Solid Rock
Com: Deep Purple, Cheap Trick e Tesla

Allianz Parque - São Paulo/SP
Quarta, 13 de Dezembro de 2017
   

Duas estreias e uma provável despedida

    Parece nome de filme, mas não é, de certa forma um síntese do que foi o festival Solid Rock, que marcou a passagem da Long Goodbye Tour do Deep Purple pelo Brasil, turnê que será a de despedida dos palcos da histórica banda inglesa, além da estreia no Brasil de duas das lendárias bandas norte americanas: a veterana Cheap Trick e a experiente Tesla.

    Quando começaram os boatos sobre a passagem do Deep Purple pelo Brasil para o final de 2017, muito se falou da presença do ZZ Top e do Lynyrd Skynyrd com shows completos em um festival, que seria perfeito ao juntar três da mais importantes bandas de Hard Rock de todos os tempos, porém, com o passar dos meses, o ZZ Top não foi  sido confirmado oficialmente em nenhum momento e o Lynyrd Skynyrd, previamente confirmado, cancelou sua participação na turnê em decorrência de problemas de saúde com a filha do vocalista Ronnie Van Zandt.

    Com a saída do Lynyrd Skynyrd e a entrada do Cheap Trick no lugar muitos desistiram de comparecerem ao festival, porém, com as iniciativas de marketing da produtora, a T4F, algumas já utilizadas vários de seus eventos, resultaram em um grande público presente no Allianz Parque em São Paulo/SP na quarta feira dia 13 de dezembro de 2017 para conferir os shows.

    É bem verdade que para encher mesmo o Allianz Parque mesmo, só depois do show do Tesla e durante o show do Cheap Trick, entretanto, quem esteve desde o início dos shows presenciou um excelente festival, que realmente serviu para encher os olhos e abrir um grande sorriso por mais uma data que entrará para a história do Hard Rock do estado, além de ser o evento que finalizou de forma magnífica o ano do Rock e o Heavy Metal na capital do país. Contarei ao longo desta matéria os detalhes do três shows.

Tesla

Abertura de gala

    Embora nunca tenha se apresentado no Brasil e seja um tanto que desconhecida por muitos, o Tesla já existe desde o início dos anos 80, quando na cidade de Sacramento nos Estados Unidos, o baixista Brian Wheat e o guitarrista Frank Hannon começaram um projeto chamado como City Kidd e que em 1984 se tornou o Tesla ( em homenagem ao sérvio Nikola Tesla, que foi um importante inventor quando se fala em eletrotécnica ), já contando com Jeff Keith nos vocais, Troy Luccketta na bateria e Tommy Skeoch na guitarra. O primeiro álbum saiu em 1986 com o nome de Mechanical Resonance e de lá para cá até o Simplicity de 2014 foram 15 álbuns em sua discografia de estúdio, ao vivo e compilações, porém, nenhuma passagem no Brasil nestes mais de 30 anos de banda, fato que mudou neste Solid Rock.

    Formada atualmente por Frank Hannon na guitarra e backing vocals, Brian Wheat no baixo e teclados, Jeff Keith nos vocais, Troy Luccketta na bateria e Dave Rude na guitarra, o Tesla veio ao Brasil divulgando as músicas do seu álbum Simplicity, além dos grandes sucessos da carreira, que inclusive foram relembrados em Mechanical Resonance Live de 2016 ( o último registro da banda até aqui ). Foi com o sol ainda batendo no estádio, pontualmente às 18:30, que o quinteto americano subiu no palco do Solid Rock para uma curta apresentação, mas, que será lembrada pelos fãs dada a visível empolgação do Tesla nesta primeira passagem pelo Brasil.

    O visual dos músicos era calcado no Hard Rock com coletes, echarpes, couro e ternos, sendo que foi com a Edison's Medicine do Pyschotic Supper de 1991, que o show foi aberto, onde os solos de guitarras protagonizados por Frank Hannon já chamaram a atenção com sua guitarra vermelha e com o teremim, instrumento interessante e até um pouco incomum, que provocou sons espaciais ( uma prévia do que teríamos no show final ), assim como o vocalista Jeff Keith, que sempre se movimentando pelo palco convocando a nossa participação neste Hard Rock com ótimas doses de Blues. Mesmo não conhecendo tanto a música, fomos vibrando com a energia vinda do palco.

