Iron Maiden - The Book Of Souls World Tour
Abertura: Anthrax e The Raven Age
Sábado, 26 de março de 2016
no Allianz Parque em São Paulo/SP

    Depois de três anos de sua última passagem pelo Brasil, que contou com um show no Rock In Rio, o Iron Maiden retornou para a turnê de divulgação do excelente álbum The Book Of Souls ( o primeiro duplo de estúdio da carreira da banda ) pelas seguintes cidades: Rio de Janeiro/RJ, Belo Horizonte/MG, Brasília/DF, Fortaleza/CE e São Paulo/SP ( onde o Rock On Stage esteve acompanhando ), que encerraram a turnê sul-americana do sexteto. Além do Iron Maiden, nós ainda teríamos mais dois outros shows de abertura, e que posso classificar como de luxo, pois, tínhamos um dos Big Four, o Anthrax e a promessa The Raven Age, que conta com o filho do chefe do Iron Maiden - Steve Harris - o jovem George Harris em uma das guitarras, mas isto é assunto para mais abaixo nesta matéria.

    Como sempre acontece, a presença do Iron Maiden no país é motivo para que as legiões de headbangers do país se mobilizem, e em São Paulo não foi diferente, pois, logo à tarde o entorno do Estádio Allianz Parque estava tomado por milhares de headbangers e o show estava com os ingressos esgotados ( ou sold out ) por uma multidão de 42.000 fãs da 'donzela de ferro'.

    E antes de adentrar ao estádio, vi que o Children Of The Beast, considerado como a banda tributo oficial do Iron Maiden na América do Sul se apresentava em uma das ruas próximas. Bem fiquei um pouco curtido o show deles e um tempo depois já fui para dentro do Allianz Parque.

The Raven Age

    Formado em 2009 na capital da Inglaterra, Londres, o The Raven Age teve sua fundação com os guitarristas Dan Wright e George Harris e em suas canções misturam o Heavy Metal Moderno com linhas melódicas um tanto que épicas. Além dos dois citados, o line up completa-se com Michael Burrough nos vocais, Matt Cox no baixo e Jai Patel na bateria. Em 2014, o quinteto disponibilizou o seu primeiro EP autointitulado e em breve estarão lançando o seu primeiro cd.

    Obviamente que o fato de um dos integrantes ser filho de Steve Harris facilitou para que eles fossem uma das atrações de abertura na The Book Of Souls World Tour, mas, isto somente aconteceu por conta deles também possuírem um talento e já terem se apresentado no Sonisphere ( mas, não no palco principal ) e no Knebworth, entre outras datas importantes. Programado para começar seu show às 18:45, o jovem quinteto inglês entrou no grande palco do Allianz Parque cinco minutos depois devidamente empolgado com a plateia, que estava aumentando a cada minuto e ansiosa pelo show principal da noite.

    Ao som de dedilhados, cada um deles vai assumindo sua posição no palco, sendo o primeiro o baterista Jai Patel, que entrou trajando uma camiseta do Brasil e mostrou seu carisma pedindo palmas, que aos toques pesados de sua bateria gerou vários "hey" no início arrastado de Uprising, que mostrou a atitude e o alcance dos vocais de Michael Burrough em um ritmo envolvente, moderno e cadenciado, que comprovou o porque da banda estar junto ao Iron Maiden. E a galera provou que estava gostando, pois, agitaram e berraram vários "hey... hey..." sempre que solicitados pelo vocalista.

    A encorpada e rápida Promised Land continuou o show do The Raven Age e o vocalista revelou que possui uma ótima presença de palco em meio as atuações cheias de energia dos guitarristas Dan Wright e George Harris, que emendavam entre suas linhas modernas, riffs cheios de melodias e inspirados no Heavy Metal antigo, que garantiram muitas palmas.

    Andando de um lado para outro, Michael Burrough saúda os fãs presentes e então The Death March foi tocada com todos os seus solos de guitarras, que pelas modificações dos músicos e também pelos pedidos do vocalista, ganharam muitas palmas em sua parte mais melódica. Provavelmente impressionado com a reação da plateia, Michael Burrough diz: "porra... grita aí..." e logo depois anuncia a rápida e pesada Eye Among The Blind, que entre sua roupagem atual e seus dedilhados, garantiu muitos aplausos dos fãs, provavelmente dos mais novos, que são mais acostumados com bandas assim. Aliás, nos solos alongados, ora mais lentos, ora mais fortes, executados pela dupla de guitarristas certamente fez o The Raven Age conquistar mais adeptos, pois, demonstraram linhas melodiosas e dedilhados muito interessantes.

