Deep Purple - Rapture Of The Deep Tour 2006
Abertura: Lagunna
Tom Brasil Nações Unidas São Paulo/SP - terça-feira dia 28 de novembro de 2006
 

    Mais uma vez a lendária banda inglesa Deep Purple aportou em terras brasileiras para uma seqüência de shows que continuam a tour do ótimo álbum Rapture Of The Deep ( 32º álbum da carreira da banda ) e a visita na capital do rock latino-americana não poderia deixar de faltar. Porém, antes de entrar em detalhes de como foi o show dos ingleses vamos falar da ótima banda de abertura:

Lagunna

    A banda de Santo André/SP Lagunna cuja formação conta com Ivan - vocais, Nani - guitarra, Léo - baixo e Eric - bateria, teve a honra de abrir o show do Purple ( com Don Airey assistindo a passagem de som deles ) aproveitando para divulgar o seu terceiro álbum intitulado de Intro ( de 2005 e produzido por nada menos que Andreas Kisser ) e não é que eles sobem no palco já destilando uma das pérolas dos anos 70 com a canção Band On The Run - fiquei contente por ouvir nesta noite essa canção que fez um enorme sucesso na voz de Paul McCartney e seus Wings. Para quem não conhecia o Lagunna, com certeza se emocionou ao ouvir esta música, onde já pude notar a ótima presença de palco do vocalista Ivan.

    Em seguida tivemos Campos de Morango ( do novo trabalho Intro ) com letras em português onde percebemos a linha setentista bem interessante que esta canção nos trouxe. Depois foi a vez de Nada A Dizer que mostrou uma linha bem rock´n´roll e saiu no álbum Lagunna Ao Vivo. A música que fechou o set foi Ninguém Empurra A Vida Por Você e foi sem dúvida a melhor das três composições apresentadas pelo Lagunna, destacando-se o ótimo dueto feito pelo guitarrista Nani e pelo vocalista Ivan. Muitos os fãs do Deep Purple que já estavam no Tom Brasil, aprovaram o Lagunna que soube aproveitar o seu tempo com ótimas melodias na guitarra num rock´n´roll envolvente explicando por que foram escolhidos para abrir o show.

Deep Purple   

    Eram pouco mais de 22:25 quando as luzes se apagam. Instantes depois, uma pequena introdução nos teclados é quebrada pelos imponentes toques da bateria de Ian Paice para a execução do clássico Pictures Of Home que abre o show. Acompanhado por Roger Glover tocando seu baixo com grande peso; Ian Gillan - o garganta de ouro do rock - que entra descalços cantando os primeiros versos deste clássico do disco Machine Head,  já nos deu a certeza que a noite seria repleta de clássicos.  A formação é completada pelo excelente e virtuose guitarrista Steve Morse ( na banda desde 1994 quando o genioso, mas complicado Ritchie Blackmore deixou o Purple dedicando-se ao projeto solo com sua esposa ) e comandando os teclados Don Airey - substituto de Jon Lord desde 2002 - que nos surpreendeu com o som do órgão Hammond. Só por este fabuloso momento inicial tinha certeza que teríamos um show inesquecível com toda a magia deste quinteto. E o Tom Brasil Nações Unidas estava completamente lotado com fãs de todas as idades, mesmo sendo uma terça-feira e com muita chuva.

     A segunda da noite foi a nova Things I Never Said ( do Rapture Of The Deep ) com direito a muita digitação de Steve Morse e como este americano esbanja técnica em sua guitarra, porém, técnica é uma característica peculiar a todos os membros do Deep Purple. Destaque para o solo de Steve Morse e Don Airey que resgatando aquela sonoridade heavy rock característica dos anos 60 presente nos shows do Deep Purple. Ian Gillan também destacou-se com sua capacidade de gritar ainda mais forte que nos shows anteriores. A terceira Into The Fire do aclamado álbum In Rock, foi de emocionar os fãs mais antigos com este clássico dos clássicos, música que nos anos 70 contribuiu em muito para definir os parâmetros do que chamamos hoje de heavy metal. Trazendo para a atualidade o forte peso de Into The Fire, Ian Gillan traduz toda a agressividade de sua voz com uma energia perfeita e outro destaque nesta música é a forte pegada da bateria de Ian Paice e o peso obtido por Roger Glover no baixo igualzinho a antigamente ( é meus caros leitores(as) para alguns o tempo não passa mesmo ).

