Scorpions - 50Th Anniversary World Tour
Quinta, 1º de setembro no Citibank Hall em São Paulo/SP

    É possível sintetizar 50 anos de carreira, tocando seus principais e históricos sucessos, além de músicas do último lançamento de estúdio e realizar um dos melhores e mais marcantes shows do ano em pouco mais de uma hora e quarenta minutos?

    Sim, é possível, se estivermos falando dos alemães do Scorpions, que visitaram o Brasil no mês de setembro com a 50Th Anniversary Tour e brindaram o público paulista com três apresentações memoráveis no Citibank Hall em São Paulo/SP. As outras duas cidades que puderam assistir aos seus shows foram Fortaleza/CE e Rio de Janeiro/RJ e o Rock On Stage acompanhou o primeiro show realizado na capital paulista.

    O Scorpions teve sua fundação efetivada por Rudolf Schenker, ainda na escola em Sarstedt, Lower Saxony no longínquo ano de 1965, mas, o primeiro dos 26 discos só foi lançado em 1972, quando o indefectível vocalista Klaus Meine já fazia parte da banda. Além disso, entre alguns dos impressionantes números da carreira do Scorpions, posso ressaltar os mais de 100 milhões de álbuns vendidos, os vários hits no top 10 de grandes mercados e em nossos corações, a presença de mestres da guitarra como o mago Uli John Roth e o virtuose Michael Schenker em algumas de suas formações.

    Eles foram um dos principais nomes no lendário Rock In Rio de 1985, as fronteiras desbravadas em locais até então inóspitos como Líbano, China e países do sudeste da Ásia e a aclamação na Rússia em 1989 no Moscow Music Peace Festival, enfim, são realmente muitos feitos importantes para mencionar todos, então, vamos ao show desta quinta, que marcou o retorno da banda ao país após quatro anos.

    Ao contrário de outras ocasiões, desta vez um enorme pano de fundo ornamentado com a capa do álbum Return To Forever separava o palco da plateia despertando assim uma maior curiosidade e uma grande ansiedade pelo que teríamos à seguir.

    Isso começou a ser revelado no exato instante programado para o início do show, às 21:30, quando ao som da sirene de ataque aéreo recebemos Klaus Meine nos vocais, Rudolf Schenker e Matthias Jabs nas guitarras, Pawel Maciwoda no baixo e Mikkey Dee ( ex-Motörhead ) na bateria ( que está temporariamente no lugar de James Kottak, enquanto este se recupera de um problema de saúde ) executando o contagiante Rock´n´Roll de Going Out With A Bang ( do Return To Forever de 2015 ), que notadamente estava mais pesado que no estúdio, cortesia do convidado Mikkey Dee, que não economizava nos toques de sua bateria.

    A emoção de vê-los nos palco foi imensa e desta vez o Scorpions inovou e trouxe uma pequena pista que levava à um pequeno palco mais à frente dos fãs, aumentando o contanto e me fazendo exclamar: "nunca vi um show deles tão de perto!!!" É... isto mesmo, pois, eles vinham toda hora neste espaço elevando a interação com os fãs, sendo que o primeiro foi o inquieto Rudolf Schenker.

    À julgar pela euforia que estava sendo vista, o show seria realmente inesquecível, pois, além da iluminação, que estava fazendo a diferença ( um padrão do Scorpions ), os painéis que ficavam atrás e acima dos músicos também se relacionam com os fãs exibindo diversas imagens o tempo todo, como a bandeira brasileira já durante a Make It Real do Animal Magnetism de 1980. Entusiasmado, Klaus Meine grita: "booooa noooite Saooo Paaaaulooo" e o Hard Rock eletrizante de The Zoo ( outra do Animal Magnetism ) é a próxima com todos gritando "ôôôôôô" no ritmo com o vocalista, que estava com sua tradicional boina preta, óculos escuros e uma jaqueta preta. Nos solos Mattias Jabs utilizou um 'talking box' enquanto que Klaus Meine fazia sua vasta distribuição de baquetas para os fãs acompanhavam a melodia nas palmas.

    Sem que se percebesse, os solos levaram para a pesada Coast To Coast ( esta do Lovedrive de 1979 ), onde Rudolf Schenker e Mattias Jabs solam suas guitarras alternadamente passando toda a energia de seus vigorosos riffs. E a cada movimentação dos músicos para a parte do 'palquinho', a vibração dos fãs crescia exponencialmente, como foi o caso quando Pawel Maciwoda e Klaus Meine portando uma guitarra foram até lá com Mattias Jabs e Rudolf Schenker e vimos todos os quatro músicos significativamente próximos.

