Glenn Hughes - Classic Deep Purple Live
Abertura: Carro Bomba
Estúdio Mirage Eventos em Limeira/SP
Quarta, 01 de Novembro de 2023

Pura Alquimia Rock'n'Roll Setentista

    Da última vez que o cantor e baixista Glenn Hughes esteve em Limeira/SP, no dia 22 de abril de 2018, eu não pude assistir o seu show e conversando com os amigos e amigas que foram soube que foi uma apresentação formidável, como é o padrão deste verdadeiro Lord inglês, que é conhecido como A Voz do Rock e aí... assim que foi anunciado que a turnê Classic Deep Purple Live homenageando os 50 anos do clássico e espetacular álbum Burn ( que serão completos em 2024 ) foi confirmada para a cidade interiorana, já marquei a data na agenda como um dos shows imperdíveis neste ano de 2023.

    Desta forma, tanto eu quanto muitos outros fãs pensaram da mesma maneira e ocuparam quase todos os espaços disponíveis do Estúdio Mirage Eventos saudando esta lenda Rock com o devido respeito, inclusive, muitos deles já tem bem mais de 40 anos, visto que provavelmente ouviram o Burn quando eram garotos e foram todos comemorar seu quinquagésimo diante de um de seus criadores. Todavia, antes de contar mais detalhes de como foi a apresentação de Glenn Hughes, começo esta matéria comentando um pouco da ótima banda de abertura o Carro Bomba.

Carro Bomba

    A banda de MPB ( Música Pesada Brasileira ) conhecida como Carro Bomba retornou para a cidade de Limeira nesta quarta dia 1º de novembro e aproveitou a oportunidade para divulgar o seu quinto álbum de estúdio nomeado como Migalhas, que foi lançado em 2022. Como é a tradição dos shows realizados na cidade pela Circle Of Infinity Produções, os horários divulgados anteriormente foram respeitados e às 20hs, o quarteto estava no palco para começar o seu show.

    Infelizmente, peguei apenas a parte final do show do Carro Bomba e perdi a execução de algumas canções do set list da banda, que abriu com a nova Migalhas, seguiu por Queimando a Largada do Carcaça de 2011 e voltou para ao álbum Migalhas com a Ferrugem e a Delírios.

    Mesmo não assistindo o show inteiro e perdendo também a Refugo do Compactado de 2020 e a mais uma recente com a O Que a Noite Pode Te Trazer?, poder conferir uma banda do naipe do Carro Bomba no palco executando seu show com toda a garra e potência que Marcelo Schevano aplica em sua guitarra, com a cozinha na medida de Ricardo Schevano no baixo e Biel Astolfi na bateria e a todo o entusiasmo de Rogerio Fernandes nos vocais é uma excelente experiência.

    Depois que entrei no Estúdio Mirage Eventos tive tempo de ver o vocalista apresentar seus companheiros de banda e assistir a Punhos de Aço do disco Nervoso de 2008 e a acelerada Thrash and Roll que saiu no DVD A Máquina Não Para de 2016 e já tive minha empolgação com seu show garantida.

    Entretanto, embora a banda estivesse tocando muito bem, disparando solos de guitarra com muita voltagem, me deu a impressão que o som estava muito alto e atrapalhou um pouco os vocais de Rogerio Fernandes, ainda assim, posso cravar que o Carro Bomba detonou em sua apresentação, fez um ótimo aquecimento para o Glenn Hughes e é muito prazeroso ver músicos brasileiros tocando com essa determinação e nos mandando músicas em bom português.

 

Set List do Carro Bomba

1 - Migalhas
2 - Queimando a largada
3 - Ferrugem
4 - Delírios
5 - Refugo
6 - O que a noite pode te trazer?
7 - Punhos de aço
8 - Thrash and Roll

 

Glenn Hughes

Viagem ao California Jam 1974 e mais...

