que muitos vão gostar. Também comenta que precisou reduzir o set list dele, mas quando ele realiza Workshops pelo Brasil, geralmente tem duração de mais de uma hora.
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Assim, conforme avisou, a próxima foi a Burning My Soul é bem legal e pende para um lado mais Thrash da banda, ele sempre toca muito concentrado e todos que vão chegando logo se aproximam do palco para conferir de perto as palhetadas de Douglas Jen. E para finalizar o show, ele emenda com a instrumental Overture 1928 e a elaborada Strange Déjà Vu, ambas da icônica banda de Prog Metal Dream Theater e ambas também do clássico álbum Metropolis Pt. 2; Scenes From A Memory do ano de 1999. Essa última, o pessoal conhece e interage bem mais, afinal Dream é Dream e “todos ama”.
Ao final, Douglas Jen é muito aplaudido e se despede do palco às 21h50, contando que depois do show de Marty Friedman, ele vai descer e bater um papo com todos da casa. Voltam os clipes clássicos no telão e agora temos pelo menos umas 150 pessoas por aqui.
Set List de Douglas Jen
1 - Nightmare
2 - Fury And Rage
3 - Before The End
4 - Burning My Soul
5 - Tributo ao Dream Theater - Overture 1928
6 - Strange Déjà Vu
Links: www.douglasjen.com/; www.youtube.com/user/douglasjen; www.facebook.com/douglasjenguitar;
www.suprema-online.com/; www.youtube.com/user/suprematv; www.facebook.com/supremabr
e www.blackmore.com.br/bar/
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Marty Friedman
Às 22h20, quando Marty Friedman sobe ao palco, um cara do meu lado grita: "esse não envelhece! Desde os anos 90 com a mesma cara!" Outro responde que a culpa é da comida japonesa. Marty Friedman é ex-guitarrista da banda de Heavy Metal Megadeth, onde tocou por quase dez anos lançando alguns dos seus mais clássicos álbuns, também possui uma sólida carreira solo, além de participar da banda Cacophony junto com Jason Becker ( guitarrista revelação, que teve sua brilhante carreira interrompida na década de 90 ao ser diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica, que o fez perder os movimentos do corpo ao longo dos anos, ainda hoje compõe, mas apenas com ajuda de aparelhos ).
Ele abre o show com a Ballad Of The Barbie Bandits do álbum Exhibit A: Live in Europe lançado em 2007, todo envolvido com a música, com a guitarra e com seus cachos, todos os celulares da casa ficam apostos para registrar esse momento. A próxima é a rápida Hyper Doom do álbum Inferno de 2014, ele esmerilha a guitarra com a mesma tranquilidade de alguém que está comendo seu cereal de manhã, e sem delongas, emenda a Amagi Goe do Tokyo Jukebox de 2009 foi tocada ( esta é uma música tradicional japonesa do cantor Sayuri Ishikawa ).
O palco estava sem adornos, Marty Friedman vestido com a camiseta do Brasil e enquanto o pessoal se amontoa na frente do palco, ele vai tocando sentado e sem nada, a não ser o cara que sente a música, o som que o acompanha é só instrumental, muitos gritos e palmas ao fim.
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Outra pergunta que fizeram foi sobre o jeito que ele toca, o jeito que dá as 'palhetadas' na guitarra, sempre bem-humorado, ele faz gestos maliciosos fazendo todos rirem com ele, mas a verdade é que ele toca diferente, porque não gosta de tocar abafando as cordas, aproveita para mostrar os dois jeitos de tocar, ora abafando as cordas, ora não. Um rapaz quis dar um relato: quando ele era pequeno mandou um presente para o Marty Friedman e quando ele veio para o Brasil, tempos depois, ele recebeu um cartão escrito a mão ( vindo do Arizona ) agradecendo o presente e quando Marty Friedman anuncia que vai tocar a próxima, o tradutor lembra que o rapaz pediu a Black Cat ( do álbum Go Off! de 1988 ) e ele toca um pedaço da música, e que belo solo! Temos algumas pessoas no celular, mas a maioria dos presentes na casa estavam prestando atenção no músico. Depois ele anuncia: "essa música é a pesada Stigmata Addiction" ( do Loudspeaker de 2006 ) e o povo enlouquece.
"Como você usa a música tradicional japonesa nas suas músicas?", alguém questiona e na resposta ele nos conta que sempre gostou dos vocalistas japoneses e tentava reproduzir as vozes deles na guitarra, todas as músicas deles, que mesmo sendo virtuosas, possuem belas melodias. Ainda conta que para ele as melodias são as partes mais importantes na música, e então, começa com a melodia na cabeça e só depois ele trabalha o resto da música.
A próxima pergunta foi: "por que ele usa essas duas guitarras atualmente?" Marty Friedman conta que não entende muito de guitarras, ele entende mesmo é de toca-las, então pelo o que eu entendi, é mais uma questão de gosto e conforto, porém, mostra que a que ele está usando, continua fazendo barulho mesmo desligada, e faz caras engraçadas de que isso não deveria estar acontecendo. Assim, ele emenda a estranha, mas divertida Meat Hook ( do álbum Inferno ), que soa como abertura de algum anime japonês e eu curto bastante.