    Em seguida, o vocalista anuncia a The Merciful One e sentimos o seu ritmo forte, pesado, porém, com partes cheias de melodia, que ganham palmas de alguns pontos da plateia, quando o vocalista 'moicano' passa emoção ao cantar suas partes e George Harris crava um excelente solo. Após apresentar o baterista e o guitarrista, eles tocaram a épica Salem's Fate, que garantiu muitos "hey...hey...hey" de muitos dos fãs, sinal que estavam gostando e acompanham o trabalho dos jovens ingleses.

    O vocalista Michael Burrough ressalta que eles estavam contentes por estarem abrindo para o Anthrax e para o Iron Maiden perguntando para a plateia se queremos ver os shows seguintes, o que fez eclodir os gritos de "Maiden... Maiden... Maiden...", mas, termina questionando se queremos mais uma canção ( o que causou um desanimo em alguns mais ardorosos discípulos do Iron Maiden ), e a Angel In Disgrace, mais conhecida por ter sido escolhida como o primeiro clipe da banda, com seu ritmo vigoroso fechou a apresentação do The Raven Age, que fez evoluções bem pesadas nas guitarras, além de exibir também solos melódicos, que são característicos da banda.

    Vale dizer que ele teve tempo de agradecer a todos pela recepção e junto ao demais de receberem bastante aplausos, além é claro, de baterem aquela foto com todo o estádio ( e os fãs ) de fundo.

    Embora tenha a convicção que serão necessárias mais audições do The Raven Age para absorver direitinho o seu som, eles fizeram um show se entregando bastante aos solos e à técnica, se movimentaram bastante pelo palco, mas, ainda falta aquele carisma característico dos nossos ídolos principais da noite, entretanto, tenha certeza caro leitor(a)... eles estão aprendendo com alguns dos melhores professores do mundo. Enfim, posso concluir dizendo que não é que o quinteto The Raven Age honrou e fez um ótimo show de abertura mesmo estando dividindo o palco com o experiente Anthrax e a lenda Iron Maiden?

Set List The Raven Age

1 - Uprising
2 - Promised Land
3 - The Death March
4 - Eye Among The Blind
5 - The Merciful One
6 - Salem's Fate
7 - Angel In Disgrace

Anthrax

    Logo após a banda do filho de Steve Harris tocar foi a vez do Anthrax entrar em cena, e o Anthrax não deixou por menos, diante de uma plateia de mais de 40.000 pessoas, que dificilmente sozinhos eles conseguiriam lotar um Allianz Parque e fizeram tudo o que podiam para cravar um show fenomenal, usando toda a experiência acumulada em mais de trinta anos de banda e mostraram o seu valor, desta vez divulgando o novo álbum For All Kings ( de 2016 ) e salientaram que não são coadjuvantes na história do Metal, que estão na linha sucessória das bandas que fazem história e que honram o estilo.

    Joey Belladonna ( vocais ), Scott Ian ( guitarra rítmica ), John Donais ( guitarra solo ), Frank Bello ( baixo ) e John Dette ( bateria, substituindo nesta turnê Charlie Benante, que está se recuperando de problemas na mão direita ), o Anthrax iniciou o show com a Caugh In A Mosh ( do Among The Living de 1987 ), o Anthrax não é Heavy, são Thrash, só que no final das contas é tudo Metal, nessa música eles começaram com uma forma peculiar, que mostra o porque são dos melhores da história do Metal, pois, foi impressionante a atuação do baterista John Dette que iniciou a música, mesclando bumbo e caixa, só que fazendo uma espécie de contra tempo, mostrando uma variação musical surpreendente, sem seguir o velho clichê, de pedal duplo e caixa, batendo forte logo na cabeça do acorde, como é usual e repetido nas bandas Thrash.

     Em seguida tocaram dois covers, primeiro com a Got The Time do Joe Jackson ( que saiu no Persistence Of Time de 1990 ) e depois com a Antisocial do Trust ( essa registrada no State Of Euphoria de 1988 ), e a interpretação foi excelente, pulsante, mostraram mais uma vez que são escola, quando ocorre o perfeccionismo do Thrash. Joey Belladona enaltece a importância de estar novamente no Brasil tocando para um público tão grande e também sobre a abertura do show do Iron Maiden, que resulta no coro "Maaaideeen... Maaaideeen..." para terminar dizendo que ama São Paulo e também pede para cantarmos com ele.