   A segunda foi a The Way It Is, que foi registrada no The Great Radio Controversy de 1989 com riffs cativantes e melodiosos feitos por Dave Rude, que ganharam os presentes na forma empolgada de Jeff Keith cantar seus versos, que resultaram em palmas de muitos de nós. E o estilo Hard Rock incrustado aqui te pega mesmo, ainda mais para quem aprecia solos longos de guitarras como os que a dupla Dave Rude e Frank Hannon fizeram, além de participarem nos backing vocals com Jeff Keith naquele clima positivo, que músicas assim passam e que terminam em ritmo de Blues.

    O vocalista saúda o público gritando apenas "Sãoooo Pauloooo....Braaaziiilll Hellooooo" e nos toques do baixista Brian Wheat, o Tesla dispara a eletricidade contida na pesada Hang Tough, outra do The Great Radio Controversy, que também é deveras inflamável, contagiante e teve solos de guitarras saborosos, especialmente, os realizados por Frank Hannon em sua Gibson Les Paul preta.

    Bastante animados com a recepção dos presentes, Jeff Keith conversa um pouco conosco, enquanto que os guitarristas jogavam suas palhetas para a galera da frente. Entre uma graça e outra, típicas de vocalistas de Hard Rock, o Blues contido na pesada Heaven's Trail ( No Way Out ) eclode e dá sequencia ao show de forma bastante firme e provou algo que já desconfiava: temos que mergulhar nos álbuns do Tesla, pois, é garantia de sonzeira como esta do disco The Great Radio Controversy, a terceira dele executada na sequencia neste final de tarde no Allianz Parque. O ritmo relativamente sujo da música é um convite para se mexer junto com Jeff Keith, que estava se entregando mesmo ao show e nos fazendo cantar com ele o refrão desta composição.

  Antes de prosseguir, Jeff Keith enaltece a alegria da banda por estar se apresentando no país pela primeira vez, de estar em São Paulo/SP e anuncia Sings, um cover do Five Man Electrical Band, que começa nos dedilhados no violão de Frank Hannon em linhas mais Blues, depois vira um Rock'n'Roll mais fervilhante, com o vocalista agitando e soltando uns "yeeaahhh" para que pudéssemos interagir com ele. Entretanto, a ideia do Tesla foi de mergulhar em uma linha mais acústica nesta música, que sempre encartou os álbuns ao vivo do Tesla e foi muito bem recebida pelo público. No seu término, Jeff Keith fez questão de ressaltar que hoje é um dia de "Peace and Love... Foveverone..." ( realmente, com músicas assim, o sentimento é de Paz e Amor... para sempre.. mesmo ).

    E mantendo a melodia na sua guitarra em formato de 'x' Dave Rude deu início a emocionante balada Love Song do The Great Radio Controversy, que era muito aguardada pelos mais fãs e que foi outra que conquistou facilmente os demais pelo seu ar dramático e romântico, mas, como em toda balada de Hard Rock, obviamente contou com solos de guitarras mais longos e muitos cantando seu refrão com Jeff Keith, que em retribuição junto com os demais membros do Tesla fizeram um prolongamento belíssimo.

    Para o final do show, eles recuaram até o primeiro álbum Mechanical Resonance com a festiva Little Suzi, que manteve o estilo mais balada Hard Rock e tão gostosa de se ouvir quanto a anterior. E encerram sua presença no Solid Rock com o Hard Rock de outra do Mechanical Resonance, agora com a Modern Day Cowboy com aquela pegada oitentista, que facilmente os fãs de nomes como Def Leppard, Bon Jovi, Aerosmith e tantos outros a identificaram e por se tratar de um hit do Tesla já 'atuaram' em parceria com os músicos, especialmente, quando o trio de cordas foi mais a frente do palco e de lá solaram bravamente aumentando a intensidade deste formoso momento musical.

    Excelente abertura do festival Solid Rock com este marcante show do Tesla, que em sua apresentação de 50 minutos já deixou claro que poderá voltar no país para um show maior, pois, certamente muitas outras músicas animadas como estas exibidas aqui aumentariam nossa alegria, mas, fica para outra. Tanto que antes que a banda saísse do palco, eles foram bastante aplaudidos e tiveram seu nome gritado pelos fãs, um fator que faz muita a diferença para os músicos. Parabéns Tesla.

