Glenn Hughes - 2016 World Tour
Sábado, 17 de setembro de 2016
no Bar da Montanha em Limeira/SP

    Glenn Hughes, o brilhante baixista e vocalista inglês, que nos anos 70, se alçou ao sucesso com o Trapeze e de lá foi convocado para ocupar no Deep Purple o posto de Roger Glover, se consagrou durante o período que durou as MK III e MK IV.

    Paralelo à isso, entre o final da década de 70 e nos anos 80 tornou-se um artista solo e participou de outros projetos, além de uma breve passagem pelo Black Sabbath, mas, que se consolidou no supergrupo Black Country Communion no final da primeira década do século 21 e no início da segunda, ao lado de Joe Bonamassa, Jason Bonham e Derek Sherinian, que teve sua volta anunciada para 2017. E em todas essas bandas, Glenn Hughes foi criador de alguns dos clássicos absolutos do estilo do Hard Rock e Heavy Metal, mas, sem esquecer de suas principais influências, o Soul e o Funk.

    No mês de setembro de 2017, Glenn Hughes retornou mais uma vez ao Brasil para uma sequencia de seis shows, se apresentando nas seguintes cidades Curitiba/PR, Limeira/SP, São Paulo/SP, Belo Horizonte/MG, Rio de Janeiro/RJ e Florianópolis/SC.

    E o Rock On Stage acompanhou o show do músico inglês conhecido como "A Voz do Rock" - título conferido por conta de sua fenomenal voz - na cidade de Limeira no interior de São Paulo no Bar da Montanha, onde por volta de uma hora e meia fomos expostos ao seu contagiante carisma em mais uma atuação de gala. Esta data em Limeira marcou a segunda apresentação de Glenn Hughes na cidade em pouco mais de um ano, a quarta que o Rock On Stage acompanha e a terceira, que eu particularmente presenciei.

    Se no ano passado Glenn Hughes se apresentou ao lado do exímio guitarrista Doug Aldrich, neste ano esteve com os excelentes músicos Soren Andersen na guitarra e Pontus Engborg na bateria, que regularmente estão tocando com ele desde 2010 para juntos reviverem toda a alquimia musical de suas canções.  

     E com um Bar da Montanha tomado por muitos fãs, que antes do show foram expostos à várias canções mais Soul e Funk, fato que me chamou a atenção, pois, certamente foram escolhidas por Glenn Hughes para nos preparar ao que teríamos a seguir, afinal, sabemos que apesar de ter feito fama e sucesso como músico de Hard Rock e Heavy Metal à frente do Deep Purple gravando os lendários álbuns Burn, Stormbringer ( ambos de 1974 ) e Come Taste The Band de 1975 ( além de tantos outros ao vivo ), em seus shows e em muitos álbuns solo, a levada destes dois estilos é sentida, explorada e adorada.

    O trio se posicionou no palco por volta das 23hs para iniciar o espetáculo e já pudemos ver Glenn Hughes trajado com seus óculos púrpuros ( que coisa hein... ), uma camiseta preta, calça jeans, uma gravata afrouxada e seu imponente baixo dourado com sua assinatura; além do guitarrista Soren Andersen com um visual mais Glam Rock, estilo anos 70 com calça de couro e gravata fora do lugar também, sendo que mais ao fundo estava Pontus Engborg na sua enorme bateria.

    E sem introdução, eles já saem tocando a eletrizante Way Back To The Bone, do You Are The Music... We´re Just The Band de 1972 do Trapeze, ou seja, a viagem começou com uma sonzeira das antigas e pudemos ver Glenn Hughes cantar com uma facilidade enorme e desfilar todo o poder de sua voz para nós.

    Entretanto, mesmo com a pegada mais Soul desta música, não pense que os outros dois músicos não despejaram um vasto peso em sua execução nesta noite no Bar da Montanha, pois, o trio demonstrou uma integração muito grande ao efetuar alguns prolongamentos, onde Soren Andersen cravou alguns longos solos em sua guitarra ao lado de Glenn Hughes, que fez o mesmo em seu baixo de forma fantástica. No meio desses solos ele nos convoca para agitar, aplaudir e profere: "I´m love Brazil!!!"