    Em seguida tocaram a pesada Fight 'Em 'Til You Can't do Worship Music ( de 2011 ) com os guitarristas Scott Ian e John Donais enviando solos destruidores, depois Scott Ian sorri, volta a agradecer ao Iron Maiden e indaga se gostamos do novo álbum para apresentar a recente Evil Twin. O Anthrax continua com a Medusa ( do Spreading The Disease de 1985 ), nesta última a banda tocou muito bem, além da eletricidade e a seção rítmica ser precisa e contundente, os backing vocals, são precisos também, altos, uma bela oratória para os fãs, que dava quase vontade de falar "pode parar o show tá perfeito, não vai melar com uma errada".

    Para a parte final tivemos a Breathing Lighning do novo For All Kings e o clássico Indians ( do Among The Living ), onde deu para reparar como frontman Joey Belladona possui um grande carisma com o público, parece ser um sucessor de Bon Scott do AC/DC. Na Indians teve a presença de Andreas Kisser do Sepultura - que pouco depois iria se apresentar com a banda no SESC Pompeia - mais uma vez o sincronismo e a qualidade elétrica foi marcante, associado a um backing vocal pulmonar em uníssono, foi especial, e chegaram inclusive a tocar um trecho, talvez do melhor clássico do Heavy Metal Brasileiro, que é a Refuse/Resist.

    É impressionante como o Anthrax é uma banda perfeita para se tocar em arena, pois, são muito eficazes e deveriam todos os shows tocarem em lugares abertos, que ao meu ver, eles mostram melhor o seu trabalho. Numa era de lágrimas para os fãs do Rock e do Metal em que vários ícones estão indo ou pendurando as chuteiras, não há dúvidas que bandas como o Anthrax, assumirão a legitimidade do conduzir o Metal, que está muito carente de bandas capacitadas e originais há mais de quinze anos. Nos rápidos agradecimentos, os norte-americanos avisaram que estarão novamente no Brasil no próximo ano.

Set List do Anthrax

1 - Caught In A Mosh
2 - Got The Time
3 - Antisocial
4 - Fight 'Em 'Til You Can't
5 - Evil Twin
6 - Medusa
7 - Breathing Lightning
8 - Indians

Iron Maiden

Começa o Ritual de Sacrifício Maia

    Depois do show matador do Anthrax, que acabou por volta das 20:45, agora era só esperar pelo Iron Maiden, como se isso fosse uma tarefa fácil e a insatisfação com o governo foi lembrada com gritos de “FORA DILMA, FORA DILMA...” e alguns mais ofensivos, que deixaram claro que os headbangers não são alienados como é divulgado pela imprensa comum. Os minutos em que a equipe preparou o palco até o início do show ( às 21:20 ) foram aumentando consideravelmente nossa ansiedade.

    Esta apresentação no Allianz Parque marcou a décima data da The Book Of Souls World Tour, a décima primeira visita no Brasil e a oitava em São Paulo comprovando o carinho mutuo entre os ingleses e os fãs paulistas ( além de ser meu sétimo show do Iron Maiden e o quarto coberto pelo Rock On Stage ). Enquanto que não chegava a hora, ouvimos vários clássicos do Heavy Rock com músicas do Deep Purple, Def Leppard e Black Sabbath até que foi chegada a hora do clássico do U.F.O. Doctor, Doctor ser a última antes do show do Iron Maiden. Sim... eles conhecem músicas boas e gostam delas...

    O vídeo introdutório da turnê foi exibido nos telões do estádio e mostraram o cultuado Ed Force One - hoje um gigante Boeing 747 400 - preso em uma floresta tropical ( seria na Amazônia? ) tentando voltar aos céus, quando a imensa mão do Eddie, o pega e o lança em voo para que o capitão Bruce Dickinson assuma o comando da aeronave ( embora isto não apareça no vídeo ).

    Neste instante, no banner havia uma pirâmide Maia, as labaredas de fogo em pontos estratégicos do palco foram acesas e do centro um vaso soltando fumaça - como se fosse parte de um ritual Maia de sacrifício - Bruce Dickinson com uma blusa de capuz aparece recitando os versos iniciais de If Eternity Should Fail, que trazem a atmosfera do novo álbum para dentro de cada um dos milhares de presentes, cuja reação foi de pular e cantar os versos com ele, que instantes depois recebem seus riffs melódicos e nós vemos Steve Harris no baixo, Adrian Smith, Dave Murray e Janick Gers nas guitarras e tentamos enxergar Nicko McBrain atrás de seu gigante kit de bateria.