Seventies

    Para os fãs que sentem-se órfãos de algumas músicas que eles gravaram nos anos 70, o Scorpions realizou um medley com alguns de seus fervorosos sucessos desta década e a primeira foi Top Of The Bill, que trouxe uma adrenalina única ( especialmente aos adoradores do álbum In Trance de 1975, meu caso ), que foi seguida pela encorpada Steamrock Fever do Taken By Force de 1977 com imagens psicodélicas no painéis e telão acima do baterista Mikkey Dee, que levaram a muitos a cantarem seus versos. A viagem pela década de 70 continuou com a revigorante Speedy's Coming do Fly To The Rainbow de 1974 e terminou com a impactante Catch Your Train do Virgin Killer de 1976, que manteve a plateia nas mãos do carismático Klaus Meine, que grita um sonoro "Obrigado...." pela recepção que alcançou.

    Com direito ao seu lyric video exposto nos painéis e no telão atrás da bateria, outra das sonzeiras do novo álbum Return To Forever foi a próxima do set, e We Built This House parecia que era um clássico, pois, contou com uma dilatada participação dos fãs, especialmente no seu refrão, ainda mais com Klaus Meine, já sem os óculos, esticando seu microfone diante de nós.

    Em seguida, Mattias Jabs toca riffs mais pesados que trazem a instrumental Delicate Dance ( do MTV Unplugged In Athens de 2013 ), que evidenciaram toda a sua capacidade e virtuose nas seis cordas de sua guitarra branca de listras pretas - servindo para um 'respiro' de Klaus Meine - e que foram muito bem acompanhados pelos demais músicos da banda.

Baladas acústicas

    Ao retornar para o palco, Klaus Meine anuncia que fariam um medley acústico no 'palquinho', assim vimos Rudolf Schenker com um violão em formato de 'V', Mattias Jabs com outro em formato de 'X', ambos no estilo de suas guitarras, Pawel Maciwoda com seu baixo elétrico e Mikkey Dee no 'cajon' tocando a belíssima balada Always Somewhere do Lovedrive, que é impossível não cantar seus deliciosos versos e abrir um enorme sorriso de contentação.

    E como música boa é uma característica dos 51 anos de carreira do Scorpions, a segunda deste medley acústico foi a Eye Of The Storm, outra do Return To Forever, que certamente foi criada para cantar junto com eles e foi o que fizemos aplaudindo em seu ritmo.

    Nesta hora, uma bandeira da Alemanha foi dada por um fã para Klaus Meine, que orgulhoso se enrolou nela. No final do set acústico, outra das mais sintomáticas canções dos alemães foi executada, a balada Send Me An Angel ( do Crazy World de 1990 ), que além de naturalmente já ter embalado muitos namoros foi cantada à plena força dos pulmões dos presentes em uma sinergia alcançada somente por poucos nomes no Rock mundial.

    E já que o momento emocionante estava propício, nada como prosseguir com a balada que se tornou tema da queda da 'cortina de ferro' no final da década de 80, a Wind Of Change ( também do Crazy World ), que fez muitos assoviarem suas notas com Klaus Meine e se deliciarem nos solos de Rudolf Schenker. Aliás, foi maravilhoso não só cantar seus versos com ele, mas também observar no fundo uma representação do Muro de Berlin no painel inferior e um céu azul na parte superior representando a mudança que vimos acontecer na história do mundo, enfim, foi simplesmente de arrepiar.

    Para colocar 'fogo na casa', hora de outra das excitantes canções do Return To Forever, agora com a Rock' n' Roll Band, um Hard Rock rápido onde Rudolf Schenker utilizou uma Flying V preta e branca em seus solos e os alemães fizeram um prolongamento, que contribuiu para que nós participássemos nas palmas sendo comandados por Klaus Meine para que pudéssemos gritar seu título no momento certo.

    Sem pestanejar hora do Heavy Metal presente em Dynamite ( do Blackout ) e Rudolf Schenker com esta mesma guitarra mirou seus solos aliados aos de Mattias Jabs em uma iluminação espetacular, que alternou chamas e fantásticas luzes vermelhas com a coroa do novo álbum no centro. E meu caro leitor(a), que batelada de solos espetaculares que eles dispararam!!! Estes solos se conectaram na exuberante instrumental In The Line Of Fire para delírio daqueles milhares de fãs.

    Depois, para um descanso de todos, hora de Mikkey Dee realizar seu - porque não dizer - monstruoso solo de bateria, que foi muito técnico, empolgante e pesado. E a maneira que ele foi desenvolvendo o solo, começaram a aparecer as capas de todos os álbuns do Scorpions em cada parte do telão, que amplificaram as palmas e os gritos da galera.