    A nossa viagem para os anos 70, que de certa forma reviveu o que foi o show do Deep Purple no California Jam 1974 ( confira a resenha do DVD neste link ) foi acionada por Glenn Hughes britanicamente às 21:15 ( horário programado ) com vozes do anúncio do show que veríamos em seguida com entrada dos músicos Bob Fridzema nos teclados, Ash Sheehan na bateria e Søren Andersen na guitarra ocupando seus postos e recepcionando Glenn Hughes com seu baixo já disparando as primeiras notas da eletrizante Stormbringer ( que empresta seu título para o segundo disco da Mark III lançado em novembro de 1974 ) com toda a potência e maestria que este clássico é possuidor.

    E Glenn Hughes vestido como um hippie trajando uma calça boca de sino cor de vinho e uma blusa também vinho com detalhes em preto, óculos escuros e camisa preta, soltando sua incomparável voz, desfilou tocando seu baixo de um lado para outro do palco já neste princípio e também por todo o show como adolescente colocando a casa abaixo o tempo todo. Não tivemos outra reação senão acompanhar o músico aplaudindo e soltando vários "hey... hey..." no ritmo da música. No fundo, uma enorme bandeira com a capa setentista da turnê, o logo de Glenn Hughes e uma imagem sua antiga.

    Sorridente e sempre dizendo "can you feeling?" com todo seu carisma, Glenn Hughes já atiçou suas chamas pela casa nos deixando em estado de muita felicidade logo de cara e já prosseguiu com Might Just Take Your Life do Burn, que também cantamos à plena força dos pulmões e quando olhei para o público eram só sorrisos nos rostos de cada um, afinal, estávamos diante de um dos melhores cantores do Rock em atividade, do alto de seus 72 anos em uma apresentação perfeita, onde o tecladista Bob Fridzema incorporou em seus solos de teclados o espírito do Deep Purple nos shows mágicos dos anos 70. E devo enaltecer os lindíssimos e fenomenais agudos que Glenn Hughes alcança com toda a sua naturalidade.

    Antes da próxima música, Glenn Hughes, todo simpático, disparou um "tudo bem?" e "I Love You People" para que recebêssemos as notas pesadaças de seu baixo na cadenciada Sail Away ( também do Burn ) em uma pegada bastante envolta no Blues e toda a emoção que esta música é detentora junto de agudos fortíssimos do vocalista, que só não nos impressionava como de certa forma nos deixava enfeitiçados com sua performance. E nos prolongamentos que a banda realizou notamos o tecladista Bob Fridzema nos envolver com seu instrumento.

Jam fantástica

    Glenn Hughes volta a conversar conosco dizendo da saudade que estava de tocar novamente no Brasil após cinco anos, que nós e o Brasil estão em seu coração ( é Glenn... você também está nos nossos ), que estava celebrando os 50 anos do álbum Burn, do amor que possui pelo Deep Purple, do amor que possui pelos seus antigos companheiros de banda e termina este apaixonado discurso nos questionando se estávamos prontos.

    Óbvio, que berramos que sim e o que já estava estonteante ficou ainda melhor com a execução de You Fool No One, outra do Burn, que teve mais de 23 minutos de exibição, mergulhando de vez nas variações e improvisações que caracterizaram o Deep Purple ao longo da história do Rock. E a imersão proporcionada por Glenn Hughes e seus três companheiros de banda - a qual o sentimento em nosso peito era que vivíamos um show do Deep Purple em pleno 1973... - era da mais autêntica e esplendorosa magia Rock'n'Roll. 

    E em You Fool No One pudemos sentir como a banda está afiada, como que cada um dos músicos atuam como se fossem um só, como a sincronia foi realmente perfeita, sendo o primeiro a brilhar Bob Fridzema relembrando do que o mestre Jon Lord fazia em seus teclados, depois foi a vez de Søren Andersen executar solos de guitarra a la Ritchie Blackmore evidenciando o poder que a seis cordas proporcionam para o Hard Rock e o Heavy Metal, sendo que tudo isso no ritmo de You Fool No One, ou seja, trabalho firme e integrado da cozinha da dupla Glenn Hughes e Ash Sheehan.

 

    Aliás, depois destes solos incendiários Søren Andersen deu aquela virada para o Blues, que impacta o coração de quaisquer um dos presentes e Glenn Hughes cantou com toda a sua aura de Soul Music trechos de High Ball Shooter em que o êxtase musical a que fomos submetidos foi algo ímpar e que somente em um show ao vivo pode ser obtido.