    E logo de cara, Bruce Dickinson, o Air Raid Siren, já solta um: "E aí Sãoo Paulooo..." enquanto que os outros em seus instrumentos tocam suas notas com uma perfeição de estúdio. E as vocalizações do frontman do Iron Maiden ajuda a empolgar instantaneamente e ele se movimenta por cada parte do palco inflamando ainda mais o show. Mesmo sem ver o grandalhão Nicko McBrain, a hora que ele faz uns toques específicos sua bateria no meio desta primeira música - te confesso - arrepiam, assim como, Steve Harris junto solando seu baixo com a conhecida destreza e também o seu final nos dedilhados e na voz sinistra que ecoou no Allianz Parque.

   A rápida e a primeira que foi liberada do álbum The Book Of Souls, a Speed Of Light, veio em seguida com todos na banda se movimentado bastante e Janick Gers já começando a fazer suas peripécias como esticar a perna, jogar sua guitarra para trás, enquanto que Adrian Smith e Dave Murray cuidam dos solos e claro, Bruce Dickinson com todo o seu enorme carisma preenchendo cada parte do palco ( ele é hiperativo e não para quieto nunca ).

    Aos gritos cada vez mais fortes de "Olê... Olê... Olê... Maiden... Maiden... Maiden", o vocalista se posiciona bem à frente e cumprimenta os fãs que estão próximos à ele, nos lados, nas arquibancadas e enfatiza que este é o último show no Brasil e que será o melhor show, pois, tínhamos todos os ingressos vendidos e desta forma anuncia a Children Of The Damned ( do The Number Of The Beast de 1982 ), que foi recebida nas palmas e emocionou esta multidão, que fez questão de cantar cada verso com ele. Foi impressionante também ver Adrian Smith no violão para extrair os primeiros acordes deste clássico do começo da banda inglesa, que ao receber seu andamento acelerado, o que ouvia-se era os "ôôôôôôô" dos fãs cada vez maiores com muitas palmas, que indiscutivelmente deixaram os músicos contentes, que dispararam solos sensacionais.

Platina no Brasil

    Retornando ao The Book Of The Souls, Bruce Dickinson conta que a música seguinte era sobre uma história triste ( em homenagem ao ator Robin Willians ) e comenta das vendas do novo cd por aqui dizendo que recebeu Disco de Platina, que hoje em dia é difícil e é um recorde. Desta maneira, vimos no banner as cartas da rainha, do às e do rei estilizados em pinturas de 'Eddies' maias e Tears Of A Clown com seu ritmo mais lento prosseguiu a efervescência do show e os milhares e milhares de fãs cantaram muito com ele, especialmente o refrão que entra na cabeça. Na parte instrumental, Adrian Smith comanda junto a Dave Murray os belíssimos solos, enquanto que Janick Gers faz mais a parte festiva da canção ( ou seja pula, dança e outras de suas conhecidas e divertidas estripulias ) e Bruce Dickinson sempre fingia derrubar seu microfone, porém, o pegava logo em seguida.

    Com luzes vermelhas voltadas para si, Steve Harris realiza um curto solo de baixo, porém, preciso e impactante, que introduz a nova The Red And The Black e Bruce Dickinson solicita uma nova sessão de "hey...hey...hey..." dos fãs até que cante os seus pesados versos com uma potência em sua voz para deixar claro que ele realmente venceu o câncer e está totalmente revigorado. Quando a música pede, os "ôôôôôô" foram quase estonteantes e nas partes melodiosas eles nos passam linhas progressivas belíssimas, que ficamos praticamente enfeitiçados olhando as atuações do trio de cordas sendo Dave Murray com uma Gibson Les Paul, Adrian Smith com uma Jackson e Janick Gers ( que fez até um 'duckwalk' ) com uma Fender e também do mentor Steve Harris tocando seu baixo Fender Precision Jazz Bass, que encerra a música com seus toques opacos.

