Mais uma vez a lendária banda inglesa Deep Purple aportou em terras
brasileiras para uma seqüência de shows que continuam a tour do ótimo
álbum Rapture Of The Deep ( 32º álbum da carreira da banda ) e a
visita na capital do rock latino-americana não poderia deixar de faltar. Porém,
antes de entrar em detalhes de como foi o show dos ingleses vamos falar da ótima
banda de abertura:
Lagunna
A banda de Santo André/SP Lagunna cuja formação conta com Ivan -
vocais, Nani - guitarra, Léo - baixo e Eric - bateria, teve
a honra de abrir o show do Purple ( com Don Airey assistindo a
passagem de som deles ) aproveitando para divulgar o seu
terceiro álbum intitulado de Intro ( de 2005 e produzido
por nada menos que Andreas Kisser ) e não é que eles sobem no palco
já destilando uma das pérolas dos anos 70 com a canção Band On The Run -
fiquei contente por ouvir nesta noite essa canção que fez um enorme sucesso na
voz de Paul
McCartney e seus Wings. Para quem não conhecia o Lagunna, com
certeza se emocionou ao ouvir esta música, onde já pude notar a ótima presença de
palco do vocalista Ivan.
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Em seguida tivemos
Campos de Morango ( do novo trabalho Intro ) com letras
em português onde percebemos a linha setentista bem interessante que esta canção nos
trouxe. Depois foi a vez de Nada A Dizer que mostrou uma linha bem
rock´n´roll e saiu no álbum Lagunna Ao Vivo. A música que fechou o
set foi Ninguém Empurra A Vida Por Você e foi sem dúvida a melhor das
três composições apresentadas pelo Lagunna, destacando-se o ótimo dueto
feito pelo guitarrista Nani e pelo vocalista Ivan. Muitos os fãs
do Deep Purple que já estavam no Tom Brasil, aprovaram o
Lagunna que soube aproveitar o seu tempo com ótimas melodias na guitarra num
rock´n´roll envolvente explicando por que foram escolhidos para abrir o show.
Deep Purple
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Eram pouco mais de 22:25 quando as luzes se apagam. Instantes
depois, uma pequena introdução nos teclados é quebrada pelos
imponentes toques da bateria de Ian Paice para a
execução do clássico Pictures Of Home
que abre o show. Acompanhado por Roger Glover tocando seu baixo com
grande peso; Ian Gillan - o garganta de ouro do rock -
que entra descalços cantando os primeiros versos deste clássico do disco Machine
Head, já nos deu a certeza que a noite seria repleta de clássicos.
A formação é completada pelo excelente e virtuose guitarrista Steve Morse
( na banda desde 1994 quando o genioso, mas complicado Ritchie Blackmore
deixou o Purple dedicando-se ao projeto solo com sua esposa ) e
comandando os teclados Don Airey - substituto de Jon Lord
desde 2002 - que nos surpreendeu com o som do órgão Hammond. Só
por este fabuloso momento inicial tinha certeza que teríamos um show
inesquecível com toda a magia deste quinteto. E o Tom Brasil Nações
Unidas estava completamente lotado com fãs de todas as idades, mesmo sendo
uma terça-feira e com muita chuva.
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A segunda da noite foi a nova Things I
Never Said ( do Rapture Of The Deep ) com direito a muita
digitação de Steve Morse e como este americano esbanja técnica em sua
guitarra, porém, técnica é uma característica peculiar a todos os membros do
Deep Purple. Destaque para o solo de Steve Morse
e Don Airey que resgatando aquela sonoridade heavy rock
característica dos anos 60 presente nos shows do Deep Purple. Ian
Gillan também destacou-se com sua capacidade de gritar ainda mais forte que
nos shows anteriores.
A terceira Into The Fire do aclamado
álbum In Rock, foi de emocionar os fãs mais antigos com este
clássico dos clássicos, música que nos anos 70 contribuiu em muito para definir os
parâmetros do que
chamamos hoje de heavy metal. Trazendo para a atualidade o forte peso de Into
The Fire, Ian Gillan traduz toda a agressividade de sua voz
com uma energia perfeita e outro destaque nesta música é a forte pegada da bateria de
Ian Paice e o peso obtido por Roger Glover no
baixo igualzinho a antigamente ( é meus caros leitores(as) para alguns o
tempo não passa mesmo ).
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Continuando o
retrospecto das quase 4 décadas dedicadas ao hard rock/heavy metal que o Deep
Purple presta aos nossos ouvidos, tivemos o célebre hit Strange Kind Of Woman
do álbum Fireball e como esta música exibe a interação
banda-platéia perfeitamente nas
gerações de fãs presentes no Tom Brasil com muitos cantando juntos e
sendo conduzidos à um delírio coletivo único ( N.E.: víamos pessoas de mais 30,
40 e 50 anos, garotos entre 15 a 25 e filhos e filhas de menos de 12 levados pelos pais
para conhecerem de perto um dos criadores do Heavy Metal junto com Black
Sabbath, Led Zeppelin e Uriah Heep
). Mais ao final de Strange Kind Of Woman, o destaque ficou para a dupla
Gillan/Morse, pois Ian Gillan fez uma melodia em conjunto com o solo
de Steve Morse, onde percebe-se a imensa maturidade e a experiência que
eles tem, e é isso que faz a diferença de som ao vivo.
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Depois foi a vez de um tema do novo trabalho e justamente a ótima canção que
intitula o disco, Rapture Of The Deep, que tem uma levada mais leve que
resgata aquele encanto nos solos de guitarra junto com os teclados de álbuns de
outrora como
The House Of Blue Light e The Battle Rages On, que
farão com certeza no futuro despontar como um clássico. Como a
música já foi apresentada no ano anterior por aqui (
leia resenha ),
o público aprovou e cantou com Gillan. Fireball, do disco homônimo de 1971, foi a seguinte com
Ian Paice destilando
todo o seu poder de fogo com as baquetas sendo acompanhadas de perto pelo baixo de Roger Glover
que mais uma vez tocou com maestria e nesta fez um solo com seu estilo único,
com muita intensidade no toque das cordas do baixo, caracterizando a qualidade
do som do Deep Purple estilo sessenta. Confesso que fiquei surpreso e
feliz ao ver este clássico ser apresentado no show e que belas vibrações
energéticas ele nos trouxe. Enquanto essa sessão rítmica era perfeitamente
tocada pela dupla Paice/Glover, Ian Gillan ficava brincando com o
pandeiro e mexendo os braços como se estivesse enfeitiçando a platéia.
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Em seguida
tivemos Wrong Man
( do novo trabalho Rapture Of
The Deep ) com seus toques de guitarras distorcidos, ótima melodia de teclados e
vocais que também agradam o público. Com Well Dressed Guitar ( que saiu na
versão japonesa de Bananas ) somos brindados com uma maravilhosa
canção instrumental para que Steve Morse exiba sua extrema virtuose na
guitarra, seja realizando digitações, usando pedaleiras, enfim, se ele estivesse no show do
G3 um há pouco tempo atrás, com certeza ele poderia roubar a cena.
Steve
fez muitas escalas rápidas, depois
usando efeitos de volume e delay, muito bem feitos, fez solo margeando
a música clássica e deixou a galera em delírio
por trechos de solos famosos do rock como
Whole Lotta Love e Sweet Child ‘O
Mine. Então é chegada a vez de uma balada com
When A Blind Man Cries, canção da época do álbum Machine Head, que eles
resgataram nesta atual parte da turnê de 2006 com destaque para o lindo solo de
Steve Morse na guitarra e ao terminar esta canção Ian Gillan diz que somos fantásticos.
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Don Airey começa
a brincar com os teclados e quando os fãs perceberam que a próxima música era um
dos maiores sucessos da banda e com certeza do rock, estou falando de Lazy
( do álbum Machine Head ), presenciei uma reação explosiva nos
fãs que acompanharam os teclados cantando até os pan pan pan ran tan.... pan,
pan. E como faz bem ouvir esta canção executada magnificamente da forma que
foi com direito ainda a Ian Gillan pegando a gaita e solando como um
garoto em seu primeiro show. Mais uma canção que saiu como os
tradicionais bônus japoneses foi Kiss Tomorrow Goodbye ( só que do Rapture Of The Deep
) que
apresenta um punch rock´n´roll bem moderno que os fãs brasileiros mostraram que
gostaram bastante. É... para aqueles que vivem falando que bandas como o Deep
Purple só vivem do passado, então atentem seus ouvidos para músicas como
esta Kiss Tomorrow Goodbye que possuí os elementos atuais e aquela
adrenalina dos anos 70.
Chega a vez do mestre
Don Airey ( que já passou por Rainbow, Ozzy Osbourne,
Whitesnake, Jethro Tull e outras ) realizar o seu solo de teclado
que é uma homenagem a grandes clássicos como por exemplo Aquarela do Brasil
( relembrando a paixão que eles sentem pelo Brasil ), Chariots Of
Fire, Mr. Crowley e a que mais me impressionou, os trechos de
Breathe do Pink Floyd com um peso implacável fazendo os fãs
aplaudirem bastante o tecladista. E embora as palmas fossem bastante
sentidas, Don não deu muito tempo e já emendou os primeiros acordes de
Perfect Strangers ( do álbum homônimo ) e o Tom Brasil
praticamente vem abaixo com esta música que era com certeza uma das mais
aguardadas pelos fãs que cantam juntos com Ian Gillan cada verso.
Perfect Strangers foi lançada há 22 anos atrás, mas, assim como a banda não
envelhece e nesta execução Steve Morse aplicou muita distorção na
guitarra dando um clima ainda mais moderno para ela.
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Aumentando ainda mais o
calor que já estávamos sentindo, eles tocam agora mais uma das espetaculares
canções do álbum Machine Head, agora era a vez de Space Truckin´
surgir com aquele tradicional e peso no baixo de Roger Glover, um
solo maravilhoso de Steve Morse na guitarra, com direito para que todos
bradassem junto com Ian Gillan o verso Come on´, lets go space
truckin´.... ( eu ainda sinto falta daquela piração que eles faziam nos
shows de álbuns como Maden In Japan que todos solavam com muitos improvisos
mas.. tudo bem ainda assim esta música empolga e muito ).
A coisa que mais queremos num show é ver
as nossas músicas favoritas, e quando é apresentada uma delas em uma outra
versão, muita gente torce o nariz, mas no caso do Deep Purple, aí é diferente,
pois eles improvisam muito ao vivo, e para tocar a música seguinte, Roger Glover
e Steve Morse, fizeram um dueto maravilhoso com muito rock´n´roll e sinceramente quando vi que era
Highway Star ( outra de Machine Head ) tocada daquela maneira,
não posso deixar de classificá-la como um dos melhores momentos do show. E é
notável ver que Ian Gillan ainda tem forças em suas cordas vocais para
cantá-la como toda agressividade que a Highway Star necessita. E faltava ainda uma das músicas que jamais
deixará de ser tocada pelo Deep Purple e é de longe o maior hit de todos os
tempos da banda: Smoke On The Water com aquele início característico tão importante que o
rock não seria o que é sem ele e esta fantástica canção encerra o show dos ingleses
com todos cantando o refrão com Ian Gillan que comandou toda a vibração
dos fãs com seu eterno carisma.
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E durante os instantes
que a banda fica no backstage, os mais de 3.000 fãs que lotavam o Tom Brasil
ficaram cantarolando o solo de Black Night com os tradicionais "ooooo...oooo...oooo",
realmente era de arrepiar pela emoção que isso causou. Engatilhando o bis o
Deep Purple volta para nossa alegria com
Hush, do álbum Shades Of Deep Purple, uma das
mais antigas canções da banda ( de 1968 ), com Roger Glover
solando impecavelmente o seu baixo, e com um coro de centenas e centenas de
vozes acompanhando Ian Gillan. Quem sentiu falta dos solos de bateria de
Ian Paice pode se alegrar, pois neste momento, ele nos deu a dádiva de ver
um pequeno, mas perfeito solo com o som característico próprio, que influenciou
centenas de bateristas pelo mundo afora,
com seu inigualável repique e ataque no prato. Após uma rápida pausa, Roger
Glover faz um solo com muita categoria e estilo que os fãs entendem que seu
pedido é atendido e então eles tocam Black Night
e criando um lindo momento de interação do público com Steve Morse dando
uma nota na guitarra e esperava a resposta nos gritos da platéia a cada nota
tirada por ele.
E depois de
praticamente duas horas do mais puro hard rock/heavy metal, o Deep Purple
despede-se da multidão de fãs e todos pudemos ir para casa felizes por ter visto
mais uma apresentação de gala destes mestres. Apesar dos longos anos que a banda
já está na ativa ( 38 para ser exato ), tenha certeza meu caro leitor(a)
que eles tem muita lenha para queimar na fornalha de empolgação que são os seus
shows, afinal, eles mesclam com precisão grandes clássicos com vigorosas novas canções.
Assistir uma apresentação do Deep Purple é uma experiência que
todo fã de rock que se preze, deve realizar pelo menos uma vez na vida.
Set List
Pictures Of Home
Things I Never Said
Into the Fire
Strange Kind Of Woman
Rapture Of The Deep
Fireball
Wrong Man
Well Dressed Guitar
When A Blind Man Cries
Lazy
Kiss Tomorrow Goodbye
Keyboard Solo
Perfect Strangers
Space Trucking
Highway Star
Smoke On The Water
Bis
Hush
Black Night
Texto e Fotos:
Fernando Júnior
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