Focus - World Tour 2017
Abertura: Relíquia
Bar da Montanha - Limeira/SP
Domingo, 17 de Setembro de 2017
   

    Muito antes do Dream Theater, do Symphony X, do Transatlantic e tantos outros nomes que os mais jovens conhecem e idolatram, o Rock Progressivo explodiu no final dos anos 60 e início dos 70 com importantes nomes por toda a Europa, sendo que na Inglaterra posso citar Pink Floyd, Genesis, Yes, Nektar, Jethro Tull, King Crimson, Gentle Giant e Emerson, Lake & Palmer; na Itália, o Premiata Forneria Marconi e na Holanda, o lendário Focus, que será o assunto desta matéria, onde contarei os detalhes de seu primeiro e histórico show no Bar da Montanha em Limeira/SP. Todos estes nomes ( e tantos outros não citados ) misturavam Música Clássica com Jazz, Fusion e claro, o Rock, que resultaram muitas vezes em longas e técnicas composições, que marcaram muitos fãs dos anos 70 e posteriores.

    É bem verdade que o Focus já passou pelo Brasil algumas vezes, porém, em nenhuma delas eu pude acompanhar a banda, sempre tive muita vontade de conferir uma apresentação dos holandeses e quando recebi a informação que aconteceria uma nova turnê pelo país e com uma data em Limeira/SP no Bar da Montanha... pensei: este é um show que não posso perder e que tenho que contar seus detalhes aqui no Rock On Stage, pois, não seria apenas um show de Rock Progressivo, mas, o show de um dos fundadores do estilo e um dos seus mais importantes nomes, conforme enalteço no parágrafo anterior. Entretanto, antes de aprofundar no surreal show do Focus, quero comentar um pouco de como foi a atração de abertura, o Relíquia.

Relíquia

    O Power Trio Relíquia teve sua formação na cidade de Americana/SP em julho de 2011 e seu nome não foi escolhido por acaso, pois, a ideia era resgatar as relíquias do Rock e não as músicas mais conhecidas e tocadas costumeiramente nos shows que assistimos de bandas voltadas ao chamado atualmente de Classic Rock ou o nosso Heavy Metal, Rock Progressivo, Blues, Soul. Contando com Rodrigo Barros na guitarra e vocais, Mauricio Scamaral na bateria e Dimo no baixo, eles já estavam no palco quando eu adentrei o Bar da Montanha e estavam disparando um repertório para deixar quem já estava na casa devidamente contente, que teve I Can´t Feel Nothing Part I & II do Captain Beyond, My Guitar Wants To Kill Your Mama do Frank Zappa e uma que eu adoro, a What You´re Doing do Rush ( que escutei enquanto estava na fila do lado de fora ).

    Why Not do Gentle Giant também esteve no set list do Relíquia e foi executada com muita habilidade pela banda, que prosseguiu com Into The Void do Black Sabbath em uma versão conforme está registrada no álbum Paranoid com seus riffs de guitarra certeiros, seu peso e sua voltagem contagiante. Ainda deu tempo de conferir também a Knife Edge do Emerson, Lake & Palmer.

    Depois de uma sequencia de aplausos e também mostrando sua alegria, o vocalista Rodrigo Barros agradece a oportunidade, ao Edson Moraes, ao Evandro Negrucci ( que ajudou muito ao convidá-los para se apresentarem no Bar da Montanha em outras vezes ) nos informando que estão fazendo seis anos de banda e para encerrar executam simplesmente 21st Century Schizoid Man, que é uma longa composição do King Crimson e uma sonzeira que credenciou - para mim - a banda ao status de excelente.

    E durante esta música tome riffs de guitarras alucinantes, solos de bateria matadores, uma interação entre baixo, guitarra e bateria gigantesca para arrepiar os cabelos...

    Obviamente, que em um show completo, o Relíquia deve conter em seu setlist outras memoráveis músicas, tanto que registro aqui: quando puder assista uma apresentação inteira deste Power Trio de Americana.