    Eles praticamente colocam 'a casa abaixo' assim que o banner da The Trooper ( do Piece Of Mind de 1983 ) foi exibido no fundo do palco e Bruce Dickinson aparece vestido com o uniforme utilizado pelos ingleses na Guerra da Criméia no século XVIII cantando e agitando uma bandeira da Inglaterra. E o vocalista leva a bandeira até uma das partes altas do palco e 'atrapalha' Janick Gers solar sua guitarra encobrindo seu rosto, tudo bem... Adrian Smith com sua citada Jackson e Dave Murray, agora com uma Fender Stratocaster garantiram o entusiasmo dos presentes solando perfeitamente.

    Com um novo banner de um índio Maia estilizado e com seu início sombrio, a emblemática Powerslave ( título do álbum de 1984 ) entra em cena com chamas e com Bruce Dickinson utilizando uma máscara de lutador mexicano de Mucha Lucha ( lembra daquelas lutas livres dos anos 80, que eram totalmente combinadas e aqui ficaram conhecidas como "Os Gigantes do Ringue" ) no lugar de sua conhecida vestimenta egípcia, dando um aspecto mais divertido ao show. Essa foi outra que galera participou intensamente, afinal, sentir suas notas executadas pelo Iron Maiden ( especialmente do baixo ) em um show assim é simplesmente fabuloso, ainda mais quando chegamos nos solos de guitarras que são sempre suntuosos e garantiram mais uma sessão de "ôôôôôôôô" da plateia, que ficou mais eufórica ao ouvir "Scream For Me São Pauloooo" por duas vezes.

    Mais uma vez, antes que Bruce Dickinson cantasse a parte final da Powerslave, lá da parte mais alta do palco os solos combinados dos três guitarristas junto à base de baixo e bateria no grau de sincronia que o Iron Maiden possui... realmente impressiona, assim como a iluminação a cada música interagindo com o estádio. E na sequencia do show, o Iron Maiden nos expõe à mais uma das novas canções do The Book Of Souls, agora com a pesada e que faz todo mundo cantar: Death Or Glory, cuja letra é sobre o aviador Barão Vermelho e enfatiza os toques de guitarras com riffs sensacionais.

    Nesta, Bruce Dickinson fica mais ao centro do palco e o banner é aquele onde mostra-se o Eddie arrancando o próprio coração e o segurando nas mãos e eu pude confirmar ao longo deste show porque Nicko McBrain me impressionou nas audições do cd, pois, ele fez um trabalho com muita técnica a cada toque, 'lick' e virada em suas muitas peças de seu kit de bateria.

O ritual se completa

    Aos gritos de "Olê... Olê... Olê Maiden... Maiden..." Bruce Dickinson vai ao microfone e comenta: "os impérios crescem, mas sempre caem, não importa se é um império do mal ou se até o acharmos um tanto legal. Eles sempre caem. Isso é algo que nós falamos nesse álbum, The Book Of Souls, esta é sobre o Império Maia." E então, como costumeiramente acontece, o Iron Maiden, quando está em turnê de um álbum de inéditas faz de sua canção título um dos pontos altos do show, para marcar cada fã que esteve presente na sua tour para que este se lembre e comente sempre para os amigos e amigas.

    E com a sintomática canção The Book Of Souls, não foi diferente, pois, a cada nota fomos literalmente enfeitiçados pela atuação da banda, que começou com Janick Gers no violão mandando seus dedilhados para logo então, os solos mais pesados e cheios de melodia tomarem conta do palco de forma que o vocalista conduzisse a magia da canção. Além disso, sempre que prestava atenção no 'chefe' Steve Harris, reparava que ele apontava seu baixo em nossa direção, literalmente disparando suas notas naquele estilo que caracterizou sua hábil forma de tocar.

    E o pote ritualístico de fumaça voltou a aparecer ao lado de totens que disparavam rajadas de fogo ( foram seis que eu contei ) com o teatral Bruce Dickinson na frente do palco e era como se a banda estivesse invocando alguma entidade... e estava, pois, o banner mostrava o Eddie com um machadinho na não procurando por vingança e no decorrer de The Book Of Souls, eis que aparece um gigante mascote da banda - na sua versão Maia com uns três metros de altura - apareceu andando pelo palco para delírio da multidão de fieis seguidores da banda, que foram levados ao êxtase.