Set List do Tesla

1 - Edison's Medicine
2 - The Way It Is
3 - Hang Tough
4 - Heaven's Trail (No Way Out)
5 - Signs
6 - Love Song
7 - Little Suzie
8 - Modern Day Cowboy

Cheap Trick

Surpreendentes

    Quem torceu o nariz pelo cancelamento do Lynyrd Skynyrd e por conta disso não foi conferir o Cheap Trick, não tem ideia do showzão que perdeu, pois, a veterana banda da cidade de Rockford em Illinois nos Estados Unidos, que teve sua formação em 1974, já realizou mais de 5.000 shows em mais de quatro décadas, lançou mais de 25 álbuns de estúdio e ao vivo, que juntos somam mais de 20 milhões de discos vendidos no mundo e que é uma das mais influentes da história foi uma admirável escolha da produção para trazer seu entusiasmado Hard Rock aos sul-americanos e também pela primeira vez.

    Neste longo período de atividades, além dos muitos hits produzidos, o Cheap Trick manteve sua formação original desde 1974 até 2010, sendo que três de seus integrantes originais estão na banda até hoje, são eles, Robin Zander nos vocais e guitarra, Rick Nielsen na guitarra e vocais, Tom Petersson no baixo e vocais, pois, somente o baterista Daxx Nielsen está no lugar de Bun E. Carlos desde 2016. Entretanto, apesar de todos esses números e curiosidades, estranhamente o Cheap Trick não era tão conhecido no Brasil, fato que naturalmente mudou após este show no Solid Rock, porque... quem esteve no Allianz Parque vai contar para os amigos, recomendá-los audições dos álbuns do quarteto norte-americano e se eles retornarem no país, procurar assistir ao espetáculo novamente.

    Mantendo a pontualidade, o Cheap Trick subiu no palco às 20:00hs com os músicos vestidos com blusas de couro, boné, chapéu, ternos e uma grande elegância, porém, uma das características da banda é a sua extravagância seja nas vestimentas ou nos instrumentos e esta foi representada inicialmente pelo vocalista, que chegou todo de branco e chamou a atenção logo de cara.

    Antes da primeira música do set, ouvimos uma locução em português que dizia: "por favor recebam no palco a banda mais 'foda demais' que vocês já viram" e então Hello There do In Color de 1977, cujos riffs denunciam que teríamos um Hard Rock nos padrões setentistas, ou seja, pesado e emblemático, com o vocalista Robin Zander portando uma guitarra de doze cordas e junto com os demais ganhando a plateia com seu enorme carisma.

    Rapidamente, o Cheap Trick já dispara a segunda, que foi a Big Eyes, outra do In Color, que está repleta de solos de guitarras, onde Rick Nielsen brilhou com seus solos quentes, que mostraram a essência do estilo dos americanos que juntam naturalmente o Rock e o Blues, para depois, emendarem um ritmo Rock'n'Roll consideravelmente forte já em California Man, cover do The Move, que saiu no disco Heaven Tonight de 1978 e que produz uma vontade de dançar com o 'estiloso' vocalista Robin Zander trajando uma camiseta escrita: "music has value", ou música tem valor ressaltando a importância da música nestes tempos. Aliás, ele brincou com os fãs nos fazendo gritar e participar da música, antes de repetir o refrão mais algumas vezes.

 

 

 Exóticos

   Com uma voz bastante rouca, Rick Nielsen conversa com os fãs e fala da felicidade de estarem no país pela primeira vez, nos manda um beijo e com uma Gibson Les Paul bege, You Got It Going On do We're All Right! ( lançado neste ano ) exibiu seus reluzentes e eletrificados solos, que a deixaram bem mais vigoroso.

    Com as palmas dos fãs acompanhadas pelo baterista Daxx Nielsen, que nos levam para um breve solo e com o baixista Tom Petersson com um baixo de doze cordas ( que nunca tinha visto um assim em minha vida ) solando muito, junto com aquela introdução de guitarras a animada versão Ain't That a Shame do Fats Domino foi tocada, que está desde 1979 nos shows do Cheap Trick e é daquelas músicas que basta apenas uma audição para queremos sair pulando e dançando, seja por conta dos seus divertidos vocais ou seus solos de guitarras, que contaram com o uso de um slide.

    Rick Nielsen convoca a 'vibe' da galera, pronuncia um "Obrigado São Paulo" com aquele sotaque carregado, se mostra bastante alegre, fala que a próxima é de um disco de muito tempo atrás e a balada If You Want My Love do One One One de 1982 veio certeira como um raio para passar mais emoção ao show do Cheap Trick.