Set List do Relíquia

1 - I Can´t Feel Nothing - Part I & II
2 - My Guitar Wants To Kill Your Mama
3 - What You're Doing
4 - Why Not
5 - Into The Void
6 - Knife Edge
7 - 21 Century Schizoind Man

Focus

    O Focus surgiu em 1969 com o organista, flautista e vocalista Thijs Van Leer, o baixista Martin Dresden, o baterista Hans Cleuver e o guitarrista Jan Akkerman, sendo que pouco tempo depois, a bateria ficou para Pierre Van Der Linden e o baixo para Cyril Havermans, que juntos gravaram o clássico Moving Waves de 1971, que foi segundo da carreira da banda.

     Nos anos seguintes, algumas mudanças na formação aconteceram, porém, isso não atrapalhou aos álbuns de altíssimo nível que foram lançados e sempre contando com Thijs Van Leer ao comando da banda junto a Jan Akkerman até 1976. Em 1978, o Focus entrou em um hiato que durou até 1985, quando realizaram em uma breve reunião, que durou pouco tempo. Outra tentativa de reunir a banda aconteceu em 2001, e mesmo com uma mudança de integrantes aqui ou ali, Thijs Van Leer está firme no comando do Focus neste século 21.

Outra dimensão

    Na outras sete das oito vezes ( contanto esta ) que o Focus veio ao Brasil não pude comparecer, mas desta vez, finalmente teria minha noite de imersão na outra dimensão que um show do Focus proporciona. Pontualmente às 19hs, Thijs Van Leer ( vocais, órgão, flauta ) Pierre Van Der Linden ( bateria ), Menno Gootjes ( guitarra ) e Udo Pannekeet ( baixo ) se dirigiram para o palco do Bar da Montanha para começarem o show de divulgação do álbum The Focus Family Album lançado em 2016, que foi o quinto e último da passagem dos holandeses pelo Brasil ( sendo as demais em Porto Alegre/RS, Niterói/RJ, Belo Horizonte/MG e São Paulo/SP ).

    E foi com Focus I do álbum de estreia In And Out Of Focus de 1971 que o show foi aberto, logo após Thijs Van Leer se posicionar mais a esquerda do palco onde estava seu órgão e tocando sua flauta, ele nos mostrou as 'enfeitiçantes' melodias da canção, enquanto que os demais neste momento apenas olhavam sua brilhante atuação. Pouco depois ele passa para o órgão aumentando a intensidade da harmonia, que percebemos assim que Menno Gootjes acompanha as notas em sua guitarra e também os leves toques de Pierre Van Der Linden na bateria, que à maneira que seus minutos vão passando sentimos uma grande energia positiva adentrar em nossas almas. 

    E como se trata de uma suíte de Rock Progressivo, as mudanças de andamento que temos e as viagens são transcendentais de forma que os riffs de guitarra, o solo de flauta, o toque de baixo ou de bateria são encantadores e me levou a uma dúvida... qual dos quatro exímios músicos iria olhar? Lógico que por conta de Thijs Van Leer ser o vocalista, ele acaba ganhando mais atenções.

Surrealidade

    House Of The King começa com Thijs Van Leer tocando sua flauta entre muitos aplausos do empolgado público presente, que acompanhou sua linda execução no ritmo da canção, além de olhar os solos do guitarrista Menno Gootjes e também a habilidade do Udo Pannekeet em seu enorme baixo de seis cordas. Mostrando uma alegria tão grande quanto a nossa, Thijs Van Leer nos agradece com um "Thank You Very Much..." e complementa dizendo que esta música é pertencente ao álbum In And Out Of Focus, assim como a primeira e conclui dizendo que a próxima será a arrepiante e melodiosa Eruption, do Moving Waves com seus fabulosos harmônicos.

    Na erudição contida em Eruption deu para perceber também Menno Gootjes realizar a técnica de 'volume/delay' em sua guitarra enquanto que Thijs Van Leer promovia viagens gigantescas em seu órgão Hammond culminando em um trecho mais pesado, que substancialmente conta com um solo de flauta e linhas mais suaves desafiando nossa percepção da realidade musical a que o Focus nos submeteu neste início de noite.