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Um fã pergunta: "tenho duas questões para você... a primeira é sobre como começar uma carreira solo" e ele responde: "Depois de aprender a tocar, não toque sozinho, sempre toque para alguém, para as pessoas o máximo que puder, e assim você vai ganhar confiança e sempre peça para as pessoas escutarem as suas músicas e se elas gostarem de algumas partes, continue com essas partes e se reação das pessoas for de tédio, nas outras partes tire fora, você tem que lembrar que você toca para as pessoas ouvirem e não só para você". A segunda questão foi: "você poderia tocar Tornado Of Souls?" E para a alegria geral, ele começa a tocar uma parte da música e o pessoal se empolga e todos começam a gravar esse solo.
"Como começou a parceria com o guitarrista/vocalista Alex Laiho ( líder da banda finlandesa Children of Bodom )?" - foi outra pergunta e na resposta, o guitarrista nos conta que Alex o elogiou na mídia e a gravadora sugeriu uma parceria entre eles, que se tornaram amigos durante as gravações do último álbum de Marty Friedman. Em uma uma pergunta ouvimos: "Qual foi o melhor e o pior momento da sua carreira?" E ele pensa e nos fala que os seus melhores e piores momentos acontecem no agora, seja quando a guitarra que não funciona direito, ou com os pedidos de músicas que ele não lembra, e conta que até teve uma vez que ele tropeçou no palco e ficou com a cara ensanguentada e mesmo assim... continuou tocando no show.
"Porque durante a gravação dos discos solos dele e do Jason Becker, eles colaboraram um no álbum do outro, mas não saiu nenhuma música para a banda Cacophony?" - foi mais umas das questões dessa noite e Marty Friedman disse que não tem nenhum motivo, eles estavam trabalhando em seus álbuns solos e quando um precisava de algo, que o outro podia colaborar, eles ajudavam, afinal, eles se completam sonoramente.
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Ele comenta sobre as músicas que não tocava a muito tempo e que as pessoas sempre pediam, é como se alguém pedisse para você lembrar o aniversário de uma ex-namorada de anos atrás! E um fã da zueira o elogia, para logo de cara pedir palheta, que o Marty Friedman a entrega em mãos! A galera se anima ainda mais e bate palmas, chega a hora da pergunta mais capciosa da noite: "o músico prefere as gueixas ou o popozão das brasileiras?" Na resposta dele foi direta.... "Sabrina Sato :P"
Em seguida, mais uma avalanche de perguntas: "Quais os álbuns que ele mais gosta?" e ele fala que são o Inferno e Loudspeaker. "Quais pedais que ele usa?" Marty Friedman responde que geralmente não usa pedais, mas quando precisa são os mais clássicos e ele começa a improvisar, enquanto o tradutor ainda está no meio da frase, e fica aquele momento "você fala ou eu toco?" Eles sorriem e Marty Friedman continua tocando. "Qual o show que você mais gostou de tocar no Brasil?" E ele conta: "Rock In Rio ( pequena pausa para se lembrar que não está no Rio de Janeiro ) e em São Paulo! Mas tocar no Brasil é sempre bom".
Uma fã diz que quando ele toca, a música toca a alma dela ( momento: 'oun ti fofo' da noite ) e pede para ele tocar Tibet ( do álbum Scenes de 1992 ) e ele toca. Em mais uma pergunta: "Quando foi que ele se sentiu integrado ao Megadeth?" O guitarrista respondeu: "Não diria integrado, mas, o momento em que sentiu a aprovação do seu trabalho na banda, foi quando criou o solo da música Tornado of Souls" ( do Rust In Piece de 1990 ) e concluiu dizendo que: "pois assim que terminou os caras da banda vieram lhe cumprimentar, coisa que nunca tinham feito antes".
"Teve algo do Brasil que ele absorveu e gostou?" Para a resposta ele fala: "é difícil de dizer, pois, ele está absorvendo coisas da nossa cultura até agora", e complementa dizendo que seu pai escutava o compositor e produtor musical Sérgio Mendes ( que ele acredita que seja sua influência brasileira mais antiga na sua vida ).
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Na sequencia, Marty Friedman anuncia: "Esta música não está em nenhum álbum, essa é a minha última música da noite: Amazing Grace" para pouco depois finalizar nos agradecendo: "muito obrigado! Vocês são ótimos!" E nós respondemos gritando: "Marty! Marty!" e ele: "Thank you!".
Muitas pessoas fazem fila na frente do mezanino, que será por onde os guitarristas irão passar, infelizmente, não posso ficar... já que quem mora longe tem que correr para não perder a condução. Entre os músicos, os meus menos favoritos são sempre os guitarristas, sempre me envolvo mais com a voz e a bateria nas músicas, entretanto, Douglas Jen e Marty Friedman, fizeram algo mágico para mim, que é apenas parar e realmente escutar esse instrumento que encanta a muitos, cada um com seu jeito: Douglas Jen mais técnico e compenetrado, enquanto Marty Friedman mais fluido e brincalhão, me mostraram que a guitarra não serve para firulas, mas, sim para carregar seus sentimentos para dentro da música.
Texto: Erika Alves de Almeida
Fotos: cortesia de Laura Gallotti
Agradecimentos à Sérgio Dias e Pedro Gianelli da Fúria Music Produções
pela atenção e credenciamento
Maio/2015
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