    Durante os solos, o Eddie vai até ao lado de Janick Gers e este passa embaixo dele como se estivesse lutando contra, o que é uma tradição no Iron Maiden, mas assim como no encarte do cd, em que a criatura tem seu coração retirado para fora do corpo, neste espetáculo, Bruce Dickinson - agora na parte alta - arranca o coração do Eddie, o atira para a plateia e fica de frente para o pote completando o ritual de sacrifício. No final, novamente ouvimos os dedilhados de Janick Gers no violão nos levando a exclamar: "que show que é esse!!! Que sensacional!!!"

Com a corda no pescoço

    Para a parte final do show, só clássicos que consagraram a banda na história do Heavy Metal Mundial e o primeiro deles apareceu com os sinos de Hallowed Be Thy Name ( do The Number Of The Beast de 1982 ) com todos cantando e acompanhando o seu ritmo eletrizante nas palmas em um momento que certamente emocionou a banda. E algo que até então nunca havia visto nos shows do Iron Maiden me chamou a atenção: Bruce Dickinson na parte mais alta do palco cantando com uma corda no pescoço interpretando o personagem da letra da música, que seria enforcado e pede perdão por seus pecados ao rezar a oração do Pai Nosso.

    Na primeira rodada de solos, o vocalista bate a corda em um dos pratos da gigante bateria de Nicko McBrain, e detalhe, no ritmo da música, dizer que eles são dominadores de uma harmonia perfeita é pouco. E jamais posso esquecer quando o vocalista gesticula na hora dos solos de guitarras - comandados por Dave Murray - pedindo para que primeiro o lado direito e depois o esquerdo participem gritando cada vez mais alto ( quem já assistiu ao menos a um DVD do Iron Maiden entenderá o que estou falando ) e como é delicioso partilhar de um momento como este com a banda.

Implacáveis

   Logo nos primeiros acordes de Fear Of The Dark, a vibração dos 42.000 presentes no Allianz Parque é maior que um grito de gol fazendo no ritmo os "ôôôôôôôô", sendo que nesta todo mundo - sem exceção - cantaram seus versos, pois, a canção com mais de 20 anos, que intitula o álbum de 1992, desde que foi lançada fez parte do set list do Iron Maiden e sua alta voltagem contagiou a todos, afinal, que fã que consegue ficar incólume aos seus brilhantes solos de guitarras, ao seu eficaz andamento, aos seus exuberantes vocais?  

    Para finalizar a primeira parte do show ouvimos os gritos aguardados e sempre lembrados por todos: "Screaming For Me São Paulooo" e aí recebemos os ferozes riffs que trazem a música que intitula a banda, que também jamais sairá do set list, estou falando da veloz, destruidora, agitada Iron Maiden ( registrada no primeiro álbum de 1980 ), e durante seus solos matadores de guitarras, uma monstruosa cabeça e tronco do Eddie estilo Maia apareceram atrás do palco se movimentando e coroando a imponência deste show. Bruce Dickinson novamente a interpreta com o seu estilo inigualável e que para sempre será a cara do Iron Maiden, Janick Gers fica girando sua guitarra e Steve Harris mira seu baixo em nossa direção, enfim, estupendo e inesquecível.

Bis Explosivo

    Incessantemente, os fãs gritaram "olê... olê... olê... Maiden... Maiden..." até que vemos um imenso 'capetão' de braços cruzados e olhar imponente, que parecia um misto de boi e bode elevar-se no lado direito do palco durante o retorno da banda e ouvimos a narrativa de Barry Clayton ( ator inglês de rádio e TV ) ressoando como se fosse um mantra, para que depois o inflamado e conhecidíssimo ritmo do hino The Number Of The Beast ( título do álbum de 1982 ) tomasse conta do estádio alucinando os fãs, que cantaram cada verso com Bruce Dickinson. Além da execução perfeita do sexteto, as labaredas de fogo transformaram o Allianz Parque ( ao menos o palco ) em um "inferno na terra" em mais uma versão monumental deste clássico do Heavy Metal. E reparar na velocidade dos solos de guitarras de Adrian Smith, Dave Murray e Janick Gers sendo acompanhados de perto pelo baixo de Steve Harris, não importa quantas vezes você (ou)viu... é sempre muito prazeroso.

     É... o bis começou literalmente incendiário e para introduzir a próxima, o vocalista comenta: "Nós pulamos, tocamos, não atiramos em ninguém, não temos coisas de gangue. Só nos divertimos. Somos irmãos de sangue" além de falar também da alegria sentida pela banda por este último show da tour sul-americana acontecer em São Paulo, com 'casa cheia' e termina dizendo que São Paulo é a capital do Heavy Metal no Brasil. Desta forma, do Brave New World ( de 2000 ) tivemos Blood Brothers, canção que apresenta um crescimento gradativo e que cativa bastante ao seu decorrer fazendo todos participarem no refrão, além de ficarem extasiados com a belíssima iluminação, que pareciam estelas.