    Rick Nielsen agradece os aplausos dos fãs e conversa novamente conosco e por fim... chama o guitarrista Frank Hannon do Tesla para participar na composição seguinte: a She's Tight, que tem um pé no Punk e outro no Rock'n'Roll. Entretanto, o que foi mais interessante nesta música do One One One foi Frank Hannon cantando o título da música com uma voz fina em contraposição com a voz rouca do guitarrista. Além da interação dos músicos no palco entre muitos e poderosos solos de guitarras, o clima de descontração era geral e chegava até nós na plateia. Aliás, na despedida eles brincaram imitando a voz fina de Frank Hannon na música.

    Em seguida, com um tom mais sério tivemos When I Wake Up Tomorrow do penúltimo de estúdio, o Bang, Zoom, Crazy... Hello de 2016, que nos manteve ligados na performance dos músicos no palco. Novamente, o guitarrista anuncia a próxima, que foi a Long Time Coming do último cd, o We're All Right! e que mostrou um D.N.A. típico do The Who, cujo ritmo gruda na cabeça com facilidade.

    Do álbum All Shook Up de 1980, o quarteto nos mostra a sonzeira Baby Loves To Rock, onde além dos solos de guitarras repletos de voltagem e o andamento Rock'n'Roll, que garantem vocalizações que nos afetam positivamente, os toques do baixista Tom Petersson também foram relevantes. Antes da próxima, eles informam que a música é do Big Star e chama-se In The Street e este sucesso que foi tema do programa That '70s Show foi cantada com Robin Zander sustentando longas notas em sua voz, que comprovaram a potência de suas cordas vocais. Depois, hora da viajante - em seu início - música de abertura do álbum All Shook Up, a Stop This Game, que aparece levando sua carga prazerosa de Rock'n'Roll até nós provocando uma baita vontade de cantar seus versos com eles.

    E se anteriormente o baixista Tom Petersson já estava nos deixando de olhos fixos em seu gigante baixo branco de doze cordas, quando ele realizou seu solo extraindo notas sensibilizantes de Blues nele, meu amigo(a), tivemos simplesmente um dos momentos mais bonitos, emblemáticos, intimistas e inesperados do show do Cheap Trick, daqueles que você tem que contar para todos. E na posição de destaque no palco, ele canta a I'm Waiting For The Man do The Velvet Underground com uma voz mais ríspida e adequada para esta música, em passagens pelo Rock'n'Roll com ares psicodélicos, que foram também muito interessantes e porque não dizer... surpreendentes, pois, os solos de guitarras flertavam com o Blues de forma linda.

    Rick Nielsen anuncia seu baixista bastante contente e com Robin Zander novamente ao centro do palco com seu violão, hora da balada The Flame, uma comovente canção do Lap Of Luxury de 1988, que deve ter inspirado nomes como o Skid Row e muitos outros a criarem as suas, pois, ela impacta bastante e pudemos perceber o vocalista alcançando agudos bastante fortes, e isso, sem contar que a música é dotada de uma beleza única e realmente precisava estar no set list.

    Com alguns "Ohhh Yeahhh..." Robin Zander anuncia a I Want You To Want Me, outra do In Color que passa sua adrenalina enquanto que Rick Nielsen e Tom Petersson mudam suas posições no palco neste Hard Rock que nos acerta em cheio e na paradinha realizada pela banda, com direito a convocação de palmas, nós também dividimos alguns versos com o vocalista naquela interação tradicional.

    O sucesso Dream Police, que intitula o álbum de 1979, aparece ao som de sirenes e no telão um logotipo da música, desta forma, suas melodias e seus versos são cantados e tocados nos causando uma sintonia muito grande com a banda, pois, mesmo não lembrando especificamente em qual momento de nossas vidas, provavelmente, ouvimos esta pulsante criação do Cheap Trick.

    Rick Nielsen assume o microfone ( aliás, um super glamouroso e cheio de palhetas ) como se fosse o policial no trecho falado e envia alguns versos até agressivos para que pouco depois Robin Zander cante a parte final da canção abusando de sua voz em um trecho através de uma nota bastante alta, mas, tudo bem... ele pode e aguenta. Durante Dream Police, o vocalista se enrola em uma bandeira do Brasil e depois um roadie a leva na frente da bateria em uma homenagem que demonstra respeito por nós.

    O empolgado Robin Zander anuncia que vão executar mais duas músicas e que uma delas estará no próximo álbum da banda, e assim, Run Rudolph Run do genial e criador do Rock'n'Roll Chuck Berry foi exibida, sendo que o guitarrista disse que ninguém saberia qual música era em tom de brincadeira. Este hino do Rock incrustado na história desde os primórdios nos anos 50 contou também com o vocalista disparando notas calorosas em sua gaita e serviu de um valoroso tributo ao Chuck Berry, que também nos deixou em 2017.