     Na segunda da noite, já com a plateia ganha, Glenn Hughes nos mostra Muscle And Blood, uma das canções de seu projeto ao lado do guitarrista Pat Thrall, que foram registradas no álbum Hughes/Thrall de 1982, onde reparamos em sua linhagem mais Soul, que abre espaço para que Glenn Hughes solte alguns agudos de sua tão aclamada voz enquanto, inclusive, dança um pouco no palco provocando os nossos "hey... hey...". Da sua carreira solo temos a pesada Orion, que foi registrada no Soul Mover de 2005 e vemos entre seus marcantes toques no baixo, ele sorrir bastante por conta daquela energia única entre banda e plateia que temos nos shows, sendo que ele perguntou: "Are you feeling?", se referindo a esta troca e obviamente que nós gritamos: "Yeaaaah".

    O Rock´n´Roll retornou com a cativante Touch My Life, presente no álbum Medusa de 1972 do Trapeze, onde era impossível ficar parado e não sair dançando, aplaudindo e participando de sua positiva vibração, ainda mais com o fabuloso Glenn Hughes no comando do show como o grande frontman que é, se mexendo e expressando sentimentos no decorrer da música, que contou com um solo mais longo de Soren Andersen na guitarra, que terminaram numa levada de Blues, só que das pesadas e impressionantes, pois, são poucos que a fazem com tamanha adrenalina.

     Isso provocou uma reação nos fãs, que gritaram felizes "Gleen Huughes... Gleen Huughes...", e ele nos agradece pela presença, bate no peito para simbolizar que estamos no seu coração e comenta: "Obrigado... muito obrigado... Eu não sei falar 'Brazilian', mas vou tocar de 1982 uma rápida canção." Desta forma, aos toques sempre envolventes de seu baixo tivemos First Step Of Love do único álbum até aqui Hughes/Thrall gerando ( e transmitindo ) energia e produzindo uma incrível viagem sonora, seja através do seu baixo, dos solos na guitarra de Soren Andersen ou das evoluções do baterista Pontus Engborg. E First Step Of Love se amplifica em seu decorrer e logicamente, contém os agudos sensacionais de Glenn Hughes que tanto apreciamos.

Tempestade

    Ovacionado pela reluzente interpretação, ele nos agradece novamente e fala: "Obrigado... Eu amo vocês muito..." e complementa dizendo que nos agradece pelo suporte nestes anos todos, desde os tempos do Deep Purple para que então, como se recitasse um poema, pudéssemos ouvir: "Ride the rainbow // Crack the sky // Stormbringer coming // Time to die", ou seja, a artilharia pesada do show dos tempos do MK III da banda inglesa seria a sequencia da noite, e Stormbringer incendeia o Bar da Montanha causando uma agitação enorme nos fãs, que cantam, pulam e socam o ar junto com Glenn Hughes, que além de cantar seus versos toca seu baixo com muito peso e precisão.

    Posso acrescentar que Stormbringer, como já vi em algumas das várias vezes que Glenn Hughes veio ao Brasil, mais uma vez saiu, soberba, e depois de tantas vezes assistidas pelo público brasileiro, mais uma vez se percebe a grande diferença na capacidade de potência de voz de Glenn Hughes, em que pese a eficiência de outros grandes vocalistas.

    Stormbringer é uma composição que mostra a força da selvageria do idealismo de quem viveu e fez feitos como o Deep Purple e outras grandes bandas. Em suma, o trio executou este magnífico clássico do Heavy Rock mundial com a moral necessária para que eu aqui possa considerar como um dos pontos altos deste show de Glenn Hughes em Limeira.

