Arcturus - Arcturian Latin American Tour
Sexta, 04 de março de 2016
no Hangar 110 em São Paulo/SP

    Como algo que você nem imagina pode acontecer? Foi com esse sentimento que eu e mais pelo menos 300 fãs da banda Arcturus adentramos no Hangar 110 nesta noite de sexta-feira. Para começar, fiquei surpresa ao ver gente de tantas cidades diferentes do Brasil na casa, já que desde o final do ano passado eu tenho comentado deste show para todos os meus amigos dentro e fora da Internet, e apenas dois estavam tão empolgados quanto eu.

    Criada em 1987 com o nome de Mortem e inicialmente do gênero Death/Black Metal, em 1990 muda o seu nome para Arcturus e se torna uma banda de Avant-gard Metal, gênero este que permite mais experimentações e ambientações mesclados com outros gêneros de Metal, do seu início até os dias atuais a banda já trocou de membros, lançou discos e DVD's, além de ficar um hiato alguns anos sem shows e sem lançar discos.

    Às 21h entro Hangar e encontro camisetas e cd's da banda para venda, bom, foi o único lugar fora da net em que eu achei tais objetos, já nas minhas conversas com os amigos próximos, não conseguia disfarçar a minha animação pelo que iria acontecer essa noite, algo que estava bem além dos meus mais longínquos sonhos de show ao vivo iria tocar essa noite.

    Às 21h30 sobem ao palco um a um: Hugh “Skoll” Mingay no baixo ( já tocou com a banda Ulver ), Steinar “Sverd” Johnsen no teclado ( tocou com a banda The Kovenant ), assumindo a guitarra Knut Magne Valle e Jan Axel “Hellhammer” Blomberg ( já tocou nas bandas Mayhem/Dimmu Borgir/The Kovenant ) nas baquetas, e finalmente aparece na minha frente Simen “ICS Vortex” Hestnæs ( já esteve presente nas bandas Lamented Souls/Borknagar/Dimmu Borgir além de trabalhos solos ).

    Iniciam o set com a Evacuation Code Deciphered do álbum Sideshow Symphonies lançado em 2005, para irmos nos acostumando a atmosfera pirata-espacial da banda, todos cantamos unidos aqui na frente, e tiro apenas uma única foto em todo o show, pois, é um momento muito mágico para ver através de uma lente de celular.

    Sem nada dizer ao final da música, eles iniciam a deliciosa Ad Absurdum do cd The Sham Mirrors de 2002, não há o que dizer... apenas sentir nesse momento! Mais inspirada do que os coelhinhos das pilhas Duracell, só me resta pedir desculpas aos que estavam a minha volta e me ouviram gritar e pular em cima de todos a música inteira.

    Ao final do pandemônio, Vortex diz algumas palavras, porém, não entendo seu sotaque norueguês. A próxima é a exótica Painting My Horror ( do La Masquerade Infernale, segundo álbum dos caras dos idos de 1997 ), nunca imaginei que chegaria o dia em que ouviria um coro cantar: "When in dream awake, I'd paint. Subconscious, the expanse I saw". Foi de arrepiar.

    Sverd era só sorrisos atrás do teclado e sempre que podia acenava para o público, já Vortex está sempre com suas mãos no bolso e sorriso tímido na cara, sempre retira seus protetores de ouvido quando terminam as músicas, e agradece ao final de cada música. Neste pequeno intervalo ele nos pergunta: "que tal umas novas músicas?" E começam a atmosférica The Arcturian Sign do último álbum, o Arcturian lançado em 2015, depois da euforia inicial do show, noto que todo o tempo passam vídeos subjetivos em preto e branco com temas dos álbuns e da banda, eles todos trajados com suas roupas rasgadas, chapéus e máscara, característicos dos músicos.

    A próxima também é do último álbum, a poética Crashland, mesmo sendo composições novas são cantadas e festejadas tão apaixonadamente, quanto as antigas. Durante as músicas, o vocalista entrega cerveja para os mais próximos do palco, Skoll é o mais animado do palco, sempre sorrindo, ou fazendo comentários engraçados para os outros músicos, ou apenas fazendo pose para fotos com o seu baixo.

    Outra que derreteu os corações foi a caótica Shipwrecked Frontier Pioneer ( do Sideshow Symphonies ), que foi emocionante e Vortex canta muito. No meio da música um fã levanta sua camiseta do Arcturus para os músicos, que sorriem orgulhosos. Nos intervalos, o pessoal pede My Nightmare Heaven e Alone, mas, essas infelizmente não compõem o set e os músicos mandam a The Chaos Path ( outra do La Masquerade Infernale ), que anima até a galera do mezanino, que canta e pula junto conosco aqui da pista. Durante o seu refrão, Vortex vira seu microfone para nós e todos nos apertamos na frente do palco cantar perto do mic.