    Pouco depois, o Cheap Trick nos coloca diante de outras daquelas que servem para atearem fogo no show: a clássica Surrender do Heaven Tonight, onde Robin Zander e Rick Nielsen se divertem no palco, pois, o primeiro leva a guitarra para o segundo solar fazendo várias caretas e esta foi cantada por muitos, pois, estava entre as que conhecíamos mais. Aliás, reforço aqui o que falei antes e incluo como uma lição de casa... temos que ouvir os álbuns do Cheap Trick urgente.

 Melhor que o esperado

   Para a última música do set, os americanos nos mostraram outra de suas extravagâncias, não aquela guitarra de cinco braços, que provavelmente não coube no avião ( brincadeira... ), mas, aquela da capa do álbum Next Position Please de 1983, cujo desenho representa uma caricatura de Rick Nielsen com boné e roupa militar em que seus dois braços eram as pernas, algo único, hilário e singular. Além de solar, ele também a colocava de pé, para que pudéssemos ver o seu formato com clareza em um clima de uma grande festa, que inclusive o Rock'n'Roll presente em Goodnight Now do In Color serviu de trilha sonora para o momento evidenciando esta festividade. Na despedida, eles distribuíram muitas palhetas para os fãs, gritaram o nome do país e nos agradeceram pela presença no show.

    Sinceramente, também estava entre os que não ouviram e assistiram muito do Cheap Trick nestes anos todos, um fato que pretendo remediar a partir de agora, pois, realmente a banda é uma das melhores do Hard Rock mundial, sabe como realizar um show que você enche a boca e pode dizer aos amigos(as) mesmo: "eu vi o Cheap Trick e é uma sonzeira pulsante do começo ao fim, que pena que você desistiu por conta do cancelamento do Lynyrd Skynyrd... você não sabe o que perdeu". E tanto é verdade, que durante o tempo de praticamente uma hora e meia que o Cheap Trick esteve no palco, acredito que quase roubou a cena da atração principal. Aliás, já clamo aqui por um show somente do Cheap Trick no Brasil.

Set List do Cheap Trick

1 - Hello There
2 - Big Eyes
3 - California Man
4 - You Got It Going On
5 - Ain't That A Shame
6 - If You Want My Love
7 - She's Tight
8 - When I Wake Up Tomorrow
9 - Long Time Coming
10 - Baby Loves To Rock
11 - In the Street
12 - Stop This Game
13 - Bass Solo
14 - I'm Waiting For The Man
15 - The Flame
16 - I Want You To Want Me
17 - Dream Police
18 - Run Rudolph Run
19 - Surrender
20 - Goodnight Now

Deep Purple

O último da história?

    Que o Deep Purple é pertencente ao sagrado triunvirato do Heavy Metal setentista e de todos os tempos junto ao Black Sabbath e ao Led Zeppelin, que é uma das maiores e mais importantes bandas de todos os tempos, acredito que os fieis leitores(as) do Rock On Stage já sabem em verso e prosa, assim como foram responsáveis por alguns dos álbuns mais definidores do que costumamos chamar de Heavy Metal, que trouxeram composições fantásticas, que emocionam e nos produzem muita satisfação sempre que as escutamos até hoje.

    Nestes quase cinquenta anos de carreira, foram produzidos 20 álbuns de estúdio, 25 álbuns ao vivo, mais de 20 DVD´s ao vivo e 13 coletâneas, além de muitas turnês pelo mundo. Só no Brasil eles vieram doze vezes, são uma das bandas que mais realizaram apresentações por aqui e das que tive a oportunidade de acompanhar - contado esta - por seis vezes seu inconfundível show.

    A lenda inglesa contou com várias formações, que destacaram músicos seminais como Ritchie Blackmore, Jon Lord, Glenn Hughes, David Coverdale, Tommy Bolin, entre outros, sendo que desde 2002, o line up é composto pelo vocalista Ian Gillan, o guitarrista Steve Morse, o tecladista Don Airey, o baixista Roger Glover e o baterista Ian Paice ( o único que está no Deep Purple desde sua fundação ), que nos últimos álbuns de estúdio estão conferindo uma abordagem mais Progressiva ao seu tradicional Heavy Rock, o que é muito bom e garante novas e excelentes canções como as que estão presente no disco motivador desta The Long Goodbye Tour, o InFinite, que saiu em 2017.