Místico

    Com a plateia em êxtase pela anterior, Glenn Hughes repete que não fala 'brazilian', contudo, enfatiza o quanto estima o nosso país, para que logo em seguida, nos leve à um momento espiritual do show com a Medusa ( título do segundo álbum do Trapeze ), pois, ela começa lenta revelando muito sentimento em melodias que penetram em nossa alma e que recebem dosagens de peso ( especialmente de baixo ) para marcar cada um dos presentes no Bar da Montanha.

    E a junção entre o som que vinha do palco e de nós na plateia era tão grande, que você ficava em dúvida se agitava, se fechava os olhos ou se observava a atuação transbordando 'feeling' de Glenn Hughes ( aliás, minha escolha foi a terceira opção ), pois, em alguns momentos ele se mexia e parava - sem tocar seu baixo - depositando todo o seu magnetismo com seus longos agudos fazendo muitas caras e bocas, que transformam este momento em algo quase indescritível e realmente fascinante.

    Com alegria estampada em seu rosto pelo calor recebido dos fãs, Glenn Hughes comenta que nestes tempos, as pessoas neste mundo não estão se amando mais e em uma pegada de Blues - só que dos pesados - recebemos Can't Stop The Flood ( do Building The Machine de 2001 ), que mostrou outra característica do versátil vocalista, sendo que esta se diferencia de outras composições em seu ritmo, além de também contar solos mais 'sujos' de Soren Andersen em sua guitarra e muitas palmas dos fãs.

    Porém, o que tivemos a seguir foi uma explosão com uma das melhores do primeiro disco do Black Country Communion, a One Last Soul, que transborda uma melodia deliciosa com o estilo único de Glenn Hughes ao tocar seu baixo e seus vocais poderosos, que a tornam simplesmente delirante. O público demonstrou que conhecia One Last Soul e aguardava pela sua presença no set list pela tamanha agitação que realizou no Bar da Montanha.

Etéreo

    Simpático como sempre, ele nos agradece e inicia uma das mais emblemáticas canções da noite, a You Keep On Moving do Come Taste The Band, disco onde ele e David Coverdale levaram mais Soul e Funk ao Deep Purple e que também era das que os presentes mais ansiavam ouvir pela intensidade da participação que fizeram. Mas, também pudera, como conseguir ficar parado com a dedicação que Glenn Hughes demonstrou nesta música ao colocar sua alma e seu coração em cada verso, além de tocar seu baixo causando uma pulsação imensa? Não tem como e a resposta para esta pergunta me leva a outra: imagine se tivesse como ter o apoio do grave na voz de fundo de David Coverdale como no Deep Purple dos anos 70, que também é tão marcante quanto o agudo de Glenn Hughes na principal, que maravilhoso seria?

    Inclusive, durante You Keep On Moving, Glenn Hughes nos concedeu alguns momentos para que berrássemos seu título com ele, além de erguer as mãos como se estivesse nos abençoando e aí, com todo o potencial de sua voz... gritou e instantes depois, a guitarra de Soren Andersen entrou em cena para glorificar ainda mais este show em Limeira. Entretanto, Glenn Hughes alongou a canção e a cantou seus versos quase à capela nos deslumbrando ainda mais com sua presença de palco incorporando dosagens de 'feeling' imensas para terminar com notas fortes em seu baixo pouco depois.

    Sem respirar, ele já dispara uma canção solo, a Soul Mover, que intitula o álbum e é um mergulho em uma das influências máximas do músico, o Soul. E esta também se mostrou muito conhecida, pois, no ritmo fortificado do baterista Pontus Engborg muitos cantaram seus versos com Glenn Hughes, além de ficarem observando a atuação de Soren Andersen na guitarra.

    Mas, Glenn Hughes queria mais e em uma pausa dos instrumentos comanda nossas palmas e convoca para que cantássemos com ele o refrão de Soul Mover. Não parecia que passou tão rápido, porém, a primeira parte do show chegou ao fim... ele nos saudou pelo show e se dirigiu ao camarim aos gritos de "Gleeenn Huuuughes" repetidamente, que se alternaram com outros de "Glenn... Glenn... Glenn..." e a pedidos de músicas, como principalmente Burn.