     Pensa que acabou assim? Não, pelo contrário... You Fool No One contou ainda com um longo solo de bateria habilidoso e esmagador de Ash Sheehan, digno e certamente inspirado no que Ian Paice fazia quando tocava esta música ao vivo, tanto que Bob Fridzema, Søren Andersen e Glenn Hughes deixaram apenas ele no palco para exibir toda sua técnica de tocar e nos entreter a cada segundo.

    E como fazia um bom tempo que não via um solo de bateria dessa magnitude foi um deleite à parte assistir um músico competente tocando com essa tranquilidade. E olha que para que sua locomotiva sonora funcionasse, Ash Sheehan nem precisou de um kit de bateria cheio de partes, apenas o básico, o que prova que quando o cara é bom, menos é mais. Faltava o final de You Fool No One e com o retorno de Glenn Hughes, Bob Fridzema e Søren Andersen no palco, eles terminaram a canção nos deixando praticamente atônitos com o que presenciamos.

Mergulho no Blues

    Plenamente aplaudidos, Glenn Hughes gritou o nome de seu baterista para que este fosse também ganhasse o carinho dos fãs e apresentou cada um dos membros de sua banda, elogiou o álbum Burn para que depois fossemos submetidos aos solos de Søren Andersen bastante pesados e bluesados, tais quais como foram imortalizados por Ritchie Blackmore em Mistreated ( mais uma do Burn ), que contou com muitos "hey... hey..." no estilo das versões ao vivo da música, que provou para Glenn Hughes como estávamos também entrosados com sua banda e salvo quando observamos as suas atuações, a ideia era de tentar cantar seus versos com ele, porém, sem conseguir chegar perto de seus fulminantes agudos.

    Nos prolongamentos, Glenn Hughes depositou sua alma na música e nos indagou sempre "Are You Feeling?" e durante essa química musical única, só tínhamos o direito de apreciar cada instante com um considerável sentimento de alegria. Poderia dizer que Glenn Hughes até abusou da sua voz, mas estaria errado, pois, o homem conhecido como The Voice Of Rock é simplesmente isso... mesmo na idade que está... sua voz continua impecável e nos instantes finais, ele emendou outro "I Love You" para nós tendo seu nome aclamado por todos os presentes.

    Mais uma vez, Glenn Hughes comentou da paixão que tem por nosso país e dedicou a próxima da noite para seu amigo Tommy Bolin ( que substituiu Richtie Blackmore no Deep Purple e deu origem a  Mark IV da banda, mas, faleceu muito prematuramente ) e tivemos uma das muitas emblemáticas canções do Deep Purple em sua fase com a Gettin' Tighter, que saiu no disco Come Taste The Band de 1975 em uma versão onde o Soul imperou, exceção feita aos solos robustos de Søren Andersen em sua guitarra, que resultaram em outra sessão de improvisos em que a banda deixou a música fluir livremente.

    Glenn Hughes convocou a nossa participação nos "ôôôôôôôô" com ele enquanto foi calmamente elevando o grau da canção para caminhar para um solo de baixo encorpado e repleto de talento com os demais seguindo ele por esta viagem em que a palavra fabulosa talvez não consiga descrever o que curtimos neste momento, pois, o quarteto aumentou exponencialmente o seu peso até voltar ao ritmo de Gettin' Tigher e encerrar com as faiscantes harmonias dos teclados combinados com os demais instrumentos e a voz de Glenn Hughes. Uauu!!!  Bravo!!! Magnífico!!!!

    Bradando muito contente "Thank... Thank... Thank You...", Glenn Hughes declamou seu carinho por nós e tocou outra do Come Taste The Band com a You Keep On Moving, canção onde o Soul e os seus vocais arrepiavam à todos, que também procuramos cantar com ele seus versos no que eu considerei o momento sensibilizante de todo o show em que somado aos teclados padrão Hammond de Bob Fridzema, só sentia minha adrenalina amplificar para níveis incomensuráveis e inteligente que é, o vocalista nos permitiu cantar alguns versos para depois pulverizar com a eficácia de sua voz, conduzir para mais um vigoroso solo de Søren Andersen em sua guitarra e mais agudos sem igual concluindo a primeira parte do show em centenas de aplausos.