    Os sessentões e setentões do quinteto desafiam a idade e trazem toda sua técnica e alegria para garotos, jovens, adultos e até mais velhos, que fizeram questão nesta quarta feira de assistir sua apresentação, onde existe a possibilidade que não acontecer um retorno daqui há um ou dois anos, espero que eles retornem, mas, com a idade avançada e a promessa de parar ou diminuir suas turnês, isto é algo que já temos que considerar e saber que pode mesmo ter sido a última vez da banda em solo brasileiro neste Solid Rock.

    Especulações à parte, a verdade é que mais uma vez o horário de início do show foi respeitado e às 22:00hs, vemos no telão uma imagem inspirada na capa do álbum In Rock - porém, em uma paisagem gelada e com os rostos da formação atual - e a música introdutória da turnê Mars, The Bringer Of War, composição de Gustav Holst, que foi a senha para que o Deep Purple entrasse no palco do Solid Rock causando um frisson gigante com a clássica Highway Star, onde aquela enorme quantidade de fãs que estavam aguardando ansiosamente a banda pudessem recepcioná-la cantando cada verso deste verdadeiro hino do álbum Machine Head de 1972.

    E eles lá do palco mostraram que estavam com a potência necessária para nos entregar um show empolgante a cada momento. Ian Gillan cantou firme seus versos, Steve Morse no lado direito já começou a enviar solos um mais bonito que o outro, Roger Glover com seus toques firmes no baixo seu estilo cigano perto de Ian Paice como sempre forte nas 'baquetadas' na esquerda e Don Airey ambientando com seus teclados - posicionados mais à direita - a sinfonia Hard Rock a que estávamos presenciando.

    Nesta primeira música da noite, cujas imagens nos telões refletiam a velocidade, o Deep Purple denotou alguns improvisos, uma característica das mais importantes da banda ao vivo e que parece que decidiram explorar mais, porém, temperando isso ao seu estilo atual para não cansar demasiadamente o vocalista.

Mágicos do tempo e espaço

    Outro clássico das antigas e do mesmo Machine Head veio logo em seguida com Pictures Of Home com seu Hard Rock em que você ficava na dúvida se olhava para Steve Morse, que efetuava solos cheio dos seus conhecidíssimos harmônicos ou no ritmo que Roger Glover e Ian Paice mantinham em sua 'cozinha' ( aliás, este último adora bater no contratempo e faz isso de forma fabulosa ). Nos prolongamentos, Ian Gillan saiu do palco e deixou Steve Morse e Don Airey 'conversando' em seus solos viajantes, que teve aquela 'passada de bola' para Roger Glover solar seu baixo e nossa reação era de cantar os "ôôôôôôôô" em plena magia dos instrumentos.

    Ian Gillan retorna para cantar a 'pesadaça' Bloodsucker do In Rock de 1970, lógico, que sem aquela força quase extrema nos vocais, mas, de uma forma ainda cativante, afinal, nosso caro The Silver Voice está com 72 anos e não podemos exigir aquela performance de outrora. Entretanto, quando Steve Morse começa a solar é uma aula de como utilizar a guitarra e junto a Don Airey, os dois vão passando um para o outro a dimensão do solo com a dupla da 'cozinha' ( baixo e bateria ) segurando o andamento de forma que naturalmente muitos mais jovens nem ousam pensar em fazer.  

    E ainda sem falar com a plateia, os ingleses emendaram mais uma música: a agitada Strange Kind Of Woman do Fireball de 1971, que é um imenso convite a nos fazer pular com seu andamento acalorado, e claro, que além disso, também cantamos seus versos. Quando era chegada a hora de Ian Gillan soltar seus berros junto aos solos de guitarra, ele inteligentemente deixou para que Steve Morse brilhasse solando em parceria a Don Airey nos teclados em um formato Rock'n'Roll, que no final ele até ousou algumas notas mais altas junto ao guitarrista, que graças as suas caretas e seu enorme carisma garantiram a eletricidade desta parte da música nos fazendo até esquecer que ele não alcança mais os timbres agudos de quando jovem.

Ao infinito

   Com breves agradecimentos à plateia por estarem curtindo bastante o show, Ian Gillan dedica a canção seguinte à memória de Jon Lord e durante a belíssima Uncommon Man do Now What?! de 2013 vemos Steve Morse utilizar da técnica de 'volume/delay' em sua guitarra Music Man - Steve Morse Y2D - Purple Sunset interligados aos longos solos de Don Airey em seus teclados dispostos a nos proporcionarem uma viagem maravilhosa... digna de se fechar os olhos ( só não fiz isso claro porque queria acompanhar cada nota da dupla ) e sentir a presença de Jon Lord sorrindo lá do alto ao ver esta composição ser exibida para tanta gente. Suas belas melodias praticamente se entrelaçam em nossas células, que se regozijam-se pelo momento, que por se tratar de uma homenagem ao mestre Jon Lord, o tecladista Don Airey fez questão de enviar solos surreais em seus teclados, que se elevam até as nuvens e vão para a estratosfera.

