Zé Geraldo - Acústico
Sexta, dia 15 de maio na
Danceteria Andradas em Andradas/MG

     Com 70 anos, 16 discos e mais de 30 anos de carreira, o mineiro Zé Geraldo, uma lenda do Folk Rock brasileiro, realizou uma pequena turnê pelo Sul de Minas, com quatro datas, sendo São João da Boa Vista/SP, Andradas/MG, Poços de Caldas/MG e Guaxupé/MG na turnê Acústico. Na data de Andradas, fiz questão de acompanhar o show, pois sei do carisma e da qualidade de suas músicas ao vivo.

    Nesta tour, Zé Geraldo foi acompanhado pelo guitarrista Jean Trad, que dividiu os solos com ele e tornando o show não tão acústico assim. Para quem não sabe quem é Zé Geraldo, saiba que ele possui para nós, a mesma importância que Bob Dylan tem para os norte-americanos, foi influenciado por ele e também segue a linha de protestar com poesia nas letras de suas canções.

    Por volta das 22 horas, Zé Geraldo subiu no palco da Danceteria Andradas começar seu show para uma empolgada plateia que ansiava bastante para (re)ver o músico. Com toda sua simplicidade, ele fala os primeiros versos de Reciclagem do primeiro disco Terceiro Mundo de 1979, que já fez todos cantarem com ele e baterem palmas no ritmo da música. Com toda a leveza das linhas acústicas, Preço da Rosa do Sol Girassol de 1984 foi a segunda do show, onde além da bela melodia, do jeito quase intimista de cantar de Zé Geraldo, tenho que destacar a beleza dos seus toques no violão.

    Antes de anunciar a terceira, Zé Geraldo comenta: "estou feliz de voltar aqui e rever todos os amigos" e com alguns toques elétricos feitos por Jean Trad, que fornecem uma base cheia de harmonia, Zé Geraldo inicia a romântica Semente de Tudo do Sol Girassol, que também fez muitos cantarem sua letra, especialmente o refrão cheio de "La... lara... lara", que no final ganhou muitos aplausos e 'heys'.

    Em seguida, em ritmo que mexe com os fãs, tivemos a Maria Bonita, composição que de certa forma homenageia o rei do cangaço Lampião prosseguiu o show fazendo os fãs encherem a boca e cantarem alguns versos com Zé Geraldo. Um Simples Olharzinho Seu nos relembrou de uma canção belíssima e contagiante pela sua letra cheia de positividade, que contou com um excelente solo de Jean Trad na guitarra e também com Zé Geraldo solicitando que nós participássemos no refrão e nas palmas, que atendemos muito contentes.

    Aliás, a estrofe "Tô sem trampo, tô sem grana // Tô sem sono e meu time perdeu // Pra falar a verdade // Bem mais da metade dos meus problemas // Eu resolvo // Com um simples olharzinho seu" não poderia ser mais atual pela situação que vivemos no país neste ano, e aí mora algumas das maiores características das músicas de Zé Geraldo: não envelhecem, sempre permanecem atuais, tecem sutis críticas e são um deleite de se assistir ao vivo.

    A parte mais Folk do show, que remete a Bob Dylan, começou na seguinte, pois, Zé Geraldo colocando o apoio para solar sua gaita tocou a Olhos Mansos ( do Zé Geraldo 1981 ) e garantiu um acompanhamento de palmas. E como é gostoso de assistir um show com violão, voz e gaita, com algumas intervenções de guitarra como tivemos com a dupla Zé Geraldo e Jean Trad nesta noite na Danceteria Andradas. Depois recebemos A Poeira, O Canto e Você, mais uma do Sol Girassol, que retomou a leveza e o estilo intimista do show, que continuou com a melancólica Rio Doce ( do Estradas de 1982 ), que enaltece o lado mais romântico da apresentação e obviamente fez muitos cantarem alguns versos.

    "A canção que me lançou há 35 anos", assim Zé Geraldo iniciou a Cidadão, que foi gravada no primeiro álbum, o Terceiro Mundo, que por se tratar de um dos seus maiores sucessos causou aquele grande impacto nos fãs assim que reconheceram sua letra e saíram cantando praticamente em uníssono com ele. Lembra do que eu falei da atualidade das letras? Bem... esta é um claro caso que temos situações exatamente como são narradas acontecendo todos os dias. Acredito que Cidadão marcou um dos pontos altos do show, afinal, Zé Geraldo foi intensamente aplaudido.

    Agradece dizendo um "brigado pessoal" ele conta que antes de se apresentar comeu um filé de tilápia e que gostou bastante, que vai recomendar o lugar para os amigos em São Paulo e com Tô Zerado, título do disco de 2002 trouxe um clima mais Rock´n´Roll ao show, pois, Jean Trad aplicou alguns solos cheios de eletricidade e além disso, deu para perceber também alguns improvisos entre os dois músicos.

    Zé Geraldo nos conta uma história bacana da formatura de sua filha, que provoca sorrisos nos presentes, pois, ele deixa claro que é um homem simples, do povo, um matuto criado no mato ( levando-se em conta que ele nasceu na cidadezinha mineira de Rodeiro ), assim com acordes mais 'rurais', ele tocou a nova composição Meio Matuto, que é bastante divertida pelo seu ritmo e praticamente convoca a galera para participar.