    Porém, a volta de Glenn Hughes ao palco demorou um pouco mais que o esperado, talvez porque o baterista Pontus Engborg castigou tanto o kit, que ele precisou ser arrumado pelos roadies de Glenn Hughes e isso, aumentou a euforia bastante dos fãs para o bis.

  Quando finalmente o trio subiu no palco do Bar da Montanha, eles foram efusivamente aplaudidos e já foram tocando o hit Black Country do Black Country Communion, onde pudemos presenciar toda a eletricidade do baixo de Glenn Hughes neste rápido e atraente hit da superbanda. E a versão exibida nesta noite foi tão grandiosa, que nos deixou praticamente sem piscar ao olhar a forma que Glenn Hughes agredia seu baixo e cantava seus versos, mas, que também mereceu um destaque foi o baterista Pontus Engborg, que fez um robusto solo ganhando olhares de seu mestre até que aquele veloz ritmo inicial a terminasse fazendo os aplausos estourarem por todos os pontos da casa.

Em chamas

   Sem dar tempo de pensar qual seria a próxima música recebemos toda a radioatividade de Burn, canção que Glenn Hughes imortalizou nos anos 70 em shows alucinantes com o Deep Purple. E claro, que os presentes no Bar da Montanha puderam por um momento viajar sentindo toda essa efervescência que foi passada e pensar que mesmo do alto dos seus 64 anos, Glenn Hughes impressiona e coloca muito vocalista de bandas novas no chinelo com facilidade por conta da forma que comanda tanto os vocais da linha dele, como os de David Coverdale na composição original, pesando perfeitamente a intensidade de voz que essa música exige, devido a sua capacidade ímpar, sendo que ela saiu excepcional, música que com certeza será venerada por décadas e mais décadas.

 

   E assim, o impactante show de Glenn Hughes em Limeira terminou deixando todos nós plenamente satisfeitos com a revigorante apresentação. Durante os aplausos dos fãs, o trio fez o tradicional gesto de agradecimento e também jogou algumas palhetas e baquetas para alguns sortudos, que terão uma lembrança ainda maior deste show até que foi embora em definitivo finalizando indiscutivelmente um dos mais marcantes shows em solos limeirenses.

    Até queríamos mais músicas e poderia citar aqui canções admiráveis como "Mistread", "Gettin' Tighter", "This Time Around", "Lady Double Dealer", "You Are The Music, We´re Just The Band" para se juntarem ao set-list, entretanto, estas ficarão para a próxima turnê de Glenn Hughes no Brasil, até porque ele está com um novo álbum solo intitulado Resonate pronto para sair e também foi prometido um novo registro do Black Country Communion, então te pergunto caro leitor(a): você acha que vai demorar para o próximo show por aqui?

    E logicamente, assim que chegar a hora desta nova turnê, a Circle Of Infinity Produções, que nos últimos anos colocou o interior de São Paulo no mapa dos grandes nomes do Rock e Heavy Metal apresentará um novo espetáculo tão bom quanto este para um excelente público, que ocupou praticamente todo o Bar da Montanha.

Texto e Fotos: Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos à Edson Moraes da Circle Of Infinity Produções, Claudia e à JeanCarlo da PressRTV pela atenção e credenciamento

Setembro/2016

Set List do Glenn Hughes

1 - Way Back To The Bone
2 - Muscle And Blood
3 - Orion
4 - Touch My Life
5 - First Step Of Love
6 - Stormbringer
7 - Medusa
8 - Can't Stop The Flood
9 - One Last Soul
10 - You Keep On Moving
11 - Soul Mover

Encore:
12 - Black Country
13 - Burn

 

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do show do Glenn Hughes
 no Bar da Montanha em Limeira/SP

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