     Ian Gillan fala um monte de palavras rapidamente, que foram propositalmente difíceis de entender e depois deixa Don Airey nos brindar com uma das mais incríveis criações do Deep Purple: a estonteante Lazy ( do Machine Head ), que foi precedida de um esbelto solo de teclados se ligando nos solos feitos por Steve Morse, no ritmo de Roger Glover e Ian Paice, devidamente alongados para que o guitarrista nos enfeitiçasse com seus longos solos, que adentraram por várias camadas musicais até que Ian Gillan cantou seus versos, que foram devidamente acompanhados por muitos dos fãs e contaram com formosos solos de gaita deste incrível vocalista até terminarem naquele formato de puro Blues.

    Do álbum mais recente, o citado InFinite, eles escolheram a robusta Birds Of Prey em seu começo e viajante em seu decorrer, que contou com nossa atenção a cada prolongamento nos teclados, guitarra, baixo ou bateria em outro momento para refletir na paz que é proporcionada com esta canção, aliás, certamente, culpa dos solos de Steve Morse, que nos levavam cada vez mais ao alto. Uma pena que eles não incluíram mais músicas deste novo trabalho no show, pois, eu aguardava demais a The Surprising, que se tornou a minha favorita no cd.

  

    Com breves palavras, Ian Gillan nos agradece rapidamente e outra que há um bom tempo não me lembro do Deep Purple tocando por aqui foi a Knocking At Your Back Door do importante álbum Perfect Strangers de 1984, que marcou o retorno da banda com a MK II, considerada uma das mais importantes formações do Deep Purple. A versão nesta noite no Allianz Parque prontamente provocou muita alegria em todos e fez muitos relembrarem de quando ela abria o Lado B do vinil e foi apontada como uma das melhores do disco, sendo que suas reações pelo estádio foram medidas pelas palmas dos fãs, que inclusive foram responsáveis pelo contente vocalista dizer que somos maravilhosos no término da música.

    Falante, ele apresenta Don Airey para que este possa realizar seu solo de teclados, que a princípio flertou com Mr. Crowley do Ozzy Osbourne, quando junto ao 'Madman', ele gravou o álbum Blizzard Of Ozz em 1981. Depois, Don Airey em seus solos mágicos nos remeteu até aos anos 70 nos tempos que os maiores ícones do Rock Progressivo reinavam na Terra, nomes como Keith Emerson, Jon Lord, Richard Wright ( infelizmente falecidos ) Thijs van Leer e Rick Wakeman procuravam atingir outra dimensão em suas evoluções.

    Além disso, Don Airey se mostrou ligado no Brasil ao efetuar trechos de Aquarela do Brasil e Tico Tico no Fubá, que alternaram melodias clássicas e se ligaram a aguardada e arrepiante Perfect Strangers, que foi reconhecida facilmente em suas primeiras notas e fez o público pular, cantar e se extasiar com o Deep Purple. Ian Gillan cantou seus versos muito bem, menos a parte onde deveria que soltar um grande grito... ele deixou essa honra para nós e vale um relato: eu já vi outras vezes, mas, meu amigo(a) como faz bem assistir Ian Paice tocar sua bateria de seu jeito deslumbrante.

    Sem delongas, Ian Gillan anuncia a Space Truckin' do magnífico Machine Head, que novamente contou com uma participação bem forte do público sorrido, cantando e adorando estar vendo o Deep Purple. E a condução de Space Truckin' foi mais lenta, de forma a facilitar para Ian Gillan cantar seus versos, entretanto, quando Steve Morse chamou o solo em sua guitarra e Ian Paice deu aquela 'palhinha' mais forte na bateria... sentimos o que eles fizeram no passado e porque esta música tinha mais de 20 minutos naqueles áureos tempos. Pena que atualmente, embora a técnica se mantenha intacta, eles apresentam uma versão mais enxuta.