    Em seguida, luzes de polícia e sirenes são exibidas e o incansável Rudolf Schenker entra correndo com uma guitarra prata Flying V com um cano de escapamento que exalava fumaça, ou seja, hora de Blackout, que em um dos momentos em que Klaus Meine cantou seu título... todas as luzes do Citibank Hall foram apagadas ( por um rápido instante, mas deu para se perceber e registro aqui um elogio ao sincronismo entre ele e a sua produção ).

    Com a 'vibe' lá em cima, o vocalista grita: "There´s No One Like You Sao Paulo...",  frase que serviu de introdução para a excelente No One Like You, outra do Blackout cantada com muita garra por ele e que nos levou a impulsionar nossas vozes no refrão para acompanhá-lo, onde vale ressaltar a beleza das melodias que vieram dos solos conjuntos de Mattias Jabs e Rudolf Schenker, ambos com guitarras pretas.

    A última da primeira parte do set foi o potente Hard Rock de Big City Nights, a primeira do premiado Love At First Sting de 1984 executada na noite com o telão e os painéis exibindo imagens de grandes cidades, que seja nos riffs de guitarras ou nos vocais de Klaus Meine, o Citibank Hall pulsou de forma única com fãs pulando, cantando ou aplaudindo o Scorpions, que inteligentemente parou de tocar justamente para que pudéssemos fazer isso de forma mais impressionante, seja para eles ou nós todos mesmo.

    Tão contentes quanto a plateia, os cinco músicos vão no 'palquinho' para nos agradecer, jogar palhetas, sorrir, cumprimentar e até autografar cd´s, antes de se despedirem e se dirigirem ao backstage aos gritos de "Scorpions... Scorpions."

    Logicamente, que não era o fim e o bis seria com os dois mais conhecidos sucessos dos alemães e que jamais podem ficar de fora de seus shows, porém, ao retornar Klaus Meine novamente agradece aos fãs e convoca um "Happy Birthday" para o guitarrista Rudolf Schenker, que fez aniversário um dia antes do show em São Paulo//SP desta quinta.

    Contente, o músico dedilha as primeiras notas da balada Hard Still Loving You, que contou com um gigantesco coro de fãs devidamente emocionados em seus riffs melodiosos de guitarras e que estavam quase plenamente satisfeitos com o show faltando apenas o emblemático Heavy Rock You Like A Hurricane, a terceira do platinado Love At First Sting executada na sequencia, que foi cantada por todos com exorbitante alegria, onde vale dizer, por mais vezes que você já a tenha escutado, não tem como pensar em dizer que se cansou de ouví-la, ainda mais em uma célebre apresentação do Scorpions como nesta noite.

    Antes de nos deixarem, Klaus Meine enrolado em uma bandeira do Brasil, Rudolf Schenker, Matthias Jabs, Pawel Maciwoda e Mikkey Dee foram à frente do 'palquinho' pela última vez para uma nova distribuição de cumprimentos, palhetas e baquetas, que foram regadas a imponentes aplausos e gritos de "olê... olê... olê... Scorpions... Scorpions" dos fãs literalmente extasiados com o magnífico show de Rock que presenciaram.

    A julgar pelo vigor, pela empolgação, atuação e disposição do Scorpions, posso assegurar que eles não vão parar tão cedo e certamente estarão no Brasil mais vezes. A vontade que ficou no coração de cada um de nós era poder voltar no Citibank Hall no sábado e no domingo para assistir o show mais uma vez, pois, se trata de um espetáculo muito grandioso, que glorifica de forma tão majestosa o Hard Rock do Scorpions.

    E os aparatos tecnológicos somados com a excelente iluminação, a pista com seu 'palquinho' - que nos aproximou ainda mais da banda - e o colossal carisma dos integrantes demonstrando prazer em estar realizando esta troca conosco nos fazem entender porque a aposentadoria da banda não chega e por mim que não chegue tão cedo. Acredito que foi o melhor dos shows que já acompanhei do Scorpions em São Paulo.

 

Texto e Fotos: Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos à Gustavo Martines Mayer e a T4F
pela atenção e credenciamento.
Setembro/2016

Set List do Scorpions

1 - Going Out With A Bang
2 - Make It Real
3 - The Zoo
4 - Coast to Coast
5 - Top Of The Bill / Steamrock Fever / Speedy's Coming / Catch Your Train
6 - We Built This House
7 - Delicate Dance
8 - Always Somewhere / Eye Of The Storm / Send Me An Angel
9 - Wind Of Change
10 - Rock'N'Roll Band
11 - Dynamite
12 - In The Line Of Fire
13 - Drum Solo
14 - Blackout
15 - No One Like You
16 - Big City Nights

Bis:
17 - Still Loving You
18 - Rock You Like A Hurricane

Clique aqui e confira uma galeria de 50 fotos do show do Scorpions no Citibank Hall em São Paulo/SP

Voltar para Shows