Lembrança do passado

    Para mim especificamente, Blood Brothers me traz uma lembrança de 2001 no Rock In Rio - quando vi meu segundo show do Iron Maiden e o primeiro com Bruce Dickinson nos vocais - pois, naquela ocasião, naquele calor gigantesco do Rio de Janeiro em pleno verão... fui agraciado por uma garota que me forneceu água no momento em que estava quase desabando ( não queria correr o risco de perder o lugar onde estava para ir procurar um vendedor ) e ela me 'salvou', como um 'irmão de sangue' faz com outro, quando em combate. Voltando ao show desta noite, foi sensacional assistir de perto Bruce Dickinson solicitar nossas palmas para acompanhar o andamento da música. Participar de momentos como este, realmente, faz a diferença nas almas de cada headbanger presente no Allianz Parque.

    Não parecia, mas estávamos 'já' na última música do show, a Wasted Years ( do Somewhere In Time de 1986 ), que foi apresentada com seus eloquentes solos de guitarras, com destaque para Adrian Smith, que foi o criador de seus riffs iniciais ( que para mim estão entre os mais belos da história do Heavy Metal ) e aos fãs, que a cantaram de forma quase ensurdecedora por todos os lados do estádio. No banner de fundo vimos 'Eddies' de todos os tempos e de todos os álbuns, além de conferir o vocalista andando de um lado para outro da parte superior do palco, extremamente contente com seus súditos neste show. 

    Por fim, tanto Bruce Dickinson quanto os demais nos agradecem, se reúnem para despedir, jogar suas palhetas ( troféus únicos ) e serem ovacionados por toda multidão headbanger. Finalmente, Nicko McBrain vai mais à frente para jogar suas baquetas e vemos o baterista grandalhão mais de perto ( no show, conforme disse mais acima, ele some em seu kit ). Embora sabíamos que o show havia acabado... ficava aquela esperança da banda retornar ao palco, entretanto, como nosso íntimo nos denunciava... - ao som de Always Look On The Bright Side Of Life do Monty Python tocada nos P.A.s - chegara a hora de partir para casa extasiados de contentamento.

  

Impecáveis, mas por que 'tão 'rápidos'?

    Foram quase duas horas de show do Iron Maiden em 'apenas' quinze músicas, sendo seis do disco novo, ou seja, apenas nove dos álbuns mais antigos, e ainda assim, os ingleses fizeram uma apresentação que pode e deve ser considerada como simplesmente impecável em São Paulo, que conseguiu nos deixar com a sensação de 'mas já acabou... mas nem começou ainda...' além de quintuplicar a vontade de ver mais um show do Iron Maiden.

    Quando assistimos a um espetáculo de uma das melhores bandas de Heavy Metal da história, que está com um grande 'feeling' e uma produção neste nível diferenciado como é o caso do Iron Maiden, realmente a sensação é de que o show foi curto, de tão grandioso que foi... Enfim, o Iron Maiden realizou uma das suas melhores apresentações no Brasil e deixou claro que tem fôlego para um novo giro pelo país, o que não deve demorar para acontecer. E quando acontecer não tenha dúvidas que esta verdadeira massa de fãs estará novamente pronta para conferir.

 

Texto: Fernando R. R. Júnior ( Iron Maiden e The Raven Age )
e André Torres ( Anthrax )
Fotos: Fernando R. R. Júnior, 
Marcos César de Almeida e Camila Cara
Agradecimentos à Denise Catto Jóia e a Midiorama
pela atenção e credenciamento
Abril/2016

Set List Iron Maiden

Doctor Doctor
1 - If Eternity Should Fail
2 - Speed Of Light
3 - Children Of The Damned
4 - Tears Of A Clown
5 - The Red And The Black
6 - The Trooper
7 - Powerslave
8 - Death Or Glory
9 - The Book Of Souls
10 - Hallowed Be Thy Name
11 - Fear Of The Dark
12 - Iron Maiden

Encore:
13 - The Number Of The Beast
14 - Blood Brothers
15 - Wasted Years
Always Look On The Bright Side Of Life (Monty Python song)

 


 

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