  Mas, tudo bem, pois, na próxima, bastou três ou quatro notas para sabermos de qual se tratava e para que os "ôôôôôôôôôô" dos fãs acompanhassem o seu ritmo, afinal, alguém aqui não descobriria facilmente e sairia cantando linha por linha da letra de Smoke On The Water? E neste clássico do Rock Pesado, os telões exibiam imagens de Monte Carlo onde a verdadeira história narrada em sua letra aconteceu e tudo foi pelos ares.

    Sabe... as emoções produzidas ao estar próximo ao Deep Purple executando esta música são únicas e que somente quem esteve lá pode sentir, pois, não é algo que ao ver um vídeo no Youtube ou em um DVD possa ser recriado, pois, se trata de uma pulsação fascinante, ainda mais quando a banda para e nos deixa cantarolar o seu verso "Smooooke Ooon The Waateeer... Fiiiireeee Iiiin Theeee Skyyyy" por uma ou duas vezes. Ian Gillan nos agradece em nome da banda dizendo: "We Love You" e junto dos demais sai do palco para os gritos de "Deep Purple" começassem.

 

Atordoantes

     E em poucos instantes já retornam para o bis, que contou com The Peter Gunn Theme de Henry Mancini nos teclados de Don Airey nos relembrando do famoso seriado e do filme The Blues Brothers, onde a música foi utilizada para que se conectasse na Hush, composição de Joe South regravada pelo Deep Purple no primeiro álbum Shades Of Deep Purple datado do longínquo ano de 1968 e que contou novamente com Don Airey indo longe com seus solos de teclados, amparados pelos toques - sem exageros - fantásticos de Ian Paice na bateria, que serviram de base para que Steve Morse e Don Airey realizassem um duelo com seus instrumentos em que acredito que poderia abrir o portal para outro ponto no universo pela singular beleza aplicada.

    Se não bastassem os dois, quem entra na brincadeira é Roger Glover com um extraordinário solo no seu baixo Fender Precision Jazz Bass, para fazer quem aprecia o instrumento ficar de olhos arregalados e então os conectarem na última do show, a formidável Black Night, que fez o estádio inteiro cantar e pular com a banda, particularmente os "ôôôôôôôô".

    E para não deixar por menos como é um costume do Deep Purple, eles prolongam Black Night para que cada um dos músicos possa realizar seu solo individual no ritmo desejado, sempre com Ian Paice segurando tudo nos tempos e contratempos de sua bateria. É até difícil contar... E como estes especialistas procuram sempre ir além, nesta sucessão de solos tivemos um trecho de How Many More Times do Led Zeppelin regada aos sempre precisos harmônicos de Steve Morse, que parece brincar com a guitarra em meio a tanta técnica, que depois dá uma nota na guitarra e nós tentamos reproduzi-la nos "ôôôôôôôô" ( antigamente isso acontecia entre ele - ou Ritchie Blackmore - e Ian Gillan na voz, mas, antigamente eles eram bem novos, então sem exigências... ).

    Depois de pouco mais de uma hora e meia, aos gritos de "Deep Purple...Deep Purple..." alternados com os fãs aplaudindo e ainda cantarolando a última música, eles todos sorridentes se despedem de mais uma apresentação que será lembrada positivamente por todos nós, e até com uma certa nostalgia, caso seja mesmo a última em São Paulo/SP. Eu queria que o show fosse maior e tanto outros clássicos quanto outras do InFinite fossem tocadas, mas, tudo bem, foi um excelente espetáculo cheio de improvisos fulminantes e alucinantes, que valeu e muito. Valeu Deep Purple e que a The Long Goodbye Tour possa no futuro contar com mais datas no Brasil!!!

    Faço votos para que o Solid Rock se torne um festival regular na capital paulista e possa nos ofertar shows de ímpar qualidade e importância como foram os três desta noite e que em futuras edições possamos ter por aqui outros inconfundíveis mestres e criadores de tudo que conhecemos como Rock e Heavy Metal.

Texto: Fernando R. R. Júnior
Fotos: Marcelo Rossi ( T4F ) e Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos à Gustavo Martines Mayer e a equipe da T4F
pela atenção, oportunidade e credenciamento
Dezembro/2017

Set List do Deep Purple

Intro: Mars, The Bringer of War
1 - Highway Star
2 - Pictures Of Home
3 - Bloodsucker
4 - Strange Kind Of Woman
5 - Uncommon Man
6 - Lazy
7 - Birds Of Prey
8 - Knocking At Your Back Door
9 - Keyboard Solo
10 - Perfect Strangers
11 - Space Truckin'
12 - Smoke On The Water
Bis:
13 - Hush
14 - Black Night

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