     Para introduzir a seguinte, Zé Geraldo nos conta uma história de quando chegou em São Paulo, no início da década de 60 e foi exposto ao som de um cantor de nome Bob Dylan e como isso mudou sua vida, sua forma de pensar e ajeitando a gaita, ele começa a tocar a O Amanhã é Distante de Alceu Valença com um andamento bem tranquilo e gostoso de se ouvir. A segunda música que estará no futuro DVD de Zé Geraldo contou com um pequeno causo contado por ele que foi mais ou menos desta forma: "uma vez eu tive um sonho, que havia uma festa de Natal danada no céu, e lembra dos três reis magos, Baltazar, Gaspar e Belchior, que eles estavam tristes por conta da ausência de Belchior", que tirou risos dos fãs e ele intitulou esta música animada música como Os Dois Reis Magos, que ele cantou sozinho, sem o guitarrista Jean Trad e conquistou a plateia pelo jeito cômico de sua letra fazendo discretas alusões ao cantor brasileiro Belchior.

    Em mais uma história, Zé Geraldo fala que ganhou um aparelho moderno, um 'Smartphone' e avisa que o 'phone' vai usar para escutar e o 'smart' vai dar para sua mulher pintar as unhas. Desta forma em instantes depois, ele emociona com o sucesso Senhorita, gravado no disco Zé Geraldo 1981, que fez os presentes cantarem sua formosa letra e no meu caso específico, além de cantar, me deliciar ao ver ele solando sua gaita, pois, sou um apreciador deste instrumento. Enquanto cantava, Zé Geraldo mais uma vez pede palmas e é prontamente atendido.

    Bastante empolgado, tanto quanto nós, Zé Geraldo pergunta se a cantina onde comeu o filé de tilápia ainda está aberta e que depois do show irá para lá e executa em seguida a biográfica Zé e José ( do No Meio da Área de 1998 ), que praticamente conta em um ritmo mais Rock, a sua história desde quando começou na vida de música e de um amigo que até ficou rico, mas não, possivelmente, é tão feliz quanto Zé Geraldo. Essa foi outra que marcou o show nesta noite, ainda mais com os solos que realizados pela dupla.

    Alguém grita: "Milho aos Pombos" e Zé Geraldo com bom humor rebate: "Milho aos pombos daqui a poquinho irá chegar um caminhão de milho..." que naturalmente provocou risos em muitos e então, a motivadora Como Diria Dylan ( do disco Estradas ) foi tocada com todo brilho que contém sua letra, que deveriam ser um mantra no nosso dia-a-dia, afinal, ouvir: "O importante é você ver o grande líder que existe dentro de você // Meu amigo meu compadre meu irmão // Escreva sua história pelas suas próprias mãos" é para ir para casa e pensar melhor em cada passo de nossas vidas. E tudo isso foi regado a alguns improvisos no violão e na guitarra, além de alguns solos de gaita.

     A próxima da noite eu conhecia muito bem pela sua regravação feita pelos Engenheiros do Hawaii, mas não me lembrava se já tinha assistido Zé Geraldo cantando ela, e quando percebi que se tratava da emblemática Negro Amor ( do Aprendendo a Viver de 1994, que é uma excelente versão para It´s All Over Now Baby Blue do Bob Dylan ) em uma linha Rock´n´Roll, confesso que fui tomado por uma intensa alegria, que tenho certeza que foi compartilhada por todos os presentes na Danceteria Andradas.

    E mantendo o Rock´n´Roll em alta, hora de Galho Seco, que é recebida nas palmas por uma entusiasmada plateia, que transformaram esta música do Ninho de Sonhos ( de 1991 ) em mais outro momento deveras marcante do show, afinal, é impossível não sair cantando com Zé Geraldo em canções assim. Entre calorosos aplausos, ele agradece contente com um "brigado...brigado" e na gaita inicia os primeiros acordes de seu conhecidíssimo sucesso Milho Aos Pombos ( do álbum Zé Geraldo 1981 ), que foi cantada à plenos pulmões em uma grande harmonia entre músicos e fãs.

    Esta soberba Milho aos Pombos finalizou a primeira parte do show com muitas palmas, 'heys', assovios e com Zé Geraldo apresentando Jean Trad, os produtores e obviamente agradecendo a nossa presença. Novamente eu tenho que mencionar... mais uma canção que possui mais de 30 anos e continua atual, que me leva a exclamar: compositores como Zé Geraldo são visionários!!!

     Foram pouquíssimos instantes para que Zé Geraldo retornasse para o bis que contou com um medley de Cidadão / Senhorita / Milho Aos Pombos, que novamente voltou a emocionar forte nossos corações. Zé Geraldo ainda voltou para tirar fotos com os fãs e conversar rapidamente. Em pouco mais de uma hora e meia, Zé Geraldo aos 70 anos relembrou de antigas e nos mostrou novas canções, que garantiram a todos uma experiência formidável com sua sonzeira, que será lembrada e comentada por um bom tempo. Longa vida a este espetacular compositor e cantor Zé Geraldo, que mais vezes ele se apresente pelo Sul de Minas.

Texto e Fotos: Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos à Luiz Alberto Di Corradi
da Danceteria Andradas pela atenção e credenciamento
Junho/2015


Set List de Zé Geraldo

1 - Reciclagem
2 - O Preço da Rosa
3 - Semente de Tudo
4 - Maria Bonita
5 - Um Simples Olharzinho Seu
6 - Olhos Mansos
7 - A Poeira, O Canto e Você
8 - Rio Doce
9 - Cidadão
10 - Tô Zerado
11 - Meio Matuto
12 - O Amanhã é Distante
13 - Os Dois Reis Magos
14 - Senhorita
15 - Zé e José
16 - Como Diria Dylan
17 - Negro Amor
18 - Galho Seco
19 - Milho Aos Pombos
Bis:
20 - Cidadão / Senhorita / Milho Aos Pombos

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Zé Geraldo na Danceteria Andradas em Andradas/MG

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