    No decorrer, Thijs Van Leer fala nome do guitarrista para que prestássemos mais atenção em seus solos até que juntos eles desmoronassem com o trecho mais acelerado e cheio de adrenalina desta terceira música, que aliás teceu um mergulho no Jazz ao vocalizar sem palavras ( o que é conhecido no mundo do Jazz como 'scat' ) e ser acompanhado nas palmas e na eletricidade do público. E como se trata de uma suíte de mais de 20 minutos, são tantas mudanças ( como as passagens por Blues e Jazz ), que é até difícil descrevê-las todas, mas, o solo que Pierre Van Der Linden fez é impactante e dotado de muita capacidade para deixar qualquer um de queixo caído. Enfim... é uma experiência surreal.

    Em seguida hora de uma que era muito aguardada, a Sylvia, que contou com improvisos até que esta enorme habilidade, que não é uma exibição da técnica, mas, dos caminhos desta clássica canção do Focus III de 1972, que traçou uma aura de paz em cada um de nós, além é claro de causar uma grande euforia ao percebemos de qual música se tratava em um momento para se fechar os olhos e se imaginar em outro lugar no tempo e no espaço. Sylvia contou com prolongamentos que foram responsáveis por mais felicidade em cada um de nós.

    Thijs Van Leer sempre muito simpático nos agradece e a frenética All Hens On Deck do disco Focus X  tocada na flauta por ele passa aquela vontade de sair dançando em seu ritmo de solos de guitarra de muita energia, nesta composição mais recente pertencente ao ano de 2012, porém, mesmo em linhagem mais Rock'n'Roll, o Focus é uma banda de Rock Progressivo e quando incluem suas linhas progressivas, o que era excelente fica soberbo e deixa claro que eles ainda comporão muitas outras músicas maravilhosas.

Magnífico

    Ao término, Thijs Van Leer vai ao microfone para comentar que eles estão com um novo álbum, cujo nome é The Focus Family Album ( que inclusive haviam alguns para vender e rapidamente se esgotaram ) e a sexta do set começou com toques mais entristecidos e ao mesmo tempo lindos, nos levando a viajar profundamente com suas melodias, e inclusive até a fechar os olhos, pois, em La Cathedrale de Strabourg vemos Thijs Van Leer tocar seu órgão Hammond alternando leveza e peso com uma maestria única para realmente nos emocionar.

    Isso, aliado aos toques virtuosos do baixista Udo Pannekeet e do baterista Pierre Van Der Linden com as palmas da estridente plateia do Bar da Montanha, que concederam um ar mais medieval em à esta canção do álbum Hamburgo Concerto de 1974 em escalas crescentes, bastante progressivas, lindas e até um tanto fantasmagóricas com direito a solos de guitarras excepcionais de Menno Gootjes  em sua Gibson Les Paul, que no momento que diminuem um pouco e a fascinada plateia aplaude e vibra bastante. Contente, conforme denotou o seu enorme sorriso no rosto, Thijs Van Leer nos olha e prossegue com esta verdadeira aula de Rock Progressivo.

    Após os aplausos, hora de uma nova imersão nos sentimentos musicais que este show do Focus nos proporcionou através de Harem Scarem ( outra do álbum Hamburgo Concerto ), que contou com solos de baixo, flauta, órgão e guitarra, 'scat', ora junto com os outros, ora separados, sendo um mais luxuoso que o outro e resultaram em outro emblemático momento do show, lotado de improvisos impressionantes.

Palavras Mágicas

     Nossa catarse progressiva continua com Focus 7, canção registrada no disco Focus 9 / New Skin de 2006, que traçou um verdadeiro convite para fechar os olhos novamente e sentir a magia de cada nota da música. Só não fechamos porque queríamos olhar atentamente as notas que Thijs Van Leer extraía em seu solo de flauta, aliás, até os demais músicos ficavam parados olhando a beleza que ele apresentava.

    Interessante também de se mencionar é o momento quando Thijs Van Leer novamente realizou a técnica do 'scat' conferindo ainda mais 'flutuação' na música nos encantando de forma brilhante e o que chamou mais atenção é que isso teceu a ligação para o maior sucesso do Focus e que jamais poderia estar fora do show: a sintomática Hocus Pocus do álbum Moving Waves, que contou com peso, velocidade e toda aquele ritmo fenomenal, que ao vivo ficou ainda mais fantástico. E mesmo sem conseguir alcançar as notas altas dos vocais de Thijs Van Leer, nós tentamos pronunciar algumas de suas palavras com ele.

 

    Em Hocus Pocus, o Focus se supera e eleva majestosamente o poderio da música, mas, ao mesmo tempo -  contrastando em algumas partes - temos solos robustos na flauta e prolongamentos incríveis nos vocais que resultam em palmas, gritos e sorrisos extasiados em cada um dos presentes. Com aquele estilo característico Thijs Van Leer apresenta cantando cada um dos membros do Focus, que são efusivamente aplaudidos pelo público. E após isso, aceleram ainda mais literalmente incendiando a casa... uauuu dá para acreditar na potência destes senhores? Contando... creio que não... você tem que estar presente em um show mesmo.    

    E falando nisso, Pierre Van Der Linden inicia um logo solo de bateria delirante, rápido e técnico para deixar muito baterista mais novo bestificado. Eu até perguntei para ele depois do show sobre este solo e ele me disse sorrindo que já faz isso desde os anos 70 e que é normal para um baterista. Olha... só é normal para um baterista do quilate dele. No término, Thijs Van Leer grita o nome do baterista para que eles retomem mais um trecho de Hocus Pocus e finalizem com personalidade a primeira parte deste histórico show no Bar da Montanha diante de uma enxurrada de aplausos, assovios, gritos, enfim, nos conduziram à um êxtase.

Bis

    Eles vão por alguns instantes aos bastidores enquanto que a plateia grita "mais um... mais um..." seguidamente entre muitos aplausos, que se intensificam assim que eles voltam ao palco com Thijs Van Leer de volta ao seu órgão Hammond para iniciar a progressiva Focus III, canção do disco Focus 3, que começa mais lenta, possui solos de guitarras exalando melodia e um andamento que passa uma vibração otimista dentro de nossos corações que não nos permitirá esquecer de onde ouvimos ela nesta primeira vez ( meu caso e de muitos ) que vimos o Focus em ação diante de nossos olhos nesta contumaz aula de música.

    Thijs Van Leer sola sua flauta retratando toda aquela harmonia belíssima novamente, que com seu vozeirão forte disse que nós somos importantes para eles e que após o show receberão os fãs para fotos e autógrafos para então continuar com mais esta celebre suíte progressiva, que ao seu término ganhou muitos aplausos, assovios, gritos de "mais uma" e "toquem a noite inteira" com os músicos reunidos no centro do palco para se despedirem de nós após duas esplêndidas horas do melhor do Rock Progressivo.

    Olha... sempre quis assistir à um show do Focus, mas, jamais poderia imaginar tão grandioso como foi, dizer que foi inesquecível é pouco... e após seu encerramento, conforme Thijs Van Leer avisou... poucos minutos depois, eles estavam atendendo cada um dos fãs para conversarem algumas palavras, fotos, autógrafos em cd´s, vinils e ingressos, enfim, além de realizarem um dos melhores shows que já estive presente, demonstraram também serem detentores de uma simpatia incrível e óbvio, que também tirei minha foto com estes mestres do Rock Progressivo conhecidos como Focus.

   Como já se tornou um padrão dos espetáculos realizados pela Circle Of Infinity Produções no Bar da Montanha, mais uma vez, o som e a iluminação estavam com a qualidade necessária para transformar este show do Focus em uma experiência memorável em nossas vidas. Depois deste show você entende o porque da gigante diferença que existe entre os criadores do Rock Progressivo como o Focus e os nomes que vieram depois.

     Que os holandeses comandados pelo carismático Thijs Van Leer possam ter a oportunidade de retornarem no Brasil mais vezes, e que também possam encaixar sua turnê por Limeira/SP para que de novo sejamos expostos à tão prazerosas horas musicais.

Texto e Fotos: Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos para Edson Moraes e Cláudia Moraes da Circle Of Infinity Produções
e a Jeancarlo Oliveira da Infomidia Express
pela atenção e credenciamento
Setembro/2017

Set List do Focus

1 - Focus I
2 - House Of The King
3 - Eruption
4 - Sylvia
5 - All Hens on Deck
6 - La Cathedrale de Strabourg
7 - Harem Scarem
8 - Focus 7
9 - Hocus Pocus
10 - Drum Solo
11 - Hocus Pocus ( Reprise )

Bis
11 - Focus 3

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no Bar da Montanha em Limeira/SP

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