   O vocalista nos pergunta: "Vocês estão se divertindo?" Essa é a Deamon Painter ( também do Sideshow Symphonies ) e sua introdução lenta acalma os ânimos à minha volta por um momento, porém, os riffs dessa música são um diferencial, o guitarrista Knut Magne Valle é quem eu menos vejo pela posição que eu fiquei, mas, sempre que o olho, parece que ele está em seu mundo particular de riffs. Em alguns momentos percebo a voz e o teclado soando baixos, entretanto, não tenho como dizer se é o volume dos instrumentos, ou o som das pessoas cantando alto a minha volta.

    Durante a Master Of Disguise ( do La Masquerade Infernale ) e suas misturas sonoras, os músicos nos tem na mão, seja acompanhando suas palmas ou "heys", algo que percebo é que quase não vejo gente 'bangueando', quem não está se descabelando de cantar, está de olhos atentos prestando atenção no show. Desta maneira, eles emendam a profunda Nocturnal Vision Revisited ( do Sideshow Symphonies ), Vortex volta e meia abandona sua pose quase tímida para cumprimentar alguém da pista, ou apontar e sorrir para outra pessoa, ou novamente entregar uma cerveja para um sortudo fã sedento da pista.

   Para não deixar os fãs do primeiro álbum decepcionados, eles tocam duas do Aspera Hiems Symfonia, debut de 1996: To Thou Who Dwellest In The Night, não possui os vocais rasgados do álbum, mas, mesmo com vocais limpos é bem enérgica. Agita muito e na hora em que fazemos o coro para o microfone do Vortex, a fã mais empolgada da noite dá um berro que deve ter ecoado até o outro lado da rua... Não, não fui eu... Dessa vez! A próxima é a Raudt Og Svart com seu mais puro Black Metal invernal e melódico, por possuir um andamento mais lento, dá uma cara de fim de festa ao show, no início da música Knut Magne Valle se atrapalha com sua guitarra e troca de guitarra, tudo isso sem parar de tocar um minuto.


    Chega o momento e em um tom de desculpas, Vortex nos avisa, só temos mais uma música, é só o que temos hoje. E começa a épica Game Over ( do novo Arcturian ), a galera que já estava mais calma da música anterior cantava mais baixo e se deixava conduzir pelo ritmo da música, alguns como eu estampavam na cara uma expressão de incredulidade, mesmo a esta altura do campeonato, um deles, com os olhos marejados segurava o topo da cabeça como se pensasse... são eles mesmo nesse palco?

    Ao final, todos os músicos vem nos cumprimentar na beirada do palco, aperto as mãos de Knut Magne Valle, Skoll e Sverd, já Hellhammer, passou muito rapidamente, como em todo show ele tocou primorosamente, mas, o tempo todo escondido atrás da bateria. O clímax da despedida acontece quando o fanfarrão do guitarrista consegue puxar uma garota para cima do palco e a leva em direção ao camarim!

    Ficamos todos incrédulos, quando os roadies começaram a aparecer e desmontar as coisas, não haveria 'encore'. Ainda assim, muitos demoravam a deixar a casa, principalmente quando o carismático Knut Magne Valle desceu e veio conversar com o pessoal da pista. Foi uma apresentação fantástica, memorável, os comentários na saída eram os mais variados: "Realizei um sonho de adolescência", "jamais imaginei esta banda no Brasil", "o som igual ao DVD", etc.

    Quanto a pergunta que me fiz no início deste texto sobre como algo que você nem imagina pode acontecer? A Cronos Entertainment me mostrou como! Que eles tragam mais shows de artistas diferentes, e que continuem realizando sonhos de pessoas em todo o Brasil.

 

Texto: Érika Alves de Almeida
Fotos: cortesia de Evandro Camellini
Agradecimentos à Costábile Sálzano Jr. e à
Cronos Entertainment pela atenção e credenciamento
Março/2016

Set List do Arcturus

1 - Evacuation Code Deciphered
2 - Ad Absurdum
3 - Painting My Horror
4 -The Arcturian Sign
5 - Crashland
6 - Shipwrecked Frontier Pioneer
7 - The Chaos Path
8 - Deamon Painter
9 - Master of Disguise
10 - Nocturnal Vision Revisited
11 - To Thou Who Dwellest In The Night
12 - Raudt Og Svart
13 - Game Over

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