    Continuando o retrospecto das quase 4 décadas dedicadas ao hard rock/heavy metal que o Deep Purple presta aos nossos ouvidos, tivemos o célebre hit Strange Kind Of Woman do álbum Fireball e como esta música exibe a interação banda-platéia perfeitamente nas gerações de fãs presentes no Tom Brasil com muitos cantando juntos e sendo conduzidos à um delírio coletivo único (  N.E.: víamos pessoas de mais 30, 40 e 50 anos, garotos entre 15 a 25 e filhos e filhas de menos de 12 levados pelos pais para conhecerem de perto um dos criadores do Heavy Metal junto com Black Sabbath, Led Zeppelin e Uriah Heep ). Mais ao final de Strange Kind Of Woman, o destaque ficou para a dupla Gillan/Morse, pois Ian Gillan fez uma melodia em conjunto com o solo de Steve Morse, onde percebe-se a imensa maturidade e a experiência que eles tem, e é isso que faz a diferença de som ao vivo.

        Depois foi a vez de um tema do novo trabalho e justamente a ótima canção que intitula o disco, Rapture Of The Deep, que tem uma levada mais leve que resgata aquele encanto nos solos de guitarra junto com os teclados de álbuns de outrora como The House Of Blue Light e The Battle Rages On, que farão com certeza no futuro despontar como um clássico. Como a música já foi apresentada no ano anterior por aqui ( leia resenha ), o público aprovou e cantou com Gillan. Fireball, do disco homônimo de 1971, foi a seguinte com Ian Paice destilando todo o seu poder de fogo com as baquetas sendo acompanhadas de perto pelo baixo de Roger Glover que mais uma vez tocou com maestria e nesta fez um solo com seu estilo único, com muita intensidade no toque das cordas do baixo, caracterizando a qualidade do som do Deep Purple estilo sessenta. Confesso que fiquei surpreso e feliz ao ver este clássico ser apresentado no show e que belas vibrações energéticas ele nos trouxe. Enquanto essa sessão rítmica era perfeitamente tocada pela dupla Paice/Glover, Ian Gillan ficava brincando com o pandeiro e mexendo os braços como se estivesse enfeitiçando a platéia.

    Em seguida tivemos Wrong Man ( do novo trabalho Rapture Of The Deep ) com seus toques de guitarras distorcidos, ótima melodia de teclados e vocais que também agradam o público. Com Well Dressed Guitar  ( que saiu na versão japonesa de Bananas ) somos brindados com uma maravilhosa canção instrumental para que Steve Morse exiba sua extrema virtuose na guitarra, seja realizando digitações, usando pedaleiras, enfim, se ele estivesse no show do G3 um há pouco tempo atrás, com certeza ele poderia roubar a cena. Steve fez muitas escalas rápidas, depois usando efeitos de volume e delay, muito bem feitos, fez solo margeando a música clássica e deixou a galera em delírio por trechos de solos famosos do rock como Whole Lotta Love e Sweet Child ‘O Mine. Então é chegada a vez de uma balada com When A Blind Man Cries, canção da época do álbum Machine Head, que eles resgataram nesta atual parte da turnê de 2006 com destaque para o lindo solo de Steve Morse na guitarra e ao terminar esta canção Ian Gillan diz que somos fantásticos.

        Don Airey começa a brincar com os teclados e quando os fãs perceberam que a próxima música era um dos maiores sucessos da banda e com certeza do rock, estou falando de Lazy ( do álbum Machine Head ), presenciei uma reação explosiva nos fãs que acompanharam os teclados cantando até os  pan pan pan ran tan.... pan, pan. E como faz bem ouvir esta canção executada magnificamente da forma que foi com direito ainda a Ian Gillan pegando a gaita e solando como um garoto em seu primeiro show. Mais uma canção que saiu como os tradicionais bônus japoneses foi Kiss Tomorrow Goodbye ( só que do Rapture Of The Deep ) que apresenta um punch rock´n´roll bem moderno que os fãs brasileiros mostraram que gostaram bastante. É... para aqueles que vivem falando que bandas como o Deep Purple só vivem do passado, então atentem seus ouvidos para músicas como esta Kiss Tomorrow Goodbye que possuí os elementos atuais e aquela adrenalina dos anos 70.

    Chega a vez do mestre Don Airey ( que já passou por Rainbow, Ozzy Osbourne, Whitesnake, Jethro Tull e outras ) realizar o seu solo de teclado que é uma homenagem a grandes clássicos como por exemplo Aquarela do Brasil ( relembrando a paixão que eles sentem pelo Brasil ), Chariots Of Fire, Mr. Crowley e a que mais me impressionou, os trechos de Breathe do Pink Floyd com um peso implacável fazendo os fãs aplaudirem bastante o tecladista.  E embora as palmas fossem bastante sentidas, Don não deu muito tempo e já emendou os primeiros acordes de Perfect Strangers ( do álbum homônimo ) e o Tom Brasil praticamente vem abaixo com esta música que era com certeza uma das mais aguardadas pelos fãs que cantam juntos com Ian Gillan cada verso. Perfect Strangers foi lançada há 22 anos atrás, mas, assim como a banda não envelhece e nesta execução Steve Morse aplicou muita distorção na guitarra dando um clima ainda mais moderno para ela.

    Aumentando ainda mais o calor que já estávamos sentindo, eles tocam agora mais uma das espetaculares canções do álbum Machine Head, agora era a vez de Space Truckin´ surgir com aquele tradicional e peso no baixo de Roger Glover, um solo maravilhoso de Steve Morse na guitarra, com direito para que todos bradassem junto com Ian Gillan o verso Come on´, lets go space truckin´.... ( eu ainda sinto falta daquela piração que eles faziam nos shows de álbuns como Maden In Japan que todos solavam com muitos improvisos mas.. tudo bem ainda assim esta música empolga e muito ).

    A coisa que mais queremos num show é ver as nossas músicas favoritas, e quando é apresentada uma delas em uma outra versão, muita gente torce o nariz, mas no caso do Deep Purple, aí é diferente, pois eles improvisam muito ao vivo, e para tocar a música seguinte, Roger Glover e Steve Morse, fizeram um dueto maravilhoso com muito rock´n´roll e sinceramente quando vi que era Highway Star  ( outra de Machine Head ) tocada daquela maneira, não posso deixar de classificá-la como um dos melhores momentos do show. E é notável ver que Ian Gillan ainda tem forças em suas cordas vocais para cantá-la como toda agressividade que a Highway Star necessita. E faltava ainda uma das músicas que jamais deixará de ser tocada pelo Deep Purple e é de longe o maior hit de todos os tempos da banda: Smoke On The Water com aquele início característico tão importante que o rock não seria o que é sem ele e esta fantástica canção encerra o show dos ingleses com todos cantando o refrão com Ian Gillan que comandou toda a vibração dos fãs com seu eterno carisma.

    E durante os instantes que a banda fica no backstage, os mais de 3.000 fãs que lotavam o Tom Brasil ficaram cantarolando o solo de Black Night com os tradicionais "ooooo...oooo...oooo", realmente era de arrepiar pela emoção que isso causou. Engatilhando o bis o Deep Purple volta para nossa alegria com Hush, do álbum Shades Of Deep Purple, uma das mais antigas canções da banda ( de 1968 ), com Roger Glover solando impecavelmente o seu baixo, e com um coro de centenas e centenas de vozes acompanhando Ian Gillan. Quem sentiu falta dos solos de bateria de Ian Paice pode se alegrar, pois neste momento, ele nos deu a dádiva de ver um pequeno, mas perfeito solo com o som característico próprio, que influenciou centenas de bateristas pelo mundo afora, com seu inigualável repique e ataque no prato. Após uma rápida pausa, Roger Glover faz um solo com muita categoria e estilo que os fãs entendem que seu pedido é atendido e então eles tocam Black Night e criando um lindo momento de interação do público com Steve Morse dando uma nota na guitarra e esperava a resposta nos gritos da platéia a cada nota tirada por ele.

    E depois de praticamente duas horas do mais puro hard rock/heavy metal, o Deep Purple despede-se da multidão de fãs e todos pudemos ir para casa felizes por ter visto mais uma apresentação de gala destes mestres. Apesar dos longos anos que a banda já está na ativa ( 38 para ser exato ), tenha certeza meu caro leitor(a) que eles tem muita lenha para queimar na fornalha de empolgação que são os seus shows, afinal, eles mesclam com precisão grandes clássicos com vigorosas novas canções. Assistir uma apresentação do Deep Purple é uma experiência que todo fã de rock que se preze, deve realizar pelo menos uma vez na vida.

Set List

Pictures Of Home
Things I Never Said
Into the Fire
Strange Kind Of Woman
Rapture Of The Deep
Fireball
Wrong Man
Well Dressed Guitar
When A Blind Man Cries
Lazy
Kiss Tomorrow Goodbye
Keyboard Solo
Perfect Strangers
Space Trucking
Highway Star
Smoke On The Water

Bis
Hush

Black Night

Texto e Fotos:
Fernando Júnior

Galeria de Fotos do Deep Purple
Álbum de Fotos - clique para aumentar

Rock On Stage:
 À esquerda Fernando Júnior e à direita André Torres 

Mais Fotos clique aqui

Galeria de Fotos do Lagunna

Voltar para Shows