Bis Veloz e ardente

    Ele agradeceu e se retirou do palco aos incessantes gritos de "Glenn... Glenn" e muitos assovios para que em poucos minutos regressasse no palco com um outro músico no baixo de forma que Glenn Hughes curtisse um momento de frontman ao incluir mais uma que também faz parte do California Jam 1974 com a inflamável Highway Star, que Glenn Hughes disse antes de iniciar esta turnê: "É uma música que eu acredito que canto bem. Prefiro tocar as músicas das fases Mark III e Mark IV, mas, no momento ainda estou tocando 'Highway Star'. Em algum momento vou parar de tocá-la, vamos ver o que acontece."

    E esta versão deste sucesso do Machine Head de 1972 contou com todos cantando fervorosamente seus versos com Glenn Hughes, vale lembrar que um mês antes desta turnê Glenn Hughes esteve no Brasil em Piracicaba/SP ( perto de Limeira inclusive ) em um evento fechado ( o Storm Festival, que teve Matt Sorum, Lzzy Hale e Gilby Clarke, entre outros ) e lá ele também cantou esta música atuando como frontman.

    No começo da matéria disse que Glenn Hughes colocou a casa abaixo várias vezes e esta foi uma delas com a sua banda soando mais Deep Purple que o atual Deep Purple quando toca Highway Star ( sem desmerecer o atual Deep Purple e o "Silver Voice" Ian Gillan, mas, Glenn Hughes está ainda totalmente poderoso em seus vocais ) e o neste ponto do set somente vocalista se movimentou para esquerda e para a direita com a intenção de nos deixar ainda mais eufóricos do que nunca e bem... ele conseguiu.

    Para encerrar este show memorável faltava ainda a canção que intitula o álbum que chegou aos seus 50 anos e sem pestanejar fomos expostos à toda intensidade Hard Rock que Burn contém em outra versão de gala de Glenn Hughes ( já com o baixo nas mãos ) e sua banda, que no refrão gritamos seu título com ele como se não houvesse amanhã e desejando que o show tivesse mais duas horas. E se nas partes em que David Coverdale canta nesta música Glenn Hughes se supera, nas dele então... é simplesmente descomunal. E após participarmos com ele nos "ôôôôôôôôw" em alguns momentos, o quarteto nos entregou um final inteiramente épico dentro de seu incandescente Hard Rock.

    Na despedida durante uma tonelada de aplausos, Glenn Hughes nos agradeceu pela presença, frisou que nós estamos em seu coração e após tirar uma foto com todos nós ao fundo saiu do palco. Foram uma hora e praticamente cinquenta minutos do melhor show de Glenn Hughes que assisti na minha vida, opinião que foi compartilhada por alguns amigos, que me disseram exatamente isso.

    Apesar de sabermos que vimos Glenn Hughes, a apresentação foi tão primorosa que a sensação e a energia que tivemos foi mesmo que estivemos nos anos 70 lá no Ontario Motor Speedway no festival California Jam no Estado da Califórnia nos Estados Unidos assistindo à um dos melhores shows Deep Purple da história. Obrigado Circle Of Infinity Produções por ter colocado este show de Glenn Hughes em nossas vidas.

Texto e Fotos: Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos à equipe da Circle Of Infinity Produções
pela oportunidade, atenção e credenciamento
Novembro/2023

Set List do Glenn Hughes

1 - Stormbringer
2 - Might Just Take Your Life
3 - Sail Away
4 - You Fool No One / High Ball Shooter / Guitar Solo / Drum Solo / You Fool No One
5 - Mistreated
6 - Gettin' Tighter
7 - You Keep On Moving

Bis:
8 - Highway Star
9 - Burn

 

Galeria de 80 fotos dos shows do Glenn Hughes e do Carro Bomba
no Estúdio Mirage Eventos em